quinta-feira, 19 de março de 2020

Dica de Filme: O Tradutor



Nestes tempos de coronavírus e de quarentena forçada muitos devem estar a procura de algo para assistir e que, de preferência, permita algum tipo de reflexão sobre o conturbado momento que a humanidade atravessa, com pandemia, conflitos políticos, guerra comercial, crise econômica, entre outros. A produção cubano-canadense "O Tradutor" embora remeta ao período final da década de 1980, traz à tona questões que ainda são sensíveis ao mundo atual, tendo como pano de fundo as reformas promovidas pelo líder soviético Mikhail Gorbatchev na antiga União Soviética, principalmente a reestruturação econômica (perestroika). A trama de "O Tradutor" se passa exatamente no momento em que os efeitos daquela política alcançaram o regime socialista de Cuba na América Central, que era o mais importante aliado dos soviéticos no continente americano. 


Baseado em fatos verídicos, o professor de literatura russa Malin, vivido pelo ator brasileiro Rodrigo Santoro (imagem acima) é incumbido pelo governo cubano de trabalhar em um hospital de Havana, onde deveria utilizar o seu conhecimento na língua russa. Apenas ao chegar ao local ele descobre, de forma precisa, qual seria esse trabalho, o de lidar com crianças que haviam sofrido os efeitos da radiação no acidente da usina nuclear soviética de Chernobyl em 1986. Crianças que estavam desenvolvendo vários tipos de câncer, variando a gravidade, desde aquelas cujo estado de saúde era irreversível até as que ainda podiam aspirar a uma cura, contando com a colaboração da medicina cubana.



No entanto, à medida em que vai desenvolvendo o seu trabalho, Malin percebe que a tarefa acaba por absorve-lo emocionalmente e interferindo em sua relação com a esposa Isona, vivida pela atriz cubana Yoandra Suarez (na foto acima com Santoro), que reclama a presença do marido, sobretudo em função da mesma estar grávida de um segundo filho. 



Diante do drama vivido pelas crianças e pelos seus familiares dentro do ambiente hospitalar, o único apoio de Malin vem da enfermeira Gladys, vivida pela excelente atriz argentina Maricel Alvarez (acima, à direita). Junto a ela, o professor universitário expõe os seus dramas pessoais e suas inquietações em relação aos pacientes. Diante da dificuldade de algumas crianças em expressarem verbalmente os seus sentimentos, Malin sugere que algumas desenhem ou escrevam a fim de refletirem sobre o momento que estavam atravessando. 
Como já afirmamos, naquele ano de 1989 o regime cubano enfrentava os impactos do fim dos subsídios soviéticos, o que trouxe dificuldades ao povo da ilha comandada por Fidel Castro. Talvez o mais grave dizia respeito ao fornecimento de petróleo e de insumos industrializados, inclusive na área da saúde. O professor Malin se viu obrigado a deixar o automóvel e a locomover-se de bicicleta. O racionamento de alimentos também foi sentido na casa do personagem, pois o filho apresentava problemas de perda de peso. 
Nota-se também uma certa descrença de Malin em relação ao regime cubano, ao mesmo tempo em que se desenvolve uma crise no seu casamento. Problemas que a trama, muito bem conduzida e com atores excelentes, irá levar a um desfecho que, claro, deixaremos ao leitor analisar e estabelecer conclusões. Uma curiosidade, os diretores do filme, os irmãos Sebastián Barriuso e Rodrigo Barriuso são filhos do casal Malin e Isona na vida real.  A referência a Chernobyl também é oportuna visto que o fato foi recentemente trazido à tona em uma premiada série da HBO. Aproximadamente 25 mil vitimas do acidente foram atendidas nos hospitais de Cuba e o tratamento estendeu-se até 2011, bem depois do fim da própria União Soviética. 
A película foi pré-indicada para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2020 e a atuação de Rodrigo Santoro foi elogiada, inclusive ao lidar com o idioma castelhano, no qual se saiu bem. Enfim, uma boa opção para aqueles que desejam assistir a um filme movidos pelo interesse em compreender o mundo contemporâneo, a história e a própria geopolítica das últimas décadas. Refletir sobre a realidade é sempre um ótimo antidoto contra qualquer tipo de epidemia...

Para ver: 


O Tradutor (2019)
Elenco: Rodrigo Santoro, Maricel Alvarez e Yoandra Suarez.
Direção: Sebastián Barriuso e Rodrigo Barriuso. 
País de origem: Canadá e Cuba. 
Observação: o filme ainda não está disponível em DVD, mas encontra-se nos canais Telecine da NET (Telecine Cult). 
Crédito das imagens: 
Imagem do cartaz do filme e de Santoro com Yoandra Suarez: 
http://www.adorocinema.com
Foto de Rodrigo Santoro: 
http://spcine.com.br
Rodrigo Santoro com as crianças:
https://culturice.com.br/
Rodrigo Santoro com Maricel Alvarez: 
https://entretenimento.uol.com.br/

5 comentários:

  1. Bela matéria, com uma narrativa direta e objetiva, que desperta na gente uma grande vontade de ver esse filme.Obrigado pela dica

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  2. Bela matéria, parabéns históriamundi,com uma descrição simples direta e muito rica, você desperta na gente uma vontade enorme de ver esse filme.Obrigado pela dica

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    1. Querido José Jonas. Como ya he comentado contigo desde FB me estremece esta película porque soy profundamente cubana y todaas eso que pas en la película fue vivido por mí. Le agradesco mucho a los hermanos Rodrigo y Sebastian Barriuso (radicados en Canadá) el homenaje hecho a su padre Manuel Barriuso Andino uno de los primeros traductores de los niños ucranianos de Chernobil porque Cuba salvó el futuro de Ucrania, en ese país ni la derecha se mete con nuestra Cuba, porque nadie como mi país hizo por esos niños.Nuestros médicos se merecen un premio Nóbel de la paz.

      El programa Niños de Chernobil este mes de marzo cumplió 30 años duró desde 1990 hasta 2011. Me parece verlos desd mi TV cuando bajaban tristes por la escalerrila del avión sendo recibidos por Fidel Castro. Una niña que cumplía 15 años estaba triste porque pensaba que no tendría cumpleaños pues Fidel le celebró los 15 años

      Le agradecemos a Rodrigo Santoro haberse convertido en cubano, una película que tiene una narración sin los lugares comunes de un melodrama de poca monta (sin desdorar klos buenos melodramas). Myuy bien tratado y centrado el drma matrimonial. Agradecemos la dirección de arte y la actuación de Yoandra que también es modelo

      Un abrazo amigo y gracias nuevamente un tanto más por nuestro cine latinoamericano que en nuestro continente lamentablemente no se ve

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  3. Querida amiga, o seu relato é profundo e sensível, de uma pessoa que vivenciou tudo isso. Sei as privações que o povo cubano passou naquele período final da década de 1980 que vc mesma me relatou. Uma superação de um povo unido e que dá maravilhosos exemplos ao mundo. Acompanho a dedicação dos seus médicos nos vários cantos do planeta, sobretudo agora com a pandemia do coronavírus. Para mim, administrador desta página, é uma honra receber o seu comentário. Saiba que esta postagem está sendo bem vista, mas muitos me perguntam onde encontrar o filme e infelizmente não está disponível em DVD. Apenas em uma emissora fechada de tv por assinatura. Um grande abraço e vc e obrigado pelo belo comentário...

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