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terça-feira, 23 de abril de 2013

Anúncio Antigo 28: Raquel Welch



Um dos ícones femininos da década de 1960, a atriz norte-americana Raquel Welch. Uma norte-americana em cujas veias corre o sangue boliviano, pelo lado paterno. Seu nome verdadeiro não soa tão sensual como pode sugerir a foto do anúncio acima: Jo Raquel Tejada. Nascida em 1940 na cidade de Chicago nos Estados Unidos, filha do boliviano Armando Carlos Tejada Urquizo, engenheiro que emigrou de La Paz, capital da Bolívia, aos 17 anos de idade. Sua mãe, Josephine Sara, era norte-americana. 
Em sua juventude, Raquel Welch ambicionava a carreira de bailarina, mas o seu instrutor lhe disse que o seu corpo não era apropriado para essa atividade. Após vencer um concurso de beleza, aos 18 anos de idade, Raquel começou a procurar a carreira de atriz e adotou o sobrenome de seu primeiro marido, James Welch. 



Com o fim do casamento, Raquel Welch trabalhou como modelo e realizou pequenas pontas em filmes e seriados de televisão, entre os quais "A Feiticeira" e "O Homem de Virgínia" e ainda atuou com o cantor Elvis Presley em "Carrossel de Emoções" em 1964, em outra pequena ponta (na foto acima, feita para promover o filme de Elvis, Raquel Welch é a segunda a partir da direita, de vestido azul). 
Finalmente, após participar em um modesto filme de praia chamado "A Swingin' Summer" em 1965 (os chamados "filmes de praia" faziam muito sucesso entre o público adolescente na década de 1960 nos Estados Unidos) a atriz ganhou uma oportunidade nos estúdios da 20th. Century Fox e no ano seguinte fez um papel de destaque no ficção científica "Viagem Fantástica". As portas do sucesso foram abertas para Raquel Welch.


No mesmo ano, Raquel apareceu na produção inglesa "One Million Years B.C.", cuja trama, como o próprio título sugere, era ambientada na Pré-História e mostrando a atriz em um biquíni feito de pele de animal. A imagem da atriz com esse traje (foto acima) rodou o mundo e transformou Raquel Welch em uma verdadeira  "sex symbol". Nas décadas de 1960 e 1970 a foto virou poster e podia ser encontrada em qualquer loja de discos de vinil ou salões de beleza enfeitando as paredes. A beleza estonteante de Raquel Welch fazia parte do imaginário masculino daqueles tempos.


Em 1969, a atriz atuou no faroeste "100 Rifles", onde fez cenas de sexo (não explícitos, claro) com um ator negro, Jim Brown, algo inédito no cinema norte-americano até aquele momento. O escândalo provocado na conservadora sociedade americana contribuiu para que o filme não fosse bem nas bilheterias (na imagem acima, o ator Jim Brown e a atriz Raquel Welch, em uma foto promocional do filme).
Em termos artísticos, muito pouco podemos destacar da filmografia da atriz. Como acontece com a maior parte das atrizes que tem como grande destaque o belo corpo, sua época passou rápido. Na metade da década de 1970, Raquel Welch já era um símbolo do passado e participava de filmes e especiais de televisão como uma figura completamente datada e vinculada aos agitados tempos da década de 1960. 
O Anúncio Antigo de hoje, com a famosa marca de sabonetes para a qual já posaram outras atrizes também famosas, como Jane Fonda, Ursula Andress e Michele Pfeifer, foi publicado na Revista Realidade de setembro de 1968, na página 52.
Foto da agtriz no filme "One Million Years B.C.": www.instyle.com
Foto de Raquel Welch ao lado de Elvis Presley: elviswomen.greggers.net
Foto de Jim Brown e Raquel Welch no filme "100 rifles": Os Anos 60: A Década que Mudou Tudo. Edições Veja, 1970 (data provável), pag. 55. 








sábado, 6 de abril de 2013

O sequestro de Juan Manoel Fangio




Manchete nos jornais: Campeão da Formula 1 é sequestrado antes do Grande Premio. E que Grande Premio: o de Cuba  no ano de 1958 (na imagem acima, o bonito cartaz promocional da prova). Um circuito de rua, que incluía o famoso Malecón, a conhecida beira-mar de Havana e que contava com uma extensão total de 5,21 quilômetros. O ano era 1958 e o então ditador de Cuba, Fulgêncio Batista, promovia a prova automobilística para dar uma demonstração de que a situação na ilha era normal e que os guerrilheiros oposicionistas não representavam ameaça ao regime. 



Na verdade, nem era necessária essa ação cinematográfica da guerrilha para que se percebesse que o regime brutal e repressor de Batista estava com os dias contados. Os guerrilheiros comandados por Fidel Castro desembarcaram na ilha de Cuba em dezembro de 1956, sendo recebidos a tiros pelas tropas do governo. Os que conseguiram sobreviver partiram para uma luta de resistência na Sierra Maestra, uma cadeia montanhosa situada no interior da ilha (na foto acima, os guerrilheiros Raúl Castro à esquerda, seu irmão Fidel em primeiro plano e Camilo Cienfuegos, em setembro de 1957 na Sierra Maestra). 
A popularidade de Fulgêncio Batista, que havia se instalado no poder em 1952 por meio de um golpe de Estado, era nula e o apoio mais importante vinha do governo norte-americano, que tratava Cuba como se fosse sua possessão. A ilha do Caribe era destino turístico dos americanos e os seus famosos cassinos e jogos eram controlados pela Máfia. Nem mesmo as Forças Armadas Cubanas estavam em condições de garantir a permanência de Batista no poder. 
O nome do movimento revolucionário,"26 de Julio", foi escolhido para lembrar um audacioso ataque ao quartel de Moncada promovido pelos jovens opositores do ditador Fulgêncio Batista em 1953 e que terminou com a morte de 3 rebeldes e a prisão de 80, muitos dos quais foram torturados e depois executados pela repressão policial. Fidel Castro foi preso uma semana após o ataque e graças a ação de um tenente do exército cubano, que resolveu leva-lo vivo a uma prisão civil e não militar, Fidel escapou de uma execução sumária. Faustino Pérez e Raúl Castro (irmão de Fidel) foram alguns dos rebeldes que conseguiram sobreviver. 
Apesar do fracasso da ação militar, Fidel Castro transformou o episódio em uma importante vitória política e no julgamento fez a sua própria defesa em um discurso que durou duas horas e depois transformado em manifesto: "A História me Absolverá". Ele e os demais rebeldes foram condenados. Depois de saírem da prisão, Fidel e os seus seguidores se refugiaram no México de onde prepararam a já mencionada invasão à ilha de Cuba em 1956. Na capital mexicana, o movimento "26 de Julio" contou com a adesão do médico argentino Ernesto "Che" Guevara. 




Mas, onde entra o pentacampeão da Fórmula 1, o argentino Juan Manoel Fangio? No ano de 1957 o ditador Fulgêncio Batista havia promovido o primeiro Grande Premio de Cuba e convidado para a prova algumas vedetes da Formula 1 da época, como o próprio Fangio (na imagem acima, com a sua esposa em 1954), o inglês Stirling Moss, que ficou conhecido como o "campeão sem título" (quatro vezes vice-campeão do mundo, sendo que em três oportunidades perdeu o título para o argentino Fangio) e o norte-americano Phill Hill (que se tornaria campeão mundial em 1961). 



Os pilotos receberam um "cachê" que chegava a 7 mil dólares (valor elevado para a época) e todas as despesas de viagem e hospedagem garantidas pelo governo cubano. Lembremos que a competição era de carros protótipos e não contava pontos para o Campeonato Mundial de Pilotos. Nesse primeiro GP de Cuba a vitória coube a Fangio (na foto acima, imagens do grid de largada no famoso Malecón). 



Fangio venceu no mesmo ano em que conquistou o seu quinto título pela Fórmula 1 (na imagem acima, o piloto argentino pilota o seu carro da marca Maserati no GP de Cuba).


Em 1958, Batista repetiu a prova e convidou novamente os astros do automobilismo (na foto acima, da esquerda para a direita, Stirling Moss, Fangio e Fulgêncio Batista no intervalo dos treinos). Mas a situação política da ilha piorou e os guerrilheiros castristas do movimento "26 de Julio" ganhavam apoio da população. Mais uma vez o cambaleante governo cubano pretendia, com a realização da corrida, dar mostras ao mundo de que a situação era tranquila. Para provar o contrário, os integrantes do movimento "26 de Julio" planejaram uma ação audaciosa: sequestrar o campeão Fangio e impedir a sua participação no Grande Prêmio. A ação chamaria a atenção internacional para a real situação da ilha do Caribe. 


No mesmo dia em que cravou a "pole-position" nos treinos classificatórios, Fangio foi abordado no saguão do hotel Lincoln (imagem acima) pelo rebelde Manuel Uziel com as seguintes palavras: "Sou do movimento 26 de Julho. Nós vamos sequestrá-lo". Em seguida, Uziel encostou uma pistola em Fangio e alertou o seu empresário para não tentar nenhuma reação ou o campeão seria morto ali mesmo. Imediatamente, Fangio foi retirado do hotel e colocado em um automóvel que já aguardava em frente ao edifício. Nove guerrilheiros portando pistolas e metralhadoras participaram da ação. 
No momento em que andavam pelas ruas de Havana, para despistar qualquer suspeita por parte da polícia, começou o diálogo entre os sequestradores e o sequestrado, onde os primeiros buscavam explicar os motivos do rapto e esclarecer que não era intenção do grupo cometer qualquer violência contra Fangio e sim, chamar a atenção para os problemas de Cuba e de sua cruel ditadura. O cativeiro no qual o piloto foi colocado tinha o mesmo conforto do hotel. O serviço de quarto era completo contando com direito a banho e alimentação quantas vezes o piloto argentino desejasse, embora os garçons e camareiras portassem armas. 


Um responsável pelo movimento "26 de Julio", Faustino Perez, aquele que havia participado do ataque ao quartel Moncada com Fidel Castro, explicou mais uma vez a Fangio os motivos do sequestro e que, tão logo a corrida terminasse, ele seria libertado (na imagem acima, jornal francês noticiando o rapto). Por incrível que possa parecer, Fangio mostrou-se compreensivo com a causa dos revolucionários e participou de forma ativa dos planos de sua libertação. Existia por parte dos guerrilheiros o temor de que a própria polícia do ditador Fulgêncio Batista tentasse assassinar Fangio na operação de resgate e depois colocar a culpa no movimento. Por isso, a melhor solução foi entregá-lo diretamente às autoridades diplomáticas argentinas. 
A corrida acabou sendo realizada, com a Maserati de Fangio conduzida pelo francês Maurice Trintignant. Contudo, doze minutos depois da largada o piloto cubano Armando Garcia Cifuentes sofreu um acidente na curva da embaixada americana (vejam só, era um curva perigosa...) e a sua Ferrari atingiu o público, matando sete espectadores (algumas fontes mencionam 6). O Grande Prêmio foi dado como encerrado logo depois e Stirling Moss, o grande rival de Fangio, foi proclamado vencedor. 
De acordo com os planos, Fangio foi libertado próximo da residência do embaixador argentino.  O piloto, serenamente, declarou após o fim do sequestro: "Eles me deixaram com uma carta ao governo da Argentina, pedindo desculpas por me usarem para fins políticos. Foi mais uma aventura. Sei que o que os rebeldes fizeram foi por uma boa causa, então eu, como argentino, aceito".


Além dessa declaração, Fangio ainda deixou um bilhete (imagem acima) aos raptores chamando-os de "amáveis sequestradores": "Esclareço que, durante meu sequestro amável, o trato foi completamente familiar, com atenções cordiais e somente me pediram desculpas por esta situação, alheia à minha pessoa". O documento encontra-se hoje no "Museo de la Revolución" em Havana.
O movimento "26 de Julio" saiu-se vitorioso na luta contra   a ditadura de Batista e levando os guerrilheiros de Fidel Castro ao poder no início de 1959, menos de um ano depois do sequestro. Em 1960, o Grande Prêmio de Cuba foi disputado pela última vez, tendo a vitória de Stirling Moss. O pentacampeão já estava aposentado do automobilismo.


Fangio recebeu inúmeros convites para visitar Cuba como "cidadão de honra" e o fez em 1981. Na ocasião reencontrou os seus antigos sequestradores, entre eles Faustino Perez, que na ocasião lhe explicara de forma incansável os motivos do sequestro. Aliás, o rapto ficou conhecido na história da Revolução Cubana como "retenção patriótica". Nessa visita ocorreu o esperado encontro entre Fidel Castro, Fangio e Faustino Perez (na foto acima, "a foto da foto" com Fidel, Faustino e Fangio, da esquerda para a direita). Fangio aproveitou a ida a Cuba para fazer negócios com a venda de caminhões da Mercedes Benz, pois era proprietário de uma concessionária da marca em Buenos Aires.
Em 1992, o piloto argentino enviou condolências pela morte de Faustino e convidou Arnol Rodriguez, o mentor intelectual do plano do sequestro, para visitar Buenos Aires e conhecer o museu Fangio. Rodriguez presenteou o piloto com uma réplica do troféu do GP de Cuba, que hoje se encontra no museu e se tornou grande amigo de Fangio até a morte deste. No funeral do pentacampeão, ocorrido em 17 de julho de 1995, uma enorme coroa de flores enviada por Fidel Castro pode ser notada nas homenagens a aquele que foi um dos maiores nomes do automobilismo mundial de todos os tempos.
Para os mais curiosos, o Youtube dispõe de farto material sobre o GP de Cuba de 1958, inclusive cenas do trágico acidente que matou seis espectadores. Uma outra curiosidade é o longa-metragem que foi rodado sobre o episódio: "Operación Fangio". O filme é de 1999, dirigido por Alberto Lecchi e é uma co-produção argentina, cubana e espanhola. A película está também disponível na integra no Youtube.
Esta postagem contou com várias informações de um post publicado no blog Tazio, especializado em automobilismo e que me foi enviado por meu amigo e comentarista de Fórmula 1, Wilton Sturn.
Fonte consultada:
http://tazio.uol.com.br/blog/blog-do-tazio/sequestro-de-fangio-em-cuba-completa-55-anos/
Crédito das Imagens:
Fotos de Fangio com Fulgêncio Batista, do hotel Lincoln, do bilhete e do encontro com Fidel do blog Tazio já citado.
Cartaz da corrida e capa do jornal francês: http://joesaward.wordpress.com
Foto dos guerrilheiros em Sierra Maestra: Fidel Castro. Coleção Grandes Líderes do Século XX, Nova Cultural, 1990, pag. 26.
Juan Manoel Fangio e sua esposa: gettyimages 1950s. Könemann, Germany, 2004, pag. 309. 
Fotos de Fangio com sua Maserati e do GP de Cuba: www.amigosdefangio.org