quinta-feira, 30 de julho de 2020

Anúncio Antigo 71: elixir Nutrion



Caro leitor (a), houve uma época em que existiam elixires voltados para as mais diversas finalidades. Mas, antes de mais nada, o que é um elixir? A palavra tem origem árabe, Al-Ikseer e o produto ao qual ela designa constitui um preparado com um ingrediente ativo (como a morfina, por exemplo) e que é dissolvido em uma solução, que contém álcool etílico em porcentagem variada. O elixir sempre deve ser ingerido por via oral. A composição dos mesmos é variável, de acordo com a finalidade para a qual são produzidos, sendo geralmente açucarados ou glicerinados, contendo substâncias aromáticas. Tais produtos ficaram muito conhecidos a partir da Idade Média, possivelmente pela presença árabe na Europa Ocidental (Península Ibérica). Em geral, eram voltados para melhorar a visão, para o funcionamento da circulação do sangue e curar vários tipos de enfermidades. 
No Brasil, na primeira metade do século XX, a grande preocupação era com as pessoas fracas e magras, que aparentavam indisposição e desânimo. Na verdade, a má alimentação e a fome, comum no Brasil, eram as causadoras de boa parte desses males, como apontava o conhecido pesquisador do tema Josué de Castro (1908-1973), que por seu trabalho chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Para ajudar a superar essas deficiências era recomendado o consumo de alimentos que contivessem vitaminas B, C, D e E ou ainda elementos como o ferro e o cálcio. Além disso, médicos, farmácias e laboratórios lançavam elixires voltados para combater esses problemas. 
No anúncio acima vemos um deles, o elixir Nutrion, sobre o qual não encontramos nenhuma informação específica e nem a composição do mesmo. A figura do anúncio até lembra um personagem mitológico, talvez um Hércules, numa associação com a força física. De maneira geral, os jovens eram estimulados a se alimentarem bem, sendo que muitos desses elixires ou preparados eram recomendados para "abrir o apetite", como se dizia. Isso não vai tão longe assim. Até a década de 1970 constituía uma grande preocupação dos pais. Porém, com a enorme proliferação de alimentos industrializados e os famosos fast foods, a questão se inverteu. Hoje o cuidado dos médicos e nutricionistas não é em abrir o apetite, mas sim em controlá-lo e melhorar a qualidade da alimentação. 
O Anúncio Antigo acima foi publicado na Revista do Brasil, na edição de setembro de 1923, página 6. Um detalhe curioso é o de que essa revista tinha como editores duas figuras importantes das nossas letras: Paulo Prado e Monteiro Lobato...

domingo, 26 de julho de 2020

Anúncio Antigo 70: creme dental Lever



Os anos posteriores à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram marcados pela expansão do parque industrial no Brasil. A própria guerra impulsionou o processo, na medida em que muitos produtos antes importados tiveram que ser produzidos aqui. Claro, o que era então possível de ser fabricado aqui. Após o fim do conflito, a industrialização avançou ainda mais e as cidades cresceram, notadamente São Paulo, que veio a ultrapassar a antiga Capital Federal, o Rio de Janeiro, como a maior cidade do Brasil. Como não poderia deixar de ser, o êxodo rural forneceu mão de obra barata, necessária para a indústria e para o comércio, que estavam em plena expansão. Em um período relativamente curto, situado entre 1930 e o início da década de 1980, o Brasil construiu uma economia moderna, incorporando padrões de produção e de consumo típicos dos países desenvolvidos, apesar da enorme desigualdade social e concentração de renda, o que significava que tais padrões de consumo não eram para todos. Contudo, o nosso parque industrial fabricava praticamente de tudo. 
O economista João Manuel Cardoso de Mello e o historiador Fernando A. Novais escreveram sobre as transformações decorrentes dessa urbanização acelerada no Capítulo 9 do livro História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da intimidade contemporânea, volume 4 (Companhia das Letras, 1998). Nesse Capítulo, intitulado "Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna", os autores demonstram que a atração exercida pelas cidades era muito grande, sobretudo sobre a massa populacional empobrecida do campo. Por pior que fosse morar nas cidades (periferias, cortiços e favelas), a possibilidade de emprego com carteira profissional (que praticamente não existia no setor agrário) representava uma melhora em relação à vida rural, inclusive com maior acessibilidade à educação e à saúde. 
Por outro lado, a vida urbana também transformou hábitos e costumes, inclusive no que se referia a higiene e limpeza, com a utilização de produtos praticamente desconhecidos. Entre os mesmos destacamos o detergente, o sabão em pó, o desinfetante e o famoso bombril, o qual substituiu a velha palha de aço. Na higiene pessoal ocorreram também avanços significativos, inclusive nas camadas populares e de renda mais baixa. Entre esses avanços tivemos o uso das escovas de dentes e do dentifrício (a pasta dental). Tais produtos substituíram o sabão comum, o bicarbonato de sódio e até as cinzas de material queimado, que eram utilizados anteriormente na limpeza da boca e da dentição, sendo esfregados sobre os dentes com os dedos e depois lavados. O mau hálito era combatido por meio do bochecho, na mistura da água com algum produto aromatizante. Posteriormente, outros artigos acabaram sendo incorporados ao consumo, como o shampoo, o desodorante, o sabonete perfumado e o modess, que substituiu o pano caseiro tradicional (ver Anúncio Antigo 39: Modess). Todo um mercado se abriu a esses produtos, muitos dos quais já existiam nos países desenvolvidos e acabaram sendo assimilados aqui, via campanhas publicitárias em revistas, jornais, rádios e depois a televisão. 
No Anúncio Antigo acima, temos a pasta dental da marca Lever, fabricada por uma multinacional, a Unilever. A empresa nasceu no século XIX na Inglaterra como Lever Brothers, fabricando sabões. Em 1929 expandiu o negócio para outros países e logo chegou ao Brasil. Pouco depois entrou também no ramo de alimentos ao adquirir uma empresa de origem holandesa e em 1960 comprou a Companhia Gessy Industrial, passando a adotar o nome de Gessy Lever. 


Atualmente, a Unilever é uma corporação que controla marcas como Arisco, Maizena, Knorr, Cica, Kibon, Hellman's, Omo, Dove, Rexona, Close Up entre inúmeras outras (acima, ao centro, o logo da Unilever e algumas das marcas pertencentes ao grupo). Em 2015, a Unilever foi a empresa mais punida pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) em função das reclamações dos concorrentes, entre os quais estavam a Johnson & Johnson, L'Oréal e Reckitt Benckiser. Muitas das reclamações versavam sobre informações que estariam incorretas em seus produtos. O seu gigantismo é tal, que cabe pensarmos até que ponto isso é saudável para a economia de um país e a para a vida das pessoas, isto é, a sociedade depender tanto de um conglomerado gigante para a aquisição de produtos alimentícios e de higiene pessoal, que se tornaram itens importantes no consumo das famílias. Enfim, a concentração do capital é uma tendência inexorável da economia capitalista.
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista "O Cruzeiro" de 7 de agosto de 1954, página 18 F.  
Crédito da imagem: 
logo da Unilever e demais marcas:
http:///www.pdeproteçao.com.br/2016/02/levantamento-da-conta-que-unilever-e-o.html

domingo, 19 de julho de 2020

Pesquisa no acervo de "A Gazeta Esportiva"



Nesta última semana, este que vos escreve "furou" a quarentena mantida desde o início de março, para comparecer à sede da Fundação Casper Líbero e da Gazeta, na avenida Paulista aqui em São Paulo, a fim de realizar uma pesquisa nos arquivos do jornal A Gazeta Esportiva. Trata-se da investigação que estamos levando adiante referente a uma corrida realizada no autódromo de Interlagos, em meados da década de 1940, a qual ficou esquecida no tempo, apesar de seu enorme significado para a história do esporte a motor no Brasil. 
Na sede da Gazeta fui recebido calorosamente (obedecendo a todos os protocolos em função da covid-19, obviamente) pelos responsáveis do importante acervo, Bruno Toledo Fernandes e Alessandro Ribeiro Ramos, os quais me disponibilizaram o acervo do importante jornal. Trago hoje uma pequena amostra do material consultado, uma caricatura dos "ases" do automobilismo italiano do pós-guerra que participaram da prova, Achille Varzi (1904-1948) e Luigi Villoresi (1909-1997). Os desenhos são de autoria do grande artista Nino Borges.
Aguardem, em breve, Interlagos: a corrida esquecida, no blog História Mundi...

domingo, 12 de julho de 2020

Biblioteca Nacional Digital de Portugal



Tal pai, tal filho? Um retrato de D. Pedro I, imperador do Brasil, feito em 1826 (imagem acima). D. Pedro I? Bem, de fato o rosto não coincide com a iconografia disponível a respeito de nosso primeiro governante. Trata-se de um erro cometido pelo autor da litografia (gravura onde a matriz é desenhada em uma pedra) conhecido apenas como Osterwald, o Velho e que realizou o trabalho na França. Na verdade, o rosto pertence ao pai de D. Pedro, o rei de Portugal D. João VI. 
Esta e outras preciosidades o leitor (a) poderá encontrar no acervo da Biblioteca Nacional Digital de Portugal. Trata-se de uma grande coleção de livros, documentos, manuscritos, jornais, mapas e fotos, digitalizados e acessíveis on line para consulta (e que também podem ser salvos em seu computador). Nestes tempos difíceis em que tudo aquilo que tem caráter presencial sofre enormes restrições, um recurso como esse vem a ser extremamente útil para todos os que desenvolvem algum tipo de trabalho que requer a exploração de documentos e fontes primárias, além da bibliografia. E como estamos nos referindo a um acervo português, existem exemplares importantes referentes ao Brasil, inclusive de imagens e documentos escritos. 
Outro fator importante com relação a esse acervo é o fato de estar sempre sendo atualizado com acréscimos em obras e documentos de vital importância. Ou seja, o mesmo tende a crescer nos próximos meses e anos, da mesma forma como tem ocorrido com a nossa Biblioteca Nacional Digital. Para nós historiadores, trata-se de mais uma ferramenta que permitirá a complementação de dados, informações a fim de enriquecer o trabalho de pesquisa.


Ah, acima uma litografia verdadeira de D. Pedro I feita em 1850 por Ignaz Fertig. A Biblioteca Nacional Digital de Portugal fará parte dos nossos Links Interessantes disponíveis na página de entrada do blog História Mundi...
Para acessar: 
Biblioteca Nacional Digital de Portugal

quinta-feira, 9 de julho de 2020

História Mundi no Pinterest




O leitor (a) que acompanha o blog História Mundi poderá acessar o Pinterest para observar dezenas de fotos e imagens já publicadas neste site, desde o ano de 2011, como também várias outras que ainda não foram mostradas aqui, entre as quais as duas que aparecem acima (a atriz Barbara Eden e o cantor Elvis Presley em 1960 e o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, como visto num jornal estadunidense de 1891). São várias pastas, incluindo uma sobre a cidade de São Paulo e a sua história, a pasta do cantor Elvis Presley (com fotos poucos conhecidas, inclusive ao lado de brasileiros), os nossos Anúncios Antigos e outra sobre o Jesus Histórico. O endereço está em nome deste que vos escreve, José Jonas Almeida, doutor em história pela Universidade de São Paulo e responsável pela manutenção do História Mundi. 
Para acessar o nosso Pinterest vá direto para:

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Imagens Históricas 47: Marta Rocha



Uma Miss Universo sem título. Aproveito o passamento da eterna Miss Brasil, a baiana Marta Rocha (1936-2020) para lembrar alguns aspectos interessantes que envolveram esta personagem e o concurso do qual participou em 1954 (na foto acima, Marta Rocha em Long Beach, Califórnia), mesmo que hoje em dia referir-se aos concursos de misses (que voltaram à moda) possa soar como um resquício machista. As mulheres negras passavam longe desse concurso, que privilegiava a beleza das mulheres brancas e nórdicas. Na década de 1950, era algo amplamente aceito e muito divulgado pela mídia, sobretudo nas revistas de grande circulação e também o sonho de muitas adolescentes. 


Até a ida de uma brasileira para o concurso maior de Miss Universo recebia grande atenção. Ao ser eleita Miss Brasil (foto acima), Marta Rocha enfrentou uma cansativa viagem de avião para a cidade de Long Beach, na Califórnia, onde ocorreu o concurso de Miss Universo. A viagem durou três dias. Isso mesmo, três dias, mesmo sendo de avião. Muitas paradas no meio do caminho, num verdadeiro "pinga-pinga" como se costumava dizer. Peru, Equador, Colômbia, Panamá, Nicarágua e San Salvador. Nesta ultima parada duas outras misses pegaram "carona" (a representante local e a Miss Costa Rica) e ainda o "lobisomem" dos filmes de Hollywood, o ator Lon Chaney Jr, que participava de uma locação naquele país. Aliás, Marta e Lon Chaney conversaram alegremente durante o voo. 


Ao chegar em Long Beach, as candidatas eram aguardadas para uma maratona de compromissos, muitos dos quais ao ar livre, como a apresentação para a imprensa sob um calor de 40 graus. Inevitável que algumas participantes se sentissem mal, como foi o caso da Miss Nova Zelândia (imagem acima). Segundo nos relata João Martins, enviado especial da revista O Cruzeiro (e também autor das fotos desta postagem), nessa mesma apresentação, Marta Rocha retirou-se discretamente após uma indisposição. No desfile na orla de Long Beach, no dia seguinte, que durou quase três horas, muitas misses sofreram pequenas queimaduras frente a um sol abrasador. Outro compromisso das candidatas foi o encontro com os astros da Universal Studios, patrocinadora do evento. As três primeiras colocadas teriam como prêmio um contrato em Hollywood. 
O ambiente da Guerra Fria influenciou o concurso. Por suspeita de vinculação com um jornal comunista (para o qual havia feito um desenho), a Miss Grécia Rika Dialina teve dificuldades para obter um visto de entrada nos Estados Unidos e chegou a ter uma substituta, que depois teve de ser retirada. Na ultima hora, Rika acabou aparecendo. Aliás, o simples fato da Miss Hong Kong ter ficado em terceiro lugar levou a especulações a respeito dessa escolha, como sendo um recado político para a República Popular da China (de regime comunista). 


Um detalhe curioso foi o fato da escolha da Miss Estados Unidos ter ocorrido apenas dois dias antes do concurso Miss Universo (na foto acima, Miriam Stevenson ainda como Miss Carolina do Sul). 


E exatamente foi a Miss Estados Unidos que acabou arrebatando o 1º lugar no Miss Universo (foto acima, Stevenson coroada), mesmo tendo Marta Rocha como favorita. Para comprovar isso, o já citado jornalista João Martins enviou fotos dos jornais locais com as prévias que indicavam a brasileira como vencedora. Mas o que ocorreu? Aí ficam as hipóteses que o próprio João Martins levantou. De que o concurso perdia prestígio junto ao público estadunidense e que a eleição de uma candidata local serviria para reverter isso ou ainda que os interesses do estúdio cinematográfico patrocinador teriam tido influência. Até mesmo a simples tese de que a beleza feminina é algo relativo foi aventada. O que é belo para alguns pode não ser para outros. Mas, sem a menor dúvida, a história das duas polegadas a mais nos quadris foi o aspecto mais comentado ao longo das décadas seguintes. A mesma virou até marchinha carnavalesca na voz da própria Marta Rocha:

Por duas polegadas a mais,
Passaram a baiana pra trás.
Por duas polegadas,
E logo nos quadris.
Tem dó, tem dó, seu juiz.
(Pedro Caetano e Alcir são os autores) 



A história teria sido levantada por João Martins da revista "O Cruzeiro" entre as várias hipóteses para explicar a derrota diante da estadunidense Miriam Stevenson (que aparece na primeira foto acima, já com a coroa de Miss Universo e na foto de baixo, a vice, Marta Rocha).  


Devemos lembrar que Marta Rocha (na foto acima, com a vencedora Miriam Stevenson à esquerda) nunca perdeu o seu prestígio, mesmo não vencendo o concurso. Aliás, ela nunca alimentou a história das duas polegadas a mais, a qual muitos acreditam ser uma lenda. A sua postura elegante diante do fato de não ter vencido pode ter ajudado em muito na manutenção de seu prestígio pessoal. Em nenhum momento perdeu a simpatia ou se fez de injustiçada. Convite para Hollywood? Simplesmente não aceitou por não ser o seu objetivo. Tal acontecimento veio a se tornar um estranho caso de segundo lugar lembrado entre os brasileiros como se fosse primeiro. O mais interessante é que duas outras brasileiras chegaram ao título máximo da beleza feminina na década de 1960: Ieda Maria Vargas e Martha Vasconcelos. As mesmas foram pouco lembradas nas décadas seguintes. Com Marta Rocha ocorreu o contrário. Uma exceção num país onde se diz que o segundo lugar não vale nada ou equivale apenas a ser o primeiro entre os perdedores...
Crédito das imagens:
Marta Rocha de maiô em Long Beach, Miriam Stevenson como Miss Carolina do Sul, foto colorida de Marta Rocha como Miss Brasil, a miss desmaiada: revista O Cruzeiro de 7 de agosto de 1954, páginas 14, 39, 11
Fotos de rosto de Miriam Stevenson e Marta Rocha: revista O Cruzeiro de 28 de agosto de 1954, página 102.
Foto de Miriam Stevenson coroada Miss Universo e ao lado de Marta Rocha: revista O Cruzeiro, de 14 de agosto de 1954, páginas 18 e 12. 

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Anúncio Antigo 69: companhia aérea Condor



Caro leitor (a), em postagem recente tivemos a oportunidade de contar a história do Sindicato Condor ou simplesmente Condor, uma empresa aérea com sede na Alemanha e que atuou no Brasil na primeira metade do século XX. Nessa mesma postagem lembramos que foi essa companhia que realizou o primeiro voo comercial no país, há quase um século, em 1927, no Rio Grande do Sul, utilizando um hidroavião chamado Atlântico (ver Anúncio Antigo 67: a companhia aérea Cruzeiro do Sul). O principal diretor da Condor e responsável pela proeza, Ernst Meyer, criou a sua própria companhia aérea ainda naquele ano, a Viação Aérea Rio-Grandense (Varig), com participação dos alemães. A Condor continuou a sua trajetória no Brasil, mesmo depois de ter a matriz incorporada à Deutsche Lufthansa. Por isso, o seu principal aparelho era de fabricação alemã, exatamente o que aparece estilizado no anúncio acima. 



Trata-se do modelo Junker Ju-52 com três motores (que chegaram a ser fabricados pela BMW) frontais (foto acima, modelo pertencente à Lufthansa voando em 2005), os quais, além dos passageiros, levavam também as malas postais, inclusive aquelas destinadas ao exterior. Por isso, no anúncio se diz: viaje e escreva. O antigo museu da TAM (atual Latam), na cidade de São Carlos (SP), infelizmente fechado, dispõe em sua coleção de um raro exemplar do aparelho. Adolf Hitler fez uso desse modelo para realizar a campanha eleitoral do Partido Nazista em 1932, dando preferencia ao avião em detrimento do trem, por ser muito mais rápido. Aliás, Hitler foi o pioneiro em fazer campanha política por via aérea, algo comum nos tempos atuais. O líder nacionalista chinês Chiang Kai-Shek (opositor do movimento comunista de Mao Tsé-Tung) requisitou o modelo Junker para seu uso pessoal. Um fato curioso é que o Junker Ju-52 foi adaptado para uso militar tanto pela Luftwaffe (Força Aérea Alemã), como pela Força Aérea dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Em 1942, no seu auge, a Condor operava com 28 aviões no Brasil, com linhas que alcançavam até mesmo a Amazônia, como aparecem nas rotas estampadas no anúncio mais acima. Contudo, a grande guerra pôs fim às operações da Condor em nosso país. Com o alinhamento do Brasil em favor dos aliados (EUA, Inglaterra e União Soviética), o governo Getúlio Vargas rompeu os vínculos comerciais com os alemães e em 1942 a Condor foi nacionalizada. Teve também o seu nome alterado para Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul ou simplesmente Cruzeiro do Sul, que depois foi incorporada pela Varig, sendo ambas originárias da Condor.
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista O Cruzeiro, edição de 20 de maio de 1939, na página 30. 

Crédito das imagens:
Modelo Junker Ju-52 voando: Wikpédia.