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segunda-feira, 17 de abril de 2017

Mapa-Múndi Medieval




O mapa acima foi confeccionado no ano de 1220 por um padre espanhol, mas o detalhe interessante vai além disso. Trata-se de uma cópia de outro mapa mais antigo, do século VIII da nossa era, ou seja, da Alta Idade Média dos tempos do Império Carolíngio (fundado por Carlos Magno). A observação do mesmo não deve se ater aos aspectos relativos ao grau de precisão, embora isso também possa ser discutido e analisado, mas sim para a simbologia que transparece no mesmo, reveladora da mentalidade profundamente influenciada pelo pensamento cristão da época. 
Na imagem do mapa (acima) aparecem vários números (sobrepostos nos tempos atuais, claro), que indicam os locais de referência fundamentais do cristianismo para aqueles que se dispusessem (ou tivessem a rara oportunidade) de ver de perto o mapa naqueles tempos. Se o caro leitor clicar sobre a imagem poderá observar esses números com maior nitidez. Também a indicação do ponto Norte aparece em uma sobreposição moderna (na parte superior esquerda do mapa). Vamos lá?

1. Localização do Jardim do Éden. Conforme descrições da Bíblia o ambiente natural onde teriam vivido Adão e Eva (os quais, aliás, aparecem no desenho) estaria localizado nas proximidades da antiga Mesopotâmia (Iraque atual) e o mapa parece coerente com tal concepção.
2. A cidade de Jerusalém. Era muito comum nos mapas medievais Jerusalém estar representada no centro do mundo. Por razões óbvias é a referência maior da cristandade em termos geográficos, lugar onde Jesus Cristo foi crucificado, mas também cidade sagrada para os judeus e muçulmanos. 
3. O mar Mediterrâneo. Aqui ele está representado como se fosse um canal. Como sabemos, o mesmo é o berço das grandes civilizações ocidentais e não poderia deixar de ser mostrado.
4. O rio Nilo. Se o leitor olhar com atenção, o delta (foz) do rio também está representado. Um detalhe, as nascentes do mesmo, motivo de controvérsia até a era do imperialismo europeu na segunda metade do século XIX, são representadas (erroneamente) como sendo localizadas na atual Etiópia. 
5. A antiga península do Hindustão ou atual Índia, em uma proporção muito menor do que de fato é.
6. O continente africano. 
7. Constantinopla. Como se sabe, essa cidade era, na época em que o mapa foi concebido (e também copiado) capital do Império Romano do Oriente ou Império Bizantino. Fundada pelo imperador Constantino (que foi o primeiro governante romano a se converter ao cristianismo), atualmente é a cidade mais importante da Turquia (com o nome de Istambul).
8. E claro, Roma. Apesar do desaparecimento definitivo do Império Romano do Ocidente no século V e da cidade ter sofrido um forte decréscimo populacional no milênio medieval, Roma abrigava a autoridade do bispo superior da cristandade: o papa. Tornou-se também a sede dos territórios da Itália central que estavam sob sua jurisdição: os Estados Papais. 

Bem, existem outros pontos importantes que estão localizados no mapa, como por exemplo, a Babilônia, a Judeia (atual Israel e territórios palestinos), a península da Anatólia (atual Turquia), a Gália (atual França) e a península Ibérica (onde hoje estão Portugal e Espanha) na parte inferior do mapa. O mundo era concebido como uma massa plana e cercada de água. Evidentemente, a América, boa parte da Ásia, a Oceania e a Antártida não estão registrados. A cartografia não está imune a fatores religiosos, ideológicos e políticos. Não é técnica pura, como podemos observar neste exemplo. 
Crédito da imagem: The Life Millennium: The 100 most important events & people of the past 1,000 years. Life Books: New York, 1998, p. 9. 

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