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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Anúncio Antigo 63: cine Olympia, o mais antigo do Brasil



Um belo exemplo de preservação de um antigo cinema de rua é o assunto de hoje do Anúncio Antigo. Localizado na cidade de Belém, capital do estado do Pará, o cine Olympia é considerado o mais antigo em funcionamento no país, sempre no mesmo local, tendo sido inaugurado no dia 24 de abril de 1912 pelos empresários Carlos Teixeira e Antonio Martins, os quais já eram proprietários de um hotel e de um teatro na capital paraense. Portanto, a sala tem mais de um século de existência. Muito provavelmente seja uma das mais antigas do mundo! O cinema quase fechou as portas em definitivo, o que foi evitado quando um grupo de artistas e intelectuais paraenses sugeriu à Prefeitura Municipal de Belém a manutenção do antigo cinema como espaço cultural para a exibição de filmes fora do circuito comercial, o chamado cinema de arte (termo um tanto impróprio, pois muitos filmes comerciais também são cultuados como obras-primas) e os filmes clássicos. O cine Olympia passou então a ser gerido com apoio da Prefeitura de Belém. Uma sábia decisão e que deveria ter servido de inspiração para outras capitais do Brasil. 




A abertura do cine Olympia (nas fotos acima, a sala com público no ano da inauguração em 1912, o hall de entrada e a tela de projeção) ocorreu em plena Belle Époque da cidade de Belém, ou seja, no auge da economia da borracha (final do século XIX e início do XX). Na verdade um auge seguido de rápido declínio, uma vez que os ingleses desenvolveram o cultivo da Hévea brasiliensis (nome científico da seringueira, de onde se extrai o látex) no sudeste asiático, o que praticamente colocou fim ao ciclo de crescimento dessa atividade na Amazônia. 



Contudo, as marcas desse período permaneceram na capital paraense, como as avenidas largas arborizadas, os palacetes dos "barões da borracha", as casas de espetáculos, os hotéis luxuosos e os cinemas (na foto acima, a fachada original do cine Olympia em 1920). Não imaginem que tudo era esplendor, havia muita pobreza nas florestas (a exploração do trabalho dos seringueiros) e nas próprias capitais da Amazônia, como Belém e Manaus. Nessa época, o modelo de cidade era Paris e a urbanização era feita a partir desse padrão, sem qualquer consideração pela nossa realidade social e mesmo ambiental. Afinal, na Amazônia faz calor praticamente o ano inteiro e os mais pobres não podiam se vestir como recomendava a moda parisiense. 


O cine Olympia era frequentado pela população mais abastada e pela parcela também não tão abastada. Aliás, como ocorria com os cinemas de rua das grandes capitais do Brasil. Pode-se dizer que era um lazer relativamente popular e barato, inclusive porque existiam salas para todos os bolsos. O cine Olympia não manteve a sua fachada original, com um estilo quase clássico e nem o requinte de seu interior, passando por várias alterações que lhe deram um aspecto mais "moderno", como o que apresentava na década de 1940 (imagem acima). 
Os anos de 1990 marcaram o declínio definitivo dos cinemas de rua em praticamente todo o país. A trajetória dessas salas era a de passar a exibir filmes pornográficos (o que não ocorreu com o Olympia) e depois terem os seus espaços transformados em igrejas ou simplesmente demolidos. Mas o principal motivo desse declínio foi a proliferação dos shoppings centers com as salas multiplex (vários cinemas em um único local). O apelo da segurança e o atrativo das compras afastaram de vez o público dos antigos cinemas. Com o Olympia não foi diferente e em 2006 a sala fechou, mas não em definitivo. 



Como já assinalamos, a mobilização de boa parte da população, sobretudo aquela que requisitava um espaço alternativo aos blockbusters (grandes produções comerciais), fez o Olympia sobreviver com outro formato e outra fachada, mais sóbria e adequada aos tempos atuais. Hoje, o seu interior é moderno e bem equipado, tendo passado por uma reforma recente (como se pode observar nas fotos acima), deixando-o capaz de receber um público numeroso e diversificado, que busca as películas alternativas e também conhecer os filmes clássicos. 


O Anúncio Antigo de hoje com o cine Olympia foi publicado no jornal O Estado do Pará, do dia 3 de agosto de 1921, na página 2 e traz um filme estrelado pela "namoradinha da América", a canadense Mary Pickford (1892-1979), que juntamente com Charlie Chaplin, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, fundou o estúdio da United Artists em 1919. O filme que está no anúncio parece ser A Little Princess de 1917 (na foto acima, Mary Pickford em 1921). Trata-se de uma película do tempo do cinema-mudo. Normalmente, nas salas de cinema dessa época, o filme era acompanhado por um músico que tocava ao vivo, geralmente com piano, alterando o ritmo conforme a cenas iam se sucedendo (ação, romance, aventura...). Isso para tirar o silêncio excessivo da exibição e criar um clima mais favorável ao espetáculo. Portanto, as salas empregavam muitos músicos e a chegada do cinema sonoro a partir de 1927 tirou o emprego desses profissionais, como também de muitos atores, atrizes e de personagens que não se adaptaram ao som. Alguém já viu o Carlitos falando? Enfim, as novas tecnologias trazem muitos benefícios para alguns e também prejuízos para outros...
Crédito das imagens:
Cine Olympia no início do século XX:
http://cinemanamangueirosa.zip.net/arch2012-04-22_2012-04-28.html
Interior da sala em 1912 e hall de entrada:
http://zigue.com.br/index.php?p=2&id=98
Tela de projeção antiga:
http://marcuspessoa.blogspot.com/2006/02/0-fim-do-olmpia.html
Fachada em 1920:
http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/o-combate-a-sifilis-em-belem-nos-anos-1920/
Cine Olympia na década de 1940:
https://fauufpa.org/2014/03/20/cinema-olimpia-provavelmente-na-primeira-metade-dos-anos-1940/
Fachada e interior atual:
https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303404-d10239685-i241293936-Cine_Olympia-Belem_State_of_Para.html
Foto de Mary Pickford: Wikipédia

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