Em abril de 2018, o blog História Mundi colocou no ar uma postagem convidando os seus leitores a visitarem o Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde se encontravam aproximadamente 700 peças originais (como a que aparece acima) do Egito Antigo, inclusive quatro múmias completas. Uma delas era muito rara, por ter pertencido a uma mulher que, em vida, entoava cânticos sagrados no templo do deus Amon, daí o nome dado a ela de "Cantora de Amon" (ver a postagem "O Egito Antigo no Museu Nacional do Rio de Janeiro", neste blog). A mesma, no processo de mumificação, teve a sua garganta preservada, a fim de que pudesse fazer uso dos seus talentos vocais na vida pós-morte. E iniciávamos a postagem com a pergunta: Será que aqui no Brasil podemos ver de perto uma múmia do Egito Antigo? A resposta, naquele momento, era: sim! Infelizmente, não contamos mais com o acervo egípcio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído por um incêndio naquele mesmo ano de 2018 (todas as múmias viraram cinzas). A instituição continha a maior coleção sobre o Egito faraônico em toda a América Latina. Agora, com grande alarde, algo perfeitamente compreensível pelo interesse que a civilização egípcia desperta no imaginário do público, nos chega a exposição "O Egito Antigo: Do Cotidiano À Eternidade" em São Paulo. E vejam só, o público vai poder ver, de perto, uma múmia original dos tempos faraônicos, como se isso fosse algo inédito por estas bandas.
Mas, chega de lembranças de um passado triste no que se refere aos nossos museus e lancemos o foco nessa mostra, que estará aberta ao público paulista a partir do dia 19 de fevereiro próximo e que ficará até o dia 11 de maio com entrada grátis, no Centro Cultural Banco do Brasil (acima, uma esfinge dos tempos da conquista romana). Trata-se de uma excelente oportunidade para apreciarmos uma civilização que se manteve pelos três milênios anteriores ao nascimento de Cristo. Ao todo são 140 itens provenientes do Museu Egípcio de Turim (fundado em 1824) na Itália, cujo acervo contempla aproximadamente 26.500 peças, sendo considerada a segunda maior coleção sobre Egito Antigo do mundo, perdendo apenas para o Museu do Cairo (no próprio Egito). A coleção foi formada no século XIX, logo após a rapina promovida por Napoleão Bonaparte nas terras egípcias, em uma de suas campanhas militares. Foi o início de uma verdadeira espoliação de peças do Antigo Egito por parte dos países ocidentais em plena era do Imperialismo.
Como já dissemos, a mostra conta com uma múmia, cujo nome era Tararo (imagem acima). De acordo com Pieter Tjabbes, um dos curadores (organizadores) da exposição, trata-se de uma senhora que viveu no tempo da 25ª dinastia de faraós, aproximadamente no século VIII a.C., cujos governantes seriam provenientes da Núbia (atual Sudão) e conhecidos como os "faraós negros". A múmia está acompanhada de um sarcófago repleto de hieróglifos (antiga forma de escrita egípcia) e pinturas, com orientações para que a alma da mulher encontrasse o corpo mumificado.
Esculturas, pinturas, papiros (onde eram contidos textos), amuletos, múmias de animais, peças provenientes das tumbas e objetos do cotidiano fazem parte também dessa mostra. Uma das esculturas em destaque é a da deusa Sekhmet (associada à guerra) com mais de 2 metros de altura e pesando meia tonelada (imagem acima).
A exposição está dividida em três seções: cotidiano, religião e eternidade. Cada uma dessas seções está representada por uma cor: amarelo, verde e azul respectivamente. Da mesma forma, as seções foram organizadas para criarem efeitos perceptivos nos visitantes, por meio da variação na iluminação, com o brilhante (cotidiano, associado ao dia), suave (religião) e baixa (a eternidade presente no interior das tumbas). Na verdade, todas as seções estão entrelaçadas, uma vez que os egípcios acreditavam piamente em uma vida além-túmulo, daí terem desenvolvido o processo de mumificação, a fim de que o corpo pudesse ser utilizado nessa outra vida.
Não apenas o corpo humano, mas vários animais associados aos deuses, eram também mumificados, como por exemplo, o gato, associado à deusa Bastet (na imagem acima, esse mesmo animal mumificado e presente na mostra), o chacal ao deus Anúbis, o falcão com o deus Hórus, a leoa com a deusa Sekhmet e o íbis com o deus Thot. Como se sabe, a religião egípcia era politeísta. As múmias eram acompanhadas de amuletos (muitos deles presentes na exposição), os quais deveriam auxiliar o morto em sua trajetória pela outra vida. A mumificação foi útil para o conhecimento do corpo humano, inclusive na prática de cirurgias, algo inédito naqueles tempos. Os túmulos, alguns em forma de pirâmides, requeriam o trabalho de arquitetos, escribas, artesãos e trabalhadores braçais (não necessariamente escravos), influenciando a vida cotidiana daquela civilização. A agricultura, organizada em torno das cheias anuais do rio Nilo (aproximadamente no mês de julho), era parte inseparável da vida dos felás ou camponeses egípcios.
A exposição está dividida em três seções: cotidiano, religião e eternidade. Cada uma dessas seções está representada por uma cor: amarelo, verde e azul respectivamente. Da mesma forma, as seções foram organizadas para criarem efeitos perceptivos nos visitantes, por meio da variação na iluminação, com o brilhante (cotidiano, associado ao dia), suave (religião) e baixa (a eternidade presente no interior das tumbas). Na verdade, todas as seções estão entrelaçadas, uma vez que os egípcios acreditavam piamente em uma vida além-túmulo, daí terem desenvolvido o processo de mumificação, a fim de que o corpo pudesse ser utilizado nessa outra vida.
Não apenas o corpo humano, mas vários animais associados aos deuses, eram também mumificados, como por exemplo, o gato, associado à deusa Bastet (na imagem acima, esse mesmo animal mumificado e presente na mostra), o chacal ao deus Anúbis, o falcão com o deus Hórus, a leoa com a deusa Sekhmet e o íbis com o deus Thot. Como se sabe, a religião egípcia era politeísta. As múmias eram acompanhadas de amuletos (muitos deles presentes na exposição), os quais deveriam auxiliar o morto em sua trajetória pela outra vida. A mumificação foi útil para o conhecimento do corpo humano, inclusive na prática de cirurgias, algo inédito naqueles tempos. Os túmulos, alguns em forma de pirâmides, requeriam o trabalho de arquitetos, escribas, artesãos e trabalhadores braçais (não necessariamente escravos), influenciando a vida cotidiana daquela civilização. A agricultura, organizada em torno das cheias anuais do rio Nilo (aproximadamente no mês de julho), era parte inseparável da vida dos felás ou camponeses egípcios.
Além das múmias, muitas das peças expostas também fazem referência ao aspecto da eternidade, como os vasos canopos (imagem acima), onde eram depositados os órgãos do corpo humano, a fim de serem reutilizados na outra vida (intestino, estômago, pulmão e fígado). Por sua vez, através desses objetos, é possível entrever os aspectos relacionados ao trabalho, à alimentação, à saúde e, até mesmo, à sexualidade dos antigos egípcios. Por exemplo, a magia era um recurso para o enfrentamento de doenças ou mesmo em desavenças com outras pessoas. Da mesma forma, muitas das peças expostas permitem perceber a existência de grupos privilegiados, entre os quais a nobreza faraônica (parentes do faraó ou rei), a classe sacerdotal e até mesmo os escribas, que conheciam a complexa forma de escrita hieroglífica utilizada nas altas esferas do Estado e na religião. Um dos sinais característicos desses grupos, que eram os mais representados nas pinturas, era o kohl, uma tinta preta aplicada ao redor dos olhos. Nessa forma de sociedade era muito difícil a mobilidade social, daí a mesma ser classificada como estamental.
Nessa exposição há destaque também para a interatividade, recurso considerado apropriado a fim de atrair um público não tão familiarizado com o assunto. Interessante que na Europa, onde este que vos escreve esteve recentemente, tal recurso é quase inexistente, até porque toma o tempo para o visitante apreciar, de fato, as obras e peças de um acervo. A interatividade serve mais como um complemento para exposições pequenas, como esta em questão. Classifico como pequena em comparação com o que vemos em outros países do hemisfério norte.
Ainda como complemento às peças da mostra, uma "maquete gigante" da pirâmide de Queóps, medindo 6 metros de altura, que nos dá uma ideia da dimensão da mesma quando comparada aos camelos (imagem acima) representados na mesma escala. Cuidado, pois o camelo não era um animal muito comum no Egito do tempo dos faraós e sim mais presente após a conquista árabe na Idade Média. Como introdução, um vídeo em 3D vai aproximar o espectador dos monumentos e das paisagens do vale do rio Nilo.
O evento do CCBB teve enorme sucesso no Rio de Janeiro, de onde veio, com mais de 1 milhão de visitantes e após ser apresentada em São Paulo, segue para Brasília e Belo Horizonte. Por isso, recomenda-se o agendamento da visita pela internet. Sem dúvida, embora não seja uma megaexposição como muitos afirmam, pela sua importância (mas não pelo ineditismo) há de se recomendar a visita e estimular o público a vê-la, até porque outra mostra desse tipo em nosso país e com peças cedidas por museus europeus, não será algo tão fácil de se ver nos próximos tempos...
Para ver:
Egito Antigo: Do Cotidiano À Eternidade no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Rua Álvares Penteado, 112, centro de São Paulo.
De quarta a segunda, das 9h às 17 horas.
De 16.10 a 03.01.2021
A entrada é grátis.
Nessa exposição há destaque também para a interatividade, recurso considerado apropriado a fim de atrair um público não tão familiarizado com o assunto. Interessante que na Europa, onde este que vos escreve esteve recentemente, tal recurso é quase inexistente, até porque toma o tempo para o visitante apreciar, de fato, as obras e peças de um acervo. A interatividade serve mais como um complemento para exposições pequenas, como esta em questão. Classifico como pequena em comparação com o que vemos em outros países do hemisfério norte.
Ainda como complemento às peças da mostra, uma "maquete gigante" da pirâmide de Queóps, medindo 6 metros de altura, que nos dá uma ideia da dimensão da mesma quando comparada aos camelos (imagem acima) representados na mesma escala. Cuidado, pois o camelo não era um animal muito comum no Egito do tempo dos faraós e sim mais presente após a conquista árabe na Idade Média. Como introdução, um vídeo em 3D vai aproximar o espectador dos monumentos e das paisagens do vale do rio Nilo.
O evento do CCBB teve enorme sucesso no Rio de Janeiro, de onde veio, com mais de 1 milhão de visitantes e após ser apresentada em São Paulo, segue para Brasília e Belo Horizonte. Por isso, recomenda-se o agendamento da visita pela internet. Sem dúvida, embora não seja uma megaexposição como muitos afirmam, pela sua importância (mas não pelo ineditismo) há de se recomendar a visita e estimular o público a vê-la, até porque outra mostra desse tipo em nosso país e com peças cedidas por museus europeus, não será algo tão fácil de se ver nos próximos tempos...
Para ver:
Egito Antigo: Do Cotidiano À Eternidade no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Rua Álvares Penteado, 112, centro de São Paulo.
De quarta a segunda, das 9h às 17 horas.
De 16.10 a 03.01.2021
A entrada é grátis.
Em função da pandemia de covid-19 os ingressos só podem ser adquiridos pelo site:
https://www.eventim.com.br/tickets.html?affiliate=BRl
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Todos os protocolos de segurança estão no site acima.
Última atualização: 10.11.2020
Crédito das imagens:
Tampa de sarcófago:
http://www.revistaeletricidade.com.br/index.php/2019/10/23/ccbb-recebe-exposição-sobre-o-egito-antigo/
Esfinge e gato mumificado:
https://catracalivre.com.br/agenda/exposição-egito-antigo-ccbb-rio-de-janeiro/
Tampa de sarcófago:
http://www.revistaeletricidade.com.br/index.php/2019/10/23/ccbb-recebe-exposição-sobre-o-egito-antigo/
Esfinge e gato mumificado:
https://catracalivre.com.br/agenda/exposição-egito-antigo-ccbb-rio-de-janeiro/
Vasos canopos:
https://anba.com.br/ccbb-do-rio-prepara-megaexposição-sobre-egito-antigo/
https://anba.com.br/ccbb-do-rio-prepara-megaexposição-sobre-egito-antigo/
Múmia e pirâmide com camelos:
http://www.embarquenaviagem.com/2019/10/30/egito-antigo-do-cotidiano-a-eternidade-ccbb-rj/
Escultura da deusa Sekhmet:
https://vejasp.abril.com.br/blog/arte-ao-redor/mumia-ccbb-egito
Escultura da deusa Sekhmet:
https://vejasp.abril.com.br/blog/arte-ao-redor/mumia-ccbb-egito