sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Anúncio Antigo 50: Batman na TV e nas Lojas Pirani



E este que vos escreve foi testemunha presencial desse evento! Com pouco mais de cinco anos de idade, fui levado por minha mãe, dona Olívia, na antiga loja de departamentos Pirani, na avenida Celso Garcia, no bairro do Brás, em São Paulo, para ver de perto o "Homem Morcego", naquele remoto ano de 1966. Tenho uma vaga lembrança desse dia, mas recordo que o super-herói me presenteou com vários "bat-anéis", os quais, infelizmente, não guardei para a posteridade. Tive uma camiseta que também já desapareceu. Mas, recentemente, ganhei outra com a estampa oficial do seriado, ao adquirir o box com todos os episódios em DVD. Durante muitos anos, acreditei que o indivíduo fantasiado na loja Pirani fosse o Batman verdadeiro. Bem, coisas de criança!


No Anúncio Antigo de hoje, recordamos a exibição do famosíssimo seriado da década de 1960, estrelado por Adam West como Batman (o Homem Morcego) e Burt Ward no papel de Robin (o Menino Prodígio), que aparecem na imagem acima. Os dois personagens das histórias em quadrinhos foram criados pelo escritor Bill Finger e pelo desenhista Bob Kane, aparecendo pela primeira vez em uma publicação no ano de 1939. 


Como se sabe, Batman (na imagem acima, o logo da abertura da série) era na verdade o milionário Bruce Wayne, o qual, após presenciar o assassinato dos pais quando ainda era criança, resolveu dedicar a sua vida no combate ao crime, preparando-se física e intelectualmente para isso. Nesse momento, assumiu a identidade de Batman, o Homem Morcego, o guardião da cidade fictícia de Gotham City. Nessa empreitada, contava com a ajuda de seu parceiro Robin e do mordomo Alfred. 





Os dois super-heróis enfrentavam uma galeria de vilões (entre eles o Coringa, o Charada e a Mulher Gato, respectivamente nas imagens acima, do seriado da década de 1960). Eis os mais conhecidos (com os seus respectivos intérpretes): Coringa (Cesar Romero); Pinguim (Burges Meredith); Mulher Gato (Julie Newmar, embora também tivéssemos outras duas: Lee Meriwether e Eartha Kitt); Charada (Frank Gorshin); rei Tut (o impagável Victor Buono); senhor Gelo (Otto Preminger, George Sanders e Eli Wallach); Cabeça de Ovo (Vincent Price); o pianista Chandel (interpretado de forma irreverente pelo também pianista Liberace); o Chapeleiro Louco (David Wayne); o Traça (Roddy McDowall); Sereia (Joan Collins); Mãe Parker (Shelley Winters); Minerva (Zsa Zsa Gabor), Shame (Cliff Robertson) entre outros foras da lei. Os mesmos eram vividos por astros que tiveram dias de glória em Hollywood. Bem, alguns ainda viveriam dias gloriosos, como Cliff Robertson, que ganhou o Oscar de melhor ator após o fim da série, em 1969. 







O seriado tinha altas doses de humor, com situações inusitadas e ingênuas, mas que a garotada levava muito a sério. As cenas de luta entre a Dupla Dinâmica e os seus inimigos eram repletas de onomatopeias (palavras cuja pronúncia imitam o som da coisa significada) do tipo Zok, Pow e Crunch (imagens acima). A série teve três temporadas entre 1966 e 1968, sendo que na ultima foi acrescentada uma heroína, a Batgirl, interpretada por Yvone Graig. A mesma era filha do comissário Gordon (vivido por Neil Hamilton). Além dos episódios para a televisão, um longa-metragem foi exibido nos cinemas com os personagens da série e intitulava-se "Batman, o Homem Morcego". 
Problemas com a censura não faltaram durante a exibição do seriado. Inicialmente, as roupas um tanto apertadinhas de Robin, expondo com excesso de clareza os seus atributos masculinos, foram alvos de críticas. E claro, os comentários a respeito de um possível envolvimento homossexual entre Bruce Wayne (Batman) e o seu pupilo Dick Grayson (Robin). Preventivamente, talvez já esperando tais rumores, o produtor William Dozier (que também era o narrador das aventuras na versão original) acrescentou uma tal de tia Harriet (vivida pela atriz Madge Blake), que não existia nos quadrinhos. Dessa forma, os dois personagens viviam numa mansão junto com a titia... Ah, é claro, tínhamos o sexagenário mordomo Alfred, interpretado pelo veterano ator inglês da 20th Century Fox (estúdio que produziu a série), Alan Napier (o qual, na vida real, foi primo do primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain e bisneto do escritor Charles Dickens) que estava pronto para as tarefas mais bizarras, inclusive a de se passar pelo próprio Batman (com direito a roupa, máscara e capa do Homem Morcego) em situações absolutamente esdrúxulas. 


Outro aspecto inusitado estava no próprio elenco. Adam West vestia uma roupa que evidenciava claramente o fato de estar fora de forma para viver um super-herói e era quase um quarentão quando a série foi ao ar (tinha 38 anos). Bem, quando a produção acabou, em 1968, ele tinha de fato, 40 anos! No comparativo com as revistas em quadrinhos do personagem, ficava evidente o "déficit muscular" do "Cruzado Encapuçado" da televisão. Mas, afinal não nos importávamos tanto com isso. Outra marca desse seriado televisivo foi o tema de abertura, que praticamente ficou associado para sempre ao personagem, composto por Neil Hefti e conduzido pela orquestra de Nelson Riddle (que acompanhava os espetáculos de vários artistas famosos, entre eles Frank Sinatra).


Batman foi produzido numa época em que os seriados mostravam muita cor, embora aqui no Brasil só fossem exibidos em preto e branco, pelo menos até 1972, quando surgiu a televisão em cores por estas bandas. Bem diferente do aspecto gótico que adquiriu o personagem, a partir da versão de Tim Burton de 1989, sem o humor do seriado exibido na televisão (na imagem acima, o comissário Gordon e o chefe O'Hara vivido pelo ator Stafford Repp). 
Aqui no Brasil em 1966, Batman estava indo ao ar pelo antigo Canal 5 de São Paulo ou TV Paulista, que já transmitia parte da programação da TV Globo do Rio de Janeiro, como as telenovelas. Em 1968, a emissora passou para o controle definitivo das Organizações Roberto Marinho e se transformou na Globo de São Paulo, numa negociação nebulosa, que até hoje não foi bem esclarecida (assunto para a nossa futura postagem sobre a história da televisão no Brasil). 


Por último, como não poderia deixar de ser, faremos uma lembrança a respeito das Lojas Pirani, no caso em questão da sua filial na zona leste de São Paulo (foto acima, do início da década de 1960), localizada na avenida Celso Garcia (a qual, um dia, já foi badalada). Em função do seu tamanho era conhecida como "a gigante do Brás" (tradicional bairro de imigrantes italianos). Em uma época em que ainda não existiam os shoppings centers, o comércio de rua exibia o seu charme, e mesmo lojas de grande porte tinham filiais nos bairros da cidade. Ir a essa loja era um passeio para os moradores da região, mesmo que não se consumisse nada. 


A Pirani era conhecida também por sua fabulosa decoração de Natal. Claro, com direito à presença do Papai Noel. Para os pais que levavam as crianças nas compras, existia um estúdio, onde as mesmas podiam ser fotografadas, geralmente acompanhadas de um acordeão (exatamente como na foto acima, de 1966).


A outra loja Pirani situada na avenida São João, no centro da capital paulista, com cinco andares (na foto acima de 1965, a loja a direita), teve um destino trágico! Em 1972, o edifício Andraus onde a mesma estava localizada, sofreu um grande incêndio que começou exatamente na loja, por uma provável sobrecarga elétrica. Segundo nos informa a revista Veja, os proprietários do estabelecimento tiveram que ressarcir os familiares das vítimas do sinistro, o que contribuiu para a falência da empresa. 



No bairro do Brás, onde estava localizada a segunda loja (na foto acima, o seu interior), após o seu fechamento, ficou um vazio que até hoje não foi preenchido e que marcou o início da decadência da avenida Celso Garcia...
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo, do dia 20 de setembro de 1966, na página 16.
Crédito das imagens:
Imagens do seriado Batman: fotogramas dos DVDs da Coleção Batman, da Warner Bros. Entertainment Inc., 2014.
Loja Pirani da avenida São João: Pinterest
Loja Pirani da avenida Celso Garcia no início da década de 1960 (e informações sobre o fechamento da loja):
https://vejasp.abril.com.br/blog/memoria/grandes-lojas-que-fecharam-as-portas/
Interior da loja Pirani:
http://www.partes.com.br/2013/02/04/grandes-atracoes-pirani/
Foto do menino com acordeão: acervo do autor.

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