sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Anúncio Antigo 66: aspirina



Assim muitos imaginam a dor de cabeça, com o capeta apertando devagarzinho a nossa caixa craniana. E o remédio para isso? Pois saiba o caro leitor (a) que muitas substâncias provenientes da natureza e benéficas ao organismo humano já eram conhecidas por civilizações e culturas ancestrais. É o caso da substância que deu origem à aspirina, tema do Anúncio Antigo de hoje (imagem acima), que nada mais é do que o ácido acetilsalicílico proveniente do salicilato, presente em diversas plantas utilizadas como medicamentos. A mais conhecida dessas plantas é o salgueiro (também chamada de chorão). O seu uso para alívio de dores reumáticas remonta à antiga Mesopotâmia e é relatado em papiros (documentos escritos) do segundo milênio a. C. (antes de Cristo). No século VI a.C. o pai da medicina científica, o grego Hipócrates, receitava sucos extraídos da casca do salgueiro para o alívio das dores do parto e diminuição da febre. Sabe-se também que os nativos das Américas fizeram uso dessa substância para fins terapêuticos. 


O termo salicilato foi dado muitos séculos depois e é derivado de Salix, termo latino que designa o grupo de plantas do qual faz parte o salgueiro (foto acima). Em 1897, os químicos Felix Hoffman e o seu chefe, Heinrich Dreser, do laboratório alemão Bayer agregaram ao ácido salicílico o acetato (algumas fontes atribuem isso a um outro químico, Arthur Eichengrun), o que deu origem ao ácido acetilsalicílico ou a aspirina propriamente dita. A aspirina foi o primeiro fármaco (substância de alto interesse medicinal) a ser sintetizado na indústria farmacêutica e a primeira grande criação dessa mesma indústria, além de ter se tornado também o primeiro fármaco vendido em tabletes. 



Em 1899, a Bayer deu início à comercialização da aspirina, obtendo êxito imediato (na foto acima, embalagem original). O produto já estava patenteado pela mesma indústria alemã. O nome do remédio considerado o mais popular do século XX foi criado da seguinte forma: o a vem de acetil; o spir de ácido espírico (idêntico ao ácido acetilsalicílico) e o ina era o sufixo dado a todos os medicamentos criados no final do século XIX e início do XX (como por exemplo, penicilina). 
Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a Bayer perdeu, em vários países, os direitos sobre a marca aspirina, como forma de contribuir com as indenizações de guerra a serem pagas aos vencedores. Aliás, a famosa indústria química teve a sua trajetória marcada pelo envolvimento direto com a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Na década de 1930, a Bayern tomou parte de uma grande corporação  do setor químico conhecida como IG Farben, na qual também estavam a Basf, a Agfa e os laboratórios Hoechst. A criação dessa corporação empresarial (que na prática atuava como cartel) foi uma forma encontrada para enfrentar as dificuldades econômicas originárias da derrota alemã na Primeira Guerra. Em troca das promessas de expansão e de mais investimentos na indústria química, a IG Farben financiou a campanha que levou à indicação de Adolf Hitler como primeiro-ministro da Alemanha em 1933. Posteriormente intensificou a colaboração com o regime nazista desenvolvendo a borracha sintética, os combustíveis de alta performance para as Forças Armadas e produzindo o Ziklon-B, gás venenoso utilizado nas câmaras de extermínio de prisioneiros nos campos de concentração. 


A IG Farben e suas indústrias constituintes também utilizaram esses prisioneiros como mão de obra escrava (acima, prisioneira trabalhando para a IG Farben, no próprio campo de concentração de Auschwitz). 


Ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, muitos diretores das empresas que integravam o conglomerado da IG Farben foram levados a julgamento e sentenciados por crimes de guerra (na foto acima Carl Krauch, presidente da IG Farben, condenado a 6 anos de prisão). O conglomerado IG Farben foi desmantelado e as antigas empresas do grupo foram reconstituídas, inclusive contando com a ajuda financeira dos aliados vencedores da guerra, para fortalecer a nova Alemanha e conter a ameaça comunista na Europa Oriental. Em função disso, a Bayern voltou a prosperar e hoje é uma das empresas mais importantes do mundo no ramo farmacêutico e químico. E vida que segue, como se diz por aí. Mas, e para as vítimas?
O Anúncio Antigo 66 foi publicado na revista Careta no ano de 1912 e reproduzido na seguinte página:
https://www.facebook.com/AnunciosDoPassado/?epa=SEARCH_BOX

Crédito das demais imagens: Wikipédia
Antiga embalagem da aspirina em pó:
https://www.bayer.pt/sala-de-imprensa/galeria-de-imagens.php

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