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sábado, 11 de novembro de 2017

Dica de Filme: Tudo que o Céu Permite (1955)




Lá vem ele de novo com filme velho! Velho? Depende! Em termos de produção, sim. De conteúdo, creio que não. Se perguntarmos para muitas mulheres de hoje, talvez as mesmas considerem a trama bastante atual. Afinal, algumas delas estão vivendo uma situação muito semelhante à contada no filme. Nos referimos à película "Tudo que o Céu Permite" (All That Heaven Allows, EUA, 1955), com o cartaz original na imagem acima. Uma mulher madura que tem um relacionamento com um homem mais jovem, atraente, mas que não faz parte de seu círculo social de amizades e, nem mesmo, do seu patamar sócio-econômico. A história se passa em uma próspera comunidade do interior dos Estados Unidos, de meados da década de 1950, a época de ouro do pós-guerra na sociedade americana, com o consumismo típico da classe média ascendente, com seus carrões, residências com belos jardins e a grande novidade: a televisão! Sim, o autêntico American Way of Life, o estilo de vida copiado depois por aqui, nos grandes condomínios horizontais, sobretudo nas cidades médias do interior, mais fechadas e por isso, menos cosmopolitas. 


Uma respeitável dona de casa viúva, a personagem Cary Scott, interpretada pela atriz Jane Wyman (na época, ex-senhora Ronald Reagan ) contrata o jardineiro Ron Kirby, vivido pelo ator Rock Hudson (um dos grandes galãs de Hollywood na década de 1950), para cuidar do jardim de sua residência. Eis que, entre um cafezinho e outro, uma conversa a mais, a identificação entre os dois aparece e o amor acontece. Claro, a história não para por aí! Cary tem dois filhos, que já cursam a universidade: Kay (vivida pela atriz Gloria Talbot) e Ned (interpretado por William Reynolds). Kay, estudante de psicologia, aparenta ser uma jovem avançada no que diz respeito a comportamentos e convenções sociais, quase antecipando o que veríamos nos movimentos de emancipação da década seguinte. Bem, o que a sequência do filme nos mostrará, é que eles não eram assim, tão avançados! Os filhos se mostram chocados ao saberem do relacionamento da mãe com um homem quinze anos mais novo. 


Por outro lado, algo ainda pior, a sociedade e o grupo de amizades nas quais Cary vive. Sua melhor amiga, Sara (vivida por Agnes Moorehead, a Endora do clássico seriado "A Feiticeira") até que tenta inserir o casal nos círculos sociais locais, mas sem muito sucesso (na imagem acima, as duas amigas). O fato curioso, é que Cary é constantemente assediada por homens mais velhos do que ela, inclusive por Harvey (vivido por Conrad Nagel), um distinto integrante da comunidade e que propõe casamento a Cary, quase que a queima-roupa! Ou então, aqueles que a consideram uma mulher vulgar, pelos simples fato de estar envolvida com um homem mais jovem. Bem, o resto fica por conta dos interessados em assistir à essa película, tida como um verdadeiro cult-movie por cineastas de peso, entre eles o aclamado diretor alemão R. W. Fassbinder e o francês Jean-Luc Godard. 


Vale destacar uma das sequências mais representativas do filme, quando os filhos de Cary, nas vésperas do Natal, presenteiam a mãe com um moderno aparelho de televisão. Uma tentativa de fazer com que ela se distraia mais em casa e esqueça o seu relacionamento com Ron. A cena em que Cary tem a sua própria imagem refletida na tela do aparelho desligado é reveladora, como que indicando que a situação por ela vivida caberia muito bem em um drama ou filme (imagem acima). E sobretudo, a solidão em que ficará entregue, caso decida abdicar de seus verdadeiros sentimentos. Um momento ímpar na história do cinema.


Douglas Sirk, é um dos grandes diretores do cinema norte-americano, embora tenha nascido na Alemanha e de uma família de origem dinamarquesa (na foto acima, Sirk com o elenco principal do filme). Fez carreira na sua terra natal como diretor de teatro, mas em 1934 teve que sair do país, em função da ascensão de Hitler ao poder (sua esposa era judia), quando dava os primeiros passos na direção de filmes. A carreira como diretor em Hollywood teve o seu grande momento na década de 1950, em produções como "Sublime Obsessão" (1954), "Palavras ao Vento" (1956), "Almas Maculadas" (1957) e "Imitação da Vida" (1959), além desta que estamos apresentando. A sua originalidade consiste em ir além do simples melodrama, e a partir do mesmo, traçar uma verdadeira radiografia social de seu tempo, de estabelecer críticas sutis a valores e preconceitos escondidos por detrás da fachada de prosperidade material e felicidade, vividos nos chamados "anos dourados" da sociedade norte-americana. 


Para os professores das áreas de humanidades, o filme (na foto acima, material promocional da película) pode funcionar como um "sensibilizador" (que desperte sentimentos e opiniões) a fim de proporcionar debates nas aulas de sociologia, história, filosofia, psicologia e, até mesmo, urbanismo. Debates necessários, principalmente no mundo atual que estamos vivendo, o qual aparenta ser avançado em termos de valores e ideias, mas que na prática, não é exatamente assim... 

Para assistir: 
"Tudo que o Céu Permite" (1955). Direção: Douglas Sirk. Com Rock Hudson, Jane Wyman, Agnes Moorehead, Conrad Nagel e Virginia Grey. DVD Versátil Home Vídeo. Legendas em português. Duração aproximada de 89 minutos.  
Crédito das imagens
Cartaz original e foto do elenco com o diretor: https://theredlist.com/wiki-2-17-513-864-870-view-comedy-romance-3-profile-1955-ball-that-heaven-allows-b-1.html
Material promocional da película: acervo do autor.
Demais imagens: fotogramas do DVD. 



Um comentário:

  1. Amei sua resenha. Curta e objetiva. Sou fã de filmes da década de 50 e este eu desconhecia. Vou ver se acho o dvd pra comprar. Um abraço carinhoso.

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