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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Os soldados de Esparta




Na Antiga Grécia a cidade de Esparta revestiu-se de características próprias. Enquanto a sua rival Atenas destacou-se como um grande centro econômico, político (onde surgiu a antiga democracia) e cultural, Esparta ficou mais conhecida pelos seus guerreiros (como na imagem acima, de uma escultura espartana feita em bronze de cerca de 500 a.C.) sempre prontos para o combate. E claro, se fosse preciso, morrer no campo de batalha para defender a sua cidade. O mais incrível é que estamos falando do mesmo povo grego e da mesma cultura, porém separados ao nível da organização política e econômica em cidades autônomas e independentes, as "póleis".
Contudo, a trajetória histórica de Esparta nos esclarece a tendência dos seus cidadãos para a guerra. A tribo que deu origem à mesma, os dórios, tinha uma tradição guerreira, sendo inclusive responsável pela introdução do uso do ferro entre os gregos. Foi pela força das armas que se instalaram no Peloponeso (região mais ao sul da península grega) e destruíram as antigas cidades locais, como Argos, Tirinto e principalmente, Micenas. Foi também pela força que dominaram os nativos da região do Peloponeso, os messênios, muitos dos quais foram escravizados. Portanto, pela forma violenta como chegaram, motivos não faltavam para os espartanos estarem sempre prontos para enfrentar uma guerra, uma rebelião ou uma revolta dos escravos. Aliás, estes últimos eram chamados de hilotas, uma antiga referência à cidade de Helos, destruída pelos dórios. 
A tradição da cidade atribuiu a um legislador lendário chamado Licurgo a criação das leis e a organização social de Esparta. Teria sido esse mesmo personagem que estruturou a educação do cidadão espartano, voltada principalmente para a atividade militar. Certa vez, quando questionado do motivo de Esparta não ter muralhas como outras cidades gregas, Licurgo respondeu: "Uma cidade não está desprotegida quando suas muralhas são feitas de homens e não de pedras". Esse mesmo legislador tornou os espartanos iguais ("homoioi" em grego) ao realizar uma redistribuição das terras e dos escravos (que na prática eram servos do Estado). A acumulação de riquezas foi suprimida por meio da instituição da moeda de ferro no lugar das que eram feitas de ouro e prata. O tempo livre dos espartanos seria ocupado na atividade de defesa da cidade e na preparação militar, que tinha início aos sete anos de idade.


De acordo com o antigo historiador grego Plutarco (46 d.C. - 120 d.C.), desde o nascimento os espartanos selecionavam os seus futuros soldados, rejeitando os bebês que nascessem com defeito. Os mais velhos se incumbiam da tarefa de eliminá-los, atirando os mesmos do alto do monte Taigeto. Os garotos aptos eram separados de suas famílias para viverem em uma espécie de acampamento militar, onde eram preparados para todo tipo de situação que ocorresse em um campo de batalha. Abandonados por um tempo na mata, eram obrigados a obter, por esforço próprio, a sua sobrevivência a partir dos recursos da natureza (na imagem acima, mata natural próxima à antiga Esparta). Os meninos eram estimulados inclusive a roubar se isso fosse necessário para saciar a fome. Plutarco narra um episódio em que um garoto teria roubado uma raposa e para que ninguém percebesse isso, guardou-a dentro de suas vestes. A mesma mordeu até as suas entranhas, mas o garoto não deu sequer um único grito de dor para evitar chamar a atenção dos comandantes. Quando estes perceberam o garoto já se encontrava morto e ainda com a raposa a lhe devorar. 
A disciplina era algo que todo espartano sabia respeitar ao extremo. Jamais uma ordem superior era questionada. Falar apenas o necessário (laconismo) era outra qualidade apreciada no espartano. A presença de estrangeiros não era bem vista e os espartanos pouco se deslocavam para outras partes, para não serem contaminados por idéias tidas como ruins.



As rivalidades e disputas entre os jovens eram estimuladas como forma de testá-los e prepará-los para a guerra. Aos 17 anos o soldado passava pela última prova que consistia em matar escravos ("Kriptéia"). Desse momento em diante, ele já podia ser considerado um soldado ou como denominou o historiador contemporâneo Perry Anderson, "cidadão-soldado" de Esparta (na foto acima, uma escultura de soldado espartano com armadura). O espartano permanecia nessa condição até alcançar os 60 anos, quando se retirava da atividade militar. Aos 30 anos podia constituir uma família e ter uma esposa. 
As mulheres espartanas, segundo a tradição antiga, gozavam de maior autonomia em comparação com as mulheres de outras cidades gregas, como Atenas. As espartanas praticavam esportes, exercitando-se na corrida, na luta, no lançamento do disco e do dardo, pois acreditava-se que mulheres saudáveis geravam filhos saudáveis. Até mesmo os filhos com outros homens seriam aceitos pelo espartano, desde que pudessem servir à cidade como soldados. O adultério não era imoral. Era permitido ao guerreiro que tivesse mérito e que admirasse a mulher de outro, solicitar a este que cedesse a sua esposa e que pudesse nela gerar um filho. Entre os soldados espartanos a homossexualidade também não era vista como algo abominável, até pelo contrário, fazia parte da formação do guerreiro tornar-se amante de um soldado mais velho. Bem, é isso o que nos relata Plutarco.
As Guerras Médicas, que evolveram os gregos contra os persas, se constituíram numa boa prova da coragem dos espartanos, imortalizada na batalha das Termópilas, onde 300 espartanos comandados pelo general Leônidas resistiram até a morte contra o avanço dos persas do imperador Xerxes (vivido no cinema pelo ator Rodrigo Santoro no filme "300"). Xerxes teria avisado aos espartanos que enviaria uma chuva de flechas que cobririam a luz do Sol e o dia se tornaria noite. Leônidas respondeu que podia enviar as flechas e cobrir a luz do Sol, algo que seria até bom, pois assim o combate se daria na sombra...
Na sombra ou não, os 300 espartanos lutaram até o último homem. Voltar para Esparta carregando uma derrota seria a maior desonra para o guerreiro espartano e para a família do mesmo. 



A partir do Período Clássico (século V a.C.) a tradição guerreira foi entrando em declínio e os soldados espartanos passaram a fazer parte de uma elite cada vez menor diante dos homens livres (periecos) e dos escravos (hilotas). A guerra contra Atenas (Guerra do Peloponeso) marcou o declínio dessa cidade e das demais, inclusive a própria Atenas, algo que possibilitou em seguida o domínio da Grécia pela vizinha Macedônia e a ascensão de Alexandre, o Grande. As ruínas de Esparta (na imagem acima o local da antiga cidade) são uma mostra do pouco destaque dado ao aspecto cultural e arquitetônico. "Espartano" tornou-se sinônimo de algo mais rústico e simples, sem luxos, bem ao gosto da antiga elite de guerreiros...
Para saber mais:
Plutarco. Vidas Paralelas. Editora Paumape, 1991, obra editada em 5 volumes. Nesse livro, Plutarco compara as figuras ilustres da Grécia e da Roma Antigas. No volume 1 ele estabelece um paralelo entre Licurgo e o rei de Roma Numa Pompílio (existem outras edições dessa obra). 
Crédito das imagens: As três primeiras foram extraídas da Coleção Grandes Impérios e Civilizações: Grécia. Volume I, Edições del Prado, 1996, páginas. 68 e 92. A foto das ruínas de Esparta está na História das Civilizações, volume  I, Editora Abril, 1975, página 83.

2 comentários:

  1. eu quero um resumo com as partes importantes

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  2. Caro leitor, agradeço o seu interesse. Esse texto que está postado já é um resumo de várias leituras. Extrair as ideias e o conteúdo de um texto é um exercício fundamental para todo estudante. Esta aí uma boa oportunidade para começar. Abçs.

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