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domingo, 13 de março de 2016

Muito além do impeachment...


Caros leitores, este é um blog de História. E como não poderia deixar de ser, neste momento em que encontramos uma nação dividida, algo aliás que foi expresso nas urnas na ultima eleição presidencial de 2014, aproveito para expor algumas questões que sirvam para uma pura e simples reflexão. Opiniões divergentes existem e sempre existirão. Nada mais natural, afinal nos chamados regimes democráticos liberais, cujo modelo mais conhecido é o norte-americano, que começou a se organizar ainda no século XVIII, existem tais diferenças políticas e ideológicas. É o simples retrato da sociedade que também é dividida em classes, subclasses, frações de classe ou outros segmentos. Quando um político dirige-se ao "povo" é preciso sempre ter isso em mente. Muitas vezes se pretende que interesses restritos ou de algum grupo social sejam os de toda a sociedade. É evidente que os interesses mais poderosos do ponto de vista econômico e político tendam a se expressar com maior força, inclusive com apoio da mídia, procurando agregar a sociedade às suas vontades, como se fosse a vontade geral. Exatamente em função disso é que o cidadão deve se informar, ler, se educar, para poder discernir o que, de fato, é de seu real interesse ou não. Isso se aplica, inclusive, aquilo que lemos ou assistimos nos veículos de comunicação. O fato de estar impresso em um jornal ou revista não significa que devamos aceitar sem refletir ou, se for o caso, criticar. A obrigatoriedade em ter de aceitar tudo o que nos é informado pela mídia sob pena de ser excluído ou ridicularizado em um meio social é totalitarismo! Já vimos isso nos regimes fascistas e sabemos no que resultou!
Nesse sentido cabe analisarmos com mais cuidado o momento atual em nosso país. A corrupção não foi inventada por um único partido e, infelizmente, está presente nos demais, sobretudo naqueles que pretendem promover uma ruptura do processo democrático liberal insistindo na tese do impeachment ou afastamento da atual chefe de governo. De fato trata-se de um Executivo (presidência) enfraquecido, que não soube costurar as alianças dentro do regime de coalizão no Legislativo (Congresso Nacional), a fim de garantir a governabilidade e o apoio nas votações. Na verdade, o governo atual ficou refém de partidos oportunistas e mesquinhos, cujo único interesse é a luta pelo controle dos cargos e mesmo pelo poder a qualquer custo. 
Por isso, algumas perguntas necessitam ser feitas. Aqueles que gritam e fazem alarde da suposta corrupção no governo não carregam sobre os seus ombros esse peso indisfarçável? Por acaso são pessoas sobre as quais não pairam, no mínimo, suspeitas de atos de corrupção, quando não efetivamente comprovadas, inclusive por denúncias vindas de outros países, de terem contas secretas no exterior? A operação Lava Jato não estará sendo direcionada contra um único partido, livrando os demais? Não há outros interesses em jogo, como a revisão da exploração do Pré-Sal e uma partilha da Petrobrás em prol de petrolíferas alienígenas (afinal, isso já ocorreu no passado e levou um presidente ao suicídio)? Qual o interesse do maior conglomerado da mídia brasileira em defender a queda do governo de maneira aberta e pouco isenta? Qual o projeto de mudança que a oposição apresenta? Apenas tirar um governo que foi eleito de forma democrática por outro que ninguém sabe ao certo como será composto? Me desculpem, mas são indagações que necessitam ser feitas. No ultimo pleito, o candidato oposicionista falou em aprimorar. Aprimorar o que já estava sendo feito! Novamente me desculpem, isso não é projeto, isso não é plataforma política. Tanto que o mesmo foi derrotado nas urnas.  
Mas existe um outro temor. Em 1964 um governo foi derrubado sob o mesmo pretexto, tirar os comunistas corruptos do poder. Um golpe militar e civil, assim o classificou o sociólogo e depois presidente Fernando Henrique Cardoso, derrubou um presidente constitucional e estabeleceu um governo ditatorial que se perpetuou por 21 anos. E o que tivemos? A destruição da escola pública de qualidade. Sim, isso ocorreu na época da Ditadura de 1964 e este que vos escreve é testemunha disso. A saúde pública foi sucateada e quase destruída! O patrimônio natural dilapidado. A Amazônia saqueada. A floresta queimada. Sim, já se esqueceram de quem começou a pilhar as riquezas daquela região? Os serviços públicos desorganizados. As desigualdades regionais se acentuaram. A violência urbana explodiu. Muitos imaginam que na Ditadura Militar (e Civil), por ser coordenada pelos militares, existia segurança nas cidades. Foi exatamente nessa época que a insegurança começou! A polícia foi direcionada para prender e torturar opositores do regime e não para proteger o cidadão! O Brasil foi tirado de sua rota de reformas sociais e democráticas para um outro caminho obscuro! E muitos hoje desejam que isso volte!
O atual governo, com todos os seus problemas e possíveis defeitos, foi eleito de forma legal e de acordo com as normas constitucionais. As eleições a cada quatro anos existem exatamente para isso, para que o eleitor possa ter uma nova oportunidade de escolher um candidato e uma proposta. Romper com esse processo significa abrir um precedente grave e que pode levar ao poder uma nova coalização de forças, cuja atuação política é imprevisível. Políticos cujas mãos estão manchadas pelas cores da imoralidade e da corrupção a que se propõem combater!
Muitos podem afirmar que o atual governo é corrupto e está destruindo o país. Mas onde estão as provas do envolvimento da presidente com os casos noticiados e na operação Lava Jato, que poderiam justificar o seu afastamento? A atual chefe do Poder Executivo é quase a unica na elite política que não têm o seu nome citado. E mais uma vez destacamos, os que pretendem tira-la do cargo e muitos integrantes da oposição estão envolvidos até o pescoço em escândalos, recebimento de dinheiro ilícito e com contas secretas em paraísos fiscais! 
A economia tem indicadores inexpressivos, mas está longe do desastre que a oposição desenha. A comparação com os últimos vinte anos é um bom indicador. As fábricas de automóveis reclamam da carga tributária. Mas nem cogitam em deixar o país! Pelo contrário, outras montadoras anunciam intenção de investir aqui. O Brasil é, em grande parte, a tábua de salvação para o declínio nas vendas de automóveis na América do Norte e na Europa. A construção civil fala em queda nas vendas, mas os lançamentos continuam. O agronegócio se beneficia da alta do dólar que barateia os produtos agrícolas no mercado externo. Sim meus caros, a alta do dólar pode prejudicar as viagens ao exterior, mas também traz benefícios internos.
Mas há uma outra questão grave: os opositores não mencionam a necessidade de uma reforma política e, talvez, na Constituição. O financiamento privado das campanhas eleitorais é pernicioso e dá margem à corrupção. Os interesses políticos ficam atrelados aos interesses privados. Campanhas eleitorais de custo excessivamente elevado geram sobras que posteriormente são utilizadas de forma a atender outros interesses que não o da sociedade. Por que a oposição, se deseja de fato, combater a corrupção, não propõe essa reforma? Aliás é preciso lembrar que a presidenta propôs isso em 2013, sendo ignorada pelo Congresso nacional e ridicularizada na mídia. 
Vislumbrar qual a alternativa mais adequada para o país passa por dar resposta a essas indagações antes de se cogitar um impeachment. Esta postagem não têm fotos ou ilustrações. O seu objetivo é tentar promover uma reflexão e sobretudo, tirar o foco dos atos de intolerância e sair do embate entre "petralhas" e "coxinhas"! Ou será que devemos seguir o caminho da Ucrânia, da Síria, do Egito, da Argélia e da Líbia? Lamento dizer, mas há muitos interesses obscuros que apostam nisso...