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sábado, 2 de fevereiro de 2019

Imagens Históricas 41: Fidel Castro, Jânio Quadros e Che Guevara



Juntos, na mesma foto! Como? Quando? O deputado federal Jânio da Silva Quadros, candidato ao cargo de presidente do Brasil, realizou viagem de uma semana a Cuba, onde desembarcou no dia 29 de março de 1960. Jânio estava acompanhado de uma comitiva de 43 pessoas, entre as quais se encontravam a sua filha, Dirce "Tutu" Quadros e o senador Afonso Arinos de Mello Franco. O motivo alegado pelo então candidato para conhecer a nação caribenha era o significado que a Revolução Cubana adquiria no contexto latino-americano e a necessidade de ter, como futuro líder de seu país, de acompanhar a evolução do cenário político internacional. Na verdade, Jânio atendia ao convite feito pelo Movimento Revolucionário 26 de Julho para conhecer, de perto, as iniciativas do novo governo cubano e da necessidade deste em ampliar as suas relações internacionais, diante do cerco dos Estados Unidos, que já começava, antes mesmo de Cuba se declarar socialista. Por incrível que pareça, os próprios eleitores de Jânio apoiaram a visita, com faixas que diziam "Cuba precisa de Fidel. O Brasil precisa de Jânio" ou ainda "Jânio e Fidel: dois grandes nacionalistas". Fidel Castro, então primeiro-ministro, recebeu o convidado ainda no aeroporto, praticamente dando a Jânio honras de chefe de Estado. A foto acima, pelo que pudemos averiguar, foi tirada na embaixada do Brasil em Havana, onde esteve presente o conhecido revolucionário argentino (depois, radicado em Cuba) Ernesto "Che" Guevara, que era o presidente do Banco Nacional de Cuba. 



Jânio também esteve com Raul Castro (irmão de Fidel), na época ministro das Forças Armadas. Quadros conversou muito com Fidel Castro (os dois, na foto acima) e sempre elogiou os líderes do regime cubano, sobretudo Che Guevara, a quem veio a condecorar depois de ter se tornado presidente. 


Os guerrilheiros do Movimento 26 de Julho (na foto acima, a guerrilha em Sierra Maestra, tendo ao centro Fidel Castro e à esquerda, seu irmão Raul) haviam derrubado o ditador Fulgêncio Batista, na virada do ano de 1958 para 1959, ou seja, em pleno réveillon. O movimento tinha caráter nacionalista e popular, iniciando uma ampla reforma agrária, a nacionalização de empresas estrangeiras, sobretudo norte-americanas (como refinarias de petróleo) e punindo os aliados do antigo regime, muitos dos quais eram torturadores, assassinos e corruptos. Não há como negar os vínculos do ex-ditador Batista com a Máfia norte-americana, os quais foram mostrados em filmes, como "O Poderoso Chefão II" (de 1974). A crescente oposição dos Estados Unidos ao novo regime, incluindo o bloqueio econômico que dura até hoje, levou Cuba a uma aproximação com a União Soviética. Em 1961, pouco depois da fracassada tentativa de invasão militar (patrocinada pelo governo dos Estados Unidos) à Baia dos Porcos, Fidel Castro anunciou o objetivo socialista da revolução e o alinhamento com o bloco soviético, dentro do contexto da Guerra Fria. 


Aqui no Brasil, Jânio Quadros (na foto acima de 1954) fazia uma carreira política classificada na época como "meteórica", pois entre 1947 e 1960 saiu da suplência para vereador na cidade de São Paulo até alcançar o cargo máximo da República, passando também pelo posto de prefeito da capital paulista (1953 a 1955) e pelo governo do estado de São Paulo (1955-1959). Teve o mérito de enfrentar as grandes forças políticas recorrendo a partidos de pouca expressão, entre os quais o Partido Democrata Cristão (PDC) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Tinha um estilo todo pessoal de se apresentar em público, recorrendo a um discurso rebuscado e, ao mesmo tempo, impactante. No dizer do historiador Marcos Napolitano "algo de gênio atormentado com o ar de professor severo". Aliás, foi de fato professor do tradicional Colégio Dante Alighieri em São Paulo. 
No final da década de 1950, logo após os triunfos eleitorais de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, a União Democrática Nacional (UDN), partido de oposição ao getulismo e de linha conservadora, viu em Jânio Quadros a oportunidade de, finalmente, obter uma vitória nas urnas, tendo como avalista, nada mais nada menos, do que o então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um crítico voraz das esquerdas. Usando como símbolo de campanha a "vassoura" (para varrer a corrupção), Jânio foi eleito com mais de 6 milhões de votos em outubro de 1960. No governo, estabeleceu uma política econômica absolutamente ortodoxa com relação ao controle dos gastos públicos, com cortes nos investimentos, restrições ao crédito e aos subsídios (trigo e gasolina), procurando seguir as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas que gerou descontentamento na população. Além disso, fazia uso de um discurso moralizante, proibindo o biquíni nas praias e as brigas de galo. Na política externa, ao adotar uma linha independente em relação às potências ocidentais (continuou a aproximação com Cuba e com o bloco socialista) descontentou o próprio partido que o apoiara, a UDN e também os Estados Unidos. 


Em 19 de agosto de 1961, Jânio Quadros condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro (foto acima), atitude que fez com que perdesse o apoio do seu mais importante aliado, Carlos Lacerda, o qual veio à televisão denunciar que Jânio tramava um golpe de Estado. Na manhã do dia seguinte, 25 de agosto de 1961 (Dia do Soldado), Jânio Quadros deixou um bilhete onde renunciava ao cargo de presidente, terminando assim o seu semestre governamental. Para muitos (e há um quase consenso nisso) foi um "autogolpe", pois Jânio estaria esperando uma manifestação das ruas e dos militares (que não desejavam o seu vice, João Goulart, visto como esquerdista) pedindo a sua volta. O próprio Jânio nunca deu uma explicação coerente para o seu gesto e o que seriam as tais "forças ocultas" que se levantavam contra o seu governo. Apenas explicou depois que as mesmas eram classificadas como "terríveis" em seu bilhete e não "ocultas", como divulgado na época pela imprensa. A verdade é que ninguém saiu as ruas pedindo a sua volta. A renúncia foi aceita de pronto! Já a posse do vice foi uma outra história.
Infelizmente, em relação à Imagem Histórica que postamos, não tenho como determinar quando foi publicada, pois a recortei de uma revista, possivelmente a Manchete, há muitos anos atrás. Mas é uma foto autêntica e rara, podem ter certeza...
Crédito das outras imagens:
Foto de Jânio de 1954:
https://blogdoims.com.br/o-estudio-fotografico-chico-albuquerque-por-sergio-burgi/
Jânio conversando com Fidel:
https://oglobo.globo.com/mundo/uma-colecao-de-imagens-marcantes-de-fidel-castro-19845164
Jânio condecorando Che Guevara:
http://jarbasvilela.blogspot.com/2015/10/janio-quadros-o-mito.html
Guerrilheiros cubanos, com Raúl e Fidel Castro:
http://museuvirtualcheguevara.blogspot.com/2012/08/comandante-ciro-redondo.html

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