A figura de Josef Stalin já rendeu uma infinidade de livros, textos, matérias, artigos e comentários de historiadores. Invariavelmente todo esse material é composto de críticas ao líder da antiga União Soviética. Motivos para tais críticas não faltaram. Stalin assenhoreou-se do poder com tal ímpeto que acabou por eliminar qualquer possibilidade do regime soviético de promover uma participação democrática por parte da população, dos trabalhadores, dos intelectuais e mesmo dos integrantes do Partido Comunista. A desconfiança cultivada por Stalin contra opositores ou mesmo apenas inimigos em potencial, transformou-se em paranóia. "Stalin foi um louco". Quem me afirmou isso pessoalmente foi nada mais, nada menos do que Luis Carlos Prestes, o conhecido líder do Partido Comunista Brasileiro, embora muito tempo depois da Era Stalin e já nos tempos da "glasnost" (abertura) de Mikhail Gorbatchev. Mesmo aqueles que tanto admiraram a União Soviética, é o caso deste que escreve estas linhas, como a nação que realizou o projeto da revolução socialista, tiveram que, pelo menos em algum momento, admitir que o estalinismo transformou-se em uma degeneração da idéia de socialismo ou de realização da verdadeira democracia, a da maioria dos trabalhadores, como propôs Lênin. Essa verdadeira democracia do proletariado iria chegar a tal ponto de aperfeiçoamento, que o próprio Estado iria desaparecer, escreveu o mesmo Lênin em seu livro "O Estado e a Revolução".
Pois bem, isto não esteve nem perto de ocorrer. Desde a morte de Lênin, em 1924, e após afastar o seu oponente maior, Leon Trotsky, das fileiras do partido e da própria União Soviética, Stalin ascendeu como líder supremo. Na verdade, o fortalecimento do Estado Soviético estava na própria origem da Revolução Russa em 1917. Não ocorreu a esperada Revolução Mundial dos trabalhadores e o Estado Soviético teve de se garantir contra as agressões inimigas vindas das grandes potências capitalistas. O resultado foi o surgimento de um Estado militarizado e totalitário que durou praticamente até o fim do regime soviético, em 1991.
Nas imagens de hoje, podemos ver uma faceta dessa hipertrofia do Estado sob a batuta de Stalin, a de promover a alteração do passado e da própria realidade, para que as mesmas se articulassem ideológicamente com as orientações do grande líder. Isso ocorreu durante os expurgos (afastamentos) promovidos a partir de 1934 e que vitimaram figuras proeminentes do próprio Partido Comunista da União Soviética e veteranos da Revolução de 1917. Essas figuras, que representavam algum tipo de ameaça aos olhos do poder constituido, foram literalmente apagadas, ou usando um termo mais moderno dos tempos da informática, "deletadas".
A foto acima é anterior ao expurgo de uma dessas figuras públicas. Trata-se de uma reunião para comemorar o aniversário do Teatro das Artes de Moscou, em 1938. Stalin é o segundo que está sentado, da esquerda para a direita. Contudo, reparem no quarto indivíduo a partir da direita e que está em pé. Ele era o chefe da temida NKVD, a polícia secreta, Nikolai Yezhov. Foi vítima da própria repressão que ele mesmo começara a comandar. De acordo com o historiador Dmitri Volkogonov, autor de uma biografia de Stalin, ele foi preso durante uma reunião de integrantes do governo e chegou a implorar perdão de joelhos. Soube-se mais tarde que foi fuzilado. Em seu lugar, como novo chefe da polícia, assumiu Lavrenti Beria, que de acordo com o citado historiador, tramou a queda de Yezhov junto com Stalin.
Mas e o passado de Yezhov ao lado do grande líder nas fotos? Simplesmente foi apagado (ou "deletado", usando o termo moderno), como na segunda foto acima, publicada dez anos depois, em 1949. Muitos vão reparar com atenção, que há um outro indivíduo também apagado, o terceiro em pé da direita para a esquerda. Trata-se do diretor do teatro, que apenas foi vítima do retoque mal feito na fotografia e não do expurgo.
As duas fotos estão no livro "A sombra dos ditadores" da coleção História em Revista, da Abril Livros e TimeLife, publicada em 1992, página 57.
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