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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A mostra "Elvis Experience"





Para todos aqueles que de uma forma ou outra se interessam pelas raízes do rock'n'roll, a exposição "Elvis Experience" em cartaz no Shopping Eldorado na capital paulista é um bom momento para ver de perto algumas relíquias relacionadas a esse gênero musical e ao seu primeiro grande astro: Elvis Presley (1935-1977). Da sua origem pobre na cidade de Tupelo, no Estado do Mississipi, até a fama e riqueza conquistadas através de sua carreira artística, a mostra totaliza em torno de 500 peças originais provenientes da mansão do cantor em Graceland, atualmente um museu. Por iniciativa de sua viúva, Priscila Presley, o Brasil foi escolhido para sediar a primeira grande exposição relativa ao cantor fora dos Estados Unidos, muito em função da enorme quantidade de fãs que o artista tem por aqui.



A mostra obedece a uma ordem cronológica, começando com a infância do cantor (na foto acima, Elvis entre os seus pais, Gladys e Vernon). Dessa fase, podem ser vistos os seus boletins escolares originais, como também uma ficha para emprego onde um Elvis já adolescente manifesta o desejo de trabalhar com o público. A influência da cultura afro-americana e da "black music" foi muito forte na formação do cantor, sobretudo depois que a família Presley transferiu-se para Memphis, no Estado do Tennessee, em 1948. Nesta cidade, Elvis passou a ter contato com o blues, a música gospel, o country, o rhythm and blues que vieram a influenciar o nascimento do rock'n'roll propriamente dito. Pelo rádio, Elvis ouvia o jovem B. B. King, Muddy Waters, Charles Brown entre outros artistas negros. Ao mesmo tempo, passou a frequentar o reduto da música negra, na famosa Beale Street de Memphis. Vale lembrar que essa região do meio-oeste americano era o centro da resistência contra a discriminação racial nos Estados Unidos (o pastor e líder negro Martin Luther King foi assassinado nessa cidade em 1968).
A família de Elvis passou por muitas dificuldades na década de 1940, incluindo a prisão de Vernon Presley por oito meses, após ter falsificado um cheque. A mudança de Estado e de cidade teve relação com a procura por trabalho e a oportunidade de receber ajuda do governo para conseguir moradia. Sim, parte da sociedade americana ainda dependia da estrutura de apoio social criada pelo New Deal do governo Roosevelt, como por exemplo, a Lei Nacional de Habitação de 1934, que permitiu a construção de casas populares geridas pelos municípios.




O início da carreira de Elvis ocorreu na minúscula gravadora Sun Records, cuja fachada localizada na Union Avenue em Memphis foi reconstituída para a exposição. Sam Phillips, proprietário dessa gravadora, teria dito que ficaria milionário se encontrasse um branco que cantasse como um negro. Justamente nesse momento, em 1954, Elvis Presley apareceu na gravadora para fazer testes e sob a orientação de Phillips estava moldado o primeiro grande astro do rock. O sucesso definitivo veio pelas mãos do polêmico empresário "Coronel" Tom Parker, que soube levar Elvis para a fama, mas também transformou-o em uma máquina de ganhar dinheiro. O escritório do empresário foi reconstituído dentro da mostra, com a mesa, a cadeira e vários objetos originais, inclusive com as miniaturas do cão Nipper, símbolo da gravadora RCA Victor (imagem acima).
A televisão projetou a imagem de Elvis em todo o território americano e pode-se dizer que ele se tornou o primeiro grande astro desse novo veículo de comunicação, que ganhava popularidade na década de 1950. Elvis apareceu nos programas mais importantes da TV americana da época, como o Steve Allen Show, o programa de Milton Berle, o show dos irmãos Dorsey e finalmente, o conhecido Ed Sullivan  Show. Este último exigiu que a imagem do cantor fosse mostrada apenas da cintura para cima, para que o seu rebolado não parecesse tão sensual ao público mais tradicional.
1956 é apontado como o "ano de ouro" da carreira do cantor. No início desse ano, pelas mãos do Coronel Parker, Elvis deixou a pequena gravadora Sun para assinar com a RCA Victor, a qual permaneceu ligado até o final de sua vida. Os seus primeiros discos feitos na Sun Records foram adquiridos pela nova gravadora e também podem ser vistos na mostra. Nesse mesmo ano, Elvis iniciava também a sua carreira no cinema com "Ama-me com Ternura", um faroeste que trazia a canção título como destaque, "Love Me Tender". O cartaz original do filme e de todos os que Elvis fez podem ser vistos na sala especialmente dedicada aos seus anos em Hollywood.



Contudo, no auge de sua popularidade em 1957, Elvis é convocado para o serviço militar. Muitos estudiosos viram isso como uma forma de enquadrar o cantor dentro dos valores morais da sociedade americana e conter um pouco o seu aspecto rebelde e libertário. Na verdade, Elvis não era tão rebelde como parecia ser, apegado à família e de certa forma inseguro, o que levou-o a depender demais dos conselhos do Coronel Parker. Um espaço da exposição é dedicado ao período militar, com os seus uniformes (imagem acima), botas e capacetes. 
A década de 1960, logo após o Exército, trouxe um Elvis mais contido, com um repertório musical voltado para as baladas e canções românticas, o que não significa que não tivesse qualidade. Por outro lado, a sua carreira cinematográfica deixou a desejar. Os seus filmes não tiveram maior significado a não ser pela sua própria presença. Os roteiros eram repetitivos, cantar e correr atrás das garotas. Elvis tinha plena consciência disso, tanto que no final da década colocou um ponto final na sua experiência como ator. 



Na sala dedicada aos seus filmes podemos observar que os dois últimos, "Elvis é Assim"(1970) e "Elvis Triunfal" (1972), foram documentários de seus shows. Na imagem acima, vemos um dos destaques da mostra, o macacão branco que aparece no filme "Elvis é Assim" e que se tornaria a marca registrada do cantor no seu retorno aos espetáculos a partir de 1969.





De fato, a volta de Elvis aos palcos ocorreu em 1968 no "Elvis Comeback Especial" pela rede de TV NBC. Foi quase uma década longe das apresentações ao vivo. Este especial foi o momento mais importante de Elvis na televisão, revivendo os antigos sucessos de sua carreira e mostrando energia para um recomeço. O final desse show é mostrado em um telão onde ele interpreta "If I Can Dream", canção que encerra o programa. Na sala seguinte está o famoso terno branco usado nesse mesmo especial (imagens acima, mostrando o final do especial e o terno usado no programa). 



Em seguida vêm a parte mais importante da exposição com as peças originárias da mansão do cantor e as roupas utilizadas por Elvis em vários momentos de sua carreira. No primeiro item vieram alguns exemplares de sua coleção motorizada, como as motos e dois automóveis, uma Ferrari Dino e um MG conversível (imagem acima) usado no filme "Feitiço Havaiano" (1961).








Mas, não há dúvida de que a parte mais interessante é a referente ao vestuário do cantor, principalmente os macacões ou "jumpsuits", onde o destaque maior é o que foi utilizado no especial "Aloha from Hawai" de 1973 e conhecido como "Eagle", por ter a estampa da águia americana (imagens acima). Esse show foi o primeiro a ser transmitido ao vivo, via satélite, para vários países. Foi o último grande momento de Elvis. A partir dessa época, a carreira do cantor entrou em um declínio irreversível.



Os críticos afirmam que a década de 1970 foi a pior fase de Elvis, quando ele recorreu a um repertório musical mais popular e distante do "hard rock" do início de sua carreira. Mas, a mostra "Elvis Experience" traz mais referências dessa época, que têm também os seus fãs, com os exageros do cantor e as roupas exuberantes, no melhor estilo Las Vegas. Em 1969, Elvis formou uma banda que o acompanhou até a sua morte. Vários desses músicos, entre os quais o guitarrista James Burton, o baterista Ronnie Tutt, o pianista Glen Hardin e o maestro Joe Guercio se apresentam neste mês de outubro no Brasil, no espetáculo "Elvis in Concert".  
Na década de 1970, Elvis já não estava mais no topo das grandes estrelas do rock e era visto como brega ou ultrapassado. Além disso, já estava mais gordinho. Mas teve também os seus bons momentos, como o já citado show no Havaí e a única apresentação feita por Elvis em Nova Iorque, no Madison Square Garden em 1972 (na imagem acima, o paletó e a camisa usada pelo cantor, na entrevista coletiva que antecedeu a esse show). 




Um exemplo do ritmo intenso de trabalho de Elvis nessa década é o contrato feito em uma toalha do International Hotel de Las Vegas pelo Coronel Parker em 30.07.1969. O empresário de Elvis exigiu que a extensão para mais duas temporadas fosse assinado na própria toalha, na falta de papel (imagem acima).
Os abusos alimentares e o uso indiscriminado de remédios contribuíram para o excesso de peso, sobretudo nos seus últimos dois anos de vida (o cantor faleceu em 1977). Poucas informações sobre os últimos momentos de Elvis podem ser vistas na exposição, exceto uma sala onde estão colocadas as manchetes dos jornais que anunciaram a sua morte e um curioso videotape do Jornal Nacional do dia 16 de agosto daquele ano, onde o apresentador Cid Moreira apresenta a notícia sobre o óbito do cantor.




As imagens e fotos que ilustram o "Elvis Experience" mostram o cantor em pleno vigor físico e magro. Contudo, dois meses antes de ser encontrado morto no banheiro de sua mansão, Elvis já estava completamente fora de forma e mostrando sinais do declínio de sua saúde (como mostra a imagem acima do fotógrafo Peter Gould, tirada pouco antes da morte do cantor). As imagens de Elvis Presley no final de sua vida estão sendo depuradas ou mesmo escondidas do grande público. Contudo, para os que escrevem e comentam a respeito do primeiro grande ídolo do rock é importante lembrar que a máquina de fazer dinheiro o consumiu no final de sua vida. 



Elvis trabalhava muito, fez centenas de shows na década de 1970, às vezes dois no mesmo dia. Por outro lado, ele não foi o único a ser tragado pelo ritmo estressante de viagens e turnês. O mundo do rock está repleto de exemplos semelhantes. Como destacou o grande Eric Hobsbawn, um dos papéis do historiador é o de lembrar aquilo que os outros indivíduos querem esquecer.




Neste caso, lembramos que a vida do rei do Rock não era tão dourada quanto os objetos que estão na mostra (na imagem acima, o disco de ouro referente ao programa "Elvis Comeback Especial" de 1968, que alcançou um milhão de cópias vendidas).
Outro aspecto da vida do cantor era o grande número de auxiliares, funcionários e guarda-costas que o cercavam. Era a conhecida "máfia de Memphis", verdadeiros parasitas que giravam em torno de Elvis, que teve a fama de ser uma pessoa muito generosa com os amigos. Elvis chegou a dar aos mesmos presentes caros como automóveis e até casas. Na mostra pode ser observada uma enorme quantidade de cheques que eram doações para instituições de caridade e obras assistenciais. A arrecadação de seu famoso show no Havaí em janeiro de 1973 foi toda revertida para uma organização que promovia o combate ao câncer.
O seu último show, gravado para a rede de televisão norte-americana ABC, pouco antes de sua morte, é uma imagem lamentável de seus últimos momentos. A própria família e os seus herdeiros ainda relutam em lançar esse especial no mercado de vídeo, tal era o seu estado físico, inclusive chegando a esquecer as letras das músicas. Mas o seu talento vocal ainda podia ser apreciado.
Algumas observações cabem à mostra. As salas não estão providas de revestimento acústico para impedir a interferência das músicas dos demais ambientes. Por exemplo, no telão que mostra o final do show de 1968 é possível ouvir ruídos das músicas das outras partes da exposição. No final  da mostra está a loja de lembranças do cantor, com camisetas, bonés, canecas, copos, chaveiros e um grande número de objetos com referências ao astro. Muitos vão imaginar o predomínio do mau gosto. Não, não é o caso. Por exemplo, bonés e camisetas com a estampa do selo do seu primeiro disco na gravadora Sun Records são discretos e bonitos. O único inconveniente é o preço absurdamente alto dessas recordações. Nada abaixo de 40 reais. Portanto, quem quiser alguma lembrança vá com o bolso (ou o cartão) preparado...
Para ver:
PERÍODO: 05/09/2012 (quarta-feira) a 05/11/2012 (segunda-feira)
LOCAL: Shopping Eldorado (estacionamento descoberto)
ENDEREÇO: AV. Rebouças, 3.970 – Pinheiros. São Paulo (SP).
HORÁR
IO: De segunda a segunda, das 10h às 22h.
Classificação Etária: Livre
VENDAS: http://www.ingressorapido.com.br/BuscaPrincipal.aspx?pesq=elvis
INFORMAÇÕES: 4003-1212

Para saber mais:
DANCHIN, Sebastian. Elvis Presley e a revolução do rock. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2010. 
Crédito das Imagens: Fotos de Elvis nos shows: Guia do visitante do Elvis Experience. Foto de Elvis feita por Peter Gould: Getty Images 1970s. Köneman, 2004, p. 218. Demais fotos: acervo do autor.



2 comentários:

  1. Amo ELVIS de PAIXÃO. E por tudo quele passou, quem é FÃ sabe. Lamento que não estava bem de saúde, mas mesmo "GORDINHO" eu o amo. ELVIS "CONTINUA SENDO , O MAIOR ARTISTA DO MUNDO".E CONTINUA SENDO AMADO, COMO NENHUM OUTRO ARTISTA FOI.

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    1. Maria de Lourdes, em primeiro lugar obrigado pela leitura e comentário. Aguarde para o mês de março nas bancas uma matéria assinada por mim que deverá ser publicada na revista Leituras da História (Editora Escala), sobre os brasileiros que tiveram contato pessoal com Elvis. A mesma estava aqui no blog, mas como a revista pediu eu a retirei temporariamente. Em abril estará de volta. Um grande abraço.

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