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sexta-feira, 26 de abril de 2019

Museu Florestal Octávio Vecchi: palestras, eventos e debates




O Grupo de Trabalho em História Ambiental da Anpuh-SP e o blog História Mundi gostariam de convidar a todos para participarem de mais um evento que ocorrerá no Museu Florestal Octávio Vecchi, localizado nas dependências do Horto Florestal em São Paulo. Aliás, são vários eventos! Primeiramente a exposição "Arte pela Paz" cujo tema é "Portas e janelas do meu país" com desenhos de crianças de várias partes do mundo tendo como referência a natureza. A mostra vai do dia 1º até o dia 31 de maio e está em sua 19ª edição. Aproveitando o assunto arte, no dia 15 de maio haverá também uma oficina de pintura em tela cujo tema é a árvore. 
Já no dia 18 de maio uma mesa redonda a respeito dos museus inseridos no contexto ambiental e suas relações com as comunidades locais. A mesa terá como mediador o professor Janes Jorge da Unifesp e contará com a palestra das professoras Cecília Machado e Vilma Cristina Noseda. Trata-se de um debate aberto, de fundamental importância para todos aqueles que estão preocupados com a problemática ambiental e que destacará também a necessidade de dialogar com as populações tradicionais que vivem em áreas de conservação. 
Para encerrar esse ciclo de eventos no Museu Florestal, um musical infantil no dia 19 de maio: Alendígenas. 
Todos estão convidados e a entrada é franca...

domingo, 21 de abril de 2019

Artistas brasileiros celebram Leonardo da Vinci em Véretz (França)



Para lembrar os 500 anos do desaparecimento de Leonardo da Vinci (1452-1519) e o legado de sua obra, os artistas do Grupo Belenzinho Martins de Porangaba, Celia Ricco, Silvio Melo e Waltercio Zanvettor estão na cidade de Véretz, na França, para um evento de residência artística que será aberto ao público local. No mesmo, os convidados estarão realizando e expondo vários trabalhos inspirados no grande gênio renascentista, numa releitura contemporânea de sua obra. Como é de pleno conhecimento, Leonardo da Vinci, além de pintor e desenhista, deixou um legado de estudos que compreendem vários ramos do conhecimento, como projetos arquitetônicos; estudos de anatomia humana (a partir da dissecação de cadáveres); projetos de máquinas e engenhos mecânicos; estudos de botânica; observações a respeito do voo dos pássaros; entre outros. Por isso, muitos estudiosos o consideram o nome mais representativo da Renascença dos tempos modernos. 


O encontro com os integrantes do Grupo Belenzinho é, pelo que se sabe, o único evento a celebrar os 500 anos de Leonardo a contar com a participação de artistas brasileiros, onde poderá ser observado in loco como é o processo artístico de criação, a partir de pinturas e desenhos (na foto acima, o Grupo Belenzinho em seu primeiro dia de trabalho na França). Além do evento na cidade de Véretz, o Grupo Belenzinho ainda irá expor o resultado dessa produção na Galerie 21, na cidade de Tours. 


A simpática e pacata Véretz fica próxima de Amboise (40 quilômetros de distância), onde se encontra o Château du Cloix, local em que Leonardo da Vinci viveu os seus últimos anos sob a proteção do rei Francisco I da França e onde morreu no dia 19 de maio de 1519 (na foto acima, Martins de Porangaba, Silvio Melo, Celia Rico e Waltercio Zanvettor diante do Château du Cloix).
Em seu retorno ao Brasil, os artistas do Grupo Belenzinho deverão mostrar os resultados desse evento e dos estudos feitos inspirados na obra de Leonardo da Vinci, algo que aguardaremos com enorme interesse...

domingo, 14 de abril de 2019

Anúncio Antigo 62: golpe militar de 1964



Lamento! Quando um governo eleito pelo voto direto e de acordo com as normas constitucionais vigentes é deposto pelo uso da força, temos um golpe de Estado. Não há muito o que ser discutido quanto a isso. No Anúncio Antigo de hoje, estamos nos referindo ao golpe militar de 31 de março de 1964, que depôs o presidente João Goulart aqui no Brasil. Na verdade, boa parte da discussão atual gira em torno das motivações para que o golpe fosse desencadeado. O anúncio acima do Clube de Diretores Lojistas de São Paulo, comemora o primeiro aniversário do golpe, procurando também mostrar as mudanças advindas do novo governo, chefiado pelo general Castelo Branco, primeiro presidente militar. A sua escolha para o cargo foi referendada pelo Congresso Nacional, mas sem as lideranças contrárias, uma vez que foram cassadas no Ato Institucional nº 1. Portanto, o governo militar já contava com um parlamento dócil e artificialmente alinhado, não necessitando fazer negociações e composições partidárias, típicas da democracia liberal. 
A fim de situar o leitor (a) faremos algumas observações a respeito dos motivos apontados no anúncio que, supostamente, teriam levado ao golpe e a um governo comandado por militares (com apoio de setores civis, notadamente vinculados ao grande capital interno e externo) que rapidamente se constituiu em uma ditadura, aos perseguir opositores e ao não restaurar a ordem institucional democrática, prevista na Constituição de 1946. 
Na coluna à esquerda é citada a "agitação" presente no governo João Goulart e que foi uma das justificativas para o golpe, a fim de restaurar a ordem interna. O Brasil é um país subdesenvolvido e atrasado em vários aspectos, quando comparamos com os países industrializados ou com sociedades menos desiguais. Tal era (e ainda é) a situação no início da década de 1960. Por exemplo, aqui não se realizou uma das tarefas essenciais de qualquer nação capitalista desenvolvida: a reforma agrária. Isso tornou o quadro social no meio rural profundamente desequilibrado e obviamente, favoreceu o processo de concentração da propriedade da terra, a formação de imensos latifúndios, muitos dos quais improdutivos. Os trabalhadores rurais, além de não terem acesso à terra, também não contavam com o sistema de proteção social estabelecido na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), como a carteira profissional e a aposentadoria. Claro que tal situação gerava uma tensão no campo e o surgimento de organizações para defender os interesses desses trabalhadores foi algo inevitável, como no caso das Ligas Camponesas no Nordeste. 



Nas cidades, os sindicatos atuantes procuravam defender os salários dos trabalhadores e as reposições frente à inflação, algo que os colocava em confronto com os interesses empresariais, desejosos de preservar as suas margens de lucro (na foto acima, o Comício da Central do Brasil pelas Reformas de Base com participação de sindicatos e organizações trabalhistas, em 13 de março de 1964). Afirmar que tal situação significava desordem ou simples "agitação" era o mesmo que desconhecer os reais problemas do país. A atuação de organizações de trabalhadores e sindicatos é algo que faz parte dos países democráticos. O direito de greve é reconhecido nas nações mais desenvolvidas. Nas verdadeiras democracias liberais, todos têm o direito de reivindicar e expor as suas ideias, um mandamento que surgiu com as chamadas revoluções burguesas da era moderna. Isso não é ser comunista, mas sim liberal, em acordo com os princípios de John Locke, Voltaire, Rousseau e mesmo Adam Smith!
No que se referia à existência de subversão, trata-se de algo completamente fora de questão, pois no Brasil até 1964, inexistiam movimentos que, de forma objetiva, pretendessem subverter a ordem econômica e social estabelecida, em favor do socialismo e do comunismo. Nem mesmo o Partido Comunista Brasileiro (PCB) pensava nisso, antes que fosse realizada uma revolução nacional e emancipadora anti-imperialista, com apoio popular e da burguesia nacional, uma primeira etapa para uma futura revolução socialista. Muitos vão lembrar da influência da Revolução Cubana. Porém, os guerrilheiros liderados por Fidel Castro e Che Guevara não eram inicialmente comunistas e sim pretendiam derrubar o governo ditatorial e sanguinário comandado por Fulgêncio Batista, corrupto e ligado à Máfia ítalo-americana (Cosa Nostra, como era também conhecida). Tratava-se de um movimento liberal radical e de libertação nacional em relação ao imperialismo norte-americano. Em termos concretos, o que existia no Brasil era o temor de que tais movimentos de libertação pudessem vir a se formar no país. Por incrível que pareça, os mesmos se organizaram depois, em plena ditadura militar, podendo-se portanto dizer que foi esta, de fato, que impulsionou a subversão. 


Em terceiro, como aparece na coluna à esquerda do anúncio, o golpe colocou termo à corrupção. Qual corrupção? Do presidente João Goulart? Absolutamente nada foi comprovado contra ele. Antes de ser presidente, Goulart ou Jango como era conhecido, foi um abastado fazendeiro e tudo o que desfrutou nos anos seguintes à sua deposição veio dessa condição. Morreu de forma suspeita no exílio na Argentina em 1976 (na foto acima, João Goulart no exílio após o golpe). De seus ministros não conhecemos nenhum escândalo grave de corrupção ou de algo que se assemelhasse a isso. Se o leitor (a) lembrar, por favor, escreva-nos. Aliás, podemos considerar o governo Jango um dos mais decentes de toda nossa história republicana. E por último, Jango não era comunista. 


Como a ditadura militar nada pode comprovar contra Jango, resolveu perseguir outro ex-presidente, Juscelino Kubitschek (foto acima). Boatos foram espalhados com referência a Juscelino, inclusive de que seria um dos homens mais ricos do mundo, com fortunas depositadas no exterior. Mais uma vez nada foi comprovado. O temor em relação a ele era de que o mesmo era favoritíssimo para as eleições presidenciais previstas para 1965 e não realizadas em função das decisões da ditadura militar, que instituiu as eleições indiretas para presidente. Um detalhe curioso, Juscelino Kubitschek apoiou o golpe de 1964 (embora não tenha participado de sua articulação) e a escolha de Castelo Branco para presidente. 
Bem, o que veio depois, com a própria ditadura militar, deixaremos para discutir em outras postagens. Mas vale a pena citar alguns resultados dos governos militares: aumento da concentração de renda e, consequentemente, da desigualdade social; deterioração da educação pública e expansão do ensino privado; corrupção envolvendo empreiteiras em grandes obras; redução dos investimentos em saúde pública e consequente expansão dos sistemas de saúde privados; crescimento exponencial da criminalidade e da violência urbana; violência policial contra populações mais pobres (Esquadrão da Morte); censura à imprensa e a tortura contra opositores; expansão das favelas e das áreas periféricas; aumento da dívida externa; expansão do capital bancário e finalmente o seu último "grande" legado, a inflação, que só foi controlada a partir do governo Itamar Franco. 
Será que "alguma coisa mudou neste país" como sugere o anúncio? Bem, muita coisa mudou, mas para pior, sobretudo para a maioria da população. O Anúncio Antigo de hoje foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo, do dia 5 de abril de 1965.
Crédito das imagens:
João Goulart no exílio: arquivo História Mundi.
Comício da Central do Brasil e Juscelino Kubitschek: fotograma do documentário "Os Anos JK" de Sílvio Tendler, 1980, Seleções DVD. 

terça-feira, 9 de abril de 2019

Professor Benjamin Ortiz Espejel no Museu do Horto Florestal (SP): meio ambiente e sustentabilidade



No último dia 5 de abril, este que vos escreve teve o privilégio de apresentar o professor Benjamin Ortiz Espejel da Universidade Iberoamericana de Puebla (México) e docente visitante da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que esteve no Museu do Horto Florestal (SP), a fim de proferir uma palestra sobre patrimônio ambiental. O encontro foi proporcionado pela equipe do museu capitaneada por Natália Almeida e ainda contou com a presença do professor Janes Jorge, especialista em história ambiental e docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da professora Aline Vieira de Carvalho, pesquisadora e docente do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Unicamp (NEPAM). Entre o público ouvinte muitos estudantes e interessados no tema.  


A palestra proporcionou um rico debate entre o professor Ortiz e a platéia a respeito de questões associadas à temática ambiental (na foto acima, o público presente durante a apresentação do professor Ortiz). Os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável ganharam evidência no mundo após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro há exatos 27 anos. Seu uso tornou-se indiscriminado e passou a ser uma espécie de "selo de qualidade" para qualquer tipo de empreendimento econômico, inclusive aqueles vistos como prejudiciais à natureza e ao meio ambiente, como estradas, projetos imobiliários, hidrelétricas, construção de rodovias e exploração mineral, entre outros. O conceito também foi apropriado por partidos políticos das mais variadas vertentes. Uma das questões propostas por Benjamin Ortiz é o de buscar uma nova definição ou ressignificação do que vem a ser sustentabilidade, cujo sentido têm sido banalizado nas últimas décadas. Contudo, na opinião de Ortiz, para que isso ocorra, existe a necessidade de observarmos outras experiências de manejo produtivo da natureza, muitas delas realizadas pelas populações tradicionais. 



O mundo vive uma crise de civilização com a adoção crescente de um modo de vida pautado no consumismo descartável, na destruição dos recursos naturais não renováveis e numa crescente desigualdade social, caracterizada por acentuada concentração de renda. Trata-se de uma modernidade materialista e mercantilista, que se faz acompanhar pela deterioração do meio ambiente. Para poder estabelecer um padrão de vida saudável para si mesma e para as futuras gerações, a sociedade moderna deverá pautar as suas necessidades de acordo com a capacidade da natureza em satisfazer as mesmas, sobretudo diante do atual quadro de mudanças climáticas (aquecimento global). Para o professor Benjamin Ortiz as organizações sociais não podem ser analisadas separadas da natureza, uma vez que é desta que as mesmas retiram a sua sobrevivência. É perceptível, por exemplo, que as variações climáticas bruscas (as quais são responsáveis por tempestades, furacões e chuvas torrenciais), os grandes desastres e crimes ambientais atingem as populações mais vulneráveis ou menos assistidas. A destruição ambiental produz a pobreza de milhões de pessoas e essa mesma pobreza é um fator prejudicial à preservação do meio ambiente, uma vez que exerce pressão sobre o mesmo. 



Nesse sentido, Benjamin Ortiz (na foto acima, da esquerda para a direita, os professores Janes Jorge, Benjamin Ortiz, este que vos escreve e Aline Carvalho) nos propõe uma visita aos projetos alternativos resultantes de uma longa luta de resistência social por parte das populações indígenas, dos camponeses e de setores marginalizados, sobretudo diante do avanço das políticas neoliberais que privilegiam o mercado, a partir do final da década de 1980. O foco de seus estudos é o México, onde se originou uma das mais vigorosas civilizações, a Mesoamerica (astecas, maias, tlaxtaltecas, zapotecas, entre outras). Tais sociedades se desenvolveram a partir da domesticação do milho e de outras 100 espécies de plantas, num processo que durou pelo menos 7 mil anos. Trata-se da presença de uma biocultura, conceito novo no qual se combinam o legado cultural de determinadas populações e como estas fizeram (e, em muitos casos, fazem) uso dos recursos naturais. No México, a população indígena atual atinge algo em torno de 15 milhões de indivíduos (segundo dados de 2010), ocupando os territórios bioculturais onde se constituíram espaços para a construção de formas alternativas de produção. 



Para que o leitor (a) tenha ideia dessa diversidade biocultural presente nos 25 estados que compõem a federação mexicana, os levantamentos apontam a existência de 365 variedades linguísticas ou como afirmou o professor Ortiz (nas fotos acima, a platéia atenta), "uma para cada dia do ano"! Desde pelo menos 9 mil anos atrás, essas populações já domesticavam o milho e esse processo resultou em torno de 60 variedades dessa espécie vegetal. Estudos recentes demonstram a enorme possibilidade desse manejo e domesticação do milho ter alcançado o atual território do Brasil, bem antes da chegada dos portugueses. Essas culturas foram responsáveis pela preservação da biodiversidade, sendo que o campesinato que fala línguas indígenas detém o controle de uma superfície de 28 milhões de hectares, onde estão as áreas biologicamente mais ricas do país, com as maiores porções de selva, reservas de água e os sistemas de agricultura tradicional. O controle desse território pelas comunidades camponesas e indígenas foi fruto do processo de reforma agrária, gerado pela Revolução Mexicana do início do século XX. Nessas comunidades é que iremos encontrar exemplos de práticas econômicas sustentáveis no manejo das florestas, bosques, campos e recursos hídricos (água) de forma não predatória, que servem primeiramente ao sustento dessas populações e mantendo uma relação complementar com o mercado, mas não subalterna a este. 


Um exemplo citado pelo professor Benjamin Ortiz (na foto acima, o debate logo em seguida à palestra) diz respeito a Oaxaca, considerado como o estado mexicano mais rico em biodiversidade e também em termos de populações tradicionais. Em função disso, é o que apresenta a maior quantidade de experiências de manejo sustentável da natureza, com uma notável integração entre riqueza biológica e riqueza cultural. Em torno de 77% dessa unidade federativa é formada por propriedade social (terras camponesas e comunidades indígenas) e onde são faladas mais de 250 línguas. Além disso, esse estado contém o maior número de espécies de animais e plantas do país. 
A Serra Norte de Oaxaca abriga dezenas de comunidades indígenas cuja origem remonta à época anterior à chegada dos colonizadores espanhóis. Por meio de um árduo processo de emancipação social levado a termo nas últimas quatro décadas, tais comunidades recuperaram o controle sobre os recursos florestais antes explorados por empresas privadas e estatais, passando a organizar projetos baseados na tradição cultural, na forma de governo comunal (cujos postos são ocupados por indivíduos eleitos pela comunidade) e sem a interferência de partidos políticos. Os eleitos não recebem remuneração, uma vez que o cargo constitui obrigação e não privilégio. Um dos destaques de Oaxaca é a produção de café orgânico, o que contribuiu para que o México se tornasse o primeiro produtor mundial desse tipo de café. Contudo, a economia não se pauta por um único produto e sim por um sistema agroflorestal que respeita a biodiversidade natural daquela região. 



Em outra unidade da federação, Quintana Roo (onde está localizada a Riviera Maia e o balneário de Cancún) existem vários exemplos de cooperativas e associações que se dedicam ao manejo florestal de madeiras, à pesca (lagosta, moluscos e peixes) e ao ecoturismo (na foto acima, o professor Ortiz e os participantes do encontro). Também no sul do México temos a região de Chiapas, a maior produtora de café orgânico do país e sob controle das populações locais, por meio de uma gestão associativista. Já a região Mixteca, formada pelos estados de Puebla, Oaxaca e Guerrero é uma das regiões mais pobres do México, com elevados índices de marginalização social e migração. Um dos mais graves problemas dessa região é a água e a pouca disponibilidade de fontes naturais (aquíferos) para obtenção da mesma. Em 1988 surgiu uma organização civil que deu origem a um projeto conhecido como "Água para sempre", através do qual foram realizadas obras hidráulicas; sistemas de captação de água das chuvas; o reflorestamento através do qual se permite abastecer com água os mananciais subterrâneos e prevenir a erosão do solo; represas através das quais a água é canalizada para os campos agrícolas e a recuperação da terra para o cultivo de vários produtos, entre eles o amaranto, também chamado de "feijão dos Andes", muito conhecido pelas antigas populações da Mesoamérica. Trata-se de um cereal de alto valor nutritivo e rico em potássio, zinco e vitaminas do complexo B. O amaranto é considerado benéfico para o coração, o rim, o intestino e para a pressão arterial. O seu cultivo, desaparecido por muito tempo, foi recuperado pelas comunidades da Mixteca. 
Em praticamente todas essas iniciativas a gestão comunitária e associativista se faz presente. Tudo é decidido por meio de assembleias locais, de onde são eleitos os dirigentes e conselheiros de boa parte das entidades. A igualdade de gêneros (entre homens e mulheres) é colocada sempre como algo a ser praticado e algumas associações dispõem de um sistema próprio de crédito, permitindo uma maior autonomia financeira aos seus integrantes, sem a dependência do Estado e dos grandes bancos. 



Tais exemplos nos revelam como a ideia de sustentabilidade pode ganhar outra dimensão, mais abrangente e que, ao mesmo tempo, respeite as características locais das populações e suas tradições (nas fotos acima, da esquerda para a direita, este que vos escreve e o professor Benjamin Ortiz). Imediatamente somos levados a confrontar essas experiências com o caso do Brasil e de sua imensa biodiversidade, sobretudo quando pensamos na Mata Atlântica e na Amazônia. Cada caso é um caso em matéria de economia sustentável, mas os exemplos proporcionados pelo professor Benjamin Ortiz podem nos ajudar a encontrar caminhos para a construção de modelos de sustentabilidade, que atendam as necessidades das populações e os princípios de proteção à natureza. Os economistas, em geral, confrontam tais modelos com o agronegócio, o qual possui capacidade de gerar maior renda para o país através das exportações. Contudo, ele não têm se mostrado adequado à proteção ambiental, gera desmatamento em grande escala e, em muitos lugares, não proporciona renda às populações locais, uma vez que a agricultura mecanizada não cria muitos empregos diretos. Além disso, o agronegócio faz uso de agrotóxicos e se baseia no cultivo de produtos geneticamente modificados, prejudiciais à saúde humana. Nesse sentido, a adoção de uma economia verdadeiramente sustentável passa pela revisão de práticas e de conceitos, como assinalado no início desta postagem, a respeito de que tipo de sociedade desejamos para nós e para os que virão mais tarde...
Crédito das imagens: autor e Natália Almeida do Museu do Horto.