Mais uma vez abrimos espaço para as palavras sábias da cronista e poetisa vilaboense Anna Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, mais conhecida como Cora Coralina. Vilaboense, pois natural da cidade de Goiás Velho, que um dia foi Vila Boa de Goyaz, lá nos tempos do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho (início do século XVIII), que como o pai, recebeu a alcunha de Anhanguera. Aliás, de quem Cora é descendente direta. A escritora expõe sobre a velhice em uma entrevista. Mas, deixemos Cora falar sem mais delongas:
"O tempo passa, ninguém detém a passagem do tempo. Agora saiba viver para melhor envelhecer. [o que é viver bem?] Produzir. Não ser uma criatura inerte, parada. Não dormir de dia, sobretudo. Ler. Estar atualizada com os fatos. [quer dizer que não é pra ter medo da velhice?] Não. Não tenha medo. Não tenha medo dos anos e não pense na velhice. Não pense. E nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha. Eu não digo. Eu não digo estou velha, eu não digo estou ouvindo pouco - só quando preciso. Eu não digo nunca a palavra estou cansada. Nada disso, nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os outros também. Então, silêncio! Fique quieta! E não queixe doença também. Nunca diga para um visitante: 'Como vai passando? Ah... ando com uma dor agora, não ando muito bem...' Nada disso. Diga: 'muito bem, otimamente?' Não me queixo de nada. E quando tiver você uma queixa física, vá ao médico, ele é o único que tem que ouvir, ninguém mais. (...) Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado. Mas não sei se eu sou velha não. Você acha que eu sou velha?"
Só uma observação para conhecimento do leitor. Quando Cora refere-se na última linha, ao século passado, entendamos como sendo o final do século XIX. Só isso! O resto é pura sabedoria.
A passagem acima é uma transcrição de uma entrevista feita em 1984, uma ano antes da morte de Cora Coralina e que se encontra no livro "Cora Coralina: Raízes de Aninha", de Clóvis Carvalho Britto e Rita Elisa Seda, publicado pela Editora Ideias & Letras, de 2009, páginas 342 e 343.
Crédito da imagem de Cora Coralina: capa do livro já citado.
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