Os anos posteriores à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram marcados pela expansão do parque industrial no Brasil. A própria guerra impulsionou o processo, na medida em que muitos produtos antes importados tiveram que ser produzidos aqui. Claro, o que era então possível de ser fabricado aqui. Após o fim do conflito, a industrialização avançou ainda mais e as cidades cresceram, notadamente São Paulo, que veio a ultrapassar a antiga Capital Federal, o Rio de Janeiro, como a maior cidade do Brasil. Como não poderia deixar de ser, o êxodo rural forneceu mão de obra barata, necessária para a indústria e para o comércio, que estavam em plena expansão. Em um período relativamente curto, situado entre 1930 e o início da década de 1980, o Brasil construiu uma economia moderna, incorporando padrões de produção e de consumo típicos dos países desenvolvidos, apesar da enorme desigualdade social e concentração de renda, o que significava que tais padrões de consumo não eram para todos. Contudo, o nosso parque industrial fabricava praticamente de tudo.
O economista João Manuel Cardoso de Mello e o historiador Fernando A. Novais escreveram sobre as transformações decorrentes dessa urbanização acelerada no Capítulo 9 do livro História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da intimidade contemporânea, volume 4 (Companhia das Letras, 1998). Nesse Capítulo, intitulado "Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna", os autores demonstram que a atração exercida pelas cidades era muito grande, sobretudo sobre a massa populacional empobrecida do campo. Por pior que fosse morar nas cidades (periferias, cortiços e favelas), a possibilidade de emprego com carteira profissional (que praticamente não existia no setor agrário) representava uma melhora em relação à vida rural, inclusive com maior acessibilidade à educação e à saúde.
Por outro lado, a vida urbana também transformou hábitos e costumes, inclusive no que se referia a higiene e limpeza, com a utilização de produtos praticamente desconhecidos. Entre os mesmos destacamos o detergente, o sabão em pó, o desinfetante e o famoso bombril, o qual substituiu a velha palha de aço. Na higiene pessoal ocorreram também avanços significativos, inclusive nas camadas populares e de renda mais baixa. Entre esses avanços tivemos o uso das escovas de dentes e do dentifrício (a pasta dental). Tais produtos substituíram o sabão comum, o bicarbonato de sódio e até as cinzas de material queimado, que eram utilizados anteriormente na limpeza da boca e da dentição, sendo esfregados sobre os dentes com os dedos e depois lavados. O mau hálito era combatido por meio do bochecho, na mistura da água com algum produto aromatizante. Posteriormente, outros artigos acabaram sendo incorporados ao consumo, como o shampoo, o desodorante, o sabonete perfumado e o modess, que substituiu o pano caseiro tradicional (ver Anúncio Antigo 39: Modess). Todo um mercado se abriu a esses produtos, muitos dos quais já existiam nos países desenvolvidos e acabaram sendo assimilados aqui, via campanhas publicitárias em revistas, jornais, rádios e depois a televisão.
No Anúncio Antigo acima, temos a pasta dental da marca Lever, fabricada por uma multinacional, a Unilever. A empresa nasceu no século XIX na Inglaterra como Lever Brothers, fabricando sabões. Em 1929 expandiu o negócio para outros países e logo chegou ao Brasil. Pouco depois entrou também no ramo de alimentos ao adquirir uma empresa de origem holandesa e em 1960 comprou a Companhia Gessy Industrial, passando a adotar o nome de Gessy Lever.
Atualmente, a Unilever é uma corporação que controla marcas como Arisco, Maizena, Knorr, Cica, Kibon, Hellman's, Omo, Dove, Rexona, Close Up entre inúmeras outras (acima, ao centro, o logo da Unilever e algumas das marcas pertencentes ao grupo). Em 2015, a Unilever foi a empresa mais punida pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) em função das reclamações dos concorrentes, entre os quais estavam a Johnson & Johnson, L'Oréal e Reckitt Benckiser. Muitas das reclamações versavam sobre informações que estariam incorretas em seus produtos. O seu gigantismo é tal, que cabe pensarmos até que ponto isso é saudável para a economia de um país e a para a vida das pessoas, isto é, a sociedade depender tanto de um conglomerado gigante para a aquisição de produtos alimentícios e de higiene pessoal, que se tornaram itens importantes no consumo das famílias. Enfim, a concentração do capital é uma tendência inexorável da economia capitalista.
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista "O Cruzeiro" de 7 de agosto de 1954, página 18 F.
Crédito da imagem:
logo da Unilever e demais marcas:
http:///www.pdeproteçao.com.br/2016/02/levantamento-da-conta-que-unilever-e-o.html
O economista João Manuel Cardoso de Mello e o historiador Fernando A. Novais escreveram sobre as transformações decorrentes dessa urbanização acelerada no Capítulo 9 do livro História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da intimidade contemporânea, volume 4 (Companhia das Letras, 1998). Nesse Capítulo, intitulado "Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna", os autores demonstram que a atração exercida pelas cidades era muito grande, sobretudo sobre a massa populacional empobrecida do campo. Por pior que fosse morar nas cidades (periferias, cortiços e favelas), a possibilidade de emprego com carteira profissional (que praticamente não existia no setor agrário) representava uma melhora em relação à vida rural, inclusive com maior acessibilidade à educação e à saúde.
Por outro lado, a vida urbana também transformou hábitos e costumes, inclusive no que se referia a higiene e limpeza, com a utilização de produtos praticamente desconhecidos. Entre os mesmos destacamos o detergente, o sabão em pó, o desinfetante e o famoso bombril, o qual substituiu a velha palha de aço. Na higiene pessoal ocorreram também avanços significativos, inclusive nas camadas populares e de renda mais baixa. Entre esses avanços tivemos o uso das escovas de dentes e do dentifrício (a pasta dental). Tais produtos substituíram o sabão comum, o bicarbonato de sódio e até as cinzas de material queimado, que eram utilizados anteriormente na limpeza da boca e da dentição, sendo esfregados sobre os dentes com os dedos e depois lavados. O mau hálito era combatido por meio do bochecho, na mistura da água com algum produto aromatizante. Posteriormente, outros artigos acabaram sendo incorporados ao consumo, como o shampoo, o desodorante, o sabonete perfumado e o modess, que substituiu o pano caseiro tradicional (ver Anúncio Antigo 39: Modess). Todo um mercado se abriu a esses produtos, muitos dos quais já existiam nos países desenvolvidos e acabaram sendo assimilados aqui, via campanhas publicitárias em revistas, jornais, rádios e depois a televisão.
No Anúncio Antigo acima, temos a pasta dental da marca Lever, fabricada por uma multinacional, a Unilever. A empresa nasceu no século XIX na Inglaterra como Lever Brothers, fabricando sabões. Em 1929 expandiu o negócio para outros países e logo chegou ao Brasil. Pouco depois entrou também no ramo de alimentos ao adquirir uma empresa de origem holandesa e em 1960 comprou a Companhia Gessy Industrial, passando a adotar o nome de Gessy Lever.
Atualmente, a Unilever é uma corporação que controla marcas como Arisco, Maizena, Knorr, Cica, Kibon, Hellman's, Omo, Dove, Rexona, Close Up entre inúmeras outras (acima, ao centro, o logo da Unilever e algumas das marcas pertencentes ao grupo). Em 2015, a Unilever foi a empresa mais punida pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) em função das reclamações dos concorrentes, entre os quais estavam a Johnson & Johnson, L'Oréal e Reckitt Benckiser. Muitas das reclamações versavam sobre informações que estariam incorretas em seus produtos. O seu gigantismo é tal, que cabe pensarmos até que ponto isso é saudável para a economia de um país e a para a vida das pessoas, isto é, a sociedade depender tanto de um conglomerado gigante para a aquisição de produtos alimentícios e de higiene pessoal, que se tornaram itens importantes no consumo das famílias. Enfim, a concentração do capital é uma tendência inexorável da economia capitalista.
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista "O Cruzeiro" de 7 de agosto de 1954, página 18 F.
Crédito da imagem:
logo da Unilever e demais marcas:
http:///www.pdeproteçao.com.br/2016/02/levantamento-da-conta-que-unilever-e-o.html
Parabéns,é uma excelente matéria que mostra de maneira clara o processo da industrialização do nosso país através de uma única empresa,é uma ótima aula. Recomendo a todos.
ResponderExcluirObrigado mais uma vez pela leitura Silvio. Abraços
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