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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Imagens Históricas 15: Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt





O presidente Getúlio Vargas anotou em seu diário no dia 27 de novembro de 1936: "Chegou o homem". O homem a quem ele se referia era Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos da América e o grande responsável pelo conjunto de medidas que tiraram aquele país da sua maior crise econômica, iniciada em 1929 com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, o conhecido New Deal. Um plano intervencionista e que muitos americanos aceitaram para impedir uma catástrofe talvez maior, que poderia ser consubstanciada em uma grave desordem social. Naquele momento consolidou-se a crença de que o mercado, por si só, não poderia restabelecer o bom funcionamento da economia e nem atender aos milhões de desempregados na indústria e na agricultura.



Muitos aspectos aproximavam os dois grandes líderes, como a visão do processo econômico em favor de uma forte presença do Estado e o tempo de permanência no governo. Roosevelt comandou o seu país entre 1933 e 1945 e Getúlio de 1930 a 1945, sendo portanto quase coincidentes os tempos em que estiveram no poder. Por outro lado, o presidente norte-americano permaneceu todo esse período na presidência por meio de sucessivas reeleições e Vargas chegou ao poder por meio da Revolução de 1930, por eleição indireta em 1934 (na foto acima, Getúlio deixando o Palácio Guanabara pouco antes da posse como presidente em 1934) e garantiu a sua posição por um tempo ainda maior ao implantar a ditadura do Estado Novo em 1937. Neste último aspecto, o seu governo era comparado às ditaduras nazifascistas da Europa, embora tenha muitas características que não permitem associar o mesmo ao totalitarismo vigente na Itália e na Alemanha. O fato de não constituir um partido único, a ausência do militarismo expansionista e o nacionalismo exacerbado estabelecido, por exemplo, por Hitler, em prol de uma suposta superioridade racial e étnica dos alemães de origem ariana, não foram observadas no Estado Novo de Getúlio Vargas. Contudo, isso não significa que o seu governo não tenha recebido influências dos regimes totalitários da época, como o controle dos sindicatos, o uso da propaganda como forma de legitimar o regime perante a população e de ter abrigado no poder muitos simpatizantes do nazifascismo, como os generais Góes Monteiro, Eurico Gaspar Dutra e o temido chefe da polícia no Distrito Federal, Filinto Muller, que por sinal, tinha origem germânica.
O momento em que ocorreu esse encontro entre os dois governantes pertence ainda à fase anterior ao golpe de 1937 e o Brasil vivia sob regime constitucional desde que a Carta Magna fora promulgada em 1934. Roosevelt estava de passagem pelo Brasil rumo a Buenos Aires, onde participaria da Conferência Interamericana de Consolidação da Paz e em favor da formação de um bloco continental de países em defesa da democracia. Claro, os Estados Unidos estavam atentos à influência nazifascista na América do Sul. A possibilidade de um novo conflito armado na Europa era real diante do rearmamento promovido por Hitler na Alemanha e de seu discurso em favor da expansão do Terceiro Reich.
O presidente norte-americano foi recebido no Rio de Janeiro, após desembarcar do cruzador Indianapolis, por estudantes com bandeirinhas do Brasil e dos Estados Unidos. As avenidas da então capital do Brasil foram enfeitadas com as cores das duas nações. Como se sabe, as fotos feitas do presidente Roosevelt procuravam ocultar as sequelas deixadas pela poliomielite (paralisia infantil), que o impediam de se locomover. As entrevistas com a imprensa e as imagens só eram liberadas após o presidente ser devidamente colocado em uma cadeira com ajuda de seus auxiliares.
No banquete oferecido no palácio do Itamaraty, Roosevelt fez um discurso elogiando as belezas naturais do Rio de Janeiro e exortando a busca pela paz, afirmando que a guerra, além de destruir as vidas humanas, é uma ameaça à liberdade individual e à democracia representativa. Getúlio Vargas, por sua vez, destacou a política econômica do presidente americano diante da crise econômica da década de 1930. Segundo narra o jornalista Lira Neto, em seu segundo volume sobre a vida de Getúlio Vargas ("Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013), Roosevelt retribuiu os elogios de Vargas ao New Deal afirmando: "Foram duas as pessoas que inventaram o New Deal - o presidente do Brasil e o presidente dos Estados Unidos". De fato, a política intervencionista do governo Getúlio Vargas de comprar os excedentes de café e queima-los para tentar manter os preços em patamares aceitáveis, lembrava as medidas econômicas que foram depois tomadas por Roosevelt de investir em obras públicas e programas sociais para garantir o emprego e a renda dos trabalhadores norte-americanos durante a recessão da década de 1930. 


Por outro lado, em 1936 Getúlio Vargas (na imagem acima, assumindo a sua vaga na Academia Brasileira de Letras como imortal, em 1943) distanciava-se cada vez mais dos princípios liberais e democráticos apregoados por Roosevelt. No ano anterior, ocorreu o levante comunista no Brasil, que acabou desencadeando uma onda repressiva por parte do governo Vargas contra a Aliança Nacional Libertadora, uma frente de organizações de esquerda e principalmente ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) que havia precipitado o movimento sem o devido respaldo popular. O ambiente tornava-se cada vez mais favorável a um endurecimento do regime e exatamente um ano depois, em novembro de 1937, Vargas anunciava uma nova Constituição e o fechamento de todas as Assembléias, implantando o Estado Novo. As eleições presidenciais previstas para 1938 e com os candidatos já lançados foi cancelada. 


Apesar disso, o governo norte-americano continuou a buscar uma aproximação com o Brasil e lançar as bases do que depois ficou conhecida como good neighbor ou política de boa vizinhança. Getúlio Vargas também era cortejado pela Alemanha, país com o qual o Brasil mantinha até 1939 um intenso intercâmbio comercial, inclusive no que dizia respeito à compra de armas. No ano em que ocorreu esse primeiro encontro entre Vargas e Roosevelt, o Brasil era o principal parceiro comercial do Terceiro Reich em toda a América. Mas, ao mesmo tempo em que assinava acordos comerciais com os alemães, Getúlio em nenhum momento descartava os Estados Unidos e, em termos práticos, o que iria precipitar uma posição mais clara do governo brasileiro seria a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o desenrolar da mesma com a entrada dos Estados Unidos no conflito (na imagem acima, Roosevelt têm sobre a mesa a declaração de guerra ao Japão em 1941). 
A Imagem Histórica de hoje mostra Getúlio Vargas, sentado à esquerda na mesa, recebendo Roosevelt, que está sentado à direita, tendo atrás deste a esposa do presidente brasileiro, dona Darci Vargas de vestido escuro. A foto foi tirada em 27 de novembro de 1936 no banquete oferecido ao presidente americano. 
Um outro acontecimento acabou por ligar o destino dos dois presidentes e relacionado à moléstia que atingira Roosevelt. Os dois chefes de Estado voltaram a se encontrar em 28 de janeiro de 1943 na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, já com a aliança do Brasil aos aliados na Segunda Guerra consolidada. Dois dias depois de retornar do encontro, Getúlio Vargas recebeu a notícia da morte de seu filho caçula, Getúlio Vargas Filho, o "Getulinho", vítima da mesma doença do presidente norte-americano, a poliomielite. 
Crédito das Imagens:
Getúlio Vargas com Roosevelt: CPDOC-Fundação Getúlio Vargas. 
As demais fotos de Getúlio Vargas: Revista O Mundo Ilustrado. Suplemento Especial: A Vida do Presidente Vargas, Rio de Janeiro, outubro de 1954. 
Foto de Roosevelt em 1941:Century. New York: Phaidon Press Limited, 2002.  

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