domingo, 31 de dezembro de 2017

As sábias afirmações de Umberto Eco



"A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar." 

Lembrar esta afirmação do semiólogo (intelectual que estuda os fenômenos culturais como um sistema de signos ou de significação, como imagens, vestuário, ritos, entre outros) e escritor Umberto Eco (1932-2016), torna-se absolutamente oportuno, sobretudo nestes tempos de enxurrada de informações e de pretensos conhecimentos, divulgados a esmo nas redes que compõem a internet. Vivemos em um mundo onde, o que não falta, é informação. E um paradoxo. Quanto mais informação, maior a ignorância! Por que afirmo isso? Por que informação é uma coisa, conhecimento outra. O conhecimento nos permite selecionar a informação, pois constitui a base de postulados, conceitos, princípios éticos e critérios, que adquirimos ao longo do tempo. Para ser mais preciso, vou dar um exemplo bem simples. Tenho um amigo de longa data, com quem convivo. De repente, alguém surge e me revela que o tal amigo não é nada daquilo que eu imaginava, que é uma pessoa de índole má, péssimo caráter e por aí vai. "Mas, eu o conheço há décadas, nunca percebi isso". O outro retruca, "mas é a pura verdade". E aí? Ora, vou verificar, conversar com outras pessoas, com amigos em comum, com familiares próximos, com a esposa (ou marido, caso seja uma mulher) e, principalmente, refletir. Vou cruzar as informações e filtrar! Como propõe Umberto Eco, cortar a informação que não se sustenta. E, finalmente, tentar estabelecer conclusões, incluindo a possibilidade de não dar o mínimo crédito ao que me foi dito sobre o meu amigo. A filtragem da informação talvez seja uma disciplina escolar necessária para o futuro, argumenta Umberto Eco. 
Contudo, a rapidez com que recebemos notícias, fatos novos (nem sempre novos), descobertas (reparem, a maior parte delas inúteis, como o tempo sempre vem a demonstrar), às vezes, não nos permite parar para refletir. Ao contrário, somos levados a repassa-las como verdade, para outros que irão fazer a mesma coisa. Isso, efetivamente, não é adquirir conhecimento. Umberto Eco estabelece uma conclusão interessante. A internet é mais útil para aquele que já tem uma base em termos de formação intelectual, pois este indivíduo dirige-se a fontes mais seguras e dignas de crédito. Trata-se de uma situação diferente quando um professor universitário vai à rede mundial de computadores, em relação ao dono da padaria que segue o mesmo procedimento (com todo o meu respeito ao dono de padaria, pois é uma profissão digna). E aí? Chegamos àquilo que é fundamental. Uma boa formação familiar e escolar em termos de acesso à leitura, ao diálogo e à conversa, é indispensável! A tecnologia, por si só, não realiza milagres...
A fala de Umberto Eco, que considero imprescindível, veio de uma entrevista feita em 2011, para a revista Época. O link da mesma vai abaixo:
http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/12/umberto-eco-o-excesso-de-informacao-provoca-amnesia.html
Crédito da foto de Umberto Eco:
https://www.theparisreview.org/interviews/5856/umberto-eco-the-art-of-fiction-no-197-umberto-eco

sábado, 30 de dezembro de 2017

O blog História Mundi na revista Leituras da História: Nair de Teffé




É com muita satisfação que aviso a todos os que acompanham esta página, que já está nas bancas a edição de janeiro de 2018 da revista "Leituras da História" (da editora Escala), com um artigo escrito por nós sobre a ex-primeira-dama do Brasil, Nair de Teffé. São 6 páginas e uma "chamadinha" na capa. Trata-se de um acontecimento muito importante para este que vos escreve, pois é o primeiro material produzido pelo blog História Mundi a ser reproduzido em uma revista de circulação nacional. Aproveito para deixar o meu agradecimento à Morgana Gomes, responsável pelo setor de Redação da publicação. Aliás, recomendo a "Leituras da História" pela qualidade do material publicado, dos textos e dos temas, que ajudam em muito, a despertar o interesse pela leitura e pela história, algo fundamental no mundo em que estamos vivendo. Da mesma forma, é uma fonte muita rica para ser utilizada em sala de aula pelos professores que ministram a disciplina, tanto no ensino básico quanto no superior. E claro, para os profissionais da área de humanidades que desejam se manter bem informados. 
Portanto, a todos vocês, uma ótima e agradável leitura...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Anúncio Antigo 49: No Mundo de 2020 (Soylent Green)



Um dos primeiros filmes a fazer da questão ecológica um dos seus temas principais: "No Mundo de 2020" (Soylent Green, 1973). Uma visão absolutamente sombria do futuro da humanidade, é o que nos mostra esta produção norte-americana do início da década de 1970, que pretendia antever o mundo caótico e superpovoado do ano de 2022 (apesar do título em português estabelecer 2020). A poluição, a natureza destruída, a vida cotidiana profundamente deteriorada, sobretudo no aspecto alimentar e o crescimento descontrolado da população, consequências de uma industrialização predatória. Aliás, um dos grandes fantasmas do mundo nas décadas de 1960 e 1970 era a chamada "explosão populacional", que parecia confirmar as previsões catastróficas do pensador econômico Thomas Robert Malthus (1766-1834), ainda no início do século XIX, de que a humanidade crescia em proporção geométrica e a produção de alimentos em proporção aritmética. Sim, a teoria tão repetida nas aulas de história e geografia do ensino médio! Para que o leitor tenha uma ideia, alguns estudiosos (bem, nem tão estudiosos assim) previam que a Amazônia deveria ser uma região reservada para receber esse excedente populacional! Ou ainda de que a mesma poderia se tornar uma grande provedora de alimentos para a humanidade, uma espécie de "celeiro do mundo". Bem, tais previsões alarmistas não se confirmaram, pelo menos até o momento presente. 
Devemos também lembrar que, em junho de 1972, foi realizada em Estocolmo (capital da Suécia), a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, mais conhecida como Conferência de Estocolmo. A mesma foi o ponto de partida na busca por um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e a crescente degradação ambiental, que mais tarde evoluiu para a noção de desenvolvimento sustentável. Até então, a natureza era vista como fonte inesgotável de recursos, algo que, de forma bem dolorosa, se verificou não ser bem isso.



Mas, voltemos ao filme em questão (na foto acima, uma das cenas iniciais), que tem como pano de fundo os efeitos sociais dessa verdadeira catástrofe ambiental e populacional, mais precisamente na cidade de Nova Iorque, com os seus estratosféricos 40 milhões de moradores, segundo a previsão estabelecida na trama, baseada no livro Make Room! Make Room! do autor de ficção científica Harry Harrison. Uma massa de pessoas vagando pelas ruas, sem ter onde morar e nem onde dormir, utilizando as carcaças de automóveis abandonados como casa. Para conter essa enorme tensão social, uma polícia equipada para enfrentar distúrbios de rua, por meio de repressão violenta e uma alimentação especialmente feita para a plebe desafortunada: o soylent green. Uma espécie de ração em forma de biscoito, preparada por uma grande empresa de alimentação, a Soylent Corporation, a fim de alimentar essa população, que não dispunha mais de recursos para consumir carne, cereais e outros alimentos de melhor qualidade, os quais não estavam disponíveis para as pessoas de baixa renda. 



No início do filme, o executivo responsável pela citada corporação aparece morto, cabendo a um policial, o detetive Frank Thorn (interpretado por Charlton Heston), investigar a morte do ilustre cidadão. Thorn conta com a ajuda de seu velho amigo, Sol Roth (papel vivido pelo veterano ator Edward G. Robinson, em seu último trabalho), que descobre que o Soylent Green não era, como dizia a empresa, obtido do plancton vindo dos oceanos, o qual estava exaurido (na foto acima, os dois personagens, Sol e o detetive Thorn). A origem dos biscoitos verdes era outra, sendo que a descoberta deixou Sol profundamente chocado e deprimido. Para aqueles que tem interesse em ver o filme, este que vos escreve não revelará a verdadeira origem do produto, fato que marca o clímax da história.



Sol Roth gostava de lembrar ao detetive Thorn como o mundo era antes do desastre ambiental, de como os alimentos eram saborosos e acessíveis, algo que não ocorria mais (pelo menos para os pobres). Desiludido com a humanidade (ou com a falta da mesma), Sol resolveu aproveitar a oportunidade oferecida aos mais velhos pelo Estado, de praticarem a morte assistida, uma espécie de eutanásia. Por iniciativa própria, Sol se apresentou no local em que o seu desaparecimento deveria ocorrer. Os responsáveis ofereciam ao indivíduo uma morte suave e indolor, onde o mesmo era colocado dentro de uma câmara, podendo observar, em uma tela panorâmica, as imagens de um mundo que não existia mais: campos floridos, animais selvagens e paisagens naturais. Essa despedida do mundo era acompanhada da Sinfonia nº 6 de Beethoven (a Pastoral, que está associada à natureza). Em 20 minutos, a tal morte assistida era consumada! O detetive Thorn tentou dissuadir Sol da ideia, mas chegou tarde (na imagem acima, Thorn no hospital onde era praticada a quase eutanásia). Antes de morrer, Sol revela a Thorn a origem verdadeira do Soylent Green. Curiosamente o ator Edward G. Robinson, que interpretava o personagem, faleceu 12 dias depois do término das filmagens! A velha situação da vida imitando a arte (ou o contrário?).


Ao acompanhar o destino dado ao corpo de seu amigo, o detetive Thorn teve a confirmação do segredo do Soylent Green e dos motivos que levaram ao assassinato do executivo da corporação empresarial, no início do filme. Uma revelação estarrecedora! O filme deixa em aberto se a denúncia do detetive será ou não levada adiante, uma vez que Thorn termina ferido em uma perseguição promovida pelas autoridades, que não desejavam que o segredo fosse revelado (na imagem acima, Thorn ao lado da prostituta Shril, interpretada pela atriz Leigh Taylor-Young). 


No elenco secundário de "No Mundo de 2020" algumas figuras curiosas, como o ator de faroestes Chuck Connors (da série de televisão "O Homem do Rifle", na imagem acima à esquerda), o ex-Tarzan Mike Henry (que fez o homem-macaco em um filme rodado no Brasil, ao lado do ator Paulo Gracindo) e Whit Bissel (o general Kirk da série "O Túnel do Tempo") que interpreta o governador Santini, o qual ordena suspender as investigações sobre a morte do executivo da Soylent Corporation. Sim, a corrupção também era vista como algo que iria se agravar nas décadas seguintes!
Muitos viram nesse filme uma espécie de precursor de Blade Runner e de seu sombrio mundo do futuro. De qualquer forma, a produção recebeu alguns prêmios em festivais de ficção científica, tendo um lançamento discreto nos cinemas brasileiros, até chegar à televisão duas décadas depois. Recentemente, um certo prefeito da maior cidade do Brasil anunciou uma espécie de ração a ser distribuída como merenda escolar nas escolas públicas e imediatamente o filme foi lembrado, em função da similaridade entre as duas situações. 



O Anúncio Antigo de hoje, cuja qualidade de reprodução não está tão boa, foi publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", do dia 15 de janeiro de 1975. Por isso, reproduzo na imagem acima, o poster original. A película estava sendo exibida em duas salas da cidade São Paulo, hoje já extintas: o cine Gazeta (no famoso endereço da avenida Paulista, 900) e o cine Barão (na rua Barão de Itapetininga, hoje um calçadão no centro da cidade). Sim, o centro de São Paulo se deteriorou, exatamente como o centro de Nova Iorque no filme...
Crédito das imagens:
Cenas do filme: The Films of Charlton Heston de Jeff Rovin. Citadel Press, 1980. 
Cartaz original do filme: 
http://cinescopiotv.com/2015/05/05/classicos-esquecidos-mundo-de-2020/

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Imagens Históricas 29: a cadela Laika




Caro leitor, já tivemos a oportunidade de abordar o programa espacial soviético quando nos referimos à cosmonauta russa Valentina Thereshkova (ver Imagens Históricas 25). Lembramos que a União Soviética iniciou a corrida espacial com os Estados Unidos, a partir do lançamento do primeiro satélite artificial a orbitar a Terra, o Sputnik, em 1957. Depois dessa experiência inédita, o objetivo maior passou a ser o de enviar um homem em um voo espacial. Mas, antes disso, era preciso fazer algumas experiências com cobaias, a fim de avaliar melhor as condições que um ser humano enfrentaria nessas viagens. Novamente, a União Soviética saiu na dianteira e um desses experimentos foi com a cadela Laika (imagem acima). Outros animais já haviam sido submetidos a voos suborbitais (sem permanecer em órbita da Terra) por americanos e soviéticos. Laika tinha 3 anos quando foi retirada das ruas de Moscou e pesava aproximadamente 6 quilos, sendo selecionada para ser colocada dentro do Sputnik II. A viagem ocorreu no dia 3 de novembro de 1957, apenas um mês depois do lançamento do primeiro Sputnik. O voo fez parte das comemorações dos 40 anos da Revolução Russa. Infelizmente, a viagem foi só de ida. O veículo que levou Laika não foi projetado para retornar. Resultado, o primeiro ser vivo enviado ao espaço morreu em pleno voo!




As condições do animal (nas fotos acima, Laika em seu compartimento da cápsula espacial) eram, em parte, monitoradas da Terra, como pressão arterial, batimentos cardíacos e respiração. Uma alimentação especial (em forma de gelatina), suficiente para uma semana, foi acondicionada junto ao animal. Uma bolsa foi adaptada para coletar a urina e as fezes. Aliás, em função deste ultimo aspecto, é que a escolha recaiu sobre uma cadela (os machos levantam a pata para urinar, necessitando de um espaço maior). Os dados eram importantes para avaliar o metabolismo de um ser vivo submetido a gravidade zero. 



Contudo, os detalhes reais sobre as condições em que Laika enfrentou a viagem só foram reveladas décadas depois, quando algumas informações vieram a público (na foto acima, selo emitido na Romênia em homenagem à cadela Laika, em 1958). Por exemplo, desde o planejamento do voo, os cientistas sabiam que não haveria como trazer o animal de volta, informação que foi omitida dos meios de comunicação na época. Também se descobriu que a sua morte ocorreu aproximadamente sete horas após o lançamento, muito antes do prazo previsto para a sobrevivência da cadela, que seria de, pelo menos, alguns dias. Infelizmente, também se soube que Laika sofreu um forte estresse nos momentos iniciais da viagem (o seu ritmo respiratório esteve entre 3 a 4 vezes acima do normal) e que não houve como manter a temperatura da nave em nível adequado (houve um superaquecimento), o que prejudicou a sua sobrevivência, levando-a à morte. 


O Sputnik II ainda orbitou por alguns meses, carregando os restos da pobre Laika, até se desintegrar ao entrar na atmosfera terrestre, em abril de 1958 (na foto acima, uma réplica do Sputnik II, podendo-se observar, na parte inferior, o compartimento onde estava a cadela Laika). 


Nos tempos atuais, esse tipo de experimento causaria enorme comoção. Bem, de certa forma, na época também havia uma sensibilidade do público em relação a isso e a respeito dos maus tratos dos animais submetidos a essas experiências. De qualquer forma, a viagem serviu como um importante teste para o que viria depois. Os norte-americanos também utilizaram animais em experiências de voos espaciais, sobretudo macacos. Com a evolução desses experimentos, conseguiu-se que os bichos retornassem à Terra em segurança (mas, no início não), como o chimpanzé Ham (na foto acima, já a bordo do navio que o recolheu). Em janeiro de 1961 o símio participou de um voo de 670 quilômetros, durante 16 minutos (parte do Projeto Mercury). Graças a esse chimpanzé, um outro primata mais evoluído, o astronauta Alan Shepard, pode realizar o seu voo espacial com maior segurança, em 5 de maio de 1961 (voo balístico e não orbital).



Os soviéticos se redimiram após a perda da pobre cadela Laika. Em agosto de 1960, o Sputnik V levou ao espaço, para um total de 18 órbitas em torno da Terra, duas cadelas. As mesmas se chamavam Belka e Strelka, sendo que a última teve direito a um close na televisão, transmitido diretamente da cápsula (imagem acima, onde se pode observar o elevado estresse do animal). As mesmas retornaram sãs e salvas à Terra e, tempos depois, Strelka tornou-se mamãe de 6 cachorrinhos, sendo que um deles foi oferecido ao presidente John Kennedy dos Estados Unidos, como presente do governo soviético...
Crédito das Imagens:
Foto da cadela Laika em preto e branco: Gettyimages 1950s. Könemann, 2004, p.244. 
Fotos da cadela Laika em cores: http://thekompass.co.uk/article/621 
http://www.galeriadometeorito.com/2015/09/quais-animais-ja-foram-enviados-para-o-espaco.html
Selo em homenagem à cadela Laika: Wikipédia.
Réplica do Sputnik II: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Moscow_Polytechnical_Museum,_Sputnik_2_(4927173535).jpg
Foto da cadela Strelka e do chimpanzé Ham: O Homem e o Espaço de Arthur C. Clarke. Biblioteca Científica Life. Livraria José Olympio Editora, 1968, pags. 86 e 87. 

sábado, 16 de dezembro de 2017

Mensagem de Boas Festas e Feliz 2018!


Definitivamente, este ano não foi fácil! Tragédias, mortes, perdas de direitos e os rumos incertos que este país está insistindo em percorrer, por obra e graça dos que estão no poder e, infelizmente, com o respaldo de uma parte (mas, não a maioria) da população. De qualquer forma, a tradicional mensagem de final de ano do blog História Mundi, está no ar!

Houve uma época...




em que o trabalhador podia se aposentar e aproveitar os anos de descanso com dignidade (na imagem acima, o meu pai Sr. José Santos Almeida, no serviço militar em 1939 e que viveu 33 anos como aposentado...);



em que a castanha-do-pará (ou castanha do Brasil) era chamada de castanha do Maranhão (na foto acima, as castanhas retiradas do ouriço ou fruto);



em que existiam políticos que defendiam os nossos direitos e até enfrentavam os cachorros enviados pela polícia (na foto acima, o deputado federal Ulysses Guimarães, de terno, abre caminho diante da Polícia Militar da Bahia, em 1978);



em que o estado do Maranhão ainda não era totalmente controlado pela família Sarney (na foto acima, o centro histórico de São Luís no início da década de 1950); 



em que se podia passear de barco no centro da cidade de São Paulo, sem que fosse em época de enchente (na foto acima, de 1910, lazer no rio Tamanduateí, nas proximidades da atual rua 25 de Março);



em que estudar em escola pública era sinal de ensino de qualidade!
(na foto acima, de 1968, este que vos escreve, no primeiro ano primário no Grupo Escolar Teodoro de Moraes, localizado no bairro da Água Rasa, na cidade de São Paulo)


em que o basquetebol era chamado de "bola ao cesto" por razões óbvias (foto acima, o jogo no início do século XX);




em que o Brasil tinha dois pilotos de Fórmula 1, correndo na mesma equipe e com chances reais de vitória (na foto acima Nelson Piquet e Roberto Pupo Moreno na equipe Benetton, 1º e 2º colocados respectivamente, no GP do Japão de 1990).

É por essas e por outras, que eu ainda continuo curtindo a história. Para todos os que acompanham este blog, desejo muita saúde, disposição e, sobretudo, paciência para o que virá pela frente...

Crédito das Imagens: Fotos de meu pai no Exército e minha no ensino primário: Acervo do autor.
Foto da castanha: jornal Folha de S. Paulo, edição do dia 3 de dezembro de 2017, Seminários Folha: o futuro da Amazônia, p.2. 
Foto de Ulysses Guimarães enfrentando os cachorros da polícia: http://www.tribunadainternet.com.br/os-100-anos-de-ulysses/
Foto de São Luís (MA): As Cidades: o nascimento dos cartões-postais. Oscar Pilagallo e Pietra Diwan. Folha de S. Paulo (Coleção Folha Fotos Antigas do Brasil), 2012, p. 48.
Foto do rio Tamanduateí em 1910: Cotidiano: um dia na vida de brasileiros. Oscar Pilagallo e Pietra Diwan. Folha de S. Paulo (Coleção Folha Fotos Antigas do Brasil), 2012, p. 30. 
Foto da Bola ao Cesto: http://educacaofisicaesaude.com.br/2014/02/03/basquetebol-um-pouco-de-historia/
Nelson Piquet e Roberto Moreno no GP do Japão de 1990: 
https://br.motorsport.com/f1/news/piquet-e-moreno-25-anos-da-ultima-dobradinha-do-brasil-na-f1/

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Elvis Presley e os brasileiros




De cara, vamos esclarecer algumas afirmações referentes ao cantor Elvis Presley (na foto acima, de 1968) e sua relação com o Brasil. Nenhum jornalista brasileiro realizou uma entrevista exclusiva com ele! Errado. Nenhum artista ou músico brasileiro teve uma composição gravada por ele! Errado. Nenhuma cantora brasileira se apresentou no mesmo programa de televisão e no mesmo dia que ele! Errado. Nenhum médico brasileiro o examinou! Também errado.
Feito isso, vamos aos fatos. Elvis Presley encontrou-se com uma jornalista brasileira, logo no seu primeiro ano de sucesso, em 1956. O seu nome era Dulce Damasceno de Brito (1926-2008), correspondente dos Diários Associados e da revista "O Cruzeiro" em Hollywood. Dulce também fez entrevistas com astros da época de ouro do cinema norte-americano: Marlon Brando, Marylin Monroe, John Wayne, Burt Lancaster, Rock Hudson, Marlene Dietrich, Clark Gable, Bete Davis, Gregory Peck, Charlton Heston, Orson Welles... Ufa! Seria mais fácil citar quem ela não entrevistou. Ah, e Carmen Miranda? Dulce esteve em sua casa na mesma noite em que a cantora faleceu. E, com um detalhe, a máquina fotográfica foi testemunha de tudo! 


Com Elvis Presley não foi diferente, como mostra a foto acima, tirada em 1956, com Dulce ao lado de Elvis. Aquele que já estava sendo chamado de "O Rei do Rock'n Roll" debutava no cinema em uma produção da 20th. Century Fox, "Ama-me com Ternura" (Love Me Tender), cujo título original seria The Reno Brothers. Bem, na verdade, uma improvisação conseguida pelo seu ardiloso empresário, o Coronel Tom Parker (vejam só, nos Estados Unidos também existiam esses "coronéis civis"...), para encaixar o seu pupilo em Hollywood, em uma produção que já estava programada, um western, quase um filme B. Não era o que o próprio Elvis desejava, porque pouco antes, ele mesmo havia anunciado que faria a sua estréia em uma grande produção, ao lado da renomada atriz Katherine Hepburn. Mas não rolou! 
Elvis Presley imaginava que o rock era uma moda passageira e que o seu futuro era no cinema. Bem, todos sabem que ele não se destacou no quesito interpretação, mas também não fez feio. Vamos imaginar aquele rapaz de origem pobre, do atrasado meio-oeste americano, mais precisamente o Tennessee, um estado conservador, sem nenhuma experiência de interpretação, nem mesmo no teatro da escola. E foram 30 filmes no total e 2 documentários de seus shows! Na verdade, devemos ver os mesmos como se fizessem parte de um seriado, pois, em termos práticos, ele interpretava um só personagem: Elvis Presley. Em algumas dessas produções, os números musicais foram mais bem montados ou então, Elvis encontrou uma parceira à sua altura, que sabia cantar e dançar. Foi exatamente o caso da sueca Ann-Margret, com quem contracenou em "Viva Las Vegas" (1963). Aliás, nos sets de filmagens, aconteceram coisas mais sérias entre os dois, do que decorar o roteiro fraco e de poucas falas...


Mas, voltemos a tal entrevista. A mesma não revelou nada de consistente a respeito do astro, como relatou a própria Dulce Damasceno de Brito em seu livro "Hollywood, Nua e Crua" (esgotado e que pode ser encontrado em sebos), onde fez um balanço dos seus anos como correspondente na meca do cinema (na imagem acima, duas páginas do livro). 



Dulce o achou muito tímido, respondendo as perguntas com poucas palavras. A jornalista teve a impressão de Elvis ser uma pessoa apegada aos valores religiosos e à família (na imagem acima, Dulce e Elvis em outra foto). Ao mesmo tempo, o cantor (e também ator...) mostrou-se muito educado com Dulce e despediu-se da mesma com um "até breve". 



Ah, muitos irão dizer que a jornalista não soube conduzir a entrevista. Bem, em toda a sua carreira, Elvis não deu sequer uma única declaração à imprensa, que devesse ser lembrada como algo memorável (na foto acima, Elvis nas filmagens de "Ama-me com Ternura"). Ele era evasivo e o seu empresário, o Coronel Tom Parker, tem muito a ver com isso. Sempre por perto, o Coronel tinha receio de que o inexperiente garoto se envolvesse em temas polêmicos e cortava o jornalista que ameaçasse entrar nessas searas. Por exemplo, Elvis jamais criticou o governo norte-americano por tê-lo convocado para o Exército no auge de sua carreira, retirando-o do circuito artístico por quase dois anos! Na ocasião, muitos chegaram a prever o fim de sua trajetória. 


Pois bem, menos de um ano depois da entrevista para Dulce Damasceno de Brito, Elvis vivia o auge do sucesso e ia para a sua terceira participação em uma das principais atrações da televisão dos Estados Unidos: o Toast of the Town. O programa era comandado por um dos mais conhecidos apresentadores da história da televisão americana, Ed Sullivan e levado ao ar pela rede CBS, a partir de Nova Iorque. E eis que, na noite em que ia se apresentar, 6 de janeiro de 1957, Elvis topa com uma cantora brasileira nos bastidores do programa. Trata-se da paulista (nascida em Santos), Hilda Campos Soares da Silva, cujo nome artístico era Leny Eversong, a qual, na época, iniciava a sua carreira nos Estados Unidos (na foto acima, Elvis, Leny Eversong e o apresentador Ed Sullivan, na noite em que os dois se exibiram). 



Desde criança, Leny (no recorte de jornal acima, com Elvis e Ed Sullivan) tinha facilidade para cantar em inglês, embora não dominasse bem a língua. A sua interpretação era praticamente feita de ouvido e atraia a atenção por sua voz grave e forte, especializando-se em jazz, fox e musicas latino-americanas, embora também tivesse gravado MPB (Música Popular Brasileira), incluindo Lupicínio Rodrigues, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Francis Hime, entre outros. Ouvir esses compositores na voz de Leny Eversong é uma surpresa das mais agradáveis e, felizmente, o Youtube esta aí para comprovar.  




Leny Eversong (nas fotos acima, em Las Vegas e como atração no cassino Thunderbird) interpretou duas canções no programa de Ed Sullivan: Cumbanchero e Jezebel. Uma enorme responsabilidade, pois a sua participação era intercalada com as de Elvis Presley. A cantora foi muito bem recebida e a sua presença no programa ajudou a abrir as portas do show business para Leny, inclusive em Las Vegas, onde a cantora fez várias temporadas no final dos anos de 1950 e início da década seguinte. Nessa época, com certeza, foi a única brasileira a fazer shows por lá. 



Além desse roteiro invejável para qualquer outro artista, Leny Eversong fez gravações em estúdio, inclusive acompanhada pela orquestra do maestro, arranjador e compositor Neal Hefti (foto acima, selo do disco), o qual, para quem não lembrar, foi o autor do conhecidíssimo tema de abertura do seriado Batman, da década de 1960. Também se apresentou na Argentina, Venezuela, Cuba, México e França. 



Leny Eversong era questionada pelos críticos brasileiros pelo fato de não interpretar as nossas músicas quando se apresentava nos Estados Unidos (na foto acima, disco em francês de Leny Eversong, gravado em 1958). Um dos argumentos da cantora, era de que os músicos locais não tinham muita familiaridade com o samba, estando mais habituados aos ritmos caribenhos, como a rumba e o mambo. Leny temia inserir uma música brasileira que, na apresentação, acabasse dando a impressão de ser outro ritmo ou um samba com batida (percussão) de rumba. 


A carreira de Leny Eversong (na foto acima, ao lado de Elvis Presley no Toast of the Town) parou no início da década de 1970, quando uma tragédia pessoal a deixou profundamente abatida. Em 1973, o seu marido saiu para comprar cigarros e nunca mais apareceu. O caso jamais foi esclarecido! Posteriormente, realizou aparições esporádicas em programas de televisão e faleceu, completamente esquecida, em 1984, vítima de diabetes. Mais recentemente, no início deste século, a cantora começou a ter a sua obra resgatada, sobretudo através do trabalho do pesquisador da MPB (e de nossas cantoras) Rodrigo Faour. 

O nome de Leny Eversong está registrado no show business e, felizmente, a apresentação que realizou no noite de domingo, dia 6 de janeiro de 1957, no programa de Ed Sullivan pode ser vista no Youtube (na imagem acima, uma nota do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 13 de janeiro de 1957, sobre a aparição de Leny Eversong no programa).




Da mesma forma, as sete canções interpretadas por Elvis Presley também (nas fotos acima, o ensaio dos números musicais desse mesmo show), entre elas Hound Dog, Love Me Tender, Heartbreak Hotel e Don't Be Cruel. Uma curiosidade, foi nessa apresentação de Elvis que Ed Sullivan teria insistido para que o cantor fosse focalizado da cintura para cima, pois os seus rebolados poderiam chocar a audiência do programa. Ao final das apresentações, Ed Sullivan deu uma espécie de "benção" ao cantor, afirmando que o mesmo era um "rapaz bom e decente", muito embora não pensasse isso alguns meses antes. Isto também significava que Elvis Presley podia adentrar, tranquilamente, nas casas das famílias norte-americanas com um grau menor de rebeldia! 


A MPB conquistava espaço no circuito musical norte-americano daquele momento, quando vários músicos brasileiros participaram de um concerto no Carnegie Hall, em Nova Iorque, na noite do dia 21 de novembro de 1962. Tom Jobim, Carlos Lyra, Agostinho dos Santos, Sergio Mendes, entre outros, estavam no espetáculo histórico que apresentou ao mundo a Bossa Nova. O encontro também contou com a presença de Luiz Floriano Bonfá (foto acima, de 1962). Músico, compositor e arranjador, autor de clássicos como "Manhã de Carnaval" (uma das músicas brasileiras mais gravadas no mundo) e um dos expoentes desse movimento musical. Luiz Bonfá foi responsável por um feito único entre os músicos brasileiros: ter uma composição sua gravada por Elvis.


Trata-se de Almost in Love, que fez parte da trilha sonora do filme "Viva um Pouquinho, Ame um Pouquinho" (Live a Little, Love a Little de 1968). Essa película foi muito lembrada no ano de 2002, quando uma de suas canções, A Little Less Conversation teve um remix, que tornou a mesma um top hit, 25 anos depois da morte de Elvis. Aliás, as duas gravações foram lançadas em um compacto simples (disco de vinil com uma canção de cada lado) no mesmo ano da gravação, em 1968 (foto acima, capa do disco).
Bem, existe outra gravação de Elvis intitulada Bossa Nova Baby (1963) que, pelo título, poderia remeter a uma influência do novo movimento musical. Esqueçam! A influência restringe-se somente ao título. Contudo, em um dos números musicais do filme "Carrossel de Emoções" (Roustabout, 1964), quando Elvis interpreta a canção Big Love Big Heartache, notamos no cenário do fundo, vários músicos sentados em banquinhos, com um violão na mão, bem ao estilo João Gilberto. Será uma influência "bossanovista"? Na opinião deste que vos escreve, sim! Para os curiosos, mais uma vez indico o Youtube.



A história envolvendo a participação de Luiz Bonfá na gravação de Almost in Love (na imagem acima, partitura da música) ainda é muito controversa e, infelizmente, o compositor faleceu em 2001, sem esclarecer bem as circunstâncias que levaram Elvis Presley a escolher uma de suas músicas para o já citado filme.


Aliás, a confusão sobre isso é tão grande, que muitos sites da internet creditam a letra de Almost in Love ao ex-beatle Ringo Starr, quando na verdade o autor é um ilustre desconhecido, chamado Randy Starr (foto acima, de 1957). Como o seu primeiro nome costuma aparecer abreviado nos créditos da canção, como R. Starr, alguém concluiu: só pode ser o Ringo! E, em muitos sites da internet ficou por isso mesmo. Bem, Starr compôs ou fez arranjos de outras 12 músicas de Elvis Presley, todas utilizadas em seus filmes da década de 1960. Nenhuma, excetuando-se muito provavelmente Almost in Love, é digna de grandes recordações. Old MacDonald Had a Farm, canção tradicional adaptada por Randy Starr para o filme "Canções e Confusões" (Double Trouble, 1967) é tida como uma das piores, senão a pior gravação da carreira do cantor! Ella Fitzgerald, Frank Sinatra e Nat King Cole também registraram a sua voz nessa letra infame.


Vamos agora à questão sobre como a música foi escolhida para fazer parte do repertório de Elvis e do citado filme (na imagem acima, Elvis e a atriz Michele Carey ao som de Almost in Love). O jornal Folha de S. Paulo, entrou em contato com o próprio Luiz Bonfá, para uma matéria publicada no dia 16 de agosto de 1997 (lembrando os 20 anos da morte de Elvis) onde se tentou esclarecer o fato. Na época, o músico já tinha problemas de memória e foi ajudado na entrevista por sua esposa. Vejam só, quem teria feito o contato entre Elvis e Bonfá foi um dos mitos de Hollywood nas décadas de 1940 e 1950: a atriz Ava Gardner (ex-senhora Frank Sinatra)! Ava teria dito a Bonfá que um "garoto" o estava procurando para que o mesmo musicasse uma letra, presente na trilha de um dos seus filmes. O tal "garoto" era Elvis Presley. A citada matéria ainda destaca que Luiz Bonfá fez a música "de uma só tacada" e, ainda acrescenta, que os dois estiveram juntos no estúdio para a gravação, na qual Luiz Bonfá entrou com o violão. Bem, não temos como avaliar se Ava Gardner, de alguma forma, teve participação nisso. Só podemos dizer que tal fato é pouco provável. Nenhuma biografia de Elvis ressalta um contato próximo entre ele e a atriz, que na época, já era uma veterana do cinema. 




Mas, outras questões podem ser respondidas com maior precisão. Segundo nos informa o jornalista Luiz Nassif (sim caro leitor, o Luiz Nassif comentarista de economia), a canção de Bonfá já existia, com o nome de "Luar no Rio" e foi composta para o álbum "A Cena Brasileira" de 1966, que nos Estados Unidos foi lançado com o título de The Brazilian Scene (nas fotos acima, a capa e o verso do disco). E Luiz Nassif está absolutamente correto! A versão original intitulada Moonlight in Rio, pode ser ouvida no Youtube, e não deixa dúvida de tratar-se da composição musicada de Almost in Love, de onde se conclui que a mesma não foi composta especialmente para Elvis! Outro dado, Luiz Bonfá não consta da gravação dessa canção, pelo que nos informa Ernst Jorgensen em seu "Elvis Presley: a vida na música", que traz a ficha completa (inclusive dos músicos) de todas as sessões de gravação do cantor. O que não significa que Bonfá não possa ter participado, até porque, a musicalidade da gravação está bem enquadrada nas características da Bossa Nova. Talvez o violão tivesse sido gravado à parte e depois mixado na edição final, o que significaria que Elvis e Bonfá jamais tenham se encontrado. Uma hipótese!



O que de fato importa é que a gravação Almost in Love ainda rendeu o título de um álbum de Elvis Presley, lançado em 1970 (foto acima). É preciso ressaltar que o catálogo de composições às quais Elvis tinha disponibilidade eram as da editora Hill & Range, a qual estabeleceu um contrato de exclusividade com o cantor, que estendeu-se do início da sua carreira até a década de 1970. Portanto, Elvis não tinha flexibilidade para a escolha de seu repertório, um dos fatores responsáveis por algumas das limitações impostas à sua carreira, na opinião de seus biógrafos e críticos musicais. Possivelmente, Randy Starr fez a letra sobre a canção já pronta, a serviço da Hill & Range. De qualquer forma, a questão referente ao fato de como Elvis Presley chegou até Luiz Bonfá necessita ser melhor esclarecida! 


O músico, maestro e arranjador Sergio Mendes é outro brasileiro a ter o seu nome associado a Elvis, pela foto acima, a qual, este que vos escreve, conseguiu determinar a data e o local exato: Las Vegas, Hilton Hotel, dia 5 de agosto de 1972. Na mesma temos Elvis, Sergio Mendes e o cantor Paul Anka.


Como chegamos a essa informação? Por meio de outra foto, tirada no mesmo lugar, onde aparecem o engenheiro de som Bill Porter, Elvis e Paul Anka, o qual presenteou Elvis com um relógio novo, mostrado com destaque na foto (acima), que tem a data desse dia. Não há margem para dúvida! 


O motivo do encontro? Aí fica a questão, a qual, talvez, o próprio Sergio Mendes possa responder. Ao que parece, uma festa que adentrou a madrugada e que teria contado com a presença de outras figuras famosas, como o cantor inglês Tom Jones, amigo de Elvis. Naqueles dias, Elvis realizava uma temporada no Las Vegas Hilton. Na verdade, consultando sites que tem o registro de todos os shows do cantor, notamos que Elvis teve compromissos no Las Vegas Hilton Hotel todos os dias naquele mês! Um show por dia, no jantar. Elvis Presley talvez tenha sido o artista que mais trabalhou na história do show businnes. Portanto, a exaustão física do cantor, pouco antes de sua morte, é perfeitamente explicável (reparem a aparência de cansaço de Elvis nas fotos com Sergio Mendes). A ocasião do encontro de Elvis, Sergio Mendes e Paul Anka foi motivo para o estouro de uma champanhe (foto acima). 


Finalmente, o brasileiro que está em condições de dar a afirmação definitiva: Sim, Elvis morreu! Isso apesar do festival de boatarias que insistem em afirmar o contrário. Aliás, uma excelente estratégia de marketing para manter o nome do cantor na mídia, 40 anos depois de sua morte (na foto acima, Elvis Presley em seu último show, no Market Square Arena, em Indianapolis, no dia 26 de junho de 1977). Trata-se do doutor Raul Lamim, médico patologista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em Minas Gerais. 


No dia 16 de agosto de 1977, o doutor Raul encontrava-se em Memphis, onde fazia residência médica no Baptist Memorial Hospital e preparava a sua dissertação de mestrado, quando foi chamado, às 16 horas, para fazer uma autópsia muito importante (na foto acima, o médico diante do hospital em que trabalhava em 1977). Quando lhe disseram de quem era o corpo, Raul Lamim pensou tratar-se de uma brincadeira, mas não era. Ele deveria ajudar a autopsiar Elvis Presley! E cumpriu, com dor, o seu dever. 
Durante muitos anos, Raul Lamim evitou falar sobre o assunto. Apenas bem recentemente concedeu entrevistas e abordou o tema. Nada que já não fosse sabido. Elvis tomou remédios (estimulantes) durante anos para poder enfrentar uma carregada agenda de shows. Além disso, alimentava-se muito mal, estava com sobrepeso adquirido de forma muito rápida e acabou morrendo de insuficiência respiratória, depois de cair no banheiro de sua casa, naquele mesmo dia. Viciado em drogas? Não as drogas convencionais mais conhecidas (maconha, cocaína, heroína). Mas, se considerarmos que as medicações também são drogas (ora, não chamamos a farmácia de drogaria?) e que seu uso excessivo pode causar dependência química, então fica tudo na mesma. Tanto que o médico particular de Elvis foi investigado por receitar remédios em excesso, inclusive para outros pacientes. 


O doutor Raul Lamim (foto acima), hoje com 69 anos, é um renomado professor universitário e médico da Santa Casa de Juiz de Fora, professor de uma grande universidade pública, ou seja, um profissional com um imenso currículo, que não usou o fato para adquirir popularidade ou ficar marcado como o médico que examinou Elvis. Da mesma forma que os outros brasileiros que estiveram com o grande astro do rock'n roll, um profissional reconhecido em sua área, assim como o foram Dulce Damasceno de Brito, Leny Eversong, Luiz Bonfá e Sergio Mendes. 
Bem, como o caro leitor pode perceber, não é o simples acaso que levou a participação de nossos compatriotas na trajetória daquele que ficou conhecido como o "Rei do Rock'n Roll". Todos eles estavam nos lugares onde, de fato, deveriam e mereciam estar...

Para saber mais:
Indicamos uma boa leitura a respeito de Elvis Presley, cujo foco é a sua música, o grande legado que deixou para a posteridade. Um relato detalhado das sessões de gravação, dos concertos e programas de televisão, com uma abordagem crítica a respeito da carreira do cantor e de suas influências musicais.
Elvis Presley: a vida na música de Ernst Jorgensen. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010 (foto abaixo). 



Crédito das Imagens:
Foto de Elvis em 1968: Revista Rolling Stone. Elvis (edição de colecionador), 2012, p. 118. 
Foto de Elvis na filmagem de "Ama-me com Ternura": Elvis Presley: Unseen Archives de Marie Clayton. Parragon, 2009. 
Foto de Elvis com Dulce Damasceno de Brito: http://universoretro.com.br/a-jornalista-brasileira-que-conviveu-com-marilyn-monroe-elvis-presley-e-carmen-miranda/
Segunda foto de Dulce e Elvis Presley: página da revista Contigo, de 1979, via Internet.
Fotos de Elvis com Leny Eversong e da apresentação no Ed Sullivan Show:
https://www.elvispresleymusic.com.au/pictures/1957-january-6-ed-sullivan.html
Foto dos letreiros de Las Vegas com o nome de Leny Eversong: Youtube.
Selo do disco de Leny Eversong gravado nos EUA:
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2013/01/leny-eversong-um-furacao-em-las-vegas.html
Capa do disco em francês de Leny Eversong: http://www.45cat.com/record/epl7506
Foto de Leny Eversong em Las Vegas e do recorte de jornal com Elvis e Ed Sullivan: http://brazilian-rock.blogspot.com.br/2014/08/blog-post.html
Foto de Leny Eversong nos letreiros em Las Vegas: http://brazilianpop-30-40-50.blogspot.com.br/2012/12/
Foto de Luiz Bonfá: Wikipédia.
Capa do LP de Elvis Presley Almost in Love: http://www.45cat.com/record/479610de
Foto do compositor Randy Starr: https://alchetron.com/Randy-Starr
Partitura de Almost in Love: https://www.musicnotes.com/sheet-music/artist/luiz-bonfa/album/elvis-presley-almost-in-love
Elvis e a atriz Michele Carey: fotograma do filme "Viva um Pouquinho, Ame um Pouquinho". DVD, MGM, 1968.
Capa e contra-capa do disco de Luiz Bonfá: https://eil.com/shop/moreinfo.asp?catalogid=448511
Fotos de Elvis, Sergio Mendes e Paul Anka:
https://www.elvis-collectors.com/candid-central/anka72.html
Foto de Elvis em seu ultimo show: Pinterest.
Foto do doutor Raul Lamin em Memphis na década de 1970: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40879476
Foto atual de Raul Lamin: http://agorarn.com.br/nacionais/vi-meu-idolo-numa-mesa-de-necroterio-diz-legista-brasileiro-sobre-elvis/