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sexta-feira, 29 de julho de 2016

Anúncio Antigo 43: Rita Hayworth




"Nunca existiu uma mulher como Gilda." Esta era a frase contida nos cartazes que anunciavam o grande sucesso cinematográfico de Rita Hayworth e que tinha como título "Gilda". A película foi lançada em 1946, no auge da beleza da atriz, tornando-a o rosto mais conhecido das telas. Claro, ela também representava o sonho do público masculino. Contudo, anos depois, a atriz diria em tom melancólico: "Os homens que eu tive iam para a cama com Gilda e acordavam comigo". Bem, histórias como essa veríamos em outros casos de estrelas que se tornaram símbolos de beleza e de sensualidade. A vida real é sempre diferente do que se vê nos filmes.
Por outro lado, como vemos no Anúncio Antigo de hoje (na imagem acima), a publicidade soube se aproveitar muito bem da beleza dessas atrizes. O cinema norte-americano e a propaganda tiveram uma evolução paralela, sobretudo a partir da década de 1930, quando os filmes passaram a ser sonorizados. Até esse momento, o grande alcance das películas produzidas em Hollywood, no subúrbio da cidade de Los Angeles (capital do estado da Califórnia), era o próprio mercado norte-americano e, em menor escala, o europeu. Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a política de "boa vizinhança" desenvolvida pelo presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt, cuja finalidade era de obter uma maior aproximação com a América Latina, os filmes produzidos em Hollywood ganharam maior popularidade ao sul da linha do Equador, inclusive aqui no Brasil. Era uma alternativa ao fechamento da Europa dominada pelos países do Eixo (Alemanha, Itália). Até mesmo astros europeus foram levados para Hollywood, como parte da estratégia de enfraquecer o nacionalismo dos inimigos. O caso mais célebre foi o da atriz alemã Marlene Dietrich, que não atendeu aos apelos de Hitler para permanecer em seu país natal. 
Junto com os filmes veio a indústria da moda, dos alimentos industrializados, dos eletrodomésticos e dos cosméticos. Muitos hábitos até então estranhos aos trópicos começaram a chegar, como as calças jeans e a Coca-Cola, que desembarcou por aqui em 1942. Além disso, os filmes fotográficos da Eastman Kodak, os rádios da marca Zenith, os óculos Ray-Ban da Bausch & Lomb, a pasta de dente Kolynos e os sabonetes da Lever. E para lembrar: nove entre dez estrelas de cinema usam o sabonete Lever. Para muitos sociólogos e historiadores, tratou-se de um verdadeiro imperialismo econômico e cultural, muitas vezes tendo o cinema e os astros de Hollywood como "garotos-propaganda" desses produtos. 


Bem, no Anúncio Antigo de hoje trata-se de uma garota-propaganda: Rita Hayworth (na foto acima, em uma cena do filme "Gilda"). O seu nome verdadeiro era Margarita Carmen Cansino, nascida em Nova Iorque em 1918, filha de um dançarino espanhol de flamenco chamado Eduardo Cansino e de Volga Haworth, de origem irlandesa e que lhe emprestou o sobrenome quando Margarita chegou ao estrelato. 
Rita veio de uma família de artistas ligados à dança. O seu avô, Antonio Cansino, foi um dos maiores mestres da dança espanhola. Os pais mantinham uma escola de dança e se estabeleceram em Los Angeles. Vários astros de Hollywood chegaram a tomar aulas na escola, inclusive claro, a própria filha do casal. Com a crise de 1929 e a depressão econômica a escola faliu. Foi então que os pais de Margarita Cansino resolveram introduzir a filha nos shows musicais. Mas existia um problema, Margarita era menor de idade, o que levou seu pai a apresentar a filha em shows do outro lado da fronteira com o México. Reza a lenda que, em um desses shows, ela teria sido observada por um diretor da 20th. Century Fox, que a levou para Hollywood e acertou um contrato para a jovem aparecer em alguns filmes, todos em pequenos papeis. Agora ela era Rita Cansino. O seu contrato não foi renovado pela Fox. Mas o seu empresário Edward Judson, que seu tornou também seu marido, a apresentou a Harry Cohn, o chefão da Columbia Pictures. Nesse momento, as portas do estrelato começaram a se abrir para a jovem Rita Cansino de apenas 18 anos.



Rita Cansino? O seu nome soava hispânico demais! Foi aí que, emprestando o sobrenome da mãe, surgia Rita Hayworth (na foto acima, a atriz em 1930, ainda sem ter os cabelos tingidos e usando o nome artístico de Rita Cansino). Mas não foi só isso. 


A testa de Rita era considerada muito estreita e para seguir o padrão estabelecido em Hollywood, a jovem atriz passou por uma dolorosa eletrólise (corrente elétrica) para empurrar a linha do cabelo para trás e aumentar a testa (na imagem acima, um comparativo entre o antes e o depois das mudanças em seu rosto). Posteriormente também pintou os cabelos de ruivo e submeteu-se a um branqueamento da pele. Ah, ainda acrescentou um "y" ao sobrenome da mãe, para carregar no tom anglo-saxônico. Pronto? Ainda não. 


Rita passou mais de cinco anos realizando pequenos papéis, sendo emprestada a outros estúdios (Warner e Fox). Só em 1941, parecia que, finalmente, a aposta da Columbia começava a vingar. Rita Hayworth ganhou destaque no filme "Sangue e Areia", por ironia emprestada ao estúdio da Fox que a demitira seis anos antes. Nesse drama passado em meio às touradas de Madri na Espanha, no início do século XX, Rita se transformava em sex symbol. Na sequência vieram musicais ao lado de Fred Astaire e Gene Kelly (na imagem acima, Rita aparece no filme "Modelos" de 1944 junto com Gene Kelly). 


Mas, o seu grande êxito cinematográfico veio com o já citado "Gilda" ao lado do ator Glenn Ford, o qual vive o personagem Johnny Farrell, que dirige um cassino clandestino dentro de uma casa de shows em Buenos Aires na Argentina. O empresário proprietário do local vive com uma mulher, a Gilda que dá título ao filme (no fotograma acima, Rita Hayworth insinua um streap tease ao som da canção Put the Blame on Mame). A partir daí surge uma trama estranha e ambígua. 



Johnny e Gilda já tiveram um caso no passado e, ao que parece, o dono do cassino sabia disso e parecia aceitar o romance entre os dois. Esse estranho triângulo se passa quase completamente em ambiente fechado, em uma irreconhecível Buenos Aires montada em estúdio. Um típico filme noir (drama em preto e branco), mas que transformou Hayworth em mulher fatal e a estrela maior de Hollywood.  



Até o início da década de 1950, Rita Hayworth brilhou no cinema em vários sucessos, como "Os Amores de Carmen" (de 1948 e ao lado novamente de Glenn Ford), "A Dama de Xangai" (1948 com o seu novo marido, o ator e diretor Orson Welles), "A Mulher de Satã" e "Salomé" (ambos de 1953). Sobrou até um tempinho para a atriz aparecer no carnaval carioca em 1962 (na foto acima, a atriz ao lado do playboy brasileiro Jorge Guinle). Seu ultimo grande sucesso no cinema foi "Meus Dois Carinhos" (1957) ao lado de Frank Sinatra. Daí em diante veio o lento declínio, mas não a ausência das telas, onde manteve-se até 1972. 


Na vida privada foram cinco casamentos, todos terminados em divórcio, inclusive o que mais causou sensacionalismo nos jornais e revistas, a sua união com o príncipe Ali Khan (de origem paquistanesa, mas nascido na Itália). Dos seus últimos anos de vida (na foto acima, Rita Hayworth em 1976) fizeram parte o álcool, as brigas com a filha Yasmin (do casamento com Ali Khan) e uma doença que, através dela, ficou conhecida em todo o mundo: o Mal de Alzheimer. Foi em razão das complicações dessa moléstia que Rita Hayworth faleceu em 1987. 
Como se pode perceber, muitas vezes, a vida é pior do que a arte. O Anuncio Antigo de hoje foi publicado no jornal "O Estado de S. Paulo" de 07.01.1945. 
Crédito das demais imagens: 
Foto comparativa de Rita Hayworth antes e depois das mudanças em seu rosto:
https://www.vintage.es/2017/10/11-classic-hollywood-stars-who-had.html
Fotos do filme "Gilda" (inclusive o cartaz original) e de Rita Hayworth ao lado de Gene Kelly no filme "Modelos": DVD Gilda da Columbia Pictures.
Foto de Rita Hayworth no carnaval carioca: Acervo Estadão.
Fotos de Rita Hayworth em 1930 e 1976: site Pinterest. 

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