terça-feira, 5 de junho de 2012

Exposição de Modigliani no MASP




A mostra do pintor Amedeo Modigliani intitulada "Imagens de uma Vida" está aberta à visitação no Museu de Arte de São Paulo (MASP). Trata-se de uma boa oportunidade para um primeiro contato com a obra desse grande artista do modernismo europeu. Modigliani nasceu na cidade de Livorno, na Itália, em 1884. Oriundo de uma família de origem judia, Modigliani foi educado em pleno contato com a boa cultura e a arte, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas pelos seus pais logo após o nascimento do artista. Por volta de 1898, Modigliani já está se dedicando à pintura e estuda com o mestre Guglielmo Micheli, um dos expoentes da arte "machiaioli" (conhecida por tentar fugir ao academicismo tradicional pelo uso da mancha ou "macchia" em detrimento da linha, daí o nome dado a essa escola) que teve papel importante na formação do artista. Contudo, os temas dos pintores "machiaioli", paisagens e naturezas-mortas, não entusiasmavam o irrequieto Modigliani. 
Tentando buscar outros rumos para o seu trabalho, Modigliani deixou a provinciana Livorno, indo para Florença e depois Veneza, onde frequentou o Instituto de Belas Artes até 1905. Daí em diante, estabeleceu-se em Paris, a "Meca" dos artistas daquele início de século XX. Lá deixou-se influenciar pelo trabalho de Paul Cézanne, que já estava sendo reconhecido como um dos primeiros mestres da pintura moderna ou aquele que fez a transição do impressionismo para a mesma.
Em Paris, Modigliani conhece nomes importantes da arte daquele início de século XX, como Renoir, Picasso, Utrillo, o futuro muralista mexicano Diego Rivera, o escultor romeno Brancusi e o pintor Matisse entre outros. A vida boêmia, a bebida e o uso do haxixe consomem a sua saúde, que já era frágil desde a sua juventude, quando era acometido de problemas pulmonares. 


Por um momento, entre 1911 e 1913, Modigliani trabalhou com esculturas, onde já se percebia a atração pela figura humana e pelo corpo feminino, que se tornariam os temas predominantes em seu trabalho, como no quadro acima, que faz parte da mostra, intitulado "Jovem Mulher de Olhos Azuis". A atração pela escultura foi breve (o pó das pedras prejudicava o seu frágil pulmão) e logo em seguida, ele retomou o trabalho como pintor. A influência da arte africana (que também pode ser vista no trabalho dos pintores cubistas) e da escultura grega clássica são incorporadas ao trabalho de Modigliani e contribuiram para o traço peculiar que o artista deu às figuras retratadas, como o pescoço longo e as formas arredondadas. 
A partir de 1914 a sua obra começou a ser timidamente reconhecida. Foi o ano em que teve início a Primeira Guerra Mundial e devido à sua saúde, Modigliani foi liberado do alistamento militar. Em 1915 produziu mais de 50 obras e o seu estilo pessoal de representar a figura humana  já estava se consolidando.
Não podemos enquadrar Modigliani em nenhuma das correntes modernistas das artes plásticas daquele momento, como o pós-impressionismo, o cubismo ou o fauvismo. A sua obra é pessoal e uma síntese das várias influências que recebeu. A forma como a figura humana aparece em seus trabalhos é resultado desse intenso processo de formação, do amadurecimento como pintor e da interpretação peculiar das várias correntes artísticas que o precederam. Modigliani tornou-se o pintor da figura humana por excelência, nos retratos e nús femininos. 




A relação amorosa com a jovem pintora Jeanne Hébuterne (retratada na pintura acima feita em 1918, que não faz parte da mostra) traz uma certa estabilidade ao artista, apesar do agravamento de sua saúde.


É dessa época a "Grande Figura Nua Deitada" (1918), destaque maior da exposição no MASP (na imagem acima). Nesse momento, o marchand (negociante de arte) Leopold Zborowski torna-se o seu mecenas (protetor) e foi retratado em vários trabalhos de Modigliani. Os nús expostos em uma galeria de Paris em 1917 levaram a polícia a retirar os trabalhos, vistos como ousados e ofensivos para a época. Em 1918, Modigliani e Jeanne têm uma filha, mas a saúde do artista piora, como também os excessos com o álcool. 
Em 21 de janeiro de 1921, Modigliani morre em Paris com apenas trinta e seis anos. No dia seguinte, Jeanne Hébuterne, gravida de oito meses do pintor, cometeu suicídio. Mas a obra de Modigliani já ocupava um lugar de destaque dentro do modernismo, o suficiente para colocá-lo como um dos grandes nomes da arte no início do século XX.
A presente exposição não faz jus à importância do artista. Poucas obras vieram para a mostra, que no máximo, permitirá ao visitante um primeiro contato com o seu trabalho e, principalmente, com os seus anos de formação na Itália e em Paris. Um erro imperdoável foi o fato dos trabalhos disponíveis do pintor nos museus do Brasil não estarem na exposição. 


O MASP possuiu em seu acervo meia dúzia  de pinturas de Modigliani, das quais apenas uma identifiquei na mostra. Trata-se do retrato de Madame G. van Muyden, pintado entre 1916 e 1917 (imagem acima). Os retratos de Leopold Zborovsky e de Diego Rivera, que também fazem parte do acervo permanente do museu, seriam importantes para compor a mostra atual. Da mesma forma, o autorretrato que se encontra no Museu de Arte Contemporânea da USP, o único feito pelo artista e pintado pouco antes de sua morte,  poderia completar o período mais importante de sua carreira. Razões burocráticas e de calendário impediram que isso fosse feito. Ao mesmo tempo, o espaço reduzido para a exposição cria sérios inconvenientes para o público. Outro agravante, o catálogo oficial da mostra ainda não está disponível para os visitantes. Na livraria do museu pode ser adquirido um livro de Modigliani, mas sem nenhuma das obras expostas. 
Pois é, como diz o velho ditado, "santo de casa não faz milagre". Pelo menos neste caso, não fez mesmo.
No momento em que o Brasil está entrando no circuito internacional dos grandes shows e exposições é uma falha grave. De qualquer forma, pela grandeza do artista, a mostra merece uma visita.
Para ver:
"Modigliani: Imagens de uma Vida".
De 17.05 a 15.07.
Museu de Arte de São Paulo (MASP), na avenida Paulista, 1578, São Paulo (SP).
De terça a domingo, das 11 às 18 horas, sendo que nas quintas-feiras a exposição fica aberta até as 20 h.
Ingressos: 15 reais (inteira) e 7 reais (meia). Menores de 10 anos e maiores de 60 anos não pagam.
Às terças-feiras a entrada é gratuita para todos.
Crédito das imagens: MASP (folheto da exposição) e Amedeo Modigliani. Editora Sirrocco, Londres, 2006 (edição portuguesa distribuida pela Lisma) retrato de Jeanne Hebutérne. 

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