sábado, 7 de novembro de 2020

Editorial: a eleição de Joe Biden


Joe Biden (foto acima), do Partido Democrata, foi eleito o 46º presidente dos Estados Unidos da América. A sua vitória deve ser vista como positiva no sentido de trazer um ambiente mais favorável ao pensamento progressista (voltado aos avanços sociais e culturais) e contrário às teses ultradireitistas, muitas das quais beiram até mesmo ao fascismo. Contudo, vamos diretamente ao aspecto que nos diz respeito, ou seja, à América Latina, onde o nosso país está incluído. Não se vislumbram mudanças substanciais a curto ou médio prazos nas relações estadunidenses com essa parcela importante do continente americano. Devemos recordar ao caro leitor, que o imperialismo ianque é o mais atuante do planeta e as intervenções militares em várias regiões do mundo comprovam isso. O atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é um servidor fiel dos interesses de Washington, independentemente de quem ocupe a chefia da Casa Branca. Por outro lado, o declínio econômico e geopolítico dos Estados Unidos está escancarado diante das crescentes rivalidades com a Rússia e a China. Além disso, o país sai das eleições profundamente dividido e carregado com as sombras do passado, dos tempos da Guerra de Secessão (1861-1865). As desigualdades sociais aumentaram, a juventude está longe do antigo "sonho americano" e sem perspectiva de futuro com o desemprego crescente, tudo isso diante da ascensão da China como potência industrial e grande rival no campo econômico. Ainda acrescentamos o ressurgimento da violência contra a população afrodescendente e a crise gerada pela pandemia da covid-19, que agravam um quadro social que, por si só, já era preocupante. 

Exatamente por isso, os Estados Unidos tentam recuperar a sua influência no seu antigo quintal latino-americano e nós continuamos atrelados a essa mesma influência. Se a eleição do democrata Joe Biden e a derrota do republicano Donald Trump prejudicam Bolsonaro a ponto de inviabilizar a sua reeleição em 2022, só o tempo poderá esclarecer. Lembremos que estamos próximos das eleições municipais e o resultado das mesmas também podem influenciar num futuro cenário de corrida presidencial. De qualquer forma, o Brasil precisa se posicionar de modo independente no cenário mundial, aproveitar melhor a transição do eixo econômico do oeste para o leste e rearticular-se com o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), saindo do alinhamento automático com os Estados Unidos, que não tem sido benéfico ao país. Internamente, dar atenção à desigualdade social, às parcelas da sociedade desfavorecidas e não apenas conceder privilégios aos que já são privilegiados. Tais demandas exigirão mobilizações políticas e uma atenção maior dos partidos de esquerda, os quais deveriam ser os mais receptivos às grandes transformações, para a construção de uma nação verdadeiramente livre e justa, algo do qual estamos muito longe. A eleição de Biden, de modo algum, atenua a necessidade da realização de uma série de tarefas, para que o Brasil saia, em definitivo, de sua condição de nação subalterna...

Crédito da imagem: CNN Brasil. 

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