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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Imagens Históricas 29: a cadela Laika




Caro leitor, já tivemos a oportunidade de abordar o programa espacial soviético quando nos referimos à cosmonauta russa Valentina Thereshkova (ver Imagens Históricas 25). Lembramos que a União Soviética iniciou a corrida espacial com os Estados Unidos, a partir do lançamento do primeiro satélite artificial a orbitar a Terra, o Sputnik, em 1957. Depois dessa experiência inédita, o objetivo maior passou a ser o de enviar um homem em um voo espacial. Mas, antes disso, era preciso fazer algumas experiências com cobaias, a fim de avaliar melhor as condições que um ser humano enfrentaria nessas viagens. Novamente, a União Soviética saiu na dianteira e um desses experimentos foi com a cadela Laika (imagem acima). Outros animais já haviam sido submetidos a voos suborbitais (sem permanecer em órbita da Terra) por americanos e soviéticos. Laika tinha 3 anos quando foi retirada das ruas de Moscou e pesava aproximadamente 6 quilos, sendo selecionada para ser colocada dentro do Sputnik II. A viagem ocorreu no dia 3 de novembro de 1957, apenas um mês depois do lançamento do primeiro Sputnik. O voo fez parte das comemorações dos 40 anos da Revolução Russa. Infelizmente, a viagem foi só de ida. O veículo que levou Laika não foi projetado para retornar. Resultado, o primeiro ser vivo enviado ao espaço morreu em pleno voo!




As condições do animal (nas fotos acima, Laika em seu compartimento da cápsula espacial) eram, em parte, monitoradas da Terra, como pressão arterial, batimentos cardíacos e respiração. Uma alimentação especial (em forma de gelatina), suficiente para uma semana, foi acondicionada junto ao animal. Uma bolsa foi adaptada para coletar a urina e as fezes. Aliás, em função deste ultimo aspecto, é que a escolha recaiu sobre uma cadela (os machos levantam a pata para urinar, necessitando de um espaço maior). Os dados eram importantes para avaliar o metabolismo de um ser vivo submetido a gravidade zero. 



Contudo, os detalhes reais sobre as condições em que Laika enfrentou a viagem só foram reveladas décadas depois, quando algumas informações vieram a público (na foto acima, selo emitido na Romênia em homenagem à cadela Laika, em 1958). Por exemplo, desde o planejamento do voo, os cientistas sabiam que não haveria como trazer o animal de volta, informação que foi omitida dos meios de comunicação na época. Também se descobriu que a sua morte ocorreu aproximadamente sete horas após o lançamento, muito antes do prazo previsto para a sobrevivência da cadela, que seria de, pelo menos, alguns dias. Infelizmente, também se soube que Laika sofreu um forte estresse nos momentos iniciais da viagem (o seu ritmo respiratório esteve entre 3 a 4 vezes acima do normal) e que não houve como manter a temperatura da nave em nível adequado (houve um superaquecimento), o que prejudicou a sua sobrevivência, levando-a à morte. 


O Sputnik II ainda orbitou por alguns meses, carregando os restos da pobre Laika, até se desintegrar ao entrar na atmosfera terrestre, em abril de 1958 (na foto acima, uma réplica do Sputnik II, podendo-se observar, na parte inferior, o compartimento onde estava a cadela Laika). 


Nos tempos atuais, esse tipo de experimento causaria enorme comoção. Bem, de certa forma, na época também havia uma sensibilidade do público em relação a isso e a respeito dos maus tratos dos animais submetidos a essas experiências. De qualquer forma, a viagem serviu como um importante teste para o que viria depois. Os norte-americanos também utilizaram animais em experiências de voos espaciais, sobretudo macacos. Com a evolução desses experimentos, conseguiu-se que os bichos retornassem à Terra em segurança (mas, no início não), como o chimpanzé Ham (na foto acima, já a bordo do navio que o recolheu). Em janeiro de 1961 o símio participou de um voo de 670 quilômetros, durante 16 minutos (parte do Projeto Mercury). Graças a esse chimpanzé, um outro primata mais evoluído, o astronauta Alan Shepard, pode realizar o seu voo espacial com maior segurança, em 5 de maio de 1961 (voo balístico e não orbital).



Os soviéticos se redimiram após a perda da pobre cadela Laika. Em agosto de 1960, o Sputnik V levou ao espaço, para um total de 18 órbitas em torno da Terra, duas cadelas. As mesmas se chamavam Belka e Strelka, sendo que a última teve direito a um close na televisão, transmitido diretamente da cápsula (imagem acima, onde se pode observar o elevado estresse do animal). As mesmas retornaram sãs e salvas à Terra e, tempos depois, Strelka tornou-se mamãe de 6 cachorrinhos, sendo que um deles foi oferecido ao presidente John Kennedy dos Estados Unidos, como presente do governo soviético...
Crédito das Imagens:
Foto da cadela Laika em preto e branco: Gettyimages 1950s. Könemann, 2004, p.244. 
Fotos da cadela Laika em cores: http://thekompass.co.uk/article/621 
http://www.galeriadometeorito.com/2015/09/quais-animais-ja-foram-enviados-para-o-espaco.html
Selo em homenagem à cadela Laika: Wikipédia.
Réplica do Sputnik II: 
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Moscow_Polytechnical_Museum,_Sputnik_2_(4927173535).jpg
Foto da cadela Strelka e do chimpanzé Ham: O Homem e o Espaço de Arthur C. Clarke. Biblioteca Científica Life. Livraria José Olympio Editora, 1968, pags. 86 e 87. 

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