terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Batalha de Stalingrado: relato de um oficial alemão

 

Uma batalha travada na virada de 1942 para 1943, em pleno inverno russo, que se constituiu num dos momentos cruciais da Segunda Guerra Mundial e da campanha militar promovida por Adolf Hitler, cujo objetivo era dominar a União Soviética (na foto acima, soldado alemão na Rússia, sob a temperatura de -35ºC). A vitória nesse confronto específico colocaria o Terceiro Reich (Império Alemão) diante dos campos de petróleo da região do Cáucaso, cadeia de montanhas no extremo sul da antiga União Soviética (hoje partes da Armênia, Geórgia, Azerbaijão e Federação Russa). Mas, como dizia o poeta, no meio do caminho havia uma "pedra", a cidade que carregava o nome do então líder soviético Josef Stálin e que ficava na margem direita do rio Volga, uma via fluvial importante, navegável e estratégica para quem a controlasse: Stalingrado (atual Volgogrado). Para defender a área urbana do intenso bombardeio alemão, os soldados do Exército Vermelho ocuparam cada rua, cada fábrica, cada quarteirão e cada casa da cidade, que se encontrava em escombros. E isso sob um frio que chegou a alcançar -40ºC. A resistência dos soldados soviéticos possibilitou o tempo necessário para a chegada do reforço vindo do leste, com material bélico que acabava de sair das fábricas instaladas no interior da União Soviética e na Sibéria, inclusive de 450 tanques T-34 novos. Esse blindado era considerado imbatível e foi sendo aperfeiçoado ao longo do conflito, sobretudo no tempero do aço para a blindagem. O comando do Exército Vermelho estava a cargo do célebre general e depois marechal Georgy Zhukov. 

Em 2 de fevereiro de 1943, cercado na retaguarda e nos flancos (pelos lados), sem possibilidade de receber reforços e suprimentos por terra e pelo ar, com os soldados exauridos no frio intenso, o Marechal de Campo Von Paulus aceitou a rendição, contrariando as determinações de Adolf Hitler de resistir. O frio derrotou os alemães? Os antigos historiadores soviéticos e russos contestam veementemente isso, afirmando que o inverno prejudicou os dois lados. Os mesmos também destacam a coragem dos soldados soviéticos e o abnegado desejo de defender a pátria. Dos 250 mil soldados alemães sitiados em novembro do ano anterior, apenas a metade conseguiu sobreviver e destes apenas 10 % retornou à Alemanha ao final da guerra. 

Abaixo temos um relato de um tenente alemão da 24ª Divisão Panzer (de tanques) feito após o conflito. Infelizmente não temos o nome desse oficial: 

"Para tomar uma única casa, lutamos quinze dias, lançando mão de morteiros, granadas, metralhadoras e baionetas. Já no terceiro dia, 54 cadáveres de soldados alemães estavam espalhados pelos porões, pelos patamares e pelas escadas. Nossa frente é um corredor ao longo de quartos incendiados ou o forro entre dois pavimentos. Pelas chaminés e escadas de incêndio das casas vizinhas é que chegam os reforços. A luta não cessa nunca. De um andar para o outro, rostos enegrecidos pelo suor, nós nos bombardeamos uns aos outros com granadas, em meio a explosões, nuvens de poeira e de fumaça, montes de argamassa, em meio ao dilúvio de sangue, aos destroços de mobiliário e de seres humanos. Perguntem a qualquer soldado o que significa meia hora de luta corpo a corpo numa peleja desse tipo. Depois imaginem Stalingrado - oitenta dias e oitenta noites só de luta corpo a corpo. As ruas já não se medem por metros, mas por cadáveres (...). Stalingrado já não é mais uma cidade. Durante o dia não passa de uma imensa nuvem de fumaça, que cega e queima, uma enorme fornalha iluminada pelo reflexo das labaredas. Depois, quando a noite chega, uma daquelas noites causticantes, de sangue e de gemidos, os cães se lançam às águas do Volga e nadam desesperadamente para chegar à outra margem. Até os animais fogem deste inferno, que as pedras mais duras não conseguem suportar por muito tempo só os homens ainda resistem."

O relato foi extraído de "Stalingrado", artigo do historiador militar britânico Alan Clark e que está contido na coleção História do Século 20 Abril Cultural, volume 5, 1975, página 2045. 

Crédito da imagem: 

The Pictorial History of World War II de Charles Messenger. JG Press, página 77. 

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