quarta-feira, 19 de junho de 2019

Para Ler e Ver: Biblioteca Digital de Santo André



Caro leitor (a), mais um serviço de biblioteca digital está a nossa disposição: a Biblioteca Digital de Santo André. E com um detalhe, acompanhado de uma pinacoteca! Isso mesmo, uma pinacoteca (coleção de quadros). E tudo isso ao alcance de seu computador ou celular (na imagem acima, trabalho do artista plástico Martins de Porangaba). Trata-se de uma nobre iniciativa da Prefeitura Municipal de Santo André, região que compõe o chamado ABC (municípios de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema), nas proximidades da cidade de São Paulo. Vamos lembrar que esses municípios tiveram enorme importância para a história de nossa indústria, pois abrigaram (e ainda abrigam) as grandes montadoras (fábricas de automóveis), tornando-se também o berço do movimento sindical do final da década de 1970 e início dos anos 1980. 
Neste caso específico, a Biblioteca Digital de Santo André é mais voltada para o público em geral, mas também aos profissionais das ciências humanas, pois estes podem fazer as suas consultas e quem sabe, encontrar uma obra no formato digital ou e-book voltada ao seu campo de interesse. O acervo de livros contempla quase duas mil obras digitalizadas. A literatura brasileira e seus autores clássicos, como José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, entre outros, está muito bem representada. Além dos livros, existem milhares de matérias dos grandes jornais e revistas, que estão disponíveis no formato PDF, versando sobre os mais variados assuntos. Por exemplo, se você estiver interessado (a) em uma reportagem sobre a Amazônia, será contemplado (a), da mesma forma se procurar a respeito das questões relacionadas ao meio ambiente ou queira saber o que vem a ser o aquecimento global, encontrará matérias jornalísticas sobre o tema. Para os moradores do município de Sando André, todo o acervo das bibliotecas locais está catalogado e o público poderá saber se uma determinada obra está disponível ou não, da mesma forma que uma imensa coleção de DVDs com filmes e documentários estão nas coleções circulantes do município.



Ah, já ia me esquecendo, não deixem de apreciar a pinacoteca digital com as obras de excelentes artistas, que foram adquiridas e premiadas (com Prêmio Aquisição) nos vários Salões de Arte Contemporânea promovidos pela Prefeitura de Santo André, como os trabalhos de João Fabio Moskas e Mauro Boza (respectivamente nas imagens acima).
Portanto, mais um recurso para os interessados em boas leituras que ficará disponível em nossos Links Interessantes...
Para acessar: Biblioteca Digital de Santo André
http://www.santoandre.sp.gov.br/biblioteca/pesquisa/default.asp

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Anúncio Antigo 63: cine Olympia, o mais antigo do Brasil



Um belo exemplo de preservação de um antigo cinema de rua é o assunto de hoje do Anúncio Antigo. Localizado na cidade de Belém, capital do estado do Pará, o cine Olympia é considerado o mais antigo em funcionamento no país, sempre no mesmo local, tendo sido inaugurado no dia 24 de abril de 1912 pelos empresários Carlos Teixeira e Antonio Martins, os quais já eram proprietários de um hotel e de um teatro na capital paraense. Portanto, a sala tem mais de um século de existência. Muito provavelmente seja uma das mais antigas do mundo! O cinema quase fechou as portas em definitivo, o que foi evitado quando um grupo de artistas e intelectuais paraenses sugeriu à Prefeitura Municipal de Belém a manutenção do antigo cinema como espaço cultural para a exibição de filmes fora do circuito comercial, o chamado cinema de arte (termo um tanto impróprio, pois muitos filmes comerciais também são cultuados como obras-primas) e os filmes clássicos. O cine Olympia passou então a ser gerido com apoio da Prefeitura de Belém. Uma sábia decisão e que deveria ter servido de inspiração para outras capitais do Brasil. 




A abertura do cine Olympia (nas fotos acima, a sala com público no ano da inauguração em 1912, o hall de entrada e a tela de projeção) ocorreu em plena Belle Époque da cidade de Belém, ou seja, no auge da economia da borracha (final do século XIX e início do XX). Na verdade um auge seguido de rápido declínio, uma vez que os ingleses desenvolveram o cultivo da Hévea brasiliensis (nome científico da seringueira, de onde se extrai o látex) no sudeste asiático, o que praticamente colocou fim ao ciclo de crescimento dessa atividade na Amazônia. 



Contudo, as marcas desse período permaneceram na capital paraense, como as avenidas largas arborizadas, os palacetes dos "barões da borracha", as casas de espetáculos, os hotéis luxuosos e os cinemas (na foto acima, a fachada original do cine Olympia em 1920). Não imaginem que tudo era esplendor, havia muita pobreza nas florestas (a exploração do trabalho dos seringueiros) e nas próprias capitais da Amazônia, como Belém e Manaus. Nessa época, o modelo de cidade era Paris e a urbanização era feita a partir desse padrão, sem qualquer consideração pela nossa realidade social e mesmo ambiental. Afinal, na Amazônia faz calor praticamente o ano inteiro e os mais pobres não podiam se vestir como recomendava a moda parisiense. 


O cine Olympia era frequentado pela população mais abastada e pela parcela também não tão abastada. Aliás, como ocorria com os cinemas de rua das grandes capitais do Brasil. Pode-se dizer que era um lazer relativamente popular e barato, inclusive porque existiam salas para todos os bolsos. O cine Olympia não manteve a sua fachada original, com um estilo quase clássico e nem o requinte de seu interior, passando por várias alterações que lhe deram um aspecto mais "moderno", como o que apresentava na década de 1940 (imagem acima). 
Os anos de 1990 marcaram o declínio definitivo dos cinemas de rua em praticamente todo o país. A trajetória dessas salas era a de passar a exibir filmes pornográficos (o que não ocorreu com o Olympia) e depois terem os seus espaços transformados em igrejas ou simplesmente demolidos. Mas o principal motivo desse declínio foi a proliferação dos shoppings centers com as salas multiplex (vários cinemas em um único local). O apelo da segurança e o atrativo das compras afastaram de vez o público dos antigos cinemas. Com o Olympia não foi diferente e em 2006 a sala fechou, mas não em definitivo. 



Como já assinalamos, a mobilização de boa parte da população, sobretudo aquela que requisitava um espaço alternativo aos blockbusters (grandes produções comerciais), fez o Olympia sobreviver com outro formato e outra fachada, mais sóbria e adequada aos tempos atuais. Hoje, o seu interior é moderno e bem equipado, tendo passado por uma reforma recente (como se pode observar nas fotos acima), deixando-o capaz de receber um público numeroso e diversificado, que busca as películas alternativas e também conhecer os filmes clássicos. 


O Anúncio Antigo de hoje com o cine Olympia foi publicado no jornal O Estado do Pará, do dia 3 de agosto de 1921, na página 2 e traz um filme estrelado pela "namoradinha da América", a canadense Mary Pickford (1892-1979), que juntamente com Charlie Chaplin, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, fundou o estúdio da United Artists em 1919. O filme que está no anúncio parece ser A Little Princess de 1917 (na foto acima, Mary Pickford em 1921). Trata-se de uma película do tempo do cinema-mudo. Normalmente, nas salas de cinema dessa época, o filme era acompanhado por um músico que tocava ao vivo, geralmente com piano, alterando o ritmo conforme a cenas iam se sucedendo (ação, romance, aventura...). Isso para tirar o silêncio excessivo da exibição e criar um clima mais favorável ao espetáculo. Portanto, as salas empregavam muitos músicos e a chegada do cinema sonoro a partir de 1927 tirou o emprego desses profissionais, como também de muitos atores, atrizes e de personagens que não se adaptaram ao som. Alguém já viu o Carlitos falando? Enfim, as novas tecnologias trazem muitos benefícios para alguns e também prejuízos para outros...
Crédito das imagens:
Cine Olympia no início do século XX:
http://cinemanamangueirosa.zip.net/arch2012-04-22_2012-04-28.html
Interior da sala em 1912 e hall de entrada:
http://zigue.com.br/index.php?p=2&id=98
Tela de projeção antiga:
http://marcuspessoa.blogspot.com/2006/02/0-fim-do-olmpia.html
Fachada em 1920:
http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/o-combate-a-sifilis-em-belem-nos-anos-1920/
Cine Olympia na década de 1940:
https://fauufpa.org/2014/03/20/cinema-olimpia-provavelmente-na-primeira-metade-dos-anos-1940/
Fachada e interior atual:
https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303404-d10239685-i241293936-Cine_Olympia-Belem_State_of_Para.html
Foto de Mary Pickford: Wikipédia

domingo, 2 de junho de 2019

Biblioteca Digital de Obras Raras da UFRJ



O blog História Mundi mantém o seu compromisso de ser um facilitador da leitura e da pesquisa para o público interessado em ampliar os seus conhecimentos na disciplina de Heródoto (escritor grego do século V a.C., considerado o pai da história) e também nas demais. Em função disso, disponibilizamos mais uma ferramenta com essa finalidade: a Biblioteca Digital de Obras Raras da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ah, mais uma instituição pública, das mais importantes do Brasil, a investir na investigação científica e nas pesquisas. Sim, pura balbúrdia!
A Biblioteca Digital de Obras Raras não prima pela quantidade e sim pela qualidade dos livros, teses, documentos e periódicos disponibilizados. Faz jus também ao título de ter uma coleção de obras raras. Autores do porte de Gilberto Freyre, Roberto Simonsen, Rui Barbosa, José Maria Bello, Florestan Fernandes, Raymundo Faoro, Francisco Iglesias, Octávio Ianni, Alberto Rangel, Machado de Assis, Nelson Werneck Sodré, Sergio Buarque de Holanda (cujo livro Visão do Paraíso, que aparece na imagem acima, está disponível na coleção), entre outros, contam com trabalhos no acervo. Destaque também para os relatos de viajantes dos séculos XVIII, XIX e início do XX, como Alfred Russel Wallace, Theodore Roosevelt, Henri Coudreau, Maria Graham, George Gardner, Alexandre Rodrigues Ferreira, Gaspar de Carvajal, Henri Walter Bates, Louis Agassiz, Cristobal Acuña, Couto de Magalhães entre os vários que procuraram explorar os confins do nosso território. Pelo que se percebe, a coleção parece contemplar mais os períodos do Império (1822-1889) e da Primeira República (1889-1930), o que não significa que não exista material para as demais fases de nossa história, inclusive a atual. Outra dica deste que vos escreve refere-se ao cuidado com autores que fizeram reedições de suas obras com atualizações, uma vez que esta coleção privilegia edições antigas.
Todas as obras estão no formato PDF e podem ser procuradas por autores, assuntos, data de publicação ou tipo de documento. Basta ao interessado entrar no sítio e baixar o material, o qual pode ser impresso. Vamos torcer para que o acervo seja enriquecido com mais obras, apesar do momento triste que este país vive no que diz respeito à valorização das nossas universidades públicas e instituições de pesquisa. 
O endereço está disponibilizado abaixo e fará parte dos nossos Links Interessantes, cuja coluna está situada no lado direito, na página inicial do blog História Mundi. Anotem:
https://bdor.sibi.ufrj.br/

sábado, 1 de junho de 2019

VIII Seminário de História Ambiental na Unifesp-Osasco





Com grande satisfação o blog História Mundi registra o encerramento no último dia 23 de maio do VIII Seminário de História Ambiental: diálogos interdisciplinares sobre meio ambiente - saberes e interlocuções. O evento, ocorrido na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) - campus de Osasco, durou dois dias (22 e 23 de maio de 2019) e teve excelente receptividade, com uma centena de ouvintes inscritos e dezenas de apresentadores de trabalhos (nas fotos acima, uma das mesas de trabalho, mediada pelo professor Fábio Alexandre). Exatamente em função disso, o encontro inicialmente previsto para um único dia teve de ser ampliado para dois, a fim de permitir a participação dos expositores selecionados. Destaque para a qualidade das pesquisas apresentadas que satisfizeram um dos objetivos mais importantes do evento: a interdisciplinaridade no âmbito da temática ambiental. A organização do VIII Seminário teve início em agosto de 2018 e contou com a participação de Fábio Alexandre dos Santos, professor da Unifesp de Osasco, Flávio Tayra também docente da Unifesp de Osasco, Herick Vazquez Soares da USP (Universidade de São Paulo), Iagê Zendron Miola da Unifesp-Osasco, Janes Jorge professor da Unifesp de Guarulhos e deste que vos escreve. 




Na palestra de abertura tivemos os professores Clóvis Cavalcante da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Silvia Helena Zanirato da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) da USP e a mediação da professora Dora Shellard Côrrea (respectivamente nas fotos acima e ao centro Dora Shellard). As questões abordadas na mesma anteciparam os debates que viriam nas apresentações dos trabalhos selecionados. 



O professor Clóvis (foto acima) alertou para os problemas decorrentes das teses defendidas pelo pensamento econômico dominante em favor do crescimento permanente, da ênfase dada pelos economistas no aumento do PIB (Produto Interno Bruto) como meta absoluta da economia, desconsiderando outras variáveis como por exemplo, o bem estar da sociedade, os modos de vida tradicionais e principalmente, os aspectos ambientais. Para Clóvis Cavalcante, é primordial mudar o estilo de vida da sociedade atual em função do elevado consumo de produtos industrializados, que se mostra em desacordo com a capacidade de absorção dos seus efeitos pela natureza. Tal mudança é um dos requisitos para evitar um possível colapso ambiental. A exposição do professor Clóvis Cavalcante, que também é dirigente da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco) dialogou muito com os pontos de vista do professor Luiz Marques da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas-SP), o qual participou da palestra de encerramento, em relação aos diagnósticos pessimistas sobre o futuro do planeta.



A professora Silvia Zanirato (foto acima) fez uma explanação sobre o papel do historiador dentro da ciência ambiental, levando-se em conta que esta última é uma junção dos vários campos do conhecimento, podendo predizer as inter-relações humanas e elaborar prognósticos para uma intervenção prática, algo que não é próprio da história como disciplina, pelo menos até o momento. Trata-se de um desafio posto ao historiador, onde a perspectiva interdisciplinar deve se mostrar presente como importante ferramenta para a inserção da historiografia na problemática ambiental. A professora ainda destacou ao final de sua fala, a necessidade de reconhecer o saber não acadêmico, algo fundamental em se tratando das questões ambientais e de sensibilizar os tomadores de decisões (governos e autoridades), para que os estudos e as pesquisas não fiquem sem a necessária aplicação prática nas políticas públicas. 



Como já foi destacado em relação ao VIII Seminário, a qualidade dos trabalhos apresentados abre a possibilidade dos mesmos se tornarem futuras pesquisas, dissertações ou teses (nas fotos acima, duas apresentações de pesquisas). Os autores em quase sua totalidade remeteram a questões absolutamente pertinentes e muitas delas inéditas no âmbito da academia, o que mostra o sentido de inovação das ciências ambientais e da interlocução com as disciplinas correlatas (história, geografia, economia, ciências sociais, biologia, direito, engenharia ambiental, comércio exterior entre outras).



Muitos dos estudos apresentados no seminário fizeram referência às cidades, aos problemas decorrentes da expansão urbana desordenada e desorientada em direção às áreas periféricas (termo que está se tornando impróprio, pois nos remete a um sentido geral de inferioridade dentro da malha urbana) englobando porções de mananciais, rios ainda não atingidos por poluição crônica, vales e matas naturais (nas fotos acima, ouvintes assistindo e debatendo). Da mesma forma, os grandes projetos imobiliários como condomínios de luxo e mesmo as moradias populares, implantados em locais sem adequada infraestrutura e sem qualquer preocupação com os aspectos ambientais. Uma das consequências dessa expansão diz respeito a coleta e reciclagem dos resíduos sólidos (parte daquilo que conhecemos como lixo). Trata-se de uma questão de importância no aspecto ambiental e que também traz a possibilidade de criar uma fonte de renda para os que trabalham na coleta desses materiais. Outro aspecto dessa expansão urbana desordenada é a presença de animais que escapam do seu habitat natural, interferindo nas instalações comunitárias (escolas, hospitais, áreas de lazer), entre eles roedores, morcegos, onças e gambás. Como lidar com a presença dos mesmos nesses espaços foi um dos assuntos propostos. A permanência de aspectos relacionados com a ruralidade também foi abordado pelos expositores. Muitas cidades guardam reminiscências de uma ruralidade ancestral, como os grandes quintais, hortas e chácaras, onde se manifestam o uso desses espaços como forma de subsistência alimentar e mesmo para a comercialização de excedentes, como no caso da cidade de São Paulo no início do século XX.



A percepção das populações, sobretudo as menos instruídas, em relação ao meio ambiente e os cuidados destinados ao mesmo também foi abordada (nas fotos acima, mesas coordenadas pelo professor Flávio Tayra e por mim). Pesquisas de campo apresentadas mostraram dúvidas a respeito do destino dado aos resíduos sólidos, de como os mesmos são processados, reaproveitados e os possíveis benefícios para a qualidade de vida da população. Aqui caminhamos no campo da educação ambiental, a qual não deve ser vista como uma nova disciplina, mas sim incorporada às demais existentes no currículo escolar como um tema transversal  (que perpassa os vários ramos do conhecimento).
No que se refere ao meio rural um dos pontos mais abordados foi o do avanço do agronegócio, o qual se vale do desmatamento, da grande propriedade e do uso intensivo de agrotóxicos, com as suas consequências negativas para a saúde humana, no solo e nas águas, inclusive nos aquíferos (formações geológicas subterrâneas que contém água) existentes, sobretudo no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. A Amazônia foi lembrada como uma área de risco em função do avanço do desmatamento, que parece estar se intensificando, sobretudo em função da cultura da soja, ameaçando os modos de vida tradicionais, como no caso das quebradeiras do babaçu na Amazônia maranhense. 



Nem mesmo o Pré-Sal ficou de fora, visto que suas consequências dizem respeito à faixa litorânea do território brasileiro e às cidades situadas nas áreas de influência dessa atividade econômica (nas fotos acima, mesa coordenada por este que vos escreve e platéia).




O VIII Seminário de História Ambiental foi encerrado com uma palestra dos professores Luiz Marques, historiador do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da Unicamp e Ariovaldo Umbelino de Oliveira, geógrafo do Departamento de Geografia da USP (nas fotos acima, respectivamente à esquerda e à direita. Ao centro, este que vos escreve). Como já assinalamos, a exposição de Luiz Marques veio de encontro com a palestra de abertura, sobre a eminência de um colapso ambiental. No entanto, para o professor da Unicamp ainda cabem providências a fim de garantir a sobrevivência da humanidade. 



Luiz Marques (foto acima) nos trouxe vários dados e estatísticas que comprovam os efeitos deletérios do aquecimento global, ou seja, da elevação da temperatura a níveis acima do que o planeta teve no período imediatamente anterior à Revolução Industrial (até o início do século XVIII). Além disso, o derretimento das geleiras, a degradação das florestas, a contaminação do meio ambiente por produtos químicos, os gases que causam o efeito estufa e a diminuição das reservas hídricas, foram mostrados como decorrências da ação antrópica (do próprio homem) nesse processo. Em suas conclusões, Luiz Marques apontou a economia capitalista como a responsável maior pela tragédia ambiental eminente.


O professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira (foto acima) nos propôs em sua apresentação outra vertente para que analisemos a questão ambiental, através das contradições existentes no meio rural envolvendo o campesinato, os agricultores familiares e a grande propriedade. Como se sabe, tais contradições se aprofundaram na medida em que o país não efetivou uma transformação na propriedade da terra por meio da reforma agrária, prevista na legislação. Os conflitos rurais foram ampliados e estão relacionados com o desmatamento e as agressões à natureza. Ao mesmo tempo o agronegócio, que na verdade se constitui em uma agricultura capitalista abastecida pelos grandes monopólios, mostra-se ao país (por intermédio da mídia) como sendo moderno e produtivo, o que na verdade não é. O seu avanço ocorreu por meio da grilagem de terras, da expulsão das populações tradicionais e camponesas e pelo fato do Estado não cumprir o previsto na própria legislação no que tange à redistribuição das terras. Para Ariovaldo de Oliveira, o agronegócio esconde o seu caráter arcaico e predatório com relação aos recursos naturais. 
O professor Ariovaldo questiona os dados e as estimativas a respeito do aquecimento global, sobretudo quando os mesmos recuam a épocas anteriores ao século XVIII, a fim de fazer a comparação com o momento atual e confirmar a ação antrópica como sendo a sua maior causadora. O professor Luiz Marques pondera que esse aspecto já não é colocado em discussão pela maior parte dos cientistas e referendou os dados por ele apresentados. A questão não é uma unanimidade na academia e ainda apresenta divergências.


Enfim, o VIII Seminário deixou vários temas a serem aprofundados, estudados e debatidos em eventos vindouros, abrindo uma excelente perspectiva de incorporação da temática ambiental no âmbito das várias disciplinas que se fizeram presentes ao encontro (na foto acima, mesa mediada pelo professor Flávio Tayra). Vamos aguardar com grande expectativa os próximos seminários a serem organizados, inclusive em outros estados do Brasil e quiçá no exterior...
Crédito das fotos:
Organização do VIII Seminário de História Ambiental e Anpuh-SP: GT de História Ambiental.