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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Comodoro Cinerama: O Melhor Cinema do Brasil parte final



Sucesso de público, mas não de crítica! E por quê? O formato cinerama, como destacamos nas postagens anteriores sobre o cine Comodoro (Comodoro Cinerama: o Melhor Cinema do Brasil partes I e II), não era apropriado aos chamados "filmes de arte", cujos enquadramentos poderiam ser distorcidos pela tela panorâmica e em curva. Tal situação aplicava-se muito às produções europeias. Nenhum filme de Fellini, Bergman, Visconti, Buñuel ou Truffualt foi exibido na conhecida sala. O mesmo ocorria com os filmes nacionais, que nem sequer eram copiados no formato 70 milímetros (mm). Para os críticos mais rigorosos no que se refere à arte cinematográfica, como Rubem Biáfora, que por muitos anos comentou os lançamentos semanais de filmes no jornal "O Estado de S. Paulo", o cinerama era um desserviço à sétima arte. Claro que essas observações, pertinentes aliás, não prejudicaram o gosto do público pela sala e pelos filmes lá exibidos, como por exemplo, o suspense "Terror na Montanha Russa" (Rollercoaster1977), lançado no sistema sonoro Sensurround (o mesmo de "Terremoto") e em cartaz no ano de 1978 (imagem acima). 




Pois bem, feitas essas ressalvas, iniciamos aqui a última parte da trajetória do Comodoro Cinerama. Na segunda metade da década de 1970 a sala exibiu inúmeras reprises de clássicos de Hollywood e produções épicas. Além de "...E o vento levou", "Jesus Cristo Superstar", "Lawrence da Árabia" e "A Filha de Ryan" tivemos em 16.10.1976 a reestréia de "2001: Uma Odisséia no Espaço" (2001: A Space Odyssey, 1968). A passagem pelo Comodoro deu ao filme do diretor Stanley Kubrick uma notoriedade ainda maior. A fita veio em cópia nova, no formato 70 mm e com 6 faixas de som estereofônico (nas imagens acima, o anúncio publicado nos jornais da época e uma cena do filme). Evidentemente, a belíssima trilha sonora, com destaque para "Assim Falou Zarathustra" de Richard Strauss e "Danubio Azul" de Johann Strauss, na execução da Orquestra Filarmônica de Berlim, ganhava um brilho muito maior no Comodoro do que nas salas convencionais. Aqueles que tiveram o privilégio de assistir ao filme nesse cinema (é o caso deste que vos escreve) jamais esqueceram do belo espetáculo visual e sonoro. 



Os musicais eram um espetáculo à parte quando exibidos no Comodoro Cinerama, em função da ótima qualidade do som (na imagem acima, o documentário "Isto Também Era Hollywood", em cartaz no ano de 1977). 



Um fato marcante para o Comodoro nessa época foi a vinda do diretor italiano Franco Zeffirelli. No dia 29.06.1979 ele participou da "avant premiére" de seu filme "O Campeão" (The Champ, 1978) estrelado por John Voight (pai da atriz Angelina Jolie) e Faye Dunaway. A renda dessa sessão especial do cine Comodoro foi revertida para o Fundo de Assistência Social do Palácio do Governo de São Paulo (cujo governador, na época, chamava-se Paulo Maluf). O filme era um drama que girava em torno da briga de um boxeador decadente com a ex-esposa, pela posse do filho. A fita foi um enorme sucesso de bilheteria em São Paulo (na imagem acima, o anúncio do filme). 
Nesse distante ano de 1979, os cinemas de rua do centro de São Paulo já começavam a dar os primeiros sinais de declínio, que depois veio a se mostrar irreversível. Na edição do dia 30 de dezembro daquele ano, uma pequena matéria publicada no jornal "O Estado de S. Paulo" divulgava uma pesquisa feita junto ao público frequentador, de algumas salas de exibição na região, entre as quais estavam os cines Ipiranga, Marrocos, Copan e Coral. As maiores reclamações referiam-se ao sistema de ar condicionado, os quais apresentavam constantes defeitos, a presença de pulgas nos assentos e a condição imprópria dos banheiros. Os exibidores e proprietários das salas pareciam não mostrar grande preocupação com a manutenção das mesmas e até culpavam o próprio público frequentador, de levar as tão temíveis pulgas para as salas de exibição, algo que não eximia os responsáveis em fazer o controle desse tipo de praga. O cine Comodoro não foi mencionado na matéria com relação aos problemas apontados. Por outro lado, a sala era reconhecida como sendo a mais rentável do centro da cidade. 



O Comodoro não era obrigado a exibir curtas metragens (o famoso Canal 100, por exemplo) e nem os filmes nacionais, uma vez que alegava operar com projetores para cópias em 70 mm. O normal, para a grande maioria das salas, era o formato 35 mm (na foto acima, um técnico manuseia uma película de filme com largura de 7o mm). Mais tarde, percebeu-se que os equipamentos eram compatíveis para o formato 35 mm. 



Talvez em função das reclamações do público em relação aos cinemas de rua da capital paulista, o cine Comodoro fechou temporariamente para uma grande reforma, que durou 90 dias, sendo anunciada pela direção como uma remodelação completa. Ar condicionado, piso e os banheiros foram renovados. Além disso, foi feito um revestimento interno em gesso, poltronas novas foram instaladas, troca dos equipamentos de som e colocadas novas cortinas douradas. De acordo com a direção do cinema, em matéria no jornal Folha de S. Paulo de 01.09.1979, a reforma foi a primeira que o cinema recebeu desde que foi inaugurado, em 1959. 
A direção atribuía o mau estado em que a sala se encontrava, antes dessa reforma geral, ao aumento da frequência do público muito jovem, que deixou o cinema "arrebentado". A reforma foi feita inclusive, de modo a desviar a atenção do público para os objetos mais frágeis. Bom, de fato esse público pode ter crescido durante a exibição do musical "Grease, nos Tempos da Brilhantina", com os astros da onda "disco" John Travolta e Olivia Newton-John, entre os anos de 1978 e 1979 (imagem acima). Os espectadores chegavam até a dançar dentro do cinema durante o filme e muitos tiveram que assistir as sessões em pé, nos horários mais concorridos dos finais de semana. 



Filas enormes chegavam a dobrar o quarteirão onde o cinema estava localizado (como na foto acima, do início de 1979). 



A reforma contrariava a tendência de alguns cinemas tradicionais de São Paulo, sobretudo aqueles que dispunham de platéia no andar superior (na imagem acima, uma foto rara da platéia superior do Comodoro Cinerama). A opção era a de dividir as salas, como ocorreu com o cine Metro, fazendo surgir o Metro 1 e o Metro 2. O cine Ipiranga também foi dividido. 



No dia 22.12.1979, um sábado, o Comodoro reabriu as suas portas, após três meses, para estrear o filme "O Sargento Pepper e sua Banda", musical inspirado no disco dos Beatles "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (na foto acima, a fachada do cinema em janeiro de 1980, logo após a reabertura). O cinema se preparava para a sua fase derradeira como sala de exibição de grandes produções. 




Na primeira metade da década de 1980, o Comodoro pareceu ter vivido o seu ultimo período de esplendor, entre as reexibições e os lançamentos, agora não mais exclusivos da sala como na década anterior. Entre as reprises, o destaque vai para o recordista de Oscars "Ben Hur" (idem, 1959). O épico foi apresentado para as gerações mais novas que não haviam visto o seu lançamento e nem as reapresentações em outras salas de cinema da capital paulista, como no cine Windsor (nas imagens acima, o anúncio do filme no Comodoro e um fotograma da cena panorâmica da corrida de bigas). O filme veio em cópia nova de 70 mm e com som dolby stereo



A cena da corrida de bigas acabou por se tornar o grande destaque, uma vez que a película em 70 mm expandia a imagem (como pode ser observado na ilustração acima, tendo à direita o filme 70 mm e à esquerda, o filme convencional de 35 mm, que era o mais utilizado). A trilha sonora (composta por Miklos Rosza) era ainda mais valorizada pelo sistema de som estereofônico dolby



Também nessa fase tivemos os filmes da série Indiana Jones, como "Os Caçadores da Arca Perdida" e "Indiana Jones no Templo da Perdição" dirigidos por Steven Spielberg, sendo que neste ultimo a bela sequência de abertura com as bailarinas sapateando, no qual era possível sentir o som dos sapatos batendo no chão, tornou-se um espetáculo inesquecível para aqueles que, como eu, tiveram o privilégio de ver o filme nessa sala (na foto acima, abertura de "Indiana Jones no Templo da Perdição"). Outra produção de Steven Spielberg, "ET: o Extraterrestre" foi exibida no Comodoro, em 1982. "De Volta para o Futuro", filme que originou duas boas sequências, foi cartaz na sala em 1985. 



Segundo nos relata o leitor João Carlos Reis Pinto, foi na exibição do filme "De Volta para o Futuro" que foram instalados os decodificadores de som Dolby Stereo, em 25.12.1985. A partir desse filme, os anúncios do cinema mudaram para: "No Comodoro o mais moderno sistema de som Dolby Stereo em 70 mm" (como aparece no anúncio acima de "De Volta para o Futuro III" de 1990). Antes, era avisado apenas que o filme era em 70 mm com som estereofônico. 






Nessa época veio o primeiro sinal do declínio do cine Comodoro: a perda da exclusividade nos lançamentos. Tal privilégio era um dos grandes referenciais da sala e, ao que parece, ajudava a compensar o alto custo da cópia do filme de 70 mm, que vinha do exterior (nas imagens acima, fachada do cinema e o anúncio de "Fuga à Meia-Noite" em 1988). 
Por sua vez, já tinha ficado evidente a decadência do centro de São Paulo no que se referia ao público mais elitizado. A avenida Paulista, os Jardins e, na década de 1990, a expansão dos shoppings centers deslocou esse público para locais tidos como mais seguros e com cinemas novos. Novos, mas sem a mesma qualidade de projeção e som do Comodoro. 
Nas avaliações e enquetes feitas até o início dos anos de 1990, a sala ainda era apontada como a melhor de São Paulo. Por exemplo, em pesquisa publicada no jornal "O Estado de S. Paulo" em 24.03.1989, foi informado que, no ano anterior, 17 novas salas de cinema foram abertas e as perspectivas eram boas para os anos seguintes. Parecia estar ocorrendo um resgate das salas com boas instalações e projeção, embora sem o luxo e o glamour das décadas anteriores. Em 1989, a cidade contava com 119 salas, menos do que em 1954, quando eram 126 cinemas, dos quais 102 nos bairros. Para avaliar esses cinemas, uma equipe do jornal visitou 29 salas de exibição. Os itens mais importantes estavam relacionados com a reprodução dos filmes, como a qualidade da projeção e o som. Os demais itens referiam-se às condições de conservação das instalações, conforto do público, higiene e segurança. O Comodoro Cinerama, mais uma vez, saiu-se bem! 
Nessa mesma avaliação, o organizador da famosa Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o crítico Leon Cakoff, afirmou que o cine Comodoro era o melhor da cidade "apesar de ser localizado na avenida São João". Além de elogiar a tela, composta de tiras elásticas que não distorciam a projeção, Cakoff destacou também as outras condições do cinema, como o ar condicionado, som e imagem, tido por ele como "de excelente qualidade". Apenas o CineSesc, localizado na rua Augusta, poderia ser equiparado em termos técnicos ao Comodoro. Tratava-se de uma sala para grandes plateias, algo que era visto como essencial para os cinemas da década de 1990, ainda na opinião de Leon Cakoff. 


Naquele momento, os videocassetes já frequentavam as casas das famílias de classe média e o centro de São Paulo, como já assinalamos, continuava o seu processo de declínio e abandono que se estende até os dias atuais. Além disso, tínhamos o "boom" dos shoppings centers, com a abertura do Eldorado, do Shopping Paulista, do Shopping Metrô Tatuapé, do Shopping Aricanduva, entre outros. Finalmente, no final da década de 1990, a implantação das salas chamadas de "multiplex" foi o golpe de misericórdia nos cinemas de rua, mesmo aqueles localizados fora do centro velho da capital paulista.
Em abril de 1990, quando o filme "Lawrence da Arabia" foi relançado em São Paulo, em cópia 70 mm restaurada, o crítico de cinema Luiz Carlos Merten comentou que teria sido melhor que o filme fosse exibido novamente no Comodoro, a maior tela de São Paulo, para que o espectador percebesse o quanto foi perdido do filme nos anos anteriores, quando o mesmo foi mostrado apenas na televisão. Mas, o cine Comodoro ainda exibia grandes produções naquele início de década de 1990, entre as quais, "Além da Eternidade", "Ghost, do Outro Lado da Vida", "Dias de Trovão", "O Poderoso Chefão - 3ª parte", "Jogos Patrióticos" "True Lies", "Forrest Gump" e a refilmagem de "Cabo do Medo", entre outros sucessos (na imagem acima, "O Enigma da Pirâmide" exibido em 1986).
Mas, em 1991, a sala sofreu um duro golpe! Em matéria publicada no jornal "Folha de S. Paulo", o articulista Adilson Laranjeira comentou que o Comodoro tinha desistido de exibir filmes com cópias em 70 mm, desde o final do ano anterior, quando havia entrado em cartaz o filme "Alta Tensão". Laranjeira escreveu para lamentar e destacar que a aparelhagem do cinema deveria ser utilizada em toda a sua capacidade, uma vez que proporcionava uma imagem perfeita. Com isso, era óbvio que o Comodoro perdeu o seu grande atrativo e se tornava um cinema igual aos demais, exibindo filmes em 35 mm, tendo o inconveniente de estar localizado "num ponto perigoso da cidade". Filmes em 35 mm? Adilson Laranjeira afirmou que isso ajudou a desvendar um blefe cometido pelos responsáveis da sala durante décadas. Sim, o Comodoro tinha condições técnicas de exibir filmes nacionais copiados em 35 mm! A empresa responsável pela sala, a U.I.P. ou United International Pictures (que antes era chamada de Cinema International Corporation) sempre alegou o contrário.
Por outro lado, a mesma U.I.P. argumentava com relação a não exibir mais os filmes em 70 mm, o custo elevado da importação dessas cópias, em torno de 20 mil dólares cada uma. Para se ter uma ideia, as cópias em 35 mm custavam em torno de 2 mil dólares! O filme teria que render muito para cobrir esse custo. A exibição no antigo sistema road show, onde apenas uma sala de cinema na cidade exibia os filmes no formato 70 mm poderia cobrir esse preço. Mas isso se a sala voltasse a ter exclusividade nos lançamentos. 
O Comodoro deixava de ser o Comodoro conhecido há tanto tempo! Pior, a sala não cumpria mais o que prometia nos seus letreiros da fachada: cinerama com filmes em 70 mm. Resultado: o cine Comodoro foi enquadrado no artigo 67 da lei 8.078/90, do Código de Defesa do Consumidor. Um inquérito foi aberto a partir da matéria publicada na Folha de S. Paulo e o cinema teve que retirar de sua fachada os letreiros do "Cinerama" e da exibição de fitas em "70 mm". Tal procedimento foi feito no dia 09.08.1991. 


Agora, a sala era apenas Cinema Comodoro! No anúncio acima, de 1994, podemos observar que o cinema já não exibia mais o logotipo "Cinerama" que o tornou tão famoso (no mesmo anúncio, o primeiro, na coluna das salas de exibição à esquerda). 
Ainda em 1994, uma matéria publicada no jornal "O Estado de S. Paulo" do dia 04 de setembro mencionava que, apesar de não exibir mais filmes no formato 70 mm, o Comodoro ainda cativava o público pelo som de alta qualidade. Contudo, eram "apenas" quatro faixas de som estereofônico e não mais as seis de antigamente (isso, desde 1985). A projeção ainda era boa. Ao que parece, no ano anterior, foi exibido o último filme no Comodoro com bitola 70 mm: "Um Sonho Distante". O gerente da sala já reclamava da queda de público. De acordo com o mesmo, as pessoas tinham receio em ir ao centro velho da capital paulista. 
Para manter o seu público familiar, a gerência da sala fazia uma recomendação aos lanterninhas para fiscalizar e impedir "cenas escandalosas fora da tela"! Mas existiam outros problemas. Também em 1994, o cinema chegou a ser fechado pela prefeitura, por apresentar laudos sobre segurança que estavam irregulares. No ano anterior, a sala ainda viu o êxito da exibição de "Parque dos Dinossauros" (Jurassic Park, 1992) com três mil pessoas, em um sábado do mês de junho. Talvez, o ultimo grande momento da história do Comodoro.
Os saudosistas, a partir daí, lembrariam apenas que um dia existiu o cinerama em São Paulo. E esse saudosismo veio rápido! O escritor Ignácio de Loyola Brandão, em uma crônica dominical publicada em 10.11.1995, no jornal "O Estado de S. Paulo" lembrava esses antigos cinemas, entre os quais o Comodoro. Brandão apontou os fatores da decadência dessas salas, os mesmos que assinalamos anteriormente e lembrou que, até o início dos anos de 1960, alguns cinemas exigiam trajes sociais para os frequentadores, como paletó e gravata. O escritor cometeu um engano, ao afirmar que o Comodoro exibia filmes em terceira dimensão. Mas o sentimento saudosista era claro e a sala, tardiamente, ganhava o respeito da crítica. Contudo, o Comodoro Cinerama entrava em seu crepúsculo! 
Ainda no início da década de 1990 foi inaugurado o sistema Dolby Stereo Spectral Recording, durante a exibição do filme "Dança com Lobos". Contudo, como nos informa João Carlos Reis Pinto, a nova tecnologia foi instalada no Cine Marabá e não no Comodoro. Um dos sinais de declínio daquela que foi a mais bem equipada sala de cinema da capital paulista. 


No dia 23.03.1997, quando estava em cartaz o musical "Evita" (foto acima) estrelado pela cantora Madonna, o Cinema Comodoro (lembramos que era assim que estava sendo chamado) fechou as suas portas, em definitivo! Decisão inesperada da empresa controladora da sala. Uma matéria publicada no dia seguinte, no jornal Folha de S. Paulo, novamente de forma errada, citava que a sala foi a responsável por lançar os filmes em 3D no Brasil. As gerações mais novas ainda confundiam o cinerama com o 3D!


Mas esse detalhe pouco importava para o simpático casal João Araújo e Camila D'Antola. Simbolicamente, são os últimos espectadores da inesquecível sala. Na verdade, os dois compareceram apenas para que a jovem conhecesse o local. O cinema não estava mais funcionando quando a foto acima foi tirada! Quantos casais não tiveram momentos inesquecíveis nesse cinema. Possivelmente milhares!
O responsável pela U.I.P., empresa mantenedora da sala, afirmou que o Comodoro, embora não lotasse mais, tinha com as suas 985 poltronas uma ocupação alta ao longo da semana. Mas, isso não impediu o fim dessa e das demais salas de exibição do centro velho de São Paulo. Naquele mesmo ano, dois outros cinemas de rua encerraram as suas atividades: o cine Metro e o cine Marrocos. Era o fim de uma era para a cidade!  


Mesmo estando fechado, o famoso cinema ainda teve que passar por um "golpe de misericórdia". Na noite do dia 25.08.2000, um incêndio destruiu completamente as instalações do velho Comodoro Cinerama. O sinistro foi provocado por um curto circuito e atingiu o telhado, o qual desabou (foto acima).  



O Comodoro Cinerama virou uma lembrança do passado da cidade de São Paulo, que ficou na memória de muitos (nas duas fotos acima, a fachada do Comodoro em 2014). Um deles tornou-se presidente da República: Luiz Ignácio "Lula" da Silva. Em um encontro com personalidades do meio artístico, inclusive cineastas, em 2009, o presidente Lula lembrou dos cinemas que frequentava na sua juventude e um deles era o cine Comodoro. O mesmo referiu-se à tela em "cinemascope" e afirmou que 10 salas de cinema de shoppings juntas não caberiam dentro do Comodoro. Quem viveu e viu os tempos de glória dessa inesquecível sala de exibição, pelo menos nessa afirmação, concordará com o presidente Lula........
Crédito das Imagens:
Anúncio com o filme "Terror na Montanha Russa": edição do "Jornal da Tarde" de 1978 (infelizmente sem a data específica). Acervo do autor. 
Anúncio do filme "2001: Uma Odisséia no Espaço": edição do "Jornal da Tarde" de 1976 (sem a data específica). Acervo do autor. 
Fotograma do filme "2001: Uma Odisséia no Espaço". DVD Warner B., Coleção Stanley Kubrick. 
Anúncio do filme "Isto Também Era hollywood": edição do "Jornal da Tarde" de 1977 (sem a data específica). Acervo do autor. 
Anúncio do filme "O Campeão": jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 29.06.1979, p. 22.
Técnico examina filme em 70 mm:
http://sennhausersfilmblog.ch/2009/02/04/berlinale09-weiter-tiefer-und-viel-viel-breiter-mit-der-70mm-retrospektive/
Anúncio do filme "Grease: nos Tempos da Brilhantina": jornal "O Estado de S. paulo", edição de 02.11.1978.
Fila na entrada do cine Comodoro em 1979: site Pinterest.
Platéia superior do cine Comodoro: http://www.spshow.com/gay/mem%F3riagay/cinemas/comodoro-cinerama-page.htm
Fachada do cine Comodoro após a reforma: jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 09.02.1996. 
Anúncio do filme Ben Hur: jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 29.10.1981, p. 67.
Fotograma do filme Ben Hur: DVD Comemorativo, Warner B. , 2005. 
Películas 35 mm e 70 mm: http://www.astortheatre.net.au/about-the-astor/35mm-70mm-prints
Fotograma de "Indiana Jones no Templo da perdição": Caixa As Aventuras de Indiana Jones, Lucasfilm Ltd. 
Anúncio do filme "De Volta para o Futuro III": jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 14.07.1990, p. 11. 
Fachada do Comodoro em 1988: http://salasdecinemadesp.blogspot.com.br/2007/10/comodoro-visitado-antes-do-incndio.html
Anúncio do filme "Fuga à Meia Noite": jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 20.11.1988, p. 93.
Anúncio do filme "O Enigma da Pirâmide": jornal "O Estado de São Paulo", edição de 04.05.1986, p. 156. 
Cartaz do filme "Perigo Real e Imediato": jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 17.11.1994, p. D11. 
Fachada do Comodoro em 1997 com o filme "Evita": http://cinemafalda.blogspot.com.br/2010/04/cine-comodoro-sao-paulo.html
Casal visitando o cine Comodoro: jornal "Folha de S. Paulo", edição de 24.03.1997, p. A-12.
Incêndio do cine Comodoro: jornal "Folha de S. Paulo", edição de 26.08.2000. 
Fachada atual do cine Comodoro: acervo do autor.

12 comentários:

  1. Olá!
    Parabéns pelos artigos, realmente excelentes!!!
    Um fato relevante que deve ser apontado na história do Comodoro foi a instalação dos decodificadores de som Dolby Stereo em 25/12/1985, com a estréia do filme "De volta para o futuro". Deste filme em diante, os anúncios do comodoro mudaram para: "No comodoro o mais moderno sistema de som Dolby Stereo em 70mm". Anteriormente constava dos anúncios: "No comodoro em 70mm - som estereofônico".
    Outro fato interessante que mostra a decadência do Comodoro no início dos anos 90 foi a inauguração do sistema Dolby Stereo Spectral Recording no Marabá (e não no Comodoro...) em 12/04/1991, com o filme Dança com Lobos. Constou do anúncio deste filme: "O melhor sistema de som do mundo agora no Cine Marabá. Venha descobrir porque dança com lobos ganhou o Oscar de melhor som, conhecendo o novo equipamento Dolby Spectral Recording e o sistema JBL instalados, a partir de hoje, especialmente para você no Cine Marabá"

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  2. Caro João Carlos, obrigado pela leitura e pela informação. Não tinha conhecimento desses detalhes. Vou inserir posteriormente no texto e dar-lhe o crédito. Se puder, envie-me o seu nome completo. Um grande abraço!

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  3. Olá Jonas!
    O final do Comodoro foi bastante melancólico.
    Estive lá pela última vez em Dezembro de 96, poucos meses antes de fechar, onde levei minha irmã para assistir o filme infantil "101 dálmatas" com a Glenn Close.
    O número de espectadores ainda era considerável, mas foi triste ver um filme em 35mm ocupando apenas a parte central daquela enorme tela curva. O interessante é que foi uma das poucas vezes em que vi a cortina sendo acionada, no início e término da sessão. Um show à parte!
    Um bom natal!
    João Carlos Reis Pinto.

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    1. João, frequentei o Comodoro desde a década de 1970 e vi grandes filmes, inclusive reprises de E o Vento Levou e 2001: Uma Odisseia no Espaço. O ultimo que assisti foi O Parque dos Dinossauros em 1993. O som ainda era poderoso! Boas festas para você!

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  4. Tudo isso graças ao shopping centers que provocou esse abandono do centro velho de são paulo e os vários gestores que passaram pela prefeitura também contribuíram para isso. O brasileiro destrói sua história, suas origens, sua identidade...é isso!

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  5. Olá, tudo bem?

    Meu nome é Camilla Santos e estou fazendo um livro reportagem para ESPM-SP. Estou produzindo uma matéria sobre cinemas de rua de São Paulo que ainda estão em funcionamento. Nessa reportagem abordaremos desde a origem do cinema, sua história e sua atual situação.

    Vamos falar sobre três cinemas de rua, sendo eles, o Caixa Belas Artes, o Playarte Marabá e a Galeria Olido. Vimos aqui em seu blog como você aborda os cinemas de rua, mostrando sua importância e história.

    Seria possível realizarmos uma entrevista para conversarmos sobre os cinemas de rua em um modo geral, a importância que eles têm e o seu declínio?

    Agradeço desde já e aguardo um retorno :)

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    1. Olá. A resposta veio demorada. É que eu não recebo mais no meu e-mail os comentários do meu blog. Acho que o seu projeto já deve ter sido encaminhado. De qualquer forma, estou à disposição. O meu e-mail para contato é:
      jjonasalmeida@terra.com.br

      Obrigado pela leitura...

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  6. Digo-lhes que a vida me proporcionou a oportunidade de "viver" muitos momentos destes citados nessa matéria, e digo-lhes mais:
    SAUDADES! SAUDADES! Nunca houve igual e talvez não haverá.

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  7. Com relação à confusão da capacidade do Cine Comodoro em exibir películas apenas no formato 70mm, isso nunca foi verdade. A cabine estava equipada com 2 esplendidos projetores marca Cinemeccanica, mod. Vitoria 8 70/35. Podia operar em ambas as bitolas. Porém, isso implicava em trocar várias engrenagens e acessorios do projetor, num processo que levaria ao menos 1 hora. Então, não, não era possível exibir na mesma sessa filmes de 70 e 35 usando os mesmos projetores.

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    1. Obrigado por essa informação técnica, que eu não conhecia. Acho que a questão era exibir filmes em 35 mm e colocar na fachada que eram de 70 mm, o que configurava propaganda enganosa. Abçs.

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  8. Filmes planos alguns foram passads para 70mm?

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    1. Se eu entendi a pergunta, você quis dizer se algum filme antigo passou para o formato 70 mm. Sei de E o Vento Levou, que não foi produzido originalmente nesse formato e na década de 1960 foram lançadas cópias em 70 mm e som estereofônico. Obrigado pela leitura e abraços...

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