Pesquisar este blog

domingo, 15 de dezembro de 2013

Imagens Históricas 14: Castello Branco






Um presidente brasileiro que foi casado com a Argentina? Sim. Trata-se do marechal Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro governante do período da Ditadura Militar (1964-1985), eleito indiretamente pelo Congresso para comandar o país após o golpe que depôs o presidente João Goulart em 31.03.1964. Para alguns historiadores, o regime implantado nesse ano teria tido um outro destino caso prevalecessem as ideias de Castello, ou seja, tão logo fosse feita a "limpeza" em relação ao governo anterior, o poder seria devolvido aos civis e restabelecida a democracia liberal. 
Contudo, o andamento do próprio Governo Castello Branco mostrava que o retorno à normalidade democrática não seria tão rápido. A sucessão do presidente gerou uma disputa com a chamada "linha dura" dos militares, que lançaram o nome do general Arthur da Costa e Silva para substituir Castello, alegando que a subversão de esquerda ainda era uma ameaça. A candidatura recebeu apoio dos quartéis e do partido governista, a ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Costa e Silva iniciou a campanha à revelia de Castello Branco, transformando a mesma em fato consumado. Na linguagem dos próprios militares, Castello Branco acabou sendo "emparedado".



Nascido no Estado do Ceará em 1897, Castello Branco era descendente pelo lado materno do escritor José de Alencar e do lado paterno do militar português e desbravador da Amazônia, Francisco Caldeira de Castello Branco, fundador da cidade de Belém, no Estado do Pará. Castello fez uma honrosa carreira militar, mas o seu tipo físico, baixo e atarracado, não o recomendava para a mesma. No Colégio Militar ganhou apelidos como "Monstrengo", "Torto", "Nanico", "Feioso" e aquele que mais o irritava, "Quasímodo", o conhecido personagem corcunda do livro "Notre Dame de Paris" de Victor Hugo (na imagem acima nos tempos do Colégio Militar, Castello está no centro e o primeiro à direita, em pé, é o seu amigo e futuro general Amaury Kruel).


Na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, onde ingressou em 1918 depois de concluir o Colégio Militar, Castello Branco conviveu com os futuros oficiais que, poucos anos depois, participaram do Movimento Tenentista em oposição ao governo dos fazendeiros da Primeira República (1889-1930). Entre estes destacavam-se Siqueira Campos, Eduardo Gomes e Juarez Távora (na imagem acima, na fileira do meio, da direita para a esquerda, Castello é o segundo e Távora o terceiro). Na Escola do Realengo também estava um estudante considerado exemplar e que recebeu, no final do curso, uma placa dos diretores da Escola pelo seu desempenho em sala de aula, obtendo grau dez em todas as disciplinas. Seu nome: Luís Carlos Prestes.


O grupo de amigos de Castello Branco era formado por outros nomes como Amaury Kruel, Olympio Mourão Filho e Arthur da Costa e Silva, ou seja, os futuros líderes do golpe de 1964. Castello Branco ficou conhecido nessa fase por suas posições mais conservadoras e legalistas em relação à Primeira República e a "política do café com leite", a alternância entre as oligarquias paulistas e mineiras no comando do poder. Seguindo essa mesma linha, Castello Branco se opôs ao já citado Movimento Tenentista da década de 1920 e foi elogiado pelos comandantes militares por permanecer fiel à legalidade (na imagem acima, o tenente Castello Branco em 1922, ano que marcou o início do Movimento Tenentista). Por outro lado, ganhou a antipatia dos colegas rebeldes, que o acusavam de carreirista. A Revolução de 1930 acabou mudando a composição das forças políticas que ocupavam o poder, com a ascensão de Getúlio Vargas ao governo.
Em 1936, Castello Branco ganhou uma viagem à França para cursar a Escola Superior de Guerra Francesa, onde permaneceu por dois anos, não estando no Brasil quando Vargas deu o golpe que implantou o regime ditatorial do Estado Novo. No ano anterior, Castello manifestou sua posição contrária ao comunismo ao condenar a  Revolta de 1935 organizada pelos setores políticos mais à esquerda e liderada por Luís Carlos Prestes, agora dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o posicionamento do Brasil em favor dos aliados (Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética) serviu para estreitar o contato entre militares brasileiros e norte-americanos através do envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para os campos de batalha na Itália. Castello participou da campanha alcançando o posto de chefe do Estado Maior da FEB em 1945 e fez amizades com oficiais americanos, como o general Mark Clark e o major Vernon Walters.
O final da guerra e a derrota do nazi-fascismo trouxeram um ambiente pouco favorável à continuidade dos regimes ditatoriais. A queda de Getúlio Vargas, no final de 1945, promoveu o retorno à democracia liberal e a aproximação do Brasil com o bloco liderado pelos Estados Unidos, já no contexto da Guerra Fria. Castello Branco manifestava abertamente o seu anticomunismo e temia a influência esquerdista dentro das Forças Armadas. Em 1950 foi criada a Escola Superior de Guerra, inspirada na "National War College" norte-americana. A instituição que ficou conhecida como "Sorbonne brasileira" por reunir os militares que, em tese, eram os mais bem preparados intelectualmente, manifestava simpatia pela liderança norte-americana. Já os militares tidos como "nacionalistas" opunham-se a uma maior aproximação política e econômica com os Estados Unidos e eram simpáticos, por exemplo, à campanha do "Petróleo é Nosso", que culminou com a criação da Petrobrás em 1953. Castello Branco via esses militares não como nacionalistas, mas sim como comunistas que estariam se infiltrando no Clube Militar para transforma-lo em um aparelho do PCB. Outra questão que, nessa época, dividia os militares dos dois grupos era a intervenção americana para impedir o domínio da Coréia do Norte comunista na península asiática e que culminou com a Guerra da Coréia (1951-1953). Os militares anticomunistas, como Castelo, chegaram a defender o envio de tropas brasileiras para ajudar os Estados Unidos na guerra.


Outro temor desse grupo era a presença, no segundo governo de Getúlio Vargas, do ministro do Trabalho João Goulart, que havia proposto em 1953 um reajuste de 100% no salário mínimo. Um documento que ficou conhecido como "Manifesto dos Coronéis", de 01.02.1954, alertava que o Brasil poderia ser transformado em uma "república sindicalista" nos moldes do peronismo argentino, caso Goulart permanecesse no cargo. Ao concordar com o manifesto, Castello Branco teria dito: "Argentina, por aqui, só uma: a minha mulher" (na foto acima, Castello Branco, à sua direita dona Argentina e os dois filhos do casal, na comemoração das bodas de prata do casal em 1947). Entre os militares que assinaram o documento estavam Golbery do Couto e Silva, Antonio Carlos Muricy, os irmãos Ernesto e Orlando Geisel e Silvio Frota. Todos eles tiveram papel de destaque na fase da Ditadura Militar. Um dos alvos desses militares era o próprio presidente da República, Getúlio Vargas e as suas posições nacionalistas. O suicídio de Getúlio em 24.08.1954 encerrou de forma trágica a sua segunda passagem pela presidência e calou os opositores que tanto criticavam o seu governo, sobretudo a União Democrática Nacional (UDN), que reunia os setores empresariais vinculados ao capital estrangeiro e da classe média urbana mais conservadora. Para muitos, o suicídio de Getúlio adiou o golpe militar por dez anos.
Embora tivesse defendido a posse do presidente Juscelino Kubitschek diante de uma ameaça golpista em 1956, Castello Branco não o apoiou na campanha eleitoral, tendo votado no candidato derrotado Juarez Távora, seu velho colega dos tempos da Academia Militar do Realengo. Távora concorreu pela UDN. No governo de Juscelino, Castello Branco foi promovido a general-de-divisão, mas foi transferido para o comando militar da Amazônia em função de suas críticas ao ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira Lott, por este ter interferido nas eleições do Clube Militar em 1958. Lott via Castello como inimigo do governo Kubitschek, que o lançou como candidato à sua sucessão nas eleições de 1960. Mas Lott foi derrotado pelo "furacão" Jânio Quadros.
A renúncia de Jânio em agosto de 1961 colocou o país num impasse, uma vez que os militares não aceitavam a posse do vice, o mesmo João Goulart criticado nos tempos em que foi ministro de Getúlio. A solução ao veto militar contra Jango: o parlamentarismo. A proposta feita pelo Congresso permitia a Jango assumir a presidência, como chefe de Estado, mas o comando do governo passou para o primeiro- ministro, Tancredo Neves, um político mais moderado. Em 1962, por força de um plebiscito, o presidencialismo foi restaurado, e finalmente, João Goulart pode assumir, de fato, a função de chefe de governo.
Em 1963 Castello Branco passou por problemas pessoais, sendo o mais grave a perda de sua esposa Argentina. O outro, as terríveis dores na coluna, que o obrigaram a usar um colete de metal com parafusos de ferro e amarras de couro, os quais lhe causavam um terrível incômodo.
Enquanto isso, o governo de Jango era duramente criticado pelos setores conservadores do empresariado, da classe média, da Igreja Católica e pelos latifundiários, que temiam a crescente politização da classe trabalhadora através dos sindicatos e das Ligas Camponesas no Nordeste. Mais uma vez o fantasma do comunismo aparecia e o temor de uma "cubanização" do Brasil deixava em alerta as elites da sociedade brasileira e o governo norte-americano nos tempos da Guerra Fria.



João Goulart (na imagem acima, Goulart no Automóvel Clube um dia antes do golpe) buscou apoio popular por meio das Reformas de Base, com intervenções profundas na economia e na sociedade, incluindo restrições ao capital estrangeiro, ao envio de lucros para o exterior, congelamento dos aluguéis e a reforma agrária. Na condição de chefe do Estado-Maior do Exército, Castello Branco via nessas propostas um elemento de radicalização que iria favorecer a ação comunista. Os líderes civis que apoiavam Goulart passaram a ser vistos também pelos militares como perturbadores da ordem, principalmente o ex-governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Goulart, Leonel Brizola.


A conspiração contra o governo Goulart avançou em 1964, sobretudo após o famoso comício da Central do Brasil no mês de março, quando Jango anunciou várias medidas, inclusive a reforma agrária. A aliança entre os militares e os setores da sociedade civil descontentes com Goulart recebeu o respaldo do governo norte-americano, o qual estava preparando uma força tarefa naval que poderia entrar em ação em apoio à sublevação contra Goulart. Castello Branco tornou-se o centro de todo esse descontentamento, retomando muitos contatos dos tempos da Segunda Guerra, como o coronel Vernon Walters (na imagem acima, à esquerda, conversando com Castello), que se encontrava no Brasil e atuava em conexão com a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Os donos dos grandes jornais também se alinharam aos golpistas, entre eles Roberto Marinho e Júlio de Mesquita Filho, cujo jornal "O Estado de S. Paulo" tecia elogios à figura do general Castello Branco.


O que ocorreu em 31.03.1964 pode ser considerado um golpe militar e civil, cabendo ao general Olympio Mourão Filho em sintonia com o governador de Minas Gerais, o banqueiro Magalhães Pinto, dar o pontapé inicial no movimento das tropas para depor o presidente Goulart, o qual, contrariando Leonel Brizola, negou-se a organizar uma resistência e exilou-se no Uruguai. Ainda com Goulart em território brasileiro, o Congresso declarou vaga a presidência, empossando no cargo interinamente o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili (na imagem acima, tropas do Exército ocupam Brasília após o golpe).


A escolha de Castello Branco para ser o primeiro presidente após o golpe foi feita de pleno acordo entre os comandantes militares e os chefes civis do movimento, entre eles os governadores de São Paulo, Adhemar de Barros (na foto acima, Adhemar observa material "subversivo" apreendido), da Guanabara (na época separado do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Lacerda e também de Magalhães Pinto. Outro comandante militar, general Arthur da Costa e Silva, também deu o seu consentimento à escolha, embora esperasse ser o escolhido.


A ditadura começava "envergonhada" na expressão do jornalista Elio Gaspari, uma vez que a escolha de Castello foi homologada por uma eleição indireta feita por um Congresso Nacional expurgado dos elementos considerados subversivos e que eram aliados do presidente deposto (na foto acima, tropas do Exército ocupam as imediações do Congresso em Brasília). Em 11.04.1964 Castello Branco foi eleito com 361 votos dos congressistas. O jornalista Lira Neto em sua biografia do presidente revela algumas curiosidades dessa votação, como o total de 72 abstenções, entre elas a do deputado Tancredo Neves. Entre os votos dados a Castello, estava o do ex-presidente e senador Juscelino Kubistchek. Foram computados dois votos para Eurico Gaspar Dutra, primeiro nome cogitado pelos militares para a presidência e três votos para Juarez Távora, que nem era candidato. Entre os votantes de Távora estava o então deputado Mário Covas.
O Ato Institucional N. 1 (AI-1) promoveu a desejada "limpeza" em relação ao governo Goulart. Uma centena de cidadãos foram cassados e tiveram os seus direitos políticos suspensos por dez anos, entre eles, Luís Carlos Prestes, João Goulart, Jânio Quadros, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Miguel Arraes e Celso Furtado. Nas próprias Forças Armadas o AI-1 atingiu vinte generais e mais de uma centena de oficiais, que foram para a reserva.


Na posse, Castello Branco (na imagem acima, Castello é capa da revista Manchete de 18.04.1964) reiterou uma promessa jamais cumprida, a de que entregaria o cargo para um presidente eleito em 31.01.1966. No seu ministério, estavam muitos dos nomes que comandaram ou apoiaram o golpe, como os generais Ernesto Geisel, Juarez Távora, Cordeiro de Farias e Costa e Silva. A economia ficou a cargo da dupla Otávio Gouveia de Bulhões e Roberto Campos, este último conhecido depois pelos estudantes como "Bob Fields", em função de sua notória simpatia pelos Estados Unidos, onde serviu como embaixador. Os dois ocuparam, respectivamente, a pasta da Fazenda e do Planejamento.


Antes do prazo final de 60 dias estabelecido para o encerramento das cassações pelo AI-1, Juscelino Kubitschek foi submetido a um inquérito em que era absurdamente acusado de enriquecimento ilícito, de importação ilegal de um automóvel e de compra de votos dos comunistas para a sua eleição de senador. Em seguida, veio a sua cassação. O governo Castello Branco já dispunha do Serviço Nacional de Informações (SNI), organizado pelo general Golbery do Couto e Silva e que tinha dados detalhados dos opositores e também dos não opositores ao governo. Nesta última situação encontrava-se o governador da Guanabara, Carlos Lacerda (na foto acima), que foi vigiado quando viajou ao exterior e teve os seus discursos e pronunciamentos gravados ou anotados.


Em junho de 1964, o mandato de Castello Branco (na foto acima, da esquerda para a direita, Mascarenhas de Morais, Charles De Gaulle e Castelo Branco, na visita do presidente francês em 1964) foi prorrogado pelo Congresso Nacional por mais um ano, até março de 1967, o que significava que não haveriam as eleições presidenciais de 1965, nas quais Juscelino era tido como favorito para a vitória. O endurecimento do regime prosseguia. Segundo o jornalista Elio Gaspari, em seu livro "A Ditadura Envergonhada", foram feitas em 1965, 84 denúncias de torturas com três mortes, sendo que em duas os presos teriam se enforcado na própria cela.
Após a decisão do Congresso em prorrogar o mandato presidencial, Castello Branco lançou o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) arquitetado pela dupla Octávio Bulhões e Roberto Campos, com a proposta de controlar o processo inflacionário. Contudo, os reajustes anuais dos salários ficavam distantes da inflação real. Ao mesmo tempo, procurou-se conter o consumo, o que acabou retraindo a economia. O "tratamento de choque" que penalizava a classe trabalhadora foi bem recebido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo governo americano, os quais restabeleceram a confiança na economia brasileira. O PAEG gerou criticas do setor empresarial por ser recessivo e do governador Carlos Lacerda, contrariado com a prorrogação do mandato presidencial e do cancelamento das eleições de 1965, nas quais seria candidato.


Em outubro de 1965 ocorreram as eleições para governador em onze Estados, entre eles Minas Gerais e Guanabara. Era a primeira consulta feita aos eleitores após o golpe de 1964 e o programa econômico do governo ainda não mostrava resultados com relação à inflação (na imagem acima, Castello reunido com os ministros, tendo à sua esquerda Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar). Na maioria dos Estados o resultado foi favorável ao governo, inclusive no Pará com a eleição do major Alacid Nunes e no Maranhão, com a vitória de José Sarney, ambos da antiga UDN (União Democrática Nacional). Mas em dois Estados tidos como importantes, Guanabara e Minas Gerais, venceram candidatos oposicionistas, respectivamente Negrão de Lima e Israel Pinheiro, ambos do PSD (Partido Social Democrático). Muitos comandantes militares viram nisso a possibilidade de uma volta ao passado com a eterna "ameaça subversiva".
Em 27.10.1965 o governo editava o Ato Institucional N. 2 (AI-2). Como cita o historiador Hélio Silva, o preâmbulo do documento refere-se ao golpe de 1964 como sendo uma revolução e dizia: "A revolução é um movimento que veio da inspiração do povo brasileiro para atender às suas aspirações mais legítimas: erradicara uma situação e um governo que afundavam o País na corrupção e na subversão." O AI-2 fortalecia os poderes do presidente, que podia decretar estado de sítio por 130 dias, abria a possibilidade de intervenção nos Estados, permitia novas cassações de direitos políticos e ainda tornava indiretas as eleições para presidente. O mais importante: os partidos políticos até então existentes eram extintos. A partir de agora, ficava estabelecido o bipartidarismo, com um partido situacionista e outro oposicionista. A Aliança Renovadora Nacional (ARENA) formada em sua maior parte, por políticos originários da antiga UDN, tornava-se o partido governista. O Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que representava a oposição, quase não conseguiu o número mínimo de deputados para a sua formação, sendo grande parte dos mesmos vindos do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e do Partido Social Democrático (PSD), sendo que deste último veio, entre outros, Ulysses Guimarães. No início de 1966, um outro Ato Institucional, o AI-3, tornava indiretas as eleições para governadores e atribuiu a estes a escolha dos prefeitos das capitais. 


Enquanto isso ocorria, o ministro da Guerra, general Arthur da Costa e Silva (na imagem acima), articulava a partir dos quartéis e sem o consentimento de Castello Branco, a indicação de seu nome para concorrer às eleições indiretas para a presidência. A escolha de Costa e Silva teria significado, para muitos, uma imposição dos militares da "linha dura". Mas, no próprio governo Castello Branco, as medidas autoritárias continuavam. A cassação de seis deputados federais e a resistência à medida oferecida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Adauto Cardoso, levou Castello a fechar o Congresso Nacional em 20.10.1966. Carlos Lacerda afirmou que Castello acabou fazendo aquilo que os militares tinham acusado João Goulart de tentar fazer: acabar com as eleições diretas e fechar o Congresso.
Ao final de seu governo no início de 1967, Castello Branco ainda fez aprovar no Congresso reaberto, às pressas, o texto de uma nova Constituição, que incorporava os mecanismos autoritários já estabelecidos e "institucionalizava a Revolução de 64" na linguagem governista. Dois dias antes de encerrar o mandato, ainda foi criada a Lei de Segurança Nacional, inspirada na doutrina defendida pela Escola Superior de Guerra, baseada no binômio "desenvolvimento e segurança". Ela estabelecia os meios para o enfrentamento da "guerra interna" contra a subversão comunista, punições para os que realizassem propaganda subversiva e ofendessem a honra e a dignidade dos chefes da nação. Os civis poderiam ser julgados por uma justiça militar e os jornais e revistas poderiam ser retirados de circulação por até trinta dias. 
Em 15.03.1967 Castello Branco transmitiu o cargo de presidente para Arthur da Costa e Silva, o candidato que se impôs na corrida presidencial e que Castelo teve de aceitar. Dizia-se na época, que saia de cena "um presidente sem pescoço para entrar outro sem cabeça". Costa e Silva era tido como pouco letrado e "casca grossa" na definição dos generais mais próximos de Castello Branco.
O ex-presidente pouco desfrutou de sua aposentadoria. Ao retornar de avião da fazenda de sua grande amiga, a escritora Raquel de Queiroz, do interior do Ceará para a capital Fortaleza em 18.07.1967, o bimotor que conduzia Castello Branco foi atingido por um jato da FAB, que participava de manobras na área próxima ao aeroporto da capital cearense. O choque fez o aparelho perder o estabilizador e o leme e entrar em parafuso até atingir o solo a 180 km/h. Castello Branco teve morte instantânea e dos que estavam no avião apenas o co-piloto sobreviveu. O comandante do jato, Alfredo Malan D'Angrogne, cujo pai era general e amigo de Castello, foi informado após o pouso que acabara de atingir o avião em que estava o ex-presidente. A culpa do acidente recaiu sobre o tráfego aéreo de Fortaleza, embora sempre tenha sido levantada a suspeita, nunca demonstrada, de um atentado. 
Os militares que compunham a chamada "Sorbonne" ou conhecidos também como castelistas retornaram ao poder com a ascensão de Ernesto Geisel em 1974, que iniciou a abertura "lenta e gradual" que levou ao fim da ditadura militar. 
A Imagem Histórica (ao alto), que mostra Castello Branco apontando na parede os retratos de oficiais norte-americanos, foi publicada na edição da Revista Manchete de 18.04.1964. 
Para saber mais: 
Lira Neto. Castello: A marcha para a ditadura. São Paulo: editora Contexto, 2004.
Crédito das imagens: Castello Branco no Colégio e na Escola Militar, nas bodas de prata com dona Argentina, tropas em Brasília, Carlos Lacerda e Adhemar de Barros: Revista Manchete de 18.04.1964. 
Castello Branco em 1922 e na visita de Charles De Gaulle: Coleção Nosso Século, Abril Cultural, 1980.
Foto de João Goulart e de Castello Branco reunido com os seus ministros: coleção do jornal Última Hora.
Foto de Vernon Walters e Castello Branco: livro de Lira Neto. 
Foto de Costa e Silva: Revista Realidade, maio de 1966. 














terça-feira, 23 de julho de 2013

Anúncio Antigo 29: Buy Brazil Nuts



Brazil nuts?????? Sim, a nossa castanha-do-pará ou castanha-do-Brasil na classificação oficial. Poucos brasileiros sabem, mas o público norte-americano adora esse produto, típico da Amazônia. Embora a chamemos de castanha, é uma noz, tanto que nos demais países utiliza-se essa denominação, como em inglês "Brazil nut", "noix du Bresil" em francês ou ainda "noce del Brasile" em italiano. Mas, sem a menor dúvida, o público anglo-saxão é o seu mais fiel apreciador. Para se ter uma ideia disso, basta lembrar que uma lenda que corre atualmente nos sites e blogs norte-americanos atribui a esse produto o fato do primeiro presidente dos Estados Unidos, George Washington, ter perdido praticamente todos os seus dentes por morder as castanhas com a casca. Sim, o "pai fundador" da América morreu banguela. Ele tinha o hábito de comer castanhas, mas com certeza, não se tratava da castanha-do-pará, pois em sua época (final do século XVIII) o produto ainda não estava presente no mercado norte-americano. 
Muitos estudiosos atribuem a chegada do produto ao mercado ianque em 1810, o que é plausível, uma vez que barcos de bandeira norte-americana mantinham um comércio continuo com os portos da Amazônia, sobretudo Belém, mesmo antes da independência do Brasil. Foi dessa forma que eles conheceram também uma outra mercadoria importante, a borracha, pois compravam galochas (sapatos) feitas aqui com essa matéria-prima. Durante a rebelião da Cabanagem (1833-1837) ocorrida na antiga província do Grão-Pará contra o Império brasileiro, que custou milhares de mortos, as exportações do produto cessaram, mas logo após, na década de 1840, a castanha voltava ao mercado americano e inglês. Claro que não chegou a alcançar a importância que teve a borracha como matéria-prima nos primeiros tempos da Revolução Industrial. Mas, quando a goma elástica entrou em crise na Primeira Guerra Mundial, foi a castanha que garantiu a sobrevivência de muitos amazônidas.
 Não é possível estabelecer uma época bem delimitada para a exploração da castanha como nos demais ciclos econômicos da história brasileira (açúcar, ouro, café, borracha), embora, a partir da segunda metade do século XIX, esse produto tenha encontrado um mercado permanente no hemisfério norte, sobretudo nas festas de final de ano. No caso específico do sudeste do Estado do Pará, tal fase vai do declínio da borracha (Primeira Guerra Mundial) até a década de 1980, quando as queimadas e o desmatamento puseram praticamente fim à atividade. 



A amêndoa (na imagem acima, as nozes vendidas no mercado Ver-o-Peso, em Belém) da castanha-do-pará (estou optando por utilizar a tradicional denominação, como até hoje é conhecida aqui dentro do Brasil) é retirada de um ouriço (uma espécie de coco) que mede de 8 a 16 cm de diâmetro. Dentro dos mesmos é que são encontras as castanhas. 



Esse ouriço (no desenho acima de 1887, com as amêndoas postas dentro do mesmo) é o fruto da castanheira, uma frondosa árvore da floresta amazônica, que chega a alcançar até 50 metros de altura. Um aspecto curioso da coleta desse fruto é que a mesma é feita no chão, pois ao amadurecerem os ouriços caem das árvores. Contudo, como a copa da árvore é alta, a queda do fruto representa um enorme perigo e pode provocar a morte de uma pessoa, caso seja atingida na cabeça. Em função disso, os castanheiros evitam realizar a coleta quando há muito vento ou em dias chuvosos. O período da safra se localiza entre os meses de janeiro a junho, quando os castanheiros se embrenham nas matas para obter o fruto. 
O produto é consumido pelo público norte-americano na comemoração do Dia de Ação de Graças, no Halloween e, principalmente, nas festas de final de ano. Existe um enorme receituário gastronômico que inclui a castanha, como nas saladas, assados (sobretudo com o tradicional peru), nos bolos, doces e combinando das mais variadas formas com os chocolates. Os importadores norte-americanos criaram uma associação na década de 1930, a "Brazil Nut Association" que tinha a tarefa de promover o consumo da castanha junto ao público da classe média, sobretudo as donas de casa (era essa a expressão da época) e crianças. Vale lembrar que a castanha têm qualidades nutritivas, é muito calórica, e há sessenta anos atrás era recomenda como alimento para as crianças em fase de crescimento. Claro, os meninos e meninas daquele tempo eram mais magros e muitos médicos recomendavam um reforço alimentar (aqueles que, como eu, já passaram dos cinquenta anos, vão se lembrar disso). 
Da mesma forma que ocorreu com a seringueira (Hevea brasiliensis, de onde é obtida a borracha), tentou-se adaptar a castanheira (nome científico: Bertholletia excelsa) na Ásia, muito provavelmente para se estabelecer um cultivo racional e com maior produtividade. Trata-se de um típico caso de biopirataria, para utilizarmos um termo mais atual. No caso da seringueira, sabemos muito bem qual foi o resultado, a concorrência da produção asiática atingiu em cheio a economia do Brasil e da Amazônia. Mas, no caso da castanheira isso não ocorreu. O tempo de amadurecimento da árvore é muito longo e só começa a frutificar entre os 12 e os 15 anos de vida, para atingir a plena produção após os 20. O processo de polinização é feito port insetos típicos da mata amazônica. Por outro lado, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) conseguiu desenvolver uma tecnologia que reduz o tempo de germinação da semente e da frutificação. 



A fazenda Aruanã (imagem acima), nas proximidades de Manaus, já produz a castanha-do-pará em sistema de cultivo racional. Qual será o futuro do produto: a forma extrativista de produção na própria floresta ou o cultivo? Muitos defendem que a manutenção do extrativismo é uma maneira de ajudar a manter e preservar a floresta amazônica. Contudo, a remuneração dada ao coletor pelos intermediários que comercializam a castanha, é muito baixa. Nos últimos anos, várias iniciativas foram feitas no sentido de agregar mais valor ao produto, como por exemplo, realizar o beneficiamento (descascamento da castanha) no próprio local da produção
Vale lembrar que o desmatamento da Amazônia constitui uma grande ameaça à continuidade da extração da castanha. O sudeste do Estado do Pará, onde se localiza o município de Marabá, já foi o maior produtor de castanhas no Brasil. As queimadas e a derrubada da floresta (inclusive da castanheira, apesar de ser protegida por lei) quase que fizeram desaparecer a produção local. Este foi um dos fatores que contribuiu para que o Brasil perdesse a liderança mundial na venda da "Brazil nut" para a Bolívia. Aliás, os bolivianos não gostam muito que o produto continue a ter no exterior o nome de "Brazil nut", por razões óbvias. 



Atualmente, uma das possibilidades de melhor aproveitamento da castanha-do-pará (na imagem acima, os frutos da castanheira reunidos após a coleta) está no setor de biocosméticos, que aproveita o óleo da castanha para a fabricação de xampus, creme para tratamento de pele e sabonetes. O mercado têm absorvido, desde a década de 1970, os produtos com o "selo verde", que retiram os recursos da floresta, sem destruir a mesma. É a tal da sustentabilidade. Sabe-se também que, por ter uma boa quantidade de selênio, o consumo da castanha poderia prevenir determinados tipos de câncer. 
Bem, enquanto isso, continuemos a apreciar a saborosa castanha-do-Brasil (ou do pará, como insistem os paraenses e este que vos escreve), tomando um certo cuidado com as calorias. 
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista americana "Woman's Home Companion", edição de 12.01.1952, página 104.
Crédito das demais imagens: 
O ouriço ou fruto da castanheira representado em desenho, foi extraído da revista Scientific American Supplement, n. 598, de 18.06.1887.
As  fotos pertencem ao acervo do autor. 


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Movimento Passe Livre: E Agora?




O Brasil está se surpreendendo nos últimos dias com algo que não se imaginava há algum tempo atrás. O povo saindo às ruas para protestar. Mas protestar contra o quê? O motivo que detonou as manifestações é algo que já deveria ter gerado protestos há muito tempo: o valor exagerado das passagens de ônibus e metrô. Não se trata nem de preço de Primeiro Mundo, porque neste último não chega a ser tão elevado, quase dois dólares. É um absurdo que uma parcela considerável da população tenha tolerado por tanto tempo isso. As manifestações (imagem acima, integrantes do Movimento Passe Livre no protesto de ontem na capital paulista) foram muito bem vindas e colocaram a possibilidade de abrir a "caixa preta" do transporte público, sobretudo em São Paulo, onde um verdadeiro e misterioso cartel de empresas controla o sistema, seguindo o modelo empresarial de "Don Corleone". 
Pois bem, a iniciativa coube ao Movimento Passe Livre (MPL), que retomou uma bandeira de luta dos tempos da prefeita Luiza Erundina, quando foi eleita para o cargo em São Paulo no já distante ano de 1988, aliás pelo Partido dos Trabalhadores. A ideia original era tirar recursos do Imposto Territorial Urbano (IPTU) para subsidiar o valor das passagens, o que implicava, claro, em um aumento progressivo deste (os ricos pagariam mais) para que toda a sociedade se beneficiasse de um transporte público barato e de qualidade. Contudo, os setores mais conservadores rejeitaram a proposta e a mesma foi derrotada na Câmara Municipal. Agora, o MPL retomou a ideia, que não é utópica como querem alguns mal informados, e teve o grande mérito de trazê-la para as ruas, pagando um preço caro por  isso, por meio da repressão policial, do ataque de todos os meios de comunicação que compõem a grande mídia e das classes médias que hostilizaram os pioneiros do movimento chamando-os de "vândalos".


O curioso é que a repressão policial foi tão violenta que vitimou jornalistas da própria mídia que faziam a cobertura dos protestos, ou seja, o "feitiço virou-se contra o feiticeiro" (na imagem acima, fotógrafo é atingido por spray de pimenta por um integrante da Polícia Militar). A repercussão foi péssima para as autoridades que tinham declarado que as policias agiriam com energia. 
Um aspecto fundamental foi colocado em evidência por esses primeiros manifestantes: os limites de nossa democracia. Para algumas causas a rua pode ser tomada e para outras não. Por que não ocupar a avenida Paulista? Para a Passeata do Orgulho Gay pode (e não tenho nada contra isso), para os shows da Globo no final do ano pode, para montar presépios de Natal e atrair a classe média que vive enfiada em shoppings pode. Nestes casos, não atrapalham os hospitais e nem o trânsito. A grande mídia aplaude. Quando é para protestar por uma causa social justa, aí não pode. Nossa democracia é pela metade? Serve para alguns e não para outros? Esses "primeiros jovens" que saíram às ruas e colocaram a cara para bater tiveram esse grande mérito, de colocar essa democracia engessada em questão. Um conhecido historiador da antiguidade clássica, Moses Finley, há quarenta anos questionava a democracia norte-americana por temer o confronto, o debate e as contradições. Em função disso, começava a perder a sua vitalidade. Mas não é exatamente esse o cerne da democracia? Por que temê-la? 
Os protestos acabaram atraindo a atenção nacional e embalada pela péssima repercussão da repressão policial, outros jovens e até a classe média, que antes criticava o movimento, acabaram saindo às ruas nesta última segunda-feira (dia 17.06) protestando contra outras questões que não faziam parte da pauta original. Sim, foi um desabafo: Copa da Mundo, FIFA, corrupção na política, governos, pedidos por educação, saúde, entre outras coisas. Foi ótimo e bonito de se ver, em várias capitais do Brasil o povo se manifestou.


Mas ontem, dia 18.06, na manifestação na praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo (imagem acima), pudemos perceber que o movimento, ao mesmo tempo em que ganhava adesões em termos quantitativos, começava a perder em termos qualitativos. Cartazes com reclamações as mais variadas: contra a corrupção, contra os impostos, contra a Copa do Mundo, Fora Dilma, Fora Haddad, Fora Alckimin, Fora Globo, Fora Datena...Ou seja, contra tudo e contra todos. É o sinal da dispersão, é exatamente isso o que querem os responsáveis pelo transporte público, a perda do foco. E estão conseguindo, infelizmente. 


Num certo momento, o MPL se desgarrou dos demais manifestantes, talvez percebendo que os rumos do protesto estavam sendo desvirtuados, e iniciaram uma passeata pela ladeira Porto Geral (que dá acesso à famosa 25 de Março, a rua das compras populares da capital paulista) e alcançando o terminal de ônibus do Parque D. Pedro II (na imagem acima, integrantes do movimento passam diante de um posto da Polícia Militar). Num determinando instante, quando os manifestantes alcançavam o viaduto que levaria à avenida Rangel Pestana, no bairro do Brás (início da Zona Leste de São Paulo) os manifestantes do Passe Livre pararam, sem saber se deveriam continuar ou não. Alguns queriam chegar à avenida Radial Leste (principal artéria de ligação com a Zona Leste de São Paulo) e outros ir até o prédio da Prefeitura no viaduto do Chá, mesmo alguém avisando que o prefeito já não estava mais lá. Esta última opção foi a escolhida e chegando na sede da Prefeitura, outros manifestantes já estavam por lá e alguns (infiltrados?) iniciaram o ato violento que marcou as manifestações de ontem, que até então corria de forma pacífica e com apoio dos transeuntes que andavam pelo centro e dos próprios motoristas, que embora parados no trânsito, pareciam perceber o quanto o protesto era justo e necessário. Posso assegurar, nenhum integrante do MPL iniciou os atos de vandalismo de ontem.


Embora o movimento não aceitasse as bandeiras de partidos e a presença de nenhuma de suas lideranças, mesmo as de esquerda, parece que o MPL esteja carecendo de um comando firme e que conduza o movimento aos seus objetivos originais. Por outro lado, as passeatas estão sendo invadidas por aqueles que querem tirar proveito das manifestações em prol de outras causas, que no momento, não fazem parte da pauta de reivindicações. Isso é perigoso. Embora muitos digam que é coisa do passado, existe esquerda e existe direita. Esta última trabalha com objetivo claro de pulverizar o MPL e dispersá-lo.
 A discussão do problema do transporte coletivo envolve uma gama enorme de questões e de temas que estão na ordem do dia: a mobilidade urbana; o uso desproporcional dos automóveis; questões relativas ao meio ambiente e a poluição; a planilha de custos do transporte público que precisa ser exposta de forma clara e democrática; a gestão da cidade em termos de qualidade de vida para os seus habitantes entre outros graves problemas. O MPL teve o grande mérito de criar a oportunidade para que tudo isso  fosse discutido. Trazer agora, outras bandeiras de luta, vagas e sem um alvo claro, pode prejudicar o encaminhamento dessa importante demanda popular. 
Apesar de tudo isso, vi também algo positivo, a tentativa de se levar o movimento para as periferias e os bairros pobres, que sofrem demais com as tarifas absurdas e o transporte de péssima qualidade. Afinal, é uma causa popular.
Não temos condições aqui de avaliar o movimento nas demais capitais, mas ao que parece, a questão do transporte também foi o fator que acendeu as manifestações. Pode ser que em outras cidades existam problemas mais específicos e cabe a esses movimentos não permitir que os mesmos fiquem obscurecidos. 
Não devemos esquecer daqueles que nos primeiros dias dos protestos contra o aumento das tarifas mandaram a polícia bater e bater pesado. Estes devem dar satisfações à sociedade, por dar essa ordem, por restringir o direito de livre manifestação, por incitar de forma violenta a sociedade contra os "primeiros jovens" que saíram às ruas e daqueles, como o motorista transloucado da Paulista, que jogaram os seus automóveis contra os meninos que lutavam por uma cidade melhor.
O MPL deve trabalhar a partir de agora para dar maior consistência ao movimento e evitar que se perca nas outras generalidades, que podem servir aos setores menos interessados em discutir ou debater o problema do transporte público. Quanto mais genéricas são as bandeiras de luta, maior a tendência de que o movimento seja apropriado por setores da sociedade que irão procurar manipular essas causas em benefício próprio. 
Sim, somos todos brasileiros, temos a mesma bandeira, mas quem ganha com a construção dos estádios da Copa ou com o dinheiro arrecadado das tarifas de ônibus também é. Os canalhas, nessas horas, também sabem cantar o Hino Nacional....
Crédito das imagens: 
Policial com spray de pimenta: www.rededemocratica.org.
Demais imagens: História Mundi. 


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Imagens Históricas 13: Simón Bolívar





Simón José Antonio de la Santísima Trinidad de Bolívar y Palacios, ou simplesmente Símon Bolívar, chamado também de El Libertador. Foi com esse título que ficou conhecido o mais importante líder da independência da América Espanhola, retratado na imagem acima no ano anterior à sua morte, abatido pelos anos de guerra e pela tuberculose. O personagem desse retrato é o tema de hoje de nossa seção "Imagens Históricas". Além de ser o maior de todos os "Libertadores da América" foi aquele que estava mais bem sintonizado com os ideais revolucionários de seu tempo e com o pensamento da Era das Luzes, o Iluminismo. Portanto, não lhe faltavam ideias a respeito do futuro da América do Sul após séculos de domínio colonial.



Nascido na cidade de Caracas, na antiga capitania da Venezuela em 1783, de uma tradicional família de grandes proprietários de terra de origem espanhola (portanto, um legítimo crioulo). Os Bolívar eram donos de minas de prata e de cobre, de fazendas de gado e plantações de cana-de-açúcar, índigo e cacau. Em apenas uma de suas propriedades, a família tinha mais de 1.200 escravos. Os Bolívar ainda possuíam vários imóveis em Caracas (na imagem acima, a casa onde nasceu Bolívar, em uma foto da década de 1930). 


A elite crioula detinha o poder econômico nas antigas colônias espanholas, geralmente como grandes proprietários de terras (as famosas haciendas, como na ilustração acima), mas faltava-lhe o poder político, privilégio reservado aos nascidos na Espanha, que ocupavam os cargos mais importantes da administração colonial. A maior parte da população, constituída de mestiços (ou pardos), escravos de origem africana e indígenas, sofriam com os trabalhos pesados e não possuíam nenhum tipo de direito legal.  
Bolívar teve uma formação aristocrática. Esteve na Espanha e chegou a frequentar a Corte em Madri. Casou-se e ficou viúvo com apenas 21 anos. Retornou à Europa, viajando pela França, Inglaterra e Itália. Nessa segunda viagem ao velho continente, acompanhado de seu mentor Símon Rodrigues, tomou contato maior com as idéias iluministas de igualdade, liberdade e dos direitos naturais do homem, que aplicadas ao plano das colônias, tinham um sentido revolucionário naquele momento. O filósofo francês Jean Jacques Rousseau foi uma de suas leituras e serviu de inspiração filosófica ao futuro revolucionário. Contudo, pensou, como colocá-las em prática em um continente que estava sob domínio europeu?


Ainda na Europa, Bolívar assistiu à coroação de Napoleão como imperador da França e teve contato com o famoso naturalista de origem alemã Alexander von Humboldt (imagem acima), recém chegado de uma viagem à América do Sul. Este teria dito a Bolívar: "Creio que seu país está pronto para a independência" e acrescentou "mas não vejo o homem que possa realizá-la." Impulsionado talvez por essa declaração e após ter realizado um juramento no famoso Monte Sagrado na cidade de Roma (palco das antigas sublevações da plebe contra os patrícios da Roma Antiga) de que libertaria o seu povo do domínio espanhol, Bolívar retornou em 1807 para a América. Veio disposto a liderar a independência de sua terra natal. 
O mundo vivia uma situação turbulenta. Napoleão Bonaparte expandia o seu território na Europa e já havia invadido Portugal e a Espanha. Neste último país, despojou do poder o rei Fernando VII e em seu lugar instalou José Bonaparte, seu irmão, como monarca. Tal mudança acabou precipitando a situação nas colônias espanholas da América do Sul, as quais, em um primeiro momento, juraram fidelidade ao rei espanhol deposto, por meio das juntas governativas locais lideradas pelos crioulos. 
Logo depois, a situação na Espanha se agravou e Napoleão enfrentou uma dura resistência por parte da população local, fortemente apoiada pela Inglaterra inimiga. Diante disso, a junta governativa da Venezuela depôs o governador espanhol em Caracas e assumiu o poder com o objetivo de criar uma república autônoma. Contudo, o movimento necessitava do reconhecimento de outros governos e com esse objetivo, uma missão foi enviada à Inglaterra, chefiada por Bolívar. Os ingleses relutavam em apoiar um movimento de independência contra os espanhóis, que nesse momento, eram seus aliados na luta contra Napoleão. Mas em Londres, Bolívar encontrou um antigo rebelde venezuelano, Francisco de Miranda e convidou-o para se juntar à luta como comandante militar. Em 5 de julho de 1811 foi publicada uma declaração de independência e a Venezuela parecia se tornar a primeira colônia hispânica livre das Américas. Mal sabia Bolívar e os demais líderes que isto era apenas o início de uma longa luta. 
Mesmo dentro da Venezuela, nem todas as províncias aceitavam a autoridade dos republicanos de Caracas e mesmo entre estes, surgiu uma rivalidade entre Bolívar e Miranda. Para complicar mais a situação da jovem república, em 26.03.1812 um forte terremoto atingiu Caracas, matando pelo menos 10 mil pessoas. Muitos viram isto como um castigo dos céus pelo fato da Venezuela desobedecer ao rei espanhol Fernando VII. Os padres, fiéis ao princípio do direito divino dos reis, formavam o grupo mais fiel à Coroa. 
Uma força militar espanhola comandada por Juan Domingo Monteverde avançou sobre a Venezuela e impôs uma derrota ao comandante rebelde Francisco de Miranda, que teria aceito uma recompensa em dinheiro dos espanhóis para fugir, mas antes que isto ocorresse foi detido por Símon Bolívar e entregue aos espanhóis. Miranda passou o resto de seus dias preso. A repressão imposta por Monteverde foi terrível, prendendo os rebeldes crioulos e confiscando as suas propriedades. Bolívar conseguiu escapar para o exílio em Cartagena, no vizinho Vice-Reino de Nova Granada (que corresponde aos atuais Panamá, Colômbia e Equador). Ao avaliar o fracasso da Primeira República Venezuelana, Bolívar considerou que a desunião dos rebeldes facilitou a reação espanhola e de que só um "poder terrível" poderia varrer os espanhóis do continente. 
Com o apoio dos rebeldes de Nova Granada, que já iniciara um processo de rompimento com a Espanha, Bolívar começou uma nova campanha militar em direção aos llanos (planícies) da Venezuela e avançou dos Andes até Caracas em três meses. Seu exército que era de 700 homens alcançou 2.500 com as adesões que ganhou no caminho. A cada localidade tomada aos espanhóis acrescentava em suas cartas o termo "libertada", daí o cognome que lhe seria atribuído: El Libertador. Caracas foi ocupada e em 06.08.1813 foi declarada a Segunda República Venezuelana, a qual nascia despedaçada e arruinada economicamente.


O novo governo não era reconhecido em todo o território, como por exemplo, entre os llaneros mestiços e semi-selvagens (equivalentes a grosso modo aos vaqueiros dos pampas e aos caubóis do oeste norte-americano) liderados por José Tomás Boves, um espanhol que ganhara a vida com o contrabando. A guerra de independência era uma oportunidade para que estes promovessem saques, incêndios e estupros pelas localidades por onde passavam. Boves, lutando a serviço dos espanhóis, castigava os seus prisioneiros com torturas bárbaras, amarrando-os às árvores sob o sol escaldante, furando os seus corpos com lanças, enviando a cabeça dos mesmos para as esposas ou matando os filhos na frente dos pais. Além de mais esse inimigo, Bolívar enfrentava a rivalidade com os seus auxiliares, como Francisco Santander (imagem acima) e o general Mariño. A Segunda República fracassou e Bolívar se retirou de Caracas. A luta de independência nunca fora tão violenta. 


A queda de Napoleão (imagem acima) e a restauração da monarquia espanhola ampliaram a repressão até Nova Granada. Bolívar foge para a Jamaica, onde redigiu a famosa Carta da Jamaica apontando a necessidade da união das colônias que já lutavam pela independência, embrião daquilo que tempos depois ficaria conhecido como o pan-americanismo. Depois de uma tentativa de assassinato, Bolívar dirigiu-se para o Haiti, a segunda república independente das Américas e também a primeira república negra. O presidente e ex-escravo Alexandre Pétion deu ajuda financeira e militar a Bolívar e este prometeu abolir a escravatura nos territórios que fossem libertados, o que ocorreu de forma plena somente em 1854, vinte e quatro anos depois da morte de Bolívar. 
A nova invasão da Venezuela foi feita pelo interior e novamente Bolívar enfrentou as rivalidades entre os seus comandados, um deles o mulato Manuel Piar, que acabou sendo executado. Um fator favorável para o Libertador, agora ele podia contar com os llaneros e seu novo comandante José Antonio Páez, mestre na guerra de guerrilhas. Além destes, Bolívar constituiu um corpo de mercenários de origem britânica (os redcoats) recrutados após o fim das guerras napoleônicas na Europa. O anglófilo (admirador da Inglaterra) Bolívar finalmente pode contar com a ajuda inglesa, embora sem um caráter oficial, para a causa da independência. Bolívar obteve também suprimentos, armas e equipamentos comprados a crédito na Inglaterra.
Em uma reunião realizada na cidade de Angostura, interior da Venezuela, Bolívar propõe uma constituição e a união da Venezuela com Nova Granada em uma Grã-Colômbia. Nessa mesma reunião foi escolhido presidente da Terceira República da Venezuela. Em 07.08.1819, na batalha de Boyacá, os republicanos derrotaram os espanhóis e dois anos depois, em Carabobo, a Venezuela foi conquistada e Bolívar entrou vitorioso em Caracas. Nascia a Grã-Colômbia, composta pela Venezuela, Nova Granada e Quito, atual Equador. Depois de conquistar Guayaquil, principal porto do Equador, em 1822, Bolívar voltou as suas atenções para o Perú, último reduto espanhol na América do Sul. Mas, um outro libertador ganhava notoriedade nesse momento, promovendo as lutas no Vice-Reino do Prata e no Chile pela independência, o argentino José de San Martin. Este também tinha interesse em levar a sua luta até o Alto Perú.


O encontro entre os dois grandes líderes ocorreu em Guayaquil. Bolívar não pretendia fazer concessões a San Martin (imagem acima), que antes de participar das guerras de independência lutou a serviço da Espanha e era monarquista. Dizia-se que pretendia convidar um príncipe Bourbon da Europa para governar a América do Sul. Os detalhes dessa reunião nunca serão completamente conhecidos e durante um jantar oferecido por Bolívar ao ilustre convidado, San Martin abandonou subitamente a festa. O caminho ficou aberto para Símon Bolívar, com a ajuda de seu mais fiel general, Antonio José de Sucre, conquistar o Perú e o Alto Perú em 1825, região que depois teria o nome de Bolívia em homenagem a ele. A Espanha estava definitivamente derrotada. 
Simón Bolívar planejava uma confederação na América do Sul reunindo os estados independentes e de uma liga que serviria para arbitrar os conflitos territoriais, estabelecer princípios comuns para os novos estados e a defesa das jovens nações. Para colocar em prática o projeto, Bolívar convidou delegados de todas essas nações e também dos Estados Unidos e da Inglaterra para uma reunião no Panamá em 1826. O congresso foi um fracasso e as novas nações estavam mais preocupadas em tratar de suas desavenças internas, algo que preocupava o próprio Bolívar, pois a Grã-Colômbia estava dividida na luta entre o general Santander e o llanero Páez. 
Para restaurar a ordem na Grã-Colômbia, Bolívar passou a defender soluções mais autoritárias, afirmando: "Sem força, não há virtude". Com isso, distanciava-se cada vez mais dos outros líderes liberais e caminhava para a defesa de um poder mais despótico. A sua própria segurança pessoal encontrava-se ameaçada. Em 25.09.1828 escapou de uma tentativa de assassinato em Bogotá com a ajuda de sua mulher Manuela Sáenz que distraiu os assassinos para dar tempo a Bolívar de fugir e se esconder em um buraco. O general Santander estaria envolvido nesse atentado e foi exilado. 
Em 08.05.1830, Bolívar renunciou ao comando político e em seguida foi expulso da própria Venezuela pelo novo governo instalado em Caracas. O Libertador estava com a saúde debilitada pela tuberculose e emocionalmente abalado pelos dissabores da situação política. Um mês antes de morrer afirmou: "A América é ingovernável. Os que servem à revolução aram o mar. A única coisa a fazer na América é emigrar."
No dia 17.12.1830, Símon Bolívar faleceu em uma propriedade no litoral da Colômbia. Doze anos depois seus restos mortais foram levados de volta para Caracas, quando o ódio que seus inimigos nutriam contra ele se dissipou. Os líderes crioulos assumiram o lugar dos antigos governantes espanhóis e a Inglaterra preencheu o vazio econômico deixado pela Espanha. As haciendas avançaram sobre as antigas terras comunais dos índios e estes ficaram privados de seus meios de sustento. A escravidão ainda perdurou por muitos anos, apesar do discurso de liberdade proclamado por Bolívar. 


Atualmente, a figura de Simón Bolívar inspira a política venezuelana voltada para uma maior justiça social, proclamada pelo falecido presidente Hugo Chávez, que em 2012 mostrou ao mundo o resultado do trabalho de exumação de seus restos mortais e da reconstituição computadorizada daquilo que seria o seu verdadeiro rosto (imagem acima). 
Por sua vez, o famoso filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), pai do socialismo científico, não deixou uma visão tão heroica do ilustre "Libertador". Marx foi contratado em 1857 por Charles Dana, diretor do jornal "New York Daily Tribune" para escrever artigos a respeito de história militar, biografias e outros temas para a "New American Cyclopaedia" e daí veio o verbete sobre Simón Bolívar. Na descrição feita pelo filósofo, Bolívar se acovardou em várias batalhas que poderiam ter sido decisivas e entregou o general Francisco Miranda aos espanhóis apenas para livrar-se do mesmo e não por este ter traído a causa da independência. Dado à vida boêmia (neste aspecto todos os estudiosos concordam), ao comportamento despótico, ditatorial e centralizador, Bolívar teria atraído contra si a indignação de seus compatriotas. Marx também dá a entender que o apoio da legião britânica foi pelo menos tão importante para o desfecho da guerra de independência quanto a liderança de Bolívar. O texto de Marx ficou perdido e foi redescoberto apenas em 1935. Será que esses pontos de vista são argumentos fortes para uma revisão da figura do Libertador?
Uma boa iniciativa do governo venezuelano foi abrir para o público o acervo de documentos de Bolívar, que podem ser consultados pela internet. O acesso está na coluna "Links Interessantes" do blog História Mundi.
A Imagem Histórica de hoje (mais ao alto) é uma pintura a óleo de 1829 retratando Bolívar, extraída da coleção História em Revista 1800-1850: a força da iniciativa, da editora Abril/TimeLife, publicada em 1992, página 92. Não há indicação da autoria da obra. 
Para saber mais:
O Libertador: A Vida de Simón Bolívar, de Moacir Werneck de Castro. Editora Rocco, 1988. (edição esgotada).
Simón Bolívar por Karl Marx:
www.marxists.org/portugues/marx/1858/mes/bolivar.htm

Crédito das imagens:
Casa de Bolívar em Caracas: Simón Bolívar. Col. Os Grandes Líderes. Nova Cultural, 1987, p. 46.
Imagens da hacienda e de Napoleão Bonaparte: Coleção História em Revista 1800-1850: a força da iniciativa. Abril/Time Life, 1992, páginas 87 e 8 respectivamente. 
Retratos de Humboldt e San Martin: Wikipédia.
Retrato de Francisco Santander: História das Civilizações, vol. V. Editora Abril, 1975, p. 16. 
Imagem computadorizada de Bolivar: www.simonbolivar.gob.ve









terça-feira, 23 de abril de 2013

Anúncio Antigo 28: Raquel Welch



Um dos ícones femininos da década de 1960, a atriz norte-americana Raquel Welch. Uma norte-americana em cujas veias corre o sangue boliviano, pelo lado paterno. Seu nome verdadeiro não soa tão sensual como pode sugerir a foto do anúncio acima: Jo Raquel Tejada. Nascida em 1940 na cidade de Chicago nos Estados Unidos, filha do boliviano Armando Carlos Tejada Urquizo, engenheiro que emigrou de La Paz, capital da Bolívia, aos 17 anos de idade. Sua mãe, Josephine Sara, era norte-americana. 
Em sua juventude, Raquel Welch ambicionava a carreira de bailarina, mas o seu instrutor lhe disse que o seu corpo não era apropriado para essa atividade. Após vencer um concurso de beleza, aos 18 anos de idade, Raquel começou a procurar a carreira de atriz e adotou o sobrenome de seu primeiro marido, James Welch. 



Com o fim do casamento, Raquel Welch trabalhou como modelo e realizou pequenas pontas em filmes e seriados de televisão, entre os quais "A Feiticeira" e "O Homem de Virgínia" e ainda atuou com o cantor Elvis Presley em "Carrossel de Emoções" em 1964, em outra pequena ponta (na foto acima, feita para promover o filme de Elvis, Raquel Welch é a segunda a partir da direita, de vestido azul). 
Finalmente, após participar em um modesto filme de praia chamado "A Swingin' Summer" em 1965 (os chamados "filmes de praia" faziam muito sucesso entre o público adolescente na década de 1960 nos Estados Unidos) a atriz ganhou uma oportunidade nos estúdios da 20th. Century Fox e no ano seguinte fez um papel de destaque no ficção científica "Viagem Fantástica". As portas do sucesso foram abertas para Raquel Welch.


No mesmo ano, Raquel apareceu na produção inglesa "One Million Years B.C.", cuja trama, como o próprio título sugere, era ambientada na Pré-História e mostrando a atriz em um biquíni feito de pele de animal. A imagem da atriz com esse traje (foto acima) rodou o mundo e transformou Raquel Welch em uma verdadeira  "sex symbol". Nas décadas de 1960 e 1970 a foto virou poster e podia ser encontrada em qualquer loja de discos de vinil ou salões de beleza enfeitando as paredes. A beleza estonteante de Raquel Welch fazia parte do imaginário masculino daqueles tempos.


Em 1969, a atriz atuou no faroeste "100 Rifles", onde fez cenas de sexo (não explícitos, claro) com um ator negro, Jim Brown, algo inédito no cinema norte-americano até aquele momento. O escândalo provocado na conservadora sociedade americana contribuiu para que o filme não fosse bem nas bilheterias (na imagem acima, o ator Jim Brown e a atriz Raquel Welch, em uma foto promocional do filme).
Em termos artísticos, muito pouco podemos destacar da filmografia da atriz. Como acontece com a maior parte das atrizes que tem como grande destaque o belo corpo, sua época passou rápido. Na metade da década de 1970, Raquel Welch já era um símbolo do passado e participava de filmes e especiais de televisão como uma figura completamente datada e vinculada aos agitados tempos da década de 1960. 
O Anúncio Antigo de hoje, com a famosa marca de sabonetes para a qual já posaram outras atrizes também famosas, como Jane Fonda, Ursula Andress e Michele Pfeifer, foi publicado na Revista Realidade de setembro de 1968, na página 52.
Foto da agtriz no filme "One Million Years B.C.": www.instyle.com
Foto de Raquel Welch ao lado de Elvis Presley: elviswomen.greggers.net
Foto de Jim Brown e Raquel Welch no filme "100 rifles": Os Anos 60: A Década que Mudou Tudo. Edições Veja, 1970 (data provável), pag. 55.