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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Anúncio Antigo 53: Dia das Mães




Caro leitor, uma das datas mais tradicionais do nosso calendário contemporâneo é o Dia das Mães, comemorado no segundo domingo do mês de maio. O Anúncio Antigo de hoje (imagem acima) é um pretexto para descrevermos como surgiu esse evento comemorativo. 
Na Antiga Grécia havia uma comemoração similar, em honra da deusa Reia, mãe das demais divindades da mitologia grega e associada à fertilidade feminina. Essa celebração era realizada durante a entrada da primavera. A história de Reia é muito interessante. Bem, é uma redundância nos referirmos à mitologia grega como interessante. Então, vamos lá! Um oráculo (local onde eram recebidas as mensagens divinas) havia profetizado que um dos Titãs (seres que deram origem aos deuses), Cronos, seria destronado por um dos seus filhos. Temendo que isso viesse a ocorrer, Cronos resolveu engolir todos os recém-nascidos (perceba que esse mito de recém-nascidos eliminados tem similar em outras culturas), até que sua esposa e irmã Reia resolveu salvar o sexto filho: Zeus. 


Quando este nasceu, ela o escondeu em uma caverna e no momento de apresentá-lo ao pai substituiu-o por uma pedra que foi enrolada em panos (como aparece no alto relevo romano, imagem acima). Cronos ingeriu a mesma, imaginando tratar-se do filho recém-nascido. Mais tarde, já adulto, o sobrevivente Zeus destronou o pai (cumprindo a profecia) e forçou-o a vomitar todos os outros filhos que havia engolido. Dessa forma, Zeus estabeleceu-se como deus supremo do Olimpo (morada dos deuses). Não há qualquer tipo de continuidade histórica entre as duas celebrações da figura materna (da Antiguidade e da Era Contemporânea), embora a mitologia grega mostre o que uma mãe era capaz de fazer para defender a sua prole! 
Vamos avançar um pouco mais no tempo, até os Estados Unidos no século XIX, quando a ativista social e integrante da Igreja Metodista Ann Maria Reeves Jarvis (1832-1905), estabeleceu em 1865 o "Dia da Amizade para as Mães" a fim de ajudar os feridos na Guerra Civil Norte-Americana. Alguns anos antes, Ann Maria já havia organizado um Clube das Mães Trabalhadoras voltado para proteger as crianças pobres. 


Mas, foi a sua filha Anna Marie Jarvis (1864-1948), que ficou conhecida como a criadora do Dia das Mães nos Estados Unidos. Também integrante da Igreja Metodista, ela teve a ideia de estabelecer a comemoração anual como forma de reverenciar a memoria de sua progenitora e as demais mães americanas. A sua campanha para criar a data teve exito. Em 1914, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução estabelecendo o segundo domingo do mês de maio como o Dia das Mães, sendo celebrado pela primeira vez naquele mesmo ano. Contudo, Anna Jarvis (na foto acima) não concordou com a mercantilização do evento, que cresceu muito na segunda década do século XX, coincidindo com o surgimento daquilo que ficou conhecido como a sociedade de consumo. A criadora do Dia das Mães resolveu afastar-se de qualquer ligação com a data que foi criada por sua iniciativa. Uma ironia, Anna Jarvis não se casou e também não teve filhos. Portanto, nunca se tornou uma mãe!
Aqui no Brasil, coube à Associação Cristã de Moços do Rio Grande do Sul instituir a comemoração do Dia das Mães em 1918. Nos anos seguintes a data foi sendo também introduzida em outras regiões até se popularizar. Em 1932, o presidente Getúlio Vargas oficializou a data (também no segundo domingo de maio). O evento veio junto com a conquista do direito de voto para as mulheres naquele mesmo ano. Em 1947, a comemoração foi acrescentada ao calendário oficial da Igreja Católica e na década seguinte já estava plenamente assimilada no comércio, como mostra o Anúncio Antigo de hoje (imagem que abre esta postagem), publicado no jornal "O Estado de S. Paulo" do dia 13 de maio de 1951. Atualmente é considerada a segunda melhor data para as vendas no varejo de modo geral, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, perdendo apenas para o Natal.
No anúncio percebemos que a figura materna estava muito associada às atividades domésticas e ao cuidado com a casa, seguindo o padrão da classe média norte-americana da época e copiado por aqui. Daí serem comuns os anúncios oferecerem como lembrança para as mães utilidades domésticas, como uma enceradeira, ou ainda batedeira de bolos, liquidificadores, máquinas de lavar e aquilo que hoje seria um insulto para a mulher moderna: um jogo de panelas! Embora com uma participação crescente no mercado de trabalho, as mulheres teriam que aguardar a década de 1960 para poderem dar outros passos rumo a uma maior emancipação na sociedade, uma luta que ainda prossegue...
Crédito das imagens: 
Alto relevo romano com a deusa Reia entregando a pedra a Cronos: Pinterest. 
Foto de Ann Jarvis: Wikipédia.

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