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sábado, 30 de novembro de 2019

Chão de Estrelas: pinturas de Maria Regina Montenegro Leite



Trabalhos que nos convidam a uma experiência visual singular, seja por suas qualidades pictóricas, seja em termos de reflexão a respeito do tema da fé e do sentido mais profundo da religiosidade em nosso cotidiano. É o que nos propõe Maria Regina Montenegro Leite na mostra "Chão de Estrelas", em cartaz no Saguão de Exposições da Biblioteca Nadir Gouvêa Kfouri, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ao todo são apresentadas 22 pinturas e um painel confeccionado com tecidos transparentes, com destaque para o colorido que vai do branco até o ouro, além do uso de fotos impressas e pintura digital. Nas recentes pesquisas da artista e arte-educadora emergiu um trabalho rico, tanto no plano temático como na forma de apresentação, tendo o papel como suporte, dando um sentido de despojamento e leveza que agrada ao olhar, levando-nos a admirar a figuração exuberante e colorida presente nas obras. 
mostra itinerante, que ora se encerra, teve como ponto de partida o chão da Igreja Matriz São João Batista, na cidade de Atibaia (SP), que já abriga uma preciosidade das artes plásticas, um painel do pintor Benedito Calixto. 



Mas o que chamou a atenção da artista foi o jogo de formas geométricas e cores dos ladrilhos no piso da igreja. A partir dos mesmos foi sendo revelado todo um emaranhado que guarda relação com a arquitetura daquele templo religioso, com a sua história, ao ritual de fé e espiritualidade, além do significado simbólico das formas sugeridas pelos ladrilhos, sobretudo a estrela. A própria artista, na apresentação da exposição, nos mostra como uma coisa puxou a outra. O título da mostra nos remete à palavra "compostela" cujo significado é campo de estrelas, importante referência ao piso da Igreja Matriz. 


Na cuidadosa pesquisa que levou a essa mostra, a artista percorreu lojas de azulejos antigos, a fim de poder adquirir os ladrilhos que tanto a inspiraram e te-los ao seu lado durante a produção das suas pinturas. A curiosidade de Maria Regina ainda foi premiada por um fato notável. A conhecida canção "Chão de Estrelas", um clássico de nosso cancioneiro popular, foi composta e interpretada por Silvio Caldas, o qual, por felicidade do destino, residiu em Atibaia. 


Ao final desse incansável percurso, a artista nos presenteia com uma produção refinada, pensada e concebida de forma primorosa, o que já teria, por si só, um mérito enorme, pois é o resultado de muitos anos de labuta até atingir o pleno domínio do seu métier. Em seu longo percurso dedicou-se ao estudo incansável das técnicas do desenho, da pintura, no experimento de vários tipos de suporte e de materiais. O resultado nos é apresentado agora, em trabalhos que primam pela beleza visual, pelo colorido extremamente diversificado e fora do convencional, o qual preenche a composição e as formas inspiradoras que lhe serviram de ponto de partida. 



Do chão da Igreja Matriz até o dia a dia das pessoas simples, tudo passou pelo olhar atento da artista, como em uma crônica do cotidiano e que nos remete para a contemplação e a meditação, na mais pura expressão de fé. Nos trabalhos de Maria Regina somos remetidos aqueles que adentram ao recinto do templo com o fito de pedir uma graça, uma benção ou mesmo uma dádiva para os gigantescos dramas da vida. Somos colocados dentro do ponto de vista dos fiéis e dos crentes, na essência da religiosidade, independente das várias seitas ou correntes de fé que conheçamos. Olhar e admirar esses trabalhos é uma experiência cognitiva, antropológica e de observação da sociedade em que vivemos.
Por tudo isso, recomendamos ao leitor (a) desta página esta bela experiência visual e que também nos permite refletir sobre os significados mais profundos do ser humano.
Para ver:
Chão de Estrelas: pinturas de Maria Regina Montenegro Leite 
Onde: Saguão de Exposições da Biblioteca Nadir Gouvêa Kfouri
Rua Monte Alegre 984, Perdizes, São Baulo (SP). Pontifícia Universidade Católica.
De segunda a sexta das 8 às 22 horas. Sábados das 8 às 17 horas. 
Quando: de 15 de novembro a 6 de dezembro de 2019. 

domingo, 3 de novembro de 2019

Anúncio Antigo 68: Lambretta


 

Símbolo dos jovens de classe média nos anos do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), sobretudo na Europa e parte da América Latina, esse produto marcou também o momento de reconstrução da Europa Ocidental sob os auspícios do capital norte-americano (Plano Marshall) e como forma de conter a expansão do comunismo soviético. Eis a conhecida Lambretta, que desperta nostalgia em muitas pessoas, tema do Anúncio Antigo de hoje. 



Tudo começou com Ferdinando Innocenti (1891-1966) que teve de reconstruir a sua fábrica de tubos de aço na cidade de Lambrate, próxima de Milão, no norte da Itália, a qual foi destruída na Segunda Guerra (na foto acima, o industrial e designer Innocenti). Naquele momento, após a queda do regime fascista italiano e a reconstrução nacional, era fundamental que as pessoas dispusessem de um meio de transporte rápido e econômico, como as pequenas motos ou scooters como eram conhecidas no mundo. Desde 1946, a Vespa já estava ocupando esse filão do mercado que tendia a crescer ainda mais. Com essa ideia em mente, Ferdinando Innocenti uniu-se ao engenheiro Pierluigi Torre para juntos projetarem um veículo que atendesse a esse requisito e aí surgiu o protótipo da Lambretta (nome derivado do rio Lambro, situado próximo à fábrica), uma pequena motocicleta ágil e adaptada ao clima mediterrâneo (chuva, calor e neve), com um motor de dois tempos (refrigerado por uma ventoinha) e equipado com cilindro único. Após um ano de desenvolvimento e testes, a produção teve início em 1947 na Itália. Com boa estabilidade e conforto para os pés (tinha uma plataforma para acomodar os mesmos), a Lambretta rapidamente conquistou um público fiel. A posição do motor junto à roda traseira também dava confiabilidade em termos de estabilidade.  



No Brasil, a Lambretta instalou-se em 1955, ainda antes da indústria automobilística, como Lambretta do Brasil S.A. - Indústrias Mecânicas e com licença da Innocenti para produzir o veículo aqui (na foto acima, a Lambretta 125 Special de 1965 produzida na Itália). A fábrica estava instalada no bairro da Lapa em São Paulo e conseguiu aproveitar a moda mundial desse tipo de veículo na década de 1950. Entre 1958 e 1960 foram produzidas 50 mil unidades por ano. 
Novos modelos acabaram sendo lançados e com maior disponibilidade de cores, além da tradicional cor branca. Uma das mudanças mais significativas na Lambretta foi a colocação do farol no guidão. A potência do motor também foi alterada, de 125 para 175 cilindradas. Contudo, na década de 1970 a Lambretta começou a sofrer a forte concorrência das motocicletas japonesas que invadiram o mercado brasileiro. Apesar das tentativas de competir com estas, com novos modelos e desenhos (alguns dos quais criados aqui), a Lambretta do Brasil S.A. fechou as suas portas em 1982, deixando saudades em milhares de fãs. O desaparecimento dessa montadora tornou-se um dos primeiros capítulos do processo de desindustrialização do Brasil, que avançou nos anos seguintes. Recentemente, em 2018 a Motorino voltou a distribuir o produto no Brasil, trazendo da Itália a Lambretta V200 Special, em aço, com um potente motor, freios ABS, injeção eletrônica e acabamento em alumínio acetinado. Mas uma coisa não poderá mais voltar, o glamour das décadas de 1950 e 1960 do qual fazia parte a boa e tradicional lambretinha.
Infelizmente não tenho o registro preciso de onde e quando o anúncio acima foi publicado, pois este que vos escreve o adquiriu sob a forma de cartão postal em uma loja de Roma. A julgar pelos dois modelos que aparecem (o primeiro e o clássico, respectivamente da esquerda para a direita), possivelmente trata-se do início da década de 1950...
Crédito das imagens:
Foto de Ferdinando Innocenti:
http://www.valdinievoleoggi.it/a63851-ferdinando-innocenti-il-pesciatino-che-dai-tubi-passo-alla-lambretta.html
Foto da Lambretta 1965: Wikipédia.