sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Pelé (1940 - 2022)

 


Pelé foi o primeiro jogador midiático do futebol, com tudo aquilo de bom e de ruim que isso poderia trazer (acima, Pelé dando a famosa "bicicleta" em um jogo da Seleção Brasileira em 1965). A sua trajetória como esportista acompanhou a própria evolução da televisão como meio de comunicação de massas. Participou da primeira Copa de Futebol transmitida ao vivo para o mundo, via satélite, em 1970 no México, da qual saiu consagrado como o "Rei do Futebol". Antes disso, já havia estado, com apenas 17 anos de idade, na conquista da então inédita Copa do Mundo para o Brasil em 1958 na Suécia e participou de outra conquista em 1962 no Chile (embora saísse machucado no segundo jogo). Com Pelé passamos a ser conhecidos como "o país do futebol" e também a partir dele o Brasil começou a parar as suas atividades cotidianas para acompanhar as partidas da Seleção nos jogos da Copa. 



Pelé (acima, a bicicleta na visão do artista plástico Aldemir Martins) foi também o primeiro ídolo do esporte nacional a associar o seu nome a marcas famosas de roupas, automóveis, televisores, postos de combustíveis, remédios, pilhas para produtos eletrônicos e alimentos, entre outros. Como não lembrar do Café Pelé ou dos comprimidos Vitasay? Sim, outros já haviam feito isso, mas não com uma gama tão grande de artigos comercializáveis. Pelé descobriu esse filão já no final de sua carreira como atleta, quando assinou um contrato milionário com o Cosmos de Nova Iorque em 1975, a fim de divulgar o soccer (como o futebol é chamado por lá) nas terras do Tio Sam. Até mesmo Hollywood o convocou para aparecer em uma de suas películas, "Fuga para a Vitória" (Escape to Victory, 1981), ao lado de Sylvester Stalonne, Michael Caine, Max Von Sydow e dirigido pelo cineasta John Huston. Por aqui, participou de vários filmes, entre eles Os Trombadinhas de 1979, onde foi dirigido pelo ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Anselmo Duarte. Chegou também a aparecer em novelas. 


De certa forma, essa exposição na mídia o contaminou, algo comum em outras celebridades do esporte, muitas das quais ganharam fama sem alcançarem a ponta da unha dos seus pés em termos de talento (na foto acima, Pelé exibe a taça Jules Rimet em Paris, no ano de 1971). Vejam só, se atreveu a sair com mulheres famosas, modelos, atrizes de televisão e que eram brancas. O seu namoro com a futura apresentadora Xuxa deu muito o que falar na década de 1980. Em função disso, passou a ser criticado por estar junto a elite e não divulgar um posicionamento mais contestador. Não manifestava opiniões firmes em relação ao racismo, ainda mais sendo negro. Pelé chegou a afirmar, em 1977, que o povo brasileiro não estava preparado para votar, sendo então identificado como defensor da Ditadura Militar, embora jamais fizesse apologia da violência e da tortura presentes naqueles tempos, aliás como outros jogadores fizeram, por exemplo o craque Jairzinho, seu companheiro de Seleção em 1970. Por outro lado, sobretudo quando se aventurava a mexer nas cordas de um violão, apareceu ao lado dos grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Elis Regina e Marilia Medalha. Nos filmes e programas de televisão sempre deu preferência em estar junto aqueles de talento reconhecido, independentemente de seus posicionamentos ideológicos.  Um fato relativamente recente parece ter se tornado a grande mancha de sua biografia. Não reconheceu por vontade própria uma das filhas que teve em um relacionamento não oficializado. Porém, reconheceu outra que nasceu nas mesmas condições. O que pegou? Algo a se investigar com maior cuidado. Com isso, mais críticas se levantaram contra Edson Arantes do Nascimento nos últimos anos de sua vida.



A sua morte ocorrida no dia 29 de dezembro de 2022 expôs uma realidade quase impossível de se negar, a de que ele foi o maior nome da história do futebol (na foto acima, Pelé dá o seu famoso soco no ar na Copa de 1970, no México). E quem ratificou isso de forma clara e incontestável foi a imprensa mundial, ao destacar na primeira página de seus jornais fotos gigantes de Pelé, algumas muito conhecidas e outras nem tanto. Países não tão familiarizados com o esporte bretão (como diziam os antigos cronistas), como a China e a Rússia, o homenagearam de forma a não deixar nenhuma dúvida sobre o significado de seu nome para o esporte. Até os jornais argentinos reconheceram a majestade do rei. Vamos combinar, é difícil que outro brasileiro venha a ter essa mesma deferência, pelo menos num futuro próximo. Este que vos escreve nem consegue imaginar isso. 

Seria correto querer de Pelé mais do que ele proporcionou nos gramados do planeta, aliás aquilo que ele sempre se propôs a fazer e o fez com enorme talento e maestria? Muitos desejaram que Edson Arantes do Nascimento fosse também um Pelé em sua vida pessoal, mas ele era falível e sujeito a chuvas e trovoadas, como todos nós, ainda mais sendo uma pessoa tão conhecida e exposta aos infortúnios que a fama e a fortuna podem trazer. Querer julgá-lo exigindo dele tudo aquilo que outro ser não poderia proporcionar nas mesmas condições é, para dizer o mínimo, um pouco de pretensão da nossa pobre condição humana...

Crédito das imagens:

Pelé dando bicicleta e o "soco" no ar: Pinterest

Desenho de Pelé por Aldemir Martins: https://www.facebook.com/artistaaldemirmartins

Foto de Pelé em Paris: 1970s Gettyimages. Könemann, London, 1998, pag. 300.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Mensagem de Final de Ano e Boas Festas 2022


Nossa tradicional mensagem de Boas Festas está aqui, um pouco atrasada, mas com melhores perspectivas do que nos últimos 4 anos, os quais ficaram marcados pela pandemia, além do péssimo ambiente social, político e econômico vividos pelo país. Portanto, sem maiores delongas, vamos a ela!

Houve uma época...


em que a Seleção Brasileira de Futebol fazia os seus preparativos para a Copa do Mundo na estância hidromineral de Poços de Caldas, em Minas Gerais (na foto acima, da esquerda para a direita, os jogadores Zózimo, Pampolini, Didi, Pelé e Joel, dentro de um ônibus municipal comum, em frente ao Palace Hotel de Poços de Caldas, às vésperas da Copa de 1958);


em que o Aeroporto de Congonhas, na cidade de São Paulo, ainda era um simples campo de pouso (na foto acima, o aeroporto no dia de sua inauguração, em 12 de abril de 1936);


em que o rio Pinheiros, também na cidade de São Paulo, serpenteava ao longo de uma imensa planície, antes de começar a ser retificado em 1928 (na foto acima, na década de 1930, o rio com as suas curvas e ao centro, a antiga ponte Cidade Jardim); 


em que o futuro presidente do Brasil e veterano da Guerra do Paraguai, Marechal Floriano Peixoto, ainda era coronel (na foto acima, Floriano como coronel do Exército Brasileiro em 1881); 


em que a cantora e apresentadora de tv Hebe Camargo, tinha cabelos pretos (na foto acima, Hebe em 1954 na Revista Radiolândia);


em que as travas que aparecem na foto acima fizeram parte de uma forca (na imagem superior, as travas que, supostamente, foram retiradas da forca na qual Tiradentes foi executado em 1792 e expostas no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro);


em que um general do Exército Brasileiro colocou as tropas na rua para evitar golpe de Estado e garantir a posse do presidente eleito de forma democrática (acima, manchete do jornal Ultima Hora destacando a mobilização do então Ministro da Guerra, General Henrique Teixeira Lott, para evitar uma ação golpista e garantir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek em 1955);


em que o ator estadunidense Al Pacino interpretou no cinema um corredor de Fórmula 1, utilizando o carro, o macacão e o capacete pertencentes a um piloto brasileiro (acima, Al Pacino vivendo o personagem Bobby Deerfield no filme "Um Momento, Uma Vida", que teve o brasileiro José Carlos Pace como seu dublê, em 1976); 


em que as crianças adoravam os álbuns de figurinhas, não apenas no período de Copa do Mundo (na imagem acima, o álbum da série de TV Perdidos no Espaço, que circulou em 1968); 


em que King Kong esteve na primeira página no jornal O Estado de São Paulo (acima, capa do Estadão do dia 28 de maio de 1933).

Por essas e por outras é que eu continuo adorando a História. Este que vos escreve deseja a todos um ótimo Natal, um Ano Novo de esperanças renovadas e repleto de realizações!!!!!

Crédito das imagens:  

Seleção Brasileira em Poços de Caldas: https://jornalggn.com.br/esportes/futebol-esportes/jogadores-da-selecao-de-1958-esperando-trem-na-estacao-por-jose-carlos-faria/

Rio Pinheiros no final da década de 1930: https://spdagaroa.com.br/enterrados-vivos-rios-de-sao-paulo/

Foto de Floriano Peixoto: Wikipédia

Foto de Hebe Camargo: http://bndigital.bn.gov.br/

Foto das travas da forca de Tiradentes: acervo do autor

Capa do jornal Ultima Hora: fotograma do filme Os Anos JK de Silvio Tendler. Seleções DVD/Prefeitura do Rio. 

Foto do ator Al Pacino e álbum de figurinhas Perdidos no Espaço: Pinterest

Jornal Estado de S. Paulo de 28 de maio de 1933: 

https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19330528-1-nac-0001-999-1-not

sábado, 10 de dezembro de 2022

Drops de Arte: Carlota Joaquina por Debret



Retrato de Carlota Joaquina de Borboun, esposa do rei D. João VI de Portugal e Rainha Consorte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e depois Reino de Portugal e Algarves, de 1816 até 1826. O retrato foi feito por Jean Baptiste-Debret (entre os anos de 1816 e 1821). Debret foi um dos mais famosos integrantes da Missão Artística Francesa, que desembarcou no Brasil em 1816 sob o patrocínio da Corte Portugesa instalada na cidade do Rio de Janeiro desde a invasão de Napoleão a Portugal em 1808. O artista francês retratou figuras importantes da família real (como o próprio rei e o seu filho, futuro imperador do Brasil, D. Pedro). Mas o que tornou Debret mais conhecido foram os desenhos das cenas do cotidiano do Rio de Janeiro no início do século XIX, sobretudo aqueles relacionados à escravidão. 
Esta aquarela integra o acervo do Museu Chácara do Céu (também conhecido como Museu Castro Maya), localizado no bairro de Santa Tereza no Rio de Janeiro. Aqui vale lembrar um fato triste em relação a esta instituição. No ano de 2006 o museu foi assaltado, tendo vários quadros roubados. Os trabalhos retirados pelos ladrões tinham a assinatura de Monet, Matisse, Picasso (dois trabalhos) e Salvador Dali. Na ocasião, a perda foi calculada em 10 milhões de dólares. Uma avaliação que, na modesta opinião deste que vos escreve, está muito abaixo do real valor daquelas obras no mercado internacional de arte. O caso jamais foi resolvido e os quadros nunca foram recuperados. Trata-se do maior furto de obras de arte já registrado no Brasil e que, de acordo com o FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos) é um dos 10 maiores roubos de obras de arte já ocorridos no mundo. 
Trata-se de mais um descaso em relação aos nossos museus e aos respectivos acervos. Quem perde é a nossa sociedade e a nossa cultura...
Crédito da imagem: acervo do autor.