Pois é, quem diria que no início da década de 1980 a modelo Xuxa Meneghel, na época conhecida pelo seu envolvimento com o ex-jogador Pelé e pelas fotos sensuais na Revista Playboy (inclusive em poses bem "calientes" ao lado da própria irmã) tornaria-se anos depois a "Rainha dos Baixinhos"? Bem, esse título ela já poderia usufruir neste filme lançado em 1982, tema da seção "Anúncio Antigo" de hoje, uma vez que ela interpretava uma prostituta que seduz um garoto de apenas 12 anos de idade dentro de um bordel.
"Amor, Estranho Amor" foi dirigido por Walter Hugo Khouri, um competente cineasta, responsável pelo clássico do cinema nacional "Noite Vazia" (1964). A maior parte de seus filmes parte da narrativa feita por um personagem fictício, sempre com o nome de Marcelo (para muitos críticos, uma espécie de alterego do próprio diretor). Marcelo é um homem que busca o poder, o dinheiro e as mulheres bonitas, mas que nunca consegue preencher o vazio de sua existência. Atores como Paulo José, Roberto Maia, Tarcísio Meira e até o recentemente falecido ator norte-americano Ben Gazarra já incorporaram o personagem nos filmes de Khouri. Foram mais de 23 filmes em 40 anos de carreira como diretor. O seu trabalho têm influências de diretores como Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni e da nouvelle vague francesa. A temática existencialista de seus filmes divergia do Cinema Novo do início da década de 1960 e por isso chegou a ser classificado como um cineasta "alienado".
A história de "Amor, Estranho Amor" (lançado em 1982) se passa dentro de um bordel de luxo na cidade de São Paulo, aparentemente no final da década de 1920, frequentado por pessoas influentes como políticos, empresários e fazendeiros. O personagem Marcelo aparece no início do filme já como um homem maduro e entra no casarão que havia abrigado o dito bordel. Ele era filho de uma das prostitutas que trabalharam lá, interpretada pela atriz Vera Fischer, que inclusive foi premiada por seu trabalho nesse filme. Sem ter onde abrigar o garoto de 12 anos, ela o leva para viver ao seu lado no casarão, junto com outras garotas, inclusive a mais nova, exatamente a personagem de Xuxa Meneghel. Dentro deste verdadeiro "antro da perdição" o garoto é alvo de brincadeiras por parte das "meninas" e finalmente seduzido por Xuxa.
Em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo" em 18.02.1992, dez anos após o lançamento do filme nos cinemas, o diretor Khouri classificou como "fascistóide" a atitude da então apresentadora do programa infantil "Xou da Xuxa" na TV Globo, de tentar impedir na justiça o lançamento do filme em fita VHS (o filme acabou sendo lançado e hoje é uma raridade por não existir uma versão em DVD). Segundo declaração do diretor, Xuxa adorou ter participado do filme na época e colaborou muito no lançamento do mesmo, chegando a posar em frente aos cartazes na porta dos cinemas (o que é confirmado pela foto acima, na frente do antigo cine Ipiranga no centro de São Paulo, diante de um público de "marmanjos" em 1982). Ainda segundo o diretor, Xuxa teria dito depois que fez o filme no final da década de 1970 quando ainda era menor de idade, com o objetivo de interditar o filme na Justiça. Mas Walter Hugo Khouri desmentiu essa versão e afirmou na entrevista citada que "ela já era maior e sabia muito bem o que fazia" acrescentando que Xuxa gostava de andar nua pelos cenários e que embora fosse advertida quanto a isso, achava a atitude muito "natural". Na época desta entrevista, Walter Hugo Khouri criticava a iniciativa de Xuxa de interditar o filme, alegando que isso o prejudicava enquanto diretor e impedia o público de ver o trabalho de Vera Fischer, que foi premiada por sua interpretação.
Na verdade, apesar da cena de amor com o menino ir contra a carreira que Xuxa fez depois como apresentadora de programas infantis, ela esteve muito bem acompanhada no que se refere ao seleto grupo de atrizes que atuaram com o diretor Walter Hugo Khouri. Nomes como Norma Bengell, Odete Lara, Dina Sfat, Vera Fischer, Matilde Mastrangi, Sandra Bréa, Iris Bruzzi, Maitê Proença, Cristiane Torloni, Reneé de Vielmond, Lilian Lemmertz, Monique Lafond, Joana Fomm, Ana Paula Arósio e até a inocente Maria Leite de Barros (que na década de 1970 apresentava um programa na TV Cultura chamado "Inglês com Música", que os mais velhos vão lembrar) atuaram sob o comando do diretor. Que eu saiba, nenhuma destas atrizes tentou bloquear o filme na Justiça como fez Xuxa. Pode-se até dizer que seria um bom currículo para a apresentadora.
Ao insistir na proibição do filme Xuxa tenta apagar a sua própria história, pelo simples fato de ir contra a sua imagem criada posteriormente junto ao público infantil. É correto isso? Será que o público não têm o direito de conhecer a trajetória de uma "celebridade" que tanto insiste na inocência e numa imagem de "pureza" junto às crianças? Pois é, a vida é bem diferente dos contos de fadas. Mas as fadas são contos e Xuxa não é um conto, é uma personagem real.
Enquanto isso, estamos perdendo a oportunidade de apreciar o trabalho do citado diretor e dos demais integrantes do elenco, que não têm nada a ver com a trajetória da ex-modelo como apresentadora de programas infantis. Não podemos ver, por exemplo, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho em uma pequena participação como ator no final do filme.
Um fato curioso, o ator adolescente (na época do filme) Marcelo Ribeiro participou de uma produção pornográfica em 2005, ainda faturando em cima das cenas que fez com Xuxa em "Amor, Estranho Amor".
Na verdade, apesar da cena de amor com o menino ir contra a carreira que Xuxa fez depois como apresentadora de programas infantis, ela esteve muito bem acompanhada no que se refere ao seleto grupo de atrizes que atuaram com o diretor Walter Hugo Khouri. Nomes como Norma Bengell, Odete Lara, Dina Sfat, Vera Fischer, Matilde Mastrangi, Sandra Bréa, Iris Bruzzi, Maitê Proença, Cristiane Torloni, Reneé de Vielmond, Lilian Lemmertz, Monique Lafond, Joana Fomm, Ana Paula Arósio e até a inocente Maria Leite de Barros (que na década de 1970 apresentava um programa na TV Cultura chamado "Inglês com Música", que os mais velhos vão lembrar) atuaram sob o comando do diretor. Que eu saiba, nenhuma destas atrizes tentou bloquear o filme na Justiça como fez Xuxa. Pode-se até dizer que seria um bom currículo para a apresentadora.
Ao insistir na proibição do filme Xuxa tenta apagar a sua própria história, pelo simples fato de ir contra a sua imagem criada posteriormente junto ao público infantil. É correto isso? Será que o público não têm o direito de conhecer a trajetória de uma "celebridade" que tanto insiste na inocência e numa imagem de "pureza" junto às crianças? Pois é, a vida é bem diferente dos contos de fadas. Mas as fadas são contos e Xuxa não é um conto, é uma personagem real.
Enquanto isso, estamos perdendo a oportunidade de apreciar o trabalho do citado diretor e dos demais integrantes do elenco, que não têm nada a ver com a trajetória da ex-modelo como apresentadora de programas infantis. Não podemos ver, por exemplo, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho em uma pequena participação como ator no final do filme.
Um fato curioso, o ator adolescente (na época do filme) Marcelo Ribeiro participou de uma produção pornográfica em 2005, ainda faturando em cima das cenas que fez com Xuxa em "Amor, Estranho Amor".
A liberalização da censura já alcançava o cinema naquele início da década de 1980. Mas neste caso específico, já após o fim da Ditadura Militar, temos um filme proibido depois de ter sido lançado nos cinemas e em fita VHS. Há poucos dias, a Justiça liberou na internet as fotos da apresentadora feitas naquela época, o que inclui os ensaios para a revista Playboy. Mas e o filme?
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado no jornal "O Estado de São Paulo" de 28.10.1982.
Crédito das outras fotos: Wikipédia (cartaz oficial do filme) e UOL (Xuxa na frente do cinema).
Crédito das outras fotos: Wikipédia (cartaz oficial do filme) e UOL (Xuxa na frente do cinema).
Excelente! Muito obrigada.
ResponderExcluirObrigado você pela leitura Thayane! Um grande abraço...
ExcluirAdorei o texto,assim pude sabrs um pouco mais da história do cinema nacional.
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