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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Vizir: o cavalo de Napoleão Bonaparte




A pergunta clássica que ouvimos desde os tempos de infância: qual a cor do cavalo branco de Napoleão? Possivelmente o equino chamado Vizir não se enquadre perfeitamente no aspecto da cor, embora quando vivo, o animal tivesse pelos esbranquiçados e fosse cinza claro (nas fotos acima, o cavalo Vizir). Dezenas de outros cavalos gozaram do prestígio de servir ao governante francês e muitos deles eram brancos. Contudo, Vizir é o único que se encontra preservado no Musée de l'Armée (Museu das Forças Armadas, localizado no antigo Hospital dos Inválidos) em Paris. O cavalo está empalhado e pode ser visto de perto por todos os que visitam a instituição. 


Vizir nasceu em 1793 e era um cavalo árabe inteiro, isto é, não castrado (acima, Vizir em uma pintura de Pierre Martinet, artista que retratou vários cavalos que pertenceram a Napoleão). Originário da Península Arábica no Oriente Médio, o cavalo árabe chegou na Europa durante a expansão muçulmana ocorrida na Idade Média, sendo reconhecido pela sua resistência, agilidade e velocidade. Por isso, foi muito utilizado nos combates de cavalaria. 
O sultão do Império Turco Otomano, Selim III, ofereceu o cavalo como presente a Napoleão Bonaparte e depois o mesmo foi treinado nos estábulos imperiais, juntamente com mais 130 cavalos que Bonaparte utilizou ao longo de 14 anos. Entre eles encontrava-se Marengo (nome de uma das batalhas travadas por Napoleão), que foi retratado na célebre pintura de Jacques-Louis David, "Napoleão atravessando os Alpes". Marengo tinha a cor branca (ao menos nos quadros) e acabou capturado pelos ingleses, que guardam o seu esqueleto até hoje. Na verdade, Napoleão Bonaparte estava longe de ser um exímio cavaleiro e começou a montar por necessidade prática, a fim de comandar os soldados nas batalhas. Por ser baixo, Napoleão tinha preferência por cavalos de pequeno porte, como o Vizir.


Na perna esquerda desse cavalo podemos encontrar a marca "N" e a coroa imperial (foto acima), símbolos de Napoleão (que foi coroado imperador da França em 1804). 



O  cavalo Vizir participou das batalhas de Iena e Eylau, entre 1806 e 1807, contra os exércitos prussiano (alemão) e russo, no auge do poderio militar francês (no quadro acima, de Jean Baptiste Édouard Detaille, Napoleão montado em seu cavalo na Batalha de Iena). Vizir acompanhou Bonaparte por 12 anos, inclusive no exílio temporário na ilha de Elba (próxima à Itália) em 1814. Após o Governo dos Cem Dias (que marcou o retorno do imperador francês ao poder) e a derrota final na Batalha de Waterloo, Napoleão Bonaparte e seu cavalo Vizir foram separados. Nunca mais se reencontraram em vida. 


Bonaparte foi conduzido pelos vencedores ingleses para a ilha de Santa Helena, a meio caminho entre o Brasil e a África, onde veio a falecer em 1821 (acima, detalhe de Napoleão abdicando em Fontainebleau, do pintor Paul Delaroche, 1855). O grande herói dos tempos revolucionários e da burguesia emergente deixou as suas marcas por onde passou, sobretudo o Código Civil (ou Código Napoleônico) no qual institucionalizou os lemas da Revolução Francesa, como o direito à propriedade e a igualdade perante a lei. 
Após a morte de Napoleão, a trajetória do cavalo Vizir ainda sofreria algumas reviravoltas. Em primeiro lugar porque ele resistiu mais cinco anos após o desaparecimento de seu dono, morrendo em 1826 com 33 anos de vida. Os restos do cavalo acabaram sendo preservados por taxidermistas (empalhadores) por ordem de um oficial francês chamado León de Chanlaire. A fim de proteger a relíquia diante do ambiente político desfavorável a Napoleão, no auge da restauração da monarquia na França, Chanlaire enviou o animal empalhado para a Inglaterra. Para realizar a viagem, o Vizir foi esvaziado e dobrado, sendo depois recomposto para ser exibido no museu da cidade inglesa de Manchester. 



Posteriormente, com a ascensão de Napoleão III (sobrinho do primeiro Napoleão), Vizir retornou à França. Após a queda deste último no decorrer da Guerra Franco-Prussiana (entre franceses e alemães) em 1871, Vizir foi levado para os depósitos do Museu do Louvre em Paris, onde ficou guardado por mais de 30 anos, até ser redescoberto e incorporado ao Musée de l'Armée em 1905, onde está até hoje. Reparem como as reviravoltas da política interferem até mesmo na vida (e pós-vida) dos cavalos! 


O cavalo encontra-se na mesma instituição que abriga o túmulo de seu famoso dono, no Duomo dos Inválidos (foto acima). Portanto, Vizir e seu amo descansam praticamente juntos e podem ser observados por todos os interessados em conhecer melhor a história militar francesa no Musée de l'Armée...
Crédito das imagens:
Pintura de Pierre Martinet: 
https://fr.wahooart.com 
Batalha de Iena: Wikipédia (em inglês).
Demais imagens: acervo do autor. 

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