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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Mário Sergio Cortella e o confronto com a história



No dia 25 de fevereiro último, este que vos escreve assistiu ao primeiro bloco do Jornal da Cultura, levado ao ar pela TV Cultura de São Paulo (uma emissora pública), aguardando com interesse a fala do prestigiado filósofo Mário Sergio Cortella. O mesmo foi convocado pela apresentadora Joyce Ribeiro para comentar a respeito da situação na Venezuela e da possibilidade de ocorrer naquele país vizinho um conflito armado de proporções imprevisíveis, sobretudo diante de um possível ataque das forças militares estadunidenses. Como pensador católico e coerente com as suas convicções, Cortella rejeitou a solução militar ou o uso da força, para o "impasse" em que o país se encontra. Por que coloquei impasse entre aspas? Só para lembrar o caro (a) leitor (a), Nicolás Maduro foi eleito no início do ano para um novo mandato presidencial, num pleito (eleição) que seguiu as normas constitucionais daquele país. Contudo, o resultado das urnas não foi aceito pelos opositores, entre eles Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país exigindo a renúncia do atual presidente Maduro. Imediatamente, os Estados Unidos e alguns países da América do Sul (entre eles, o Brasil), reconheceram Guaidó como presidente interino. O procedimento foi acompanhado por vários integrantes da União Européia. Porém Uruguai, México, Bolívia, Cuba, Rússia e China respeitaram o resultado das urnas, que mantiveram Nicolás Maduro no governo. Até o presente momento, está é a situação da Venezuela. 
Mas, voltemos ao Mário Sergio Cortella. No seu comentário, após rejeitar a solução do problema venezuelano pelo uso da força, o filósofo citou o escritor irlandês James Joyce que teria afirmado: "Questões que são resolvidas com violência, nunca são resolvidas". Na mesma linha de raciocínio, afirmou que "guerra civil não têm vencedor, só sobrevivente", arrematando com alguns exemplos, entre os quais o da Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana (conflito entre as forças do norte e do sul dos Estados Unidos, entre 1861 e 1865), da qual ainda perdurariam vários desentendimentos. Cortella fez referência também ao episódio envolvendo o ex-presidente do Brasil João Goulart, que diante do golpe contra ele em 1964, resolveu não resistir para evitar um confronto dentro do país, optando por deixar o Brasil, apesar de lhe ser sugerida a resistência. Para Cortella, talvez Nicolás Maduro, "que se diz um patriota", deveria tomar uma atitude semelhante, a fim de promover a pacificação de seu país e de seu povo. 
Pois bem, nessa fala do filósofo Cortella cabem, sem dúvida, várias observações do ponto de vista histórico. Qualquer estudante do ensino médio observa que, ao longo dos séculos, ocorreram conflitos armados ou guerras. Sejam tais conflitos relacionados a problemas internos de um determinado país (guerra civil) ou às guerras clássicas, que envolvam dois ou mais estados, ou mesmo verdadeiras coligações, como no caso da Segunda Guerra Mundial (Eixo contra os Aliados). Afirmar que tais conflitos não produzem resultados que não sejam o da permanência das questões que os originaram, não é correto sob a perspectiva de uma analise histórica. Por mais que sejamos pacifistas ou rejeitemos o recurso à violência, não podemos ignorar que as guerras, principalmente quando nos referimos ao campo militar (embora as mesmas não se resumam a isso), possam resultar em vencedores e vencidos. Além disso, consequências são advindas das mesmas, como perdas em vidas humanas, prejuízos materiais, pagamento de indenizações e perdas territoriais, entre outras inúmeras decorrências. Da mesma forma, os conflitos militares, muitas vezes, não se constituem em solução das dissenções e as mesmas podem permanecer ou mesmo ressurgir sob outros formatos. Sim, existem casos em que muitas das questões pendentes permanecem sem solução, até mesmo dificultando a verificação de um vencedor (e de um perdedor) e ainda podendo gerar novos conflitos. Muito conhecida se tornou a expressão "vitória de Pirro" (antigo rei grego que derrotou os romanos no século III a.C.), utilizada para caracterizar uma vitória obtida a um custo tão elevado, que incapacita o exército vencedor para outras batalhas. Contudo, ignorar o fato de que muitos conflitos apresentam um desfecho, nos faz perder de vista o significado dos mesmos. 


As duas grandes guerras mundiais tiveram perdedores e vencedores. Hitler foi fragorosamente derrotado em 1945, da mesma forma que Mussolini. O nazi-fascismo foi varrido da Alemanha e da Itália (na foto acima, da esquerda para a direita, Churchill, Roosevelt e Stalin representando Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética, os vencedores da Segunda Guerra Mundial, na Conferência de Yalta em 1945). Sem dúvida, um resultado que não nos certifica de que tais ideologias totalitárias não possam ressurgir, mas o desfecho da grande guerra é algo real e concreto. 


Da mesma forma, agora fazendo referência a uma guerra civil, na Guerra de Secessão, citada por Mário Sergio Cortella, os ianques (norte) derrotaram os confederados (sul), daí resultando a abolição da escravidão nos Estados Unidos (na foto acima, soldados confederados mortos após a Batalha de Antietam, em 1862). Pelo raciocínio de Mário Sergio Cortella, para evitar derramamento de sangue, Abraham Lincoln deveria ter recuado e aberto caminho para o aclamado presidente confederado Jefferson Davis, o qual, aliás, não foi eleito. Nicolau Maquiavel escreveu há mais de 500 anos que é praticamente uma obrigação do príncipe defender o seu governo e de antever as reações dos rivais (internos e externos). Acrescentemos, é legítimo que o faça, sobretudo quando oriundo de normas pré-estabelecidas, como num processo eleitoral. Lembremos que no caso venezuelano, em eleições anteriores, não foram verificadas fraudes, mesmo nos pleitos que conduziram o antecessor Hugo Chavez ao governo, que tiveram a chancela do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter. Por outro lado, exigir que um governante eleito com respaldo popular deixe o poder, sobretudo sendo uma imposição vinda de fora, não seria também uma violência ou ato de força? 
Mário Sergio Cortella, como já afirmamos, referiu-se às guerras civis admitindo que as mesmas produzem apenas sobreviventes. O confronto entre o Exército Vermelho (comunistas) e o Exército Branco (associadas ao velho regime monarquista), que se seguiu à Revolução Russa de 1917 teve um desfecho. A vitória do primeiro sobre o segundo e o antigo regime abolido, com a velha aristocracia tendo que emigrar do país, que depois se transformou na União Soviética. 


A propósito, vale lembrar que esta última saiu vitoriosa da Segunda Guerra Mundial impondo uma derrota a Hitler. Vitória essa comemorada até hoje nas principais cidades russas pelos familiares dos soldados e civis que perderam a vida no conflito, chamado lá de Grande Guerra Patriótica (acima, prisioneiros alemães desfilam pelas ruas de Moscou em 1943). A Guerra Civil Espanhola deixou 1 milhão de mortos e levou os fascistas ao poder com o general Francisco Franco. Ainda poderíamos citar a Revolução Chinesa que conduziu Mao Tsé-Tung e o Partido Comunista Chinês ao controle do país em 1949 e o afastamento dos nacionalistas liderados por Chiang Kai-shek para a ilha de Formosa (hoje Taiwan). Não se pode explicar o que é a China atual sem fazer referência direta a esse conflito e aos seus resultados. 
Enfim, os historiadores estão sendo pouco ouvidos em relação a esses assuntos, os quais dizem respeito mais à sua área do que a de outros especialistas, por mais bem preparados que sejam. O trabalho com a história e a busca de conhecimento nessa disciplina dependem de metodologias apropriadas e de todo um suporte teórico que embase o trabalho do historiador. E a ele também cabe observar o ponto de vista dos vencidos, pois a história, na maioria dos casos, é escrita pelo lado vencedor. Eis aqui outro critério do  trabalho historiográfico. Contudo, não é possível  relativizar ao extremo a oposição vencedor e vencido, sob a pena de perdermos o foco da própria história. Por sua vez, a interdisciplinaridade (contato com as demais disciplinas) é muitas vezes necessária. A história dialoga com o saber filosófico e com vários outros ramos do conhecimento. 
Mário Sergio Cortella é um grande divulgador da sua disciplina, ganhou notoriedade e muitas vezes é chamado a comentar sobre tudo. Nada contra, principalmente quando se sabe que o público é carente de conhecimento e de ouvir alguém capaz de interpretar o mundo ao nosso redor. Porém, é preciso certos parâmetros e critérios, a fim de não sobrepormos sentimentos, muitas vezes nobres, diante de acontecimentos que requerem outras vertentes interpretativas provenientes das demais disciplinas. Em que pese ser o filósofo Cortella contrário ao uso da violência (até por sua própria tradição cristã, como já foi destacado), aliás todos nós devemos ter isso como princípio humanitário, muitas vezes é a mesma que impulsiona e acelera o transcorrer do processo histórico, para o bem e para o mal, independente da forma como possamos questionar esse dualismo. Lembremos, os direitos do homem foram legalmente estabelecidos em acontecimentos históricos que tiveram como pano de fundo o uso da violência, como nos mostram a Revolução Americana (ou Guerra de Independência dos Estados Unidos) e a Revolução Francesa. É isso aí...
Crédito das imagens:
Foto de Mário Sergio Cortella:
https://veja.abril.com.br/politica/haddad-quer-mario-sergio-cortella-no-ministerio-da-educacao/
Conferência de Yalta: Wikipédia
Demais imagens: Pinterest

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

VIII Seminário de História Ambiental - Submissão de Trabalhos



Atenção historiadores, geógrafos, sociólogos, economistas, especialistas em relações internacionais, engenheiros, ambientalistas e outros profissionais. Já está aberto o prazo de inscrição para apresentação de trabalhos no VIII Seminário de História Ambiental cujo subtítulo é "Diálogos Interdisciplinares sobre Meio Ambiente: Saberes e Interlocuções", a realizar-se entre os dias 22 e 23 de maio de 2019, na Unifesp de Osasco em São Paulo. O convite estende-se a todos aqueles que desenvolvem algum tipo de estudo ou pesquisa relacionado com a questão ambiental e deseje apresentar o mesmo para a troca de ideias, críticas e sugestões. Trata-se de uma excelente oportunidade voltada à problemática do meio ambiente, dentro de um panorama histórico e interdisciplinar, mas destacando também as implicações no tempo presente. Aliás, algo que está na ordem do dia após o ocorrido na barragem de Brumadinho (MG). No encontro participarão profissionais, estudiosos e palestrantes que dedicam o seu trabalho profissional e/ou intelectual a discutir a questão ambiental.
O prazo para a apresentação (submissão) de trabalhos vai dos dias 25.02 a 18.03.2019. Para inscrever-se, acesse o site especial do VIII  Seminário:
https://sabereseinterlocucoes.webnode.com/

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Revista de História da Biblioteca Nacional disponível na internet



Excelente notícia para os historiadores e para os amantes da disciplina de Clio (musa da História), a Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN) está disponível para consulta na internet (acima, o primeiro número da revista). A mesma surgiu a partir de uma dissidência ocorrida em 2005 na revista Nossa História e que saiu de circulação no ano seguinte. A Sociedade Amigos da Biblioteca Nacional resolveu criar uma nova publicação e aí surgiu a RHBN, dedicada à divulgação de temas e assuntos relacionados com a História do Brasil. No conselho editorial da revista temos historiadores de grande renome como Francisco Carlos Palomanes Martinho, Francisco Doratioto, Luiz Carlos Villalta, Maria Fernanda Bicalho, Monica Grin, entre outros. A publicação foi tida como a única criada, produzida e dirigida por historiadores voltada para a divulgação da produção historiográfica junto ao grande público e fora da academia. Infelizmente, por razões financeiras, a RHBN deixou de circular na forma impressa em 2016 e no ano seguinte parou de ser editada, quando o site da revista saiu do ar. 




Portanto, você que não conhecia a RHBN e para aqueles que estavam com saudades da mesma, eis a oportunidade para visitar e ler os seus artigos. Os mesmos podem ser impressos e com recurso de envio por e-mail. O acesso às edições da revista estará de forma permanente em nossos Links Interessantes. Fica o meu agradecimento a Suely Moraes que administra o grupo História e Historiografia Brasil, nas redes sociais, pela dica...
Para ler: 
https://web.archive.org/web/20160122105923/http://revistadehistoria.com.br/
Crédito das imagens:
Acervo do autor. 

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Cinco Tons de George Washington



No ano de 1998, este que vos escreve teve a oportunidade de visitar a National Gallery of Art na capital dos Estados Unidos e ver de perto alguns dos retratos do presidente George Washington feitos pelo pintor Gilbert Stuart. Lá mesmo, fiz pequenos esboços ou cópias em meu bloco de desenho que levava no bolso, os quais estão reproduzidos nesta pequena mostra. A coleção da National Gallery é fabulosa, do que existe de melhor na arte ocidental e contando com trabalhos de grandes artistas, como por exemplo Fra Angelico, Botticelli, Leonardo da Vinci (com o seu único quadro existente no continente americano), Ticiano, El Greco, Rubens, Rembrandt, Cézanne, Renoir, Van Gogh, Picasso, só para ficar em alguns poucos! Claro, a instituição também abriga os grandes nomes da arte estadunidense, entre os quais John Singleton Copley, Benjamin West, Winslow Homer, James McNeill Whistler, Mary Cassatt, que trabalharam na virada do século XVIII para o século XIX. Destes últimos, temos obras de enorme qualidade, como no caso dos pintores que retrataram figuras da história daquele país, os chamados "pais fundadores", personagens atuantes na Revolução ou Independência Norte-Americana de 1776. Entre esses retratistas, sem dúvida, o grande destaque vai para o já citado Gilbert Stuart (1755-1828), o responsável por perpetuar o rosto do general e estadista George Washington. 


Stuart foi um grande pintor e retratista (só para lembrar, a fotografia ainda não havia sido desenvolvida). Ao longo de sua vida pintou mais de mil pessoas, incluindo os seis primeiros presidentes dos Estados Unidos. Nascido em Rhode Island (norte dos EUA) de uma família de origem escocesa, teve o seu aprendizado como artista ainda adolescente, em solo americano. Começou a se destacar como pintor de retratos quando estourou a Revolução Americana contra os ingleses, em 1776. Sem poder manter a sua atividade, Gilbert Stuart partiu, vejam só, para a Inglaterra. Repare o leitor (a), o retratista dos heróis da independência refugiou-se junto aos inimigos, a fim de manter o seu ofício. 



Na Inglaterra contou com a ajuda de outro pintor americano, Benjamin West, que ficou conhecido também por colocar em seus trabalhos temas ligados à história dos Estados Unidos. Aos poucos, Gilbert Stuart adquiriu prestígio comparável aos grandes artistas ingleses da época, como Joshua Reynolds e Thomas Gainsborough. Contudo, o pintor não era tão talentoso para administrar as suas finanças, era perdulário e quase foi preso em função das enormes dívidas adquiridas. Em Londres, Stuart mantinha um estilo de vida por demais suntuoso, chegando a adquirir uma enorme carruagem, algo visto como fora das capacidades de um simples plebeu oriundo da colônia. Em 1787 teve de fugir para a Irlanda, a fim de escapar dos credores. 


No ano de 1793, Gilbert Stuart regressou aos Estados Unidos e veio a se estabelecer em Germantown, na Pensilvânia, próximo da Filadélfia, então capital da primeira nação independente das Américas. Lá montou um estúdio e voltou a ter prestígio como artista e também como fazedor de dívidas. Seu talento chamou a atenção do juíz John Jay, primeiro chefe de Justiça dos Estados Unidos, que era amigo do presidente George Washington. A partir de 1795, Stuart começou a trabalhar em alguns retratos do presidente. Conta-se que, para manter os modelos durante a pose, Gilbert Stuart conversava e contava histórias enquanto pintava os retratos. Contudo, ao que parece, com Washington a estratégia não deu tão certo e o artista chegou a declarar: "Uma apatia pareceu apoderar-se dele, e um vácuo espalhou-se por seu semblante, o mais apavorante de pintar." De qualquer forma, pelos resultados obtidos, Gilbert Stuart parece ter conseguido atingir plenamente os seus objetivos como retratista.


Stuart não costumava realizar estudos que antecedessem a pintura, ou seja, ia direto para a tela. Seus retratos transmitem uma impressão de naturalidade e despojamento. Mesmo após a morte de Washington, em 1799, George Stuart continuou a fazer retratos do ex-presidente com base em algumas poucas pinturas anteriores. Em 1805, o artista transferiu-se para a cidade de Boston, no estado de Massachussets e lá continuou a trabalhar até a morte, em 1828, aos 72 anos. Sim, deixou como herança para a esposa e filhas muitas dívidas, o que fez com que a família não tivesse recursos nem para comprar uma tumba para o pintor. 


Por incrível que pareça, o quadro mais famoso e mais reproduzido de George Washington, foi o de um trabalho de Gilbert Stuart que permaneceu inacabado, datado de 1796 (imagem acima) e também conhecido pelo nome de The Athenaeum (ou o "Retrato do Ateneu", pois permaneceu exposto no Ateneu da cidade de Boston). Desse retrato, Stuart fez outras 130 cópias com a ajuda de sua filha, Jane Stuart, que também era pintora e colocou as mesmas à venda por 100 dólares cada (valor apreciável no início do século XIX). Interessante notar que a grande maioria dos retratos de Washington feitos pelo artista (ou em seu ateliê) foram pintados após a morte do presidente. Pelo que se sabe, apenas três trabalhos realizados por Stuart tiveram Washington posando ou enquanto era vivo: o próprio "Retrato Inacabado", o "Retrato de Lansdowne" (com Washington de corpo inteiro) e o "Retrato Vaughan", do qual falaremos adiante. Como já foi observado, Washington se irritava em permanecer muito tempo estático para as poses. Um detalhe curioso foi observado por Gilbert Stuart: "Quando o pintei, ele tinha acabado de inserir um conjunto de dentes falsos, o que explica a expressão constrangida tão perceptível na boca e na parte inferior do rosto". Como se sabe, George Washington tinha perdido quase toda a sua dentição na altura dos trinta nos e utilizava uma espécie de dentadura feita de marfim para corrigir o problema. Alguns contemporâneos atribuíram a perda precoce dos dentes ao gosto do presidente em consumir nozes e castanhas. 



O rosto de George Washington representado no "Retrato Inacabado" apareceu nas notas de um dólar (imagem acima) por mais de um século e também estampou vários selos postais, lapidando a imagem icônica do primeiro presidente dos Estados Unidos. Nessa mesma obra de Stuart é possível perceber como era o processo de trabalho do artista e o modo de execução de suas pinturas, começando pelo rosto para depois compor o que seria o fundo do trabalho. Há algo de moderno nessa tela e em suas pinceladas, um prenúncio do que viria adiante na história da arte. 



Gilbert Stuart (acima, o pintor retratado por sua filha, Jane Stuart) pintou retratos de outros estadistas, entre eles Thomas Jefferson, John Adams, John Quincy Adams, James Monroe, James Madison para ficarmos nos presidentes que sucederam a George Washington. 



Finalmente, os dois trabalhos de Gilbert Stuart que serviram de referência para os meus desenhos, nesta mini mostra, aparecem acima. O primeiro é tido como uma cópia feita pelo próprio Gilbert Stuart no início do século XIX, possivelmente do "Retrato Inacabado" e o segundo, conhecido como "Retrato de Vaughan" (sobrenome do primeiro proprietário da obra) foi feito tendo o próprio George Washington como modelo em 1795. 
Como se percebe, por necessidade (até o advento da fotografia) ou por simples inspiração, a figura humana foi, é e continuará sendo um dos grandes temas dos artistas...
Crédito das imagens:
Desenhos: do autor da postagem. 
Retrato inacabado de Washington:
https://www.npg.org.uk/collections/search/portrait/mw197091/George-Washington
Retrato de Washington do início do século XIX:
https://www.npg.org.uk/collections/search/portrait/mw06602/George-Washington
Imagem do retrato de Washington de 1795:
https://images.nga.gov/en/search/do_quick_search.html?q=%221942.8.27%22
Nota antiga de um dólar e retrato de Gilbert Stuart feito por sua filha: Wikipédia (versão em inglês). 

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Anúncio Antigo 61: cura da sífilis e outras doenças



Na verdade um Anúncio Antigo triplo, com três produtos muito recomendados no início do século XX para combater moléstias de enorme gravidade naqueles tempos: o Licor Depurativo Tayuya, o sabão Aristolino e o xarope de Grindelia. Já tivemos a oportunidade de apontar que as doenças de pele, embora pudessem ser sintomas dos mais variados tipos de enfermidade, adquiriam enorme visibilidade por afetarem a parte mais exposta de nosso corpo. Era o caso da lepra (ou hanseníase), cuja simples menção era revestida de um aspecto mórbido. Em razão disso, os indivíduos ansiavam por um tratamento eficaz ou recorriam a certos produtos que prometiam a cura desses males. Não existia a recomendação de que "ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado". Primeiro porque em muitos lugares havia completa ausência desse profissional e segundo, porque para muitas dessas doenças a medicina ainda não dispunha de ferramentas eficazes. As pessoas recorriam aos curandeiros ou às plantas medicinais, muitas das quais, de fato, podiam ter um efeito positivo em relação a certos males, embora não a cura completa. Não é por outra razão, que essas plantas são estudadas atualmente, daí a importância da preservação das regiões que possuem biodiversidade, como a floresta amazônica. Muitas doenças que hoje têm pleno tratamento eram verdadeiras sentenças de morte em tempos não tão distantes. 



Em razão disso, vamos colocar o foco do anúncio acima em uma delas: a sífilis. Trata-se de uma DST (Doença Sexualmente Transmissível) ou IST (Infecção Sexualmente Trnasmissível, pois o indivíduo pode carregar uma infecção sem apresentar os sintomas), causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum (imagem acima, a bactéria que foi descoberta em 1905). Existem vários graus de manifestação dessa moléstia. Na fase primária, que costuma aparecer em até três semanas após o contágio, temos o surgimento de um caroço ou cancro duro. Como a transmissão é feita em geral por contato sexual (e sem o uso de preservativo), o tal caroço aparece nos órgãos genitais (pênis e vagina) ou ainda na boca, língua, mamas, dedos e na região anal.  


Na fase secundária, após o desaparecimento do caroço inicial (algo absolutamente enganador), surgem outros sintomas, como manchas vermelhas pelo corpo (imagem acima), ínguas inflamadas, mal-estar, dores na cabeça e no corpo, febre, os quais podem durar até dois anos, intercalados por pequenas melhoras. Na terceira fase temos lesões mais graves na pele, problemas cardíacos, além de distúrbios nas partes musculares, no sistema nervoso, no cérebro e no fígado. Tais sintomas surgem de modo imprevisível, em um intervalo de até 30 anos! O paciente pode evoluir para uma grave doença psiquiátrica (insanidade mental), cardiopatias e até um aneurisma (dilatação anormal dos vasos sanguíneos), caso não seja tratado de forma adequada. Enfim, desses males decorrentes da sífilis, o paciente pode ir a óbito. 


O conhecido gangster estadunidense Alphonse Gabriel Capone ou simplesmente Al Capone, atingiu o último estágio da doença, ainda quando estava detido em Alcatraz, a famosa prisão situada na baia de São Francisco, litoral do estado da Califórnia (na foto acima, ficha de Al Capone em Alcatraz, de 1934). Como se sabe, além da sua vida sexual promíscua nos bordéis, bebia em excesso e era viciado em cocaína. Em parte, foi devido ao seu péssimo estado mental, que Al Capone conseguiu deixar a prisão em 1939, em liberdade condicional. Os médicos afirmaram na época, que Al Capone tinha uma mente equivalente a de um menino de 12 anos! Após sair da prisão, a sífilis do conhecido fora-da-lei piorou e o levou à morte em 25 de janeiro de 1947, com apenas 48 anos de idade.



Por outro lado, o período pós-guerra (depois de 1945) viu a propagação de um medicamento que conseguiu estabelecer a perspectiva de cura para essa doença: a penicilina (ou antibiótico). Coube ao escocês Alexander Fleming (foto acima), um médico que atuou na Primeira Guerra Mundial, dar o passo mais importante na descoberta desse produto. Em 1928, Fleming encontrava-se em um laboratório insalubre e ao abrir uma placa de bactérias constatou que a mesma continha mofo (fungo). Ao analisar detidamente no microscópio a placa, percebeu que aquele mofo destruía as bactérias e apresentava nas suas pontas ramificações semelhantes a um pelo de pincel, daí o nome dado ao mesmo de Penicillium (pincel em latim). Dois outros cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Howard Florey e Ernst Boris Chain estudaram a estrutura química desse novo material e produziram uma síntese do Penicillium que viabilizou a sua comercialização. Florey foi aos Estados Unidos para oferecer o produto à indústria farmacêutica em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. 


Terminado o conflito, a penicilina avançou como importante instrumento de combate às bactérias e aos micróbios. Fleming, Florey e Chain foram agraciados com o Prêmio Nobel de Fisiologia (depois Medicina) em 1945 (na foto acima, Fleming em seu laboratório). 
A aplicação de injeções de penicilina aos portadores de sífilis (de acordo com o estágio da doença) começou a produzir bons resultados. Porém restava ainda outra forma de contaminação, a que ocorre durante a gravidez, que produz a sífilis congênita, quando o bebê é contaminado ainda em gestação na barriga da mãe, por meio da placenta, o que pode causar aborto e má formação do feto, dentre várias anomalias (existem outras decorrências, que surgem também no processo de crescimento da futura criança). Em razão disso, as mulheres grávidas contaminadas devem proceder a um tratamento já no pré-natal (ou antes, se possível), por meio de injeções de penicilina. O grande drama é que muitas mulheres desconhecem essa possibilidade de contaminação, em geral transmitidas pelos seus maridos e parceiros sexuais, exatamente como no caso da AIDS. No ano de 2015, Cuba foi o primeiro país do mundo a eliminar a sífilis congênita. 
Segundo dados contidos na Wikipédia, em 2015 aproximadamente 45 milhões de pessoas estavam infectadas com a sífilis e no mesmo ano surgiram 6 milhões de novos casos. Ainda nesse ano, mais de 100 mil pessoas morreram no mundo vítimas da doença. No início do século XXI o número de casos voltou a aumentar. Para muitos estudiosos, isso se deve à prática de relações sexuais sem a proteção adequada (uso de preservativos, claro) e ao aumento da prostituição. Deve ser lembrado que a doença afeta também parceiros homossexuais, que devem adotar as mesmas práticas de segurança dos casais heterossexuais (mais uma vez, o uso de preservativos). Em casos mais raros, a sífilis pode ser transmitida por meio de objetos contaminados como seringas, agulhas de tatuagem e nas transfusões de sangue. 
Existem controvérsias a respeito do surgimento da doença. Muitos historiadores acreditam que a sífilis tenha se originado na América e levada à Europa por meio da conquista efetuada pelos europeus, nos tempos da Expansão Marítima, a partir do século XVI, talvez na sequência das viagens do navegador italiano Cristovão Colombo. Da mesma forma, os europeus trouxeram para o nosso continente a varíola. A Europa acabava de se recuperar dos efeitos da Peste Negra, que eliminou aproximadamente 1/3 da população do continente. Segundo muitos relatos, soldados franceses foram contaminados na Itália (Nápoles) e levaram a sífilis para o território francês. Logo se percebeu que a doença era transmitida pelo contato sexual e por isso, apenas os idosos e as crianças eram menos vulneráveis. 



A sífilis espalhou-se rapidamente, não apenas nos prostíbulos, mas nos castelos (imagem acima, a sífilis associada à morte), nas cortes dos reis e, pasmem, até na Igreja. Acredita-se que os papas Alexandre VI e Júlio II (o protetor de Miquelangelo)  tenham contraído a doença. Os franceses diziam que a sífilis era italiana e no resto da Europa dizia-se que era francesa, até que um médico resolveu a questão, chamando-a de "doença venérea", em referência à deusa romana do amor Vênus (a Afrodite dos gregos), uma vez que era transmitida no ato sexual. Na Europa existem relatos antigos que apontam para sintomas muitos semelhantes ao da sífilis. Portanto, a questão da origem da doença ainda está em aberto. 



Durante séculos atribuiu-se a culpa pela transmissão da doença exclusivamente às mulheres, pois faziam os homens caírem em tentação, seguindo a linha da história bíblica de Adão e Eva e do pecado original (como na gravura acima, o indivíduo guiado pela tentação). Da mesma forma acreditava-se inicialmente que a sífilis era um castigo divino. Apenas a partir do século XIX esses mitos começaram a ser derrubados. 


Com relação ao produto indicado para curar a sífilis, no Anúncio Antigo mais acima, trata-se muito provavelmente do Licor Depurativo Tayuya (na foto acima, o frasco original do licor), obtido da planta do mesmo nome (Cayaponia tayuya) também conhecida como caiapó, abobrinha-do-mato e ana-pinta. 


A tayuya (foto acima) é uma trepadeira que pode atingir até dois metros de altura, com um tronco de aproximadamente vinte centímetros. A mesma é encontrada em abundância na Amazônia. A planta apresenta, de acordo com a literatura sobre ervas medicinais, inúmeras propriedades terapêuticas e recomendada no tratamento de doenças respiratórias, sendo a sua raiz considerada desintoxicante, ajudando no combate à anemia, diarreia, além de aliviar febres e atuando como laxante natural. E vejam só, o chá obtido da tayuya é recomendado no tratamento de uma série de doenças, inclusive a própria sífilis e a gonorreia! Claro, que na condição de pleno acompanhamento médico. Portanto, há algumas décadas atrás, e este que vos escreve tem lembranças disso, quando eram feitas referências a ervas medicinais com capacidade de combater as impurezas do sangue, isso não era algo tão fora de questão. Daí as várias pesquisas desenvolvidas atualmente pela própria indústria farmacêutica, em relação a esses produtos, dos quais podem ser obtidas novas drogas ou até mesmo a descoberta da cura de alguma moléstia maléfica para a humanidade. Mas nada disso pode substituir um bom e preciso diagnóstico médico. E lembrando: "Ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado". 
No que diz respeito ao sabão Aristolino e ao xarope de Grindelia, muito conhecidos também no início do século passado e presentes no anúncio mais acima, deixaremos para outra oportunidade. Aliás, o que sugerem as três figuras femininas presentes naquele anúncio? Seriam símbolos da boa saúde? Ou talvez uma figura para cada um dos remédios? Bem, fica aqui em aberto uma possível interpretação. O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista Vida Moderna, de 16 de outubro de 1926. 
Crédito das imagens:
Fotos da bactéria causadora da sífilis e das manchas de pele:
https://biosom.com.br/blog/saude/sifilis/
Fotos de Alexander Fleming e da folha de Tayuya: Wikipédia
Al Capone em Alcatraz:
https://www.pbs.org/newshour/health/infectious-disease-sprung-al-capone-alcatraz
Foto do frasco do Licor Depurativo Tayuya: 
https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-680118572-antigo-vidro-de-licor-depurativo-de-tayuya-raridade-_JM
Alexander Fleming em seu laboratório, gravura da sífilis associada à morte e do homem conduzido pela tentação: https://www.bbc.com/portuguese/geral-44844848

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Imagens Históricas 41: Fidel Castro, Jânio Quadros e Che Guevara



Juntos, na mesma foto! Como? Quando? O deputado federal Jânio da Silva Quadros, candidato ao cargo de presidente do Brasil, realizou viagem de uma semana a Cuba, onde desembarcou no dia 29 de março de 1960. Jânio estava acompanhado de uma comitiva de 43 pessoas, entre as quais se encontravam a sua filha, Dirce "Tutu" Quadros e o senador Afonso Arinos de Mello Franco. O motivo alegado pelo então candidato para conhecer a nação caribenha era o significado que a Revolução Cubana adquiria no contexto latino-americano e a necessidade de ter, como futuro líder de seu país, de acompanhar a evolução do cenário político internacional. Na verdade, Jânio atendia ao convite feito pelo Movimento Revolucionário 26 de Julho para conhecer, de perto, as iniciativas do novo governo cubano e da necessidade deste em ampliar as suas relações internacionais, diante do cerco dos Estados Unidos, que já começava, antes mesmo de Cuba se declarar socialista. Por incrível que pareça, os próprios eleitores de Jânio apoiaram a visita, com faixas que diziam "Cuba precisa de Fidel. O Brasil precisa de Jânio" ou ainda "Jânio e Fidel: dois grandes nacionalistas". Fidel Castro, então primeiro-ministro, recebeu o convidado ainda no aeroporto, praticamente dando a Jânio honras de chefe de Estado. A foto acima, pelo que pudemos averiguar, foi tirada na embaixada do Brasil em Havana, onde esteve presente o conhecido revolucionário argentino (depois, radicado em Cuba) Ernesto "Che" Guevara, que era o presidente do Banco Nacional de Cuba. 



Jânio também esteve com Raul Castro (irmão de Fidel), na época ministro das Forças Armadas. Quadros conversou muito com Fidel Castro (os dois, na foto acima) e sempre elogiou os líderes do regime cubano, sobretudo Che Guevara, a quem veio a condecorar depois de ter se tornado presidente. 


Os guerrilheiros do Movimento 26 de Julho (na foto acima, a guerrilha em Sierra Maestra, tendo ao centro Fidel Castro e à esquerda, seu irmão Raul) haviam derrubado o ditador Fulgêncio Batista, na virada do ano de 1958 para 1959, ou seja, em pleno réveillon. O movimento tinha caráter nacionalista e popular, iniciando uma ampla reforma agrária, a nacionalização de empresas estrangeiras, sobretudo norte-americanas (como refinarias de petróleo) e punindo os aliados do antigo regime, muitos dos quais eram torturadores, assassinos e corruptos. Não há como negar os vínculos do ex-ditador Batista com a Máfia norte-americana, os quais foram mostrados em filmes, como "O Poderoso Chefão II" (de 1974). A crescente oposição dos Estados Unidos ao novo regime, incluindo o bloqueio econômico que dura até hoje, levou Cuba a uma aproximação com a União Soviética. Em 1961, pouco depois da fracassada tentativa de invasão militar (patrocinada pelo governo dos Estados Unidos) à Baia dos Porcos, Fidel Castro anunciou o objetivo socialista da revolução e o alinhamento com o bloco soviético, dentro do contexto da Guerra Fria. 


Aqui no Brasil, Jânio Quadros (na foto acima de 1954) fazia uma carreira política classificada na época como "meteórica", pois entre 1947 e 1960 saiu da suplência para vereador na cidade de São Paulo até alcançar o cargo máximo da República, passando também pelo posto de prefeito da capital paulista (1953 a 1955) e pelo governo do estado de São Paulo (1955-1959). Teve o mérito de enfrentar as grandes forças políticas recorrendo a partidos de pouca expressão, entre os quais o Partido Democrata Cristão (PDC) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Tinha um estilo todo pessoal de se apresentar em público, recorrendo a um discurso rebuscado e, ao mesmo tempo, impactante. No dizer do historiador Marcos Napolitano "algo de gênio atormentado com o ar de professor severo". Aliás, foi de fato professor do tradicional Colégio Dante Alighieri em São Paulo. 
No final da década de 1950, logo após os triunfos eleitorais de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, a União Democrática Nacional (UDN), partido de oposição ao getulismo e de linha conservadora, viu em Jânio Quadros a oportunidade de, finalmente, obter uma vitória nas urnas, tendo como avalista, nada mais nada menos, do que o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um crítico voraz das esquerdas. Usando como símbolo de campanha a "vassoura" (para varrer a corrupção), Jânio foi eleito com mais de 6 milhões de votos em outubro de 1960. No governo, estabeleceu uma política econômica absolutamente ortodoxa com relação ao controle dos gastos públicos, com cortes nos investimentos, restrições ao crédito e aos subsídios (trigo e gasolina), procurando seguir as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas que gerou descontentamento na população. Além disso, fazia uso de um discurso moralizante, proibindo o biquíni nas praias e as brigas de galo. Na política externa, ao adotar uma linha independente em relação às potências ocidentais (continuou a aproximação com Cuba e com o bloco socialista) descontentou o próprio partido que o apoiara, a UDN e também os Estados Unidos. 


Em 19 de agosto de 1961, Jânio Quadros condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro (foto acima), atitude que fez com que perdesse o apoio do seu mais importante aliado, Carlos Lacerda, o qual veio à televisão denunciar que Jânio tramava um golpe de Estado. Na manhã do dia seguinte, 25 de agosto de 1961 (Dia do Soldado), Jânio Quadros deixou um bilhete onde renunciava ao cargo de presidente, terminando assim o seu semestre governamental. Para muitos (e há um quase consenso nisso) foi um "autogolpe", pois Jânio estaria esperando uma manifestação das ruas e dos militares (que não desejavam o seu vice, João Goulart, visto como esquerdista) pedindo a sua volta. O próprio Jânio nunca deu uma explicação coerente para o seu gesto e o que seriam as tais "forças ocultas" que se levantavam contra o seu governo. Apenas explicou depois que as mesmas eram classificadas como "terríveis" em seu bilhete e não "ocultas", como divulgado na época pela imprensa. A verdade é que ninguém saiu as ruas pedindo a sua volta. A renúncia foi aceita de pronto! Já a posse do vice foi uma outra história.
Infelizmente, em relação à Imagem Histórica que postamos, não tenho como determinar quando foi publicada, pois a recortei de uma revista, possivelmente a Manchete, há muitos anos atrás. Mas é uma foto autêntica e rara, podem ter certeza...
Crédito das outras imagens:
Foto de Jânio de 1954:
https://blogdoims.com.br/o-estudio-fotografico-chico-albuquerque-por-sergio-burgi/
Jânio conversando com Fidel:
https://oglobo.globo.com/mundo/uma-colecao-de-imagens-marcantes-de-fidel-castro-19845164
Jânio condecorando Che Guevara:
http://jarbasvilela.blogspot.com/2015/10/janio-quadros-o-mito.html
Guerrilheiros cubanos, com Raúl e Fidel Castro:
http://museuvirtualcheguevara.blogspot.com/2012/08/comandante-ciro-redondo.html