Meus caros amigos e leitores. As duas postagens a respeito da novela Gabriela versão 1975 surpreenderam o blog História Mundi. Por isso, reuni aqui algumas informações adicionais e acrescento um trabalho do pintor, desenhista e gravador Aldemir Martins (na imagem acima "Flor e Fruto de Cactus" de 1965, que inspirou a capa do disco "Gabriela") que contribuiu muito para o aspecto visual da novela que permaneceu em nosso imaginário.
Acredito que muitos que assistiram a mesma, ou em 1975 ou nas reapresentações (como na seção "Vale a Pena Ver de Novo" da própria TV Globo em 1992) tenham satisfeito algumas curiosidades. Tais informações podem também ser úteis para uma comparação com a versão que está sendo levada ao ar. Ainda é prematuro fazer uma avaliação definitiva, mas ao que parece, a novela começou bem. É possível reparar a preocupação do autor Walcyr Carrasco em não ficar preso à versão anterior, o que é louvável. Os coronéis, por exemplo, apresentam características bem diferentes e Antonio Fagundes faz um coronel Ramiro mais expansivo (para alguns, mais próximo do Bruno Mezenga de "o Rei do Gado") do que aquele vivido por Paulo Gracindo, um pouco mais sério e circunspecto. Temos também um Nacib menos ingênuo do que o representado por Armando Bogus. E Ivete Sangalo convencendo como Maria Machadão. Esta foi para mim, até agora, a maior surpresa. Seu sotaque natural ajuda muito.
Acredito que muitos que assistiram a mesma, ou em 1975 ou nas reapresentações (como na seção "Vale a Pena Ver de Novo" da própria TV Globo em 1992) tenham satisfeito algumas curiosidades. Tais informações podem também ser úteis para uma comparação com a versão que está sendo levada ao ar. Ainda é prematuro fazer uma avaliação definitiva, mas ao que parece, a novela começou bem. É possível reparar a preocupação do autor Walcyr Carrasco em não ficar preso à versão anterior, o que é louvável. Os coronéis, por exemplo, apresentam características bem diferentes e Antonio Fagundes faz um coronel Ramiro mais expansivo (para alguns, mais próximo do Bruno Mezenga de "o Rei do Gado") do que aquele vivido por Paulo Gracindo, um pouco mais sério e circunspecto. Temos também um Nacib menos ingênuo do que o representado por Armando Bogus. E Ivete Sangalo convencendo como Maria Machadão. Esta foi para mim, até agora, a maior surpresa. Seu sotaque natural ajuda muito.
Mas existe algo de 1975 que não pode ser reconstituido, o clima político vigente no país. Não há dúvida que o mesmo se refletia na produção artística, nos textos, nas músicas e nos demais setores da vida cultural em geral. Era preciso contornar, muito sutilmente, a censura da época por meio do uso de metáforas. Chico Buarque foi um mestre nessas "artimanhas".
Algumas novelas foram até impedidas de irem ao ar. Foi o caso da primeira versão de "Roque Santeiro" (1975) e da novela "Despedida de Casado" (1977), que já tinham capítulos gravados. Tal fato veio a se constituir em um forte argumento em defesa da emissora com relação aqueles que a associavam com a Ditadura Militar. Ora, como uma emissora que estava ao lado do governo, teria novelas censuradas?
Algumas novelas foram até impedidas de irem ao ar. Foi o caso da primeira versão de "Roque Santeiro" (1975) e da novela "Despedida de Casado" (1977), que já tinham capítulos gravados. Tal fato veio a se constituir em um forte argumento em defesa da emissora com relação aqueles que a associavam com a Ditadura Militar. Ora, como uma emissora que estava ao lado do governo, teria novelas censuradas?
O então executivo todo poderoso da emissora, Walter Clark, cita um episódio no livro "O Campeão de Audiência" (da Editora Best Seller, publicado em 1991), referente a uma implicação que os militares tiveram com a utilização dos termos "coronel" e "capitão" aplicado aos personagens Odorico Paraguassu e Zeca Diabo na novela "O Bem Amado" de 1973 (primeira novela em cores da tv brasileira). Um general insinuou que se tratava de uma crítica indireta contra a ditadura feita pelo autor, Dias Gomes, que era um notório comunista. Coube a Clark explicar que os dois termos tinham um sentido honorífico e surgiram nos tempos da Guarda Nacional do Segundo Império (1840-1889). A censura também impunha restrições ao uso das palavras "ódio" e "vingança" pois talvez pudessem fazer alusão ao ódio entre as classes pregado pelos comunistas.
Por falar em comunistas, que tal Jorge Amado (foto acima, ao lado da esposa e também escritora Zélia Gattai), que já tinha sido deputado do Partido Comunista Brasileiro e escrito uma biografia de Luis Carlos Prestes? Essas histórias, considerando-se que as mesmas tenham sido verdadeiras, deu origem ao mito de que Roberto Marinho se impôs junto aos militares: "dos meus comunistas cuido eu". Chico Anysio gostava de lembrar essa frase para enaltecer o espírito do jornalista diante das pressões da ditadura. Só não existe uma explicação mais clara a respeito de programas como "Amaral Neto: O Repórter", que fazia elogios às obras da ditadura, como a rodovia Transamazônica e a ponte Rio-Niterói. Ou ainda a falta de cobertura jornalística para um evento como a Campanha das Diretas Já, em 1984, quando a censura prévia não existia mais.
Ainda com relação à novela "Gabriela", no capítulo do dia 12.05.1975, os atores Pedro Paulo Rangel e Cidinha Milan apareceram nus. Os dois viviam os personagens Juca Viana e Chiquinha. Esta última era uma das mulheres do coronel Coriolano (interpretado por Rafael de Carvalho). Os dois foram flagrados na cama pelo coronel, que como castigo, mandou os seus jagunços atirarem os dois na rua em meio a um temporal e sem as roupas. Contudo, o diretor da novela Walter Avancini teve que gravar a cena à distância por recomendação da censura.
A novela projetou Sonia Braga (foto acima, em 1970, cinco anos antes de interpretar Gabriela), mas a atriz já era conhecida nas novelas "Irmãos Coragem" (1970-1971), "Selva de Pedra" (1972-1973) e no programa infantil "Vila Sésamo". Depois da novela "Gabriela" vieram os filmes "Dona Flor e seus Dois Maridos", "A Dama do Lotação" e "Eu te Amo". Em seguida, no início da década de 1980, a fase americana com "O Beijo da Mulher Aranha" e até aparecer como apresentadora em uma cerimônia de entrega do Oscar.
A novela projetou Sonia Braga (foto acima, em 1970, cinco anos antes de interpretar Gabriela), mas a atriz já era conhecida nas novelas "Irmãos Coragem" (1970-1971), "Selva de Pedra" (1972-1973) e no programa infantil "Vila Sésamo". Depois da novela "Gabriela" vieram os filmes "Dona Flor e seus Dois Maridos", "A Dama do Lotação" e "Eu te Amo". Em seguida, no início da década de 1980, a fase americana com "O Beijo da Mulher Aranha" e até aparecer como apresentadora em uma cerimônia de entrega do Oscar.
Minhas lembranças da novela envolvem também duas atrizes que participaram da mesma: Maria Fernanda e Eloisa Mafalda. Respectivamente, as personagens dona Sinhazinha e Maria Machadão. Em 1986, durante uma viagem a Ouro Preto, acompanhado por um grupo de estudantes, visitei o antigo teatro da cidade e de repente ouvimos a voz de uma mulher declamando poemas, como se estivesse ensaiando (de fato estava). Eram trechos do "Romanceiro da Inconfidência" da poetisa Cecília Meirelles. E eis que, para minha surpresa, lá estava a filha da famosa poetisa. Sim, era a atriz Maria Fernanda. Muito simpática, reservou um lugar no camarote do teatro e vimos o seu espetáculo como convidados especiais, com direito a um abraço nos camarins. A atriz vive atualmente no Rio de Janeiro. Com relação a Eloisa Mafalda, conheci-a durante uma viagem entre as cidades de Jundiaí e São Paulo. Uma mulher não parava de falar no ônibus da Viação Cometa. Na minha cabeça imaginei, conhecia essa voz de algum lugar. Parecia a voz da Maria Machadão. Era a própria...
Crédito das Imagens:
Pintura de Aldemir Martins: Aldemir Martins: Natureza a Traços e Cores de Jacob Klintowitz, publicado pela Valoart S.A., 1989, p. 37. Foto do casal Jorge Amado e Zélia Gattai do jornal "Ultima Hora" de 27.05.1957. Foto de Sonia Braga, jornal "Ultima Hora" de 01.07.1970.
Pintura de Aldemir Martins: Aldemir Martins: Natureza a Traços e Cores de Jacob Klintowitz, publicado pela Valoart S.A., 1989, p. 37. Foto do casal Jorge Amado e Zélia Gattai do jornal "Ultima Hora" de 27.05.1957. Foto de Sonia Braga, jornal "Ultima Hora" de 01.07.1970.
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