Pesquisar este blog

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Editorial: Volta às Aulas



Houve uma época em que os professores eram valorizados e  respeitados pela sociedade. É verdade que nem todos tinham acesso à educação e o analfabetismo era um grave problema. Tanto que no período da Ditadura Militar (1964-1985) foi lançado o programa do Movimento Brasileiro pela Alfabetização, mais conhecido como Mobral. Contudo, foi nessa mesma época que a situação dos professores começou a se deteriorar, sobretudo no nível salarial. Cabe destacar que tal processo afetou principalmente o ensino público, que até a década de 1970 era muito melhor do que o privado. Era até humilhante para um jovem dizer que estudava em colégio particular, pois dava a impressão de que estava lá só para conseguir nota. Sou testemunha viva disso. Cursei o ensino médio e fundamental em escolas públicas, meio ano de reforço em cursinho pré-vestibular (naquela época o cursinho era só reforço, o aluno não entrava para aprender como ocorre hoje) e entrei na universidade com 17 anos. Acompanhei a primeira grande greve de professores estaduais de São Paulo em 1978. Dessa época em diante a situação só piorou. O que ocorreu em termos concretos foi a privatização do ensino, como depois ocorreu também com a saúde. Vejam só, as famílias de classe média não tinham despesas com educação e saúde e o setor público disponibilizava esses serviços com qualidade. Por que isso mudou?
A educação pública teve um crescimento horizontal (mais escolas), mas a qualidade do ensino não acompanhou essa expansão da rede. Optou-se pela quantidade sem qualidade. Apenas o ensino superior público conseguiu preservar os ótimos níveis em termos de formação e ensino, embora não seja acessível a todos, pois há o vestibular que exige preparo para o ingresso.
Em todo esse turbilhão o professor viu o seu prestigio diminuir. Estabeleceu-se uma cultura, na qual a sociedade, os meios de comunicação, a mídia em geral, deram a sua contribuição. A escola passou a ser vista de forma negativa, até opressora e autoritária. Claro, o modelo de modernização imposto no Brasil nessa mesma época requeria um povo que não fosse crítico e que ficasse satisfeito com alguns poucos bens de consumo como a televisão e o "Corcel 73" da música de Raul Seixas (isto para uma pequena classe média mais abonada que, vejam só, incluia os professores). A educação e a formação intelectual deixaram de ser vistas pelas famílias como algo importante, inclusive na própria elite.
Depois de décadas vem o discurso de que é preciso melhorar a educação, pois caso contrário isso pode comprometer o nosso crescimento e gerar falta de mão-de-obra qualificada. E alguns começam a lembrar dos exemplos da Coréia do Sul e da China ou ainda da Alemanha... Países onde a boa educação foi construída em décadas de investimento, sobretudo no professor, ferramenta fundamental do processo. Nesses lugares isso teve início já após a Segunda Guerra Mundial e lá se vão 67 anos. Hoje alguns afirmam, para nosso espanto, que é melhor um jovem estar em uma escola ruim do que ficar sem estudar... Que visão conformista. É com isso que devemos nos satisfazer? Ou lutar para que a situação começe a melhorar a partir de agora, pois o estrago foi tão grande que necessitaremos talvez de mais algumas décadas para recuperar o atraso?
Os estudantes chilenos estão nos dando um belo exemplo de luta para evitar que esse mesmo processo avance por lá. Na Espanha a situação também está se deteriorando e a educação pública deixando de ter a qualidade que tinha antes.
Este editorial é uma pequena contribuição para começarmos a reverter o processo aqui no Brasil.















Nenhum comentário:

Postar um comentário