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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

História Mundi também no Facebook



Caro (a) leitor (a), no Facebook você poderá encontrar fotos e imagens das postagens feitas em nosso blog, com informações pontuais a respeito dos acontecimentos históricos, sejam eles antigos, não tão antigos ou mesmo contemporâneos. Afinal, é difícil avaliar a importância de um determinado evento aos olhos da história. Muitas vezes é o próprio historiador, com a sua capacidade de escrita, argumentação e embasamento nas fontes, que irá atribuir a um acontecimento o rótulo de histórico. Várias dessas imagens não foram aproveitadas em nossas postagens ou poderão servir de ponto de partida para uma, como a cena acima, mostrando João Goulart e Tancredo Neves (ao centro e à direita respectivamente) em 1961, durante a implantação do regime parlamentarista de governo no Brasil (Goulart presidente e Tancredo primeiro-ministro). 
Certos de continuarmos a ter a sua presença, desejamos a todos um excelente 2019!!!!!
História Mundi no Facebook:
https://www.facebook.com/histormundi/
Crédito da imagem: Fotograma do documentário "Os Anos JK" de Sílvio Tendler, 1980, Seleções DVD. 

domingo, 30 de dezembro de 2018

Anúncio Antigo 59: a novela "A Cabana do Pai Tomás"



Sim, a teledramaturgia brasileira fez isso, em pleno auge da luta pelos direitos civis no mundo, na década de 1960: escalar um ator branco para viver um personagem negro e escravo. Com direito a maquiagem para escurecer a pele! Tal fato ocorreu na novela "A Cabana do Pai Tomás", exibida pela Rede Globo de Televisão entre 7 de julho de 1969 e 28 de fevereiro de 1970. A mesma era em preto-e-branco (não existia televisão em cores no Brasil). Foi a sexta novela do horário das sete horas da noite na emissora, com um total de 204 capítulos, da qual este que vos escreve guarda algumas lembranças e cujo lançamento aparece no Anúncio Antigo de hoje (imagem acima). A emissora coloca em seu site Memória Globo, um argumento aparentemente decisivo para recorrer a esse lamentável artifício. O patrocinador, no caso a Colgate-Palmolive, teria imposto essa alternativa, apesar da grande disponibilidade de atores afrodescendentes que poderiam perfeitamente interpretar o papel. Uma escolha meio óbvia já naquela época era Milton Gonçalves, o qual, aliás, acabou por participar da novela, porém não no papel título. O conhecido ator Sergio Cardoso, recém chegado da TV Tupi (emissora concorrente da Globo naquele momento), assumiu o personagem do escravo Tomás e mais outros dois: Dimitrius e, pasmem, Abraham Lincoln! 


Para viver o personagem negro, Sergio Cardoso além de pintar o rosto e parte do corpo, usava peruca e rolhas no nariz a fim de alterar o formato deste (na foto acima, o ator vivendo o personagem Tomás). Tudo isso gerou uma grande polêmica e um dos primeiros a levantar a questão na imprensa da época foi o também ator, escritor e teatrólogo Plínio Marcos, na coluna diária que escrevia no jornal Última Hora de São Paulo. Em várias oportunidades ele protestou contra esse recurso, o qual, em todos os aspectos, acabava por remeter ao racismo e ao preconceito contra atores negros em nossa televisão. Na época, a esses profissionais eram reservados os papéis de cozinheiros, empregados (as) domésticos (as) ou escravos (as). E isso, desde que não fosse o personagem principal! Sergio Cardoso tentou justificar-se, por meio de uma declaração, que tornou-se uma emenda a prejudicar ainda mais o soneto: "Tenho vários amigos de cor que são como meus irmãos; tenho afilhados pretinhos que amo como se fossem meus filhos." Na visão dele, pintar o rosto de negro era apenas fazer a caracterização de um personagem e como algo desafiador para um ator, não uma discriminação racial. 


A novela, escrita inicialmente por Hedy Maia, Glória Magadan e Walther Negrão, foi uma adaptação do conhecido romance Uncle Tom's Cabin (traduzido em português como "A Cabana do Pai Tomás") da escritora (e professora) estadunidense Harriet Beecher Stowe (foto acima), publicado em 1852. A obra impulsionou a propaganda pela causa da abolição da escravidão nos Estados Unidos e foi um enorme sucesso de vendas naquele país, perdendo apenas para a Bíblia e à frente de outro exito literário, "Ben-Hur" de Lew Wallace. Traduzido para várias línguas, o romance fez sucesso na Inglaterra e em vários países da Europa. Na verdade, tratava-se do ponto de vista do norte a respeito da escravidão, uma vez que a autora era proveniente do estado de Connecticut. O trabalho compulsório foi uma das questões que levou à Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão (1861-1865), dividindo os Estados Unidos entre nortistas (favoráveis à extinção do trabalho escravo) e sulistas (fazendeiros que desejavam a manutenção da escravidão). A contribuição da obra de Harriet Beecher Stowe para a causa abolicionista foi reconhecida pelo próprio presidente Abraham Lincoln. Apesar disso, muitos críticos apontaram, mais tarde, que os personagens escravos eram estereotipados, como o próprio Tom, bonzinho demais, submisso e apegado a fé cristã, pois sempre levava consigo uma Bíblia. 



A história gira em torno do escravo Tom (no original Uncle Tom) vendido por seu proprietário, Arthur Shelby, do estado do Kentucky, em função do mesmo ter várias dívidas, embora não fosse essa a sua vontade (na cena acima da novela, Tom aparece com a esposa Chloé, à esquerda). Tom é levado para Nova Orleans (no sul do estado da Luisiana), onde o seu novo dono chegou a lhe prometer a liberdade. No entanto, este é assassinado e Tom é vendido pela viúva a um perverso fazendeiro de algodão (principal produto do sul dos Estados Unidos, na época), Simon Legreé, que o castiga constantemente, sobretudo quando Tom presta socorro a outros escravos, como por exemplo a jovem Cassie. Tom ajudou-a a fugir para o Canadá, onde não havia escravidão. Posteriormente, Cassie foi para a França e finalmente para a Libéria, na costa ocidental da África (país que surgiu sob os auspícios do governo estadunidense para abrigar ex-escravos e libertos). Para o velho Tom e sua esposa Chloé, a ajuda do filho de seu primeiro dono (Arthur Shelby), George Shelby, educado na companhia e amizade do velho escravo, surgiu como uma possibilidade de emancipação. Bem, não vamos revelar aqui o final da história, caso o caro (a) leitor (a) tenha interesse em ler a obra.



Voltemos então à novela, que sofreu algumas adaptações em relação ao livro, mais palatáveis ao público daqui. Tom virou "Tomás" e o Uncle substituído por "Pai", aliás como na própria tradução do livro para o português (acima, Tomás e sua mulher Chloé, vivida por Ruth de Souza). 



Outros personagens foram introduzidos. Foi o caso de Dimitrius, que como já mencionamos, também era interpretado por Sérgio Cardoso. Por que tal personagem? Para fazer um contraponto aos rudes fazendeiros escravagistas, Dimitrius foi inspirado no famoso Rhett Butler, o herói burguês e esperto de "E o Vento Levou" da escritora Margareth Mitchel (na foto acima, Dimitrius ao lado do personagem Pierre Saint Clair, vivido por Paulo Goulart). 


A mulher de Tomás, Chloé, foi interpretada pela conhecida e premiada atriz Ruth de Souza, uma das que abriram as portas do nosso cinema e televisão para atores afrodescendentes (na foto acima, a atriz e Sergio Cardoso na novela). A indicação para o papel vivido por Ruth teria partido do próprio Sergio Cardoso. Aliás, vale lembrar que Ruth de Souza defendeu o ator na polêmica com Plínio Marcos, ainda antes da estreia da novela, como mostra uma entrevista da atriz à revista Intervalo (da editora Abril, nº 334, página 12). Na mesma, Ruth de Souza afirmou: "Não vejo razão para reclamação. Há muita gente querendo defender o negro, enquanto ele, na realidade, não pediu defesa nenhuma." 



Nas gravações algumas dificuldades tiveram que ser superadas. As cenas em que os personagens vividos por Sergio Cardoso apareciam juntos, eram gravadas em separado para depois serem montadas, pois a tecnologia da época não permitia imagens simultâneas de um mesmo ator (na foto acima, Tomás ao lado do cruel Mr. Legris, vivido por Edney Giovenazzi).



"A Cabana do Pai Tomás" foi tida, na época, como a produção mais cara da televisão brasileira, muito em função de ser uma novela de época, ambientada em um contexto histórico e geográfico diferente do nosso. Os figurinos exigiram enorme trabalho das 40 costureiras que criaram 150 trajes para a produção, como podem ser observados nas fotos acima (com as atrizes Jacyra Silva e Miriam Mehler, as duas em primeiro plano, respectivamente de cima para baixo). 
Dois estúdios foram montados em São Paulo para a produção da novela. A logística exigida pelas gravações externas foi difícil. Por exemplo, para reproduzir o ambiente das fazendas de algodão do sul dos Estados Unidos, foi encontrada na região de Campinas (SP) uma propriedade que poderia ser utilizada nas locações. Contudo, a colheita do algodão teve de ser antecipada para que as gravações pudessem ser feitas a tempo. O número de figurantes chegava a superar uma centena. 


Da mesma forma, uma embarcação (que aparece na foto acima, ao lado do ator Sérgio Cardoso), semelhante àquelas utilizadas no rio Mississipi, foi disponibilizada para as cenas em que os escravos eram levados para outros lugares. E ainda, segundo informações divulgadas nas revistas de televisão da época, um rio teria sido congelado para as cenas passadas no inverno. Infelizmente, este que vos escreve não conseguiu obter maiores informações de como se procedeu a essa incrível transformação. O que posso dizer aos leitores (as), por meio de minha própria lembrança é que, de fato, na novela existiam cenas passadas na neve, e que esta assemelhava-se muito à espuma de sabão em pó. 
Contudo, um fato inesperado quase colocou tudo a perder. No dia 13 de julho de 1969, a explosão de um frasco inflamável ocorrida atrás dos cenários do programa Sílvio Santos (que na época, trabalhava na Globo) deu início a um incêndio. De acordo com Rixa, autor do livro "Almanaque da TV: 50 anos de memória e informação" (Editora Objetiva, 2000), em apenas cinco minutos o edifício da TV Globo, localizado na Rua das Palmeiras (bairro de Santa Cecília, no centro de São Paulo) foi consumido pelas chamas e junto os dois estúdios de gravação da novela "A Cabana do Pai Tomás". Um acervo valiosíssimo de programas, filmes e desenhos animados foi perdido (inclusive o conhecido seriado nipônico "Nacional Kid"), além dos vinte capítulos iniciais da novela em questão, como também nove capítulos de "A Rosa Rebelde" e dois capítulos de "A Ponte dos Suspiros". Toda a produção de "A Cabana do Pai Tomás" foi transferida às pressas para o Rio de Janeiro, onde teve que dividir o estúdio com as duas telenovelas citadas. Roupas, figurinos e até mesmo a peruca utilizada por Sérgio Cardoso para interpretar o personagem Tomás, foram perdidas e tiveram que ser refeitas. 



No Rio de Janeiro a produção foi retomada a toque de caixa para que os capítulos fossem levados ao ar sem interrupção (na foto acima, gravação de uma cena). O diretor Fábio Sabag, com problemas de estafa, foi substituído por Daniel Filho, o qual afirmou em uma entrevista à revista Sétimo Céu, em setembro de 1969, que as gravações chegavam a durar 15 horas seguidas, sendo que, às vezes, varavam a noite a fim de completar um capítulo. Qualquer atraso poderia comprometer a exibição da novela, uma vez que cada capítulo tinha 25 minutos de duração e levava de dois a três dias para ser gravado. 



Ao todo, a novela teve cinco roteiristas, inclusive o próprio Sérgio Cardoso, que deu várias sugestões para o andamento da trama, a qual, ao final, assemelhava-se mais a um faroeste, de acordo com Walter Negrão. Este último ainda contou que um dos atores, Gésio Amadeu, um escravo colocado no tronco e que deveria morrer no primeiro capítulo, o procurou pedindo que não o tirasse da trama, pois ele necessitava ganhar o seu cachê por pelo menos mais um mês. Sensibilizado, Walter Negrão atendeu ao seu pedido, salvando-o das chicotadas!



Ruth de Souza (foto acima) afirmou, em entrevista, que algumas atrizes mostraram-se insatisfeitas por ela ter o seu nome na frente dos créditos da abertura, mesmo tendo papel importante como a mulher de Tomás. Mais uma evidência de como o racismo é algo palpável em nossa sociedade e até mesmo, no meio artístico. 
A novela não correspondeu às expectativas da emissora, não apenas devido aos contratempos, mas também às dificuldades de assimilação por parte do público, de uma história muito distante de nossa realidade. Além disso, sofreu a concorrência de um grande sucesso da TV Tupi, "Nino Italianinho", que ganhava audiência enorme junto ao público de origem italiana, como a novela "Antônio Maria" (personagem aliás, vivido pelo próprio Sérgio Cardoso) havia obtido junto aos descendentes portugueses. A TV Globo encerrava o ciclo das novelas de época e passou a buscar tramas mais relacionadas à nossa realidade, sobretudo nos textos de Janet Clair e Dias Gomes. 
O recurso do ator Sérgio Cardoso de escurecer o corpo para representar um personagem, não foi mais utilizado? Em termos! Por exemplo, a atriz Sônia Braga, para viver a Gabriela do romance de Jorge Amado na novela de 1975, recorreu a uma tintura na pele para que parecesse morena e de acordo com a personagem (ver neste blog a postagem "A novela Gabriela: versão 1975").
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado no jornal O Estado de S. Paulo, do dia 18 de maio de 1969, na página 28. 
Crédito das imagens:
Foto da escritora Harriet Beecher Stowe: Wikipédia.
Fotos em cores de Sérgio Cardoso e Ruth de Souza, de Sérgio Cardoso com a corrente e das fotos relacionadas aos figurinos: Revista Sétimo Céu, nº 162, setembro de 1969, páginas 36, 37, 38 e 39. Disponível em:
http://revistaamiga-novelas.blogspot.com/search/label/A%20CABANA%20DO%20PAI%20TOM%C3%81S
Foto de Sergio Cardoso e Ruth de Souza abraçada a ele colorida (e a frase atribuída ao ator, justificando o papel):
https://virtualia.blogs.sapo.pt/20263.html
Fotos de Tomás com os demais escravos, de Dimitrius e Pierre Saint Clair e de Tomás com Mr. Legris:
http://enriquetv.blogspot.com/2016/03/a-cabana-do-pai-tomas-novelas-classicas.html
Foto de Sérgio Cardoso com o livro e tendo o barco ao fundo:
http://astrosemrevista.blogspot.com/2012/02/sergio-cardoso-na-tv-globo.html
Imagem da gravação em cena do barco:
http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/a-cabana-do-pai-tomas.htm

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Imagens Históricas 40: a primeira foto de uma figura humana



Muitos acontecimentos ocorridos na história podem ser caracterizados como sendo "a primeira vez". Por exemplo, a primeira fotografia a registrar a presença de uma figura humana. Pois é o que a imagem histórica de hoje nos revela. A foto é de 1838 e mostra o Boulevard du Temple, no centro de Paris, nos primórdios do desenvolvimento do processo fotográfico. Um indivíduo está no canto inferior esquerdo (imagem acima) e, ao que parece, está tendo os seus sapatos engraxados por outra pessoa, menos perceptível. E vejam que curioso, exatamente por isso esse cidadão apareceu na foto, por ter permanecido ali por aproximadamente dez minutos. Naquela época, o tempo de exposição para se obter uma imagem em uma placa de metal, depois transformada em foto, era exatamente esse. Em razão disso, temos a impressão de que a rua está deserta, o que é um engano, pois as demais pessoas não permaneceram paradas por tanto tempo. 



A autoria da foto coube a Louis-Jacques-Mandé Daguerre ou simplesmente Louis Daguerre (1787-1851), pintor (de cenários de ópera) e físico francês, pioneiro da fotografia ao introduzir o processo que levou o seu nome: daguerreótipo (acima, Daguerre em uma foto feita pelo processo criado por ele mesmo, de 1844). Pioneiro, pois antes dele, o também francês Nicéphore Niépce havia feito aquela que é considerada a primeira fotografia, de uma paisagem, em 1826. Contudo, o seu processo exigia aproximadamente oito horas de tempo de exposição para se obter a foto e a imagem não era de boa qualidade. Daguerre, que praticamente trabalhou junto a Niépce, continuou os seus experimentos após a morte deste e desenvolveu uma nova técnica, reduzindo o tempo de exposição. A imagem era fixada em uma placa de cobre banhada com iodeto de prata, formando uma superfície espelhada e sensível, colocada dentro de uma caixa escura. Após deixar cair (acidentalmente), mercúrio (de um termômetro) sobre uma dessas placas, Daguerre descobriu que poderia revelar as imagens com maior rapidez, com pouco mais de vinte minutos de exposição. Nessa etapa, era difícil tirar fotos de pessoas, pois as mesmas tinham que ficar imóveis por todo esse tempo. Contudo, o procedimento foi aprimorado, com a melhora das lentes e na sensibilidade das placas (com o uso de brometo de prata ou cloreto de prata) reduzindo ainda mais o tempo de exposição. Com isso, as fotos de pessoas tornaram-se mais comuns, inclusive de indivíduos mortos, que eram vestidos e colocados em cadeiras ou sofás e fotografados junto à família. Era a forma encontrada de se ter a imagem guardada do ente querido. 


Louis Daguerre não patenteou a nova técnica, optando ao invés disso, em receber uma pensão vitalícia do governo francês (na foto acima, um daguerreótipo original). Por isso, o seu aperfeiçoamento se disseminou rapidamente pelo mundo, inclusive aqui no Brasil, através do imperador D. Pedro II, um entusiasta da fotografia. Os tempos da Primeira Revolução Industrial foram cheios de novidades, as quais, na segunda metade do século XIX, pareciam não ter mais fim. Trata-se de algo nunca visto pela humanidade até então...
Crédito das imagens: Wikipédia. 

sábado, 22 de dezembro de 2018

Mensagem de Boas Festas e Feliz 2019


Nossa tradicional mensagem de final de ano atrasou, mas chegou! Então vamos a ela, sem maiores delongas.



Houve uma época...


em que o conhecido grupo musical sueco ABBA, patrocinava (ou apenas estampava o seu nome) uma equipe de Fórmula 1 (na imagem acima, carro da escuderia ATS de 1980, do piloto sueco Slim Borgudd, com a estampa do grupo musical);


em que a atriz francesa Brigitte Bardot veio ao Brasil dar o ar de sua graça (foto acima) e disse: Adorei a revolução de vocês (era o ano de 1964); 


em que os programas de televisão tinham de mostrar o certificado da Censura Federal antes de serem exibidos, bem como a restrição de horário, no tempo da Ditadura Militar (na imagem acima, o certificado da novela "Gabriela" exibida pela TV Globo em 1975);


em que o rei do rock Elvis Presley, recebia uma jornalista brasileira para dar entrevista (na foto acima, Dulce Damasceno de Brito, dos Diários Associados e revista O Cruzeiro, entrevista Elvis, no intervalo das filmagens de "Ama-me com Ternura" em 1956);


em que Hitler desejava, apenas, ser um artista plástico (na imagem acima, pintura em aquarela de Adolf Hitler de uma igreja de Viena, capital do antigo Império Austro-Húngaro, assinada na parte inferior à direita e datada de 1912);


em que uma "natureza morta" era apenas motivo temático para um artista pintar um quadro (na foto acima, montagem de uma natureza morta para ser pintada); 


em que a apresentadora Xuxa Meneghel interpretava uma prostituta, que seduzia um garoto pré-adolescente (na imagem acima, o cartaz reproduzido na antiga Iugoslávia, do filme "Amor, Estranho Amor" dirigido por Walter Hugo Khouri em 1982);


em que os norte-americanos imaginavam o Pão de Açúcar e o morro da Urca na cidade do Rio de Janeiro, bem diferente do que os mesmos, de fato, eram (na imagem acima, publicada em um jornal do Estado de Michigan em 1891); 


em que o grande compositor Dorival Caymmi tocava violão para o cineasta norte-americano Orson Welles (na foto acima, os dois em 1942, quando Welles veio ao Brasil filmar o documentário inacabado It's all true); 


em que a nudez podia ser admirada sem tanto preconceito ou moralismo (na imagem acima, um desenho de modelo vivo feito por este que vos escreve, em 2002).

Por essas e por outras, é que, apesar de tudo, contínuo gostando de estudar história. Um ótimo Natal e excelente 2019 para todos!!!!!!!!!!!!

Crédito das imagens:
Foto de Dulce Damasceno com Elvis: blog História Mundi.
Pão de Açucar imaginado pelos norte-americanos: jornal "The true northerner", Paw Paw, Michigan, 30 de dezembro de 1891. 
Fotos de Briggite Bardot, certificado da Censura Federal e a aquarela de Hitler: Pinterest.
Carro de Fórmula 1 com a estampa do grupo Abba:
https://www.treta.com.br/10-patrocinadores-bizarros-da-formula-1?fbclid=IwAR3XuYtDNuGH0EqJDQ8kOphVPzsPYVc4Vc1Yhcv55TSlmVPKZSWFkCFK2wg
Foto de uma "natureza morta" e desenho de modelo vivo: acervo do autor.
Foto de Dorival Caymmi com Orson Welles:
http://www.jobim.org/acervo/handle/2010.0/2710
Cartaz do filme "Amor, Estranho Amor" na antiga Iugoslávia:
https://www.cinematerial.com/movies/amor-estranho-amor-i83552/p/iiabzoqv

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Imagens Históricas 39: carta de alforria



Bem, não é exatamente uma imagem, mas sim um documento, ou melhor, a imagem de um documento. Ah, não importa! O que interessa é que estamos diante de uma legítima carta de alforria (emancipação) concedida a uma escrava, através da qual a mesma passava a ser considerada uma liberta (imagem acima). A carta data de 1º de janeiro de 1871 e está selada. Sabemos apenas que a mulher atendia pelo nome de Matildes e que os seus pais prestaram ao Seminário do Caraça (localizado no município de Catas Altas, Minas Gerais) relevantes serviços, o que contribuiu para que a alforria lhe fosse concedida. Sabe-se que naquela instituição eram poucos os escravos, mas o documento comprova que existiam. Também é sabido que a construção da igreja em estilo neogótico (tida como a primeira do Brasil nesse padrão arquitetônico) a partir de 1876, contou com trabalhadores livres (portugueses, espanhóis e brasileiros), pois nessa época, os escravos do Caraça haviam sido libertados. A carta de alforria acima parece indicar isso.



Por outro lado, conhecemos bem mais a respeito de quem assinou a referida carta concedendo liberdade a Matildes. Trata-se de Antônio Ferreira Viçoso (foto acima, sem data), nascido em Portugal no ano de 1787. Em 1811, ingressou na Congregação da Missão, ordem religiosa de padres missionários fundada por São Vicente de Paulo, na França, no início do século XVII. Os padres que faziam parte da instituição ficaram conhecidos como "vicentinos" ou "lazaristas", uma vez que a Casa da Congregação chamava-se Casa de São Lázaro (situada em Paris). 


Junto com outro padre lazarista, Leandro Rebelo Peixoto, Antônio Viçoso veio ao Brasil em 1819 e recebeu do próprio rei de Portugal, Dom João VI, a missão de encaminhar e organizar o Santuário do Caraça (foto acima), praticamente abandonado após a morte de seu fundador, o Irmão Lourenço. Coube aos dois padres a implantação de um Colégio naquele local, que ficou conhecido no século XIX pela qualidade do ensino ministrado e também na formação de sacerdotes. 
Mais tarde, em 1844, pelo dispositivo previsto na Constituição do Império, conhecido como Padroado (direito de conferir benefícios eclesiásticos), o imperador do Brasil Dom Pedro II, indicou Antônio Ferreira Viçoso para ser bispo da diocese de Mariana (MG). Dom Viçoso, como passou a ser conhecido, reestruturou o Seminário (escola para a formação de sacerdotes) de Mariana, o qual, por algum tempo, foi transferido para o Caraça em função de uma epidemia de varíola. Dom Viçoso foi também um dos primeiros representantes do movimento ultramontano (palavra que significa "além das montanhas") no Brasil, que visava recuperar a autoridade papal e a primazia de Roma em assuntos relacionados à fé. Em termos concretos, uma resposta da Igreja Católica ao avanço das doutrinas liberais e ao nacionalismo europeu, na segunda metade do século XIX. A família imperial brasileira esteve muito vinculada a essa corrente, como por exemplo, a Princesa Isabel. 
Em 1868, Dom Pedro II concedeu a Dom Viçoso o título de Conde de Conceição, que aliás aparece no documento acima, após a sua assinatura. Além disso, recebeu também do imperador duas outras comendas (honrarias), a Imperial Ordem de Cristo e a Imperial Ordem da Rosa. Dom Viçoso faleceu em 1875 e seu nome foi encaminhado, um século depois, para o processo de beatificação e canonização. Uma etapa importante para o mesmo foi obtida em 1986, quando Dom Viçoso passou a ser considerado pela Igreja Católica, "Servo de Deus". 
Uma última curiosidade. Duas cidades mineiras tem os seus nomes relacionados ao do bispo: Dom Viçoso e Viçosa. 
Crédito das imagens:
Carta de alforria e foto do Caraça: Guia do Arquivo Histórico do Caraça de Leandro Araújo Nunes (coordenador). Belo Horizonte: Lastro, 2008, páginas 45 e 27 respectivamente.
Foto de Dom Viçoso: https://patrimonioespiritual.org/2016/03/19/santuario-de-nossa-senhora-mae-dos-homens-caraca-catas-altas-mg/

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Coleção "Os Pensadores"



Mais uma ótima notícia para todos aqueles que acompanham o nosso blog. Temos outra série de livros disponíveis para download na internet. Trata-se da coleção "Os Pensadores", publicada pela Editora Abril, a partir do ano de 1973. A primeira edição, conhecida por sua capa azulada e desenhos em dourado (imagem acima), continha 52 volumes e mais 4 adicionais, com resumos da vida e obra de cada pensador. Em edições posteriores, esses resumos acabaram sendo incorporados aos respectivos volumes de cada filósofo. Trata-se de uma coleção que vêm sendo reeditada em várias oportunidades nos últimos 45 anos (pelo que pudemos apurar, oito edições), infelizmente com a tendência de reduzir a quantidade de volumes (consequentemente a quantidade de filósofos), mas que já faz parte da nossa tradição dentro das ciências humanas. 
Sem dúvida, a primeira das disciplinas a agradecer a existência dessa coleção é a filosofia (palavra que originalmente significa "amor ao saber"). Porém, todas as demais são de uma forma ou de outra contempladas, como as ciências políticas, a história, a sociologia, a antropologia, a economia, entre outros campos do conhecimento. Praticamente todos os estudantes da área de humanidades das grandes universidade tiveram, de uma forma ou de outra, contato com pelo menos dois ou três volumes da conhecida coletânea. Afinal de contas, esses filósofos têm exercido influência no pensamento da humanidade há pelo menos 2.500 anos. 



Entre os nomes contemplados na coleção temos Platão, Sócrates, Aristóteles, Maquiavel, Thomas Hobbes, Voltaire, Rousseau, Marx, Nietzche, Heidegger só para ficar nos mais conhecidos (nas imagens acima, Maquiavel e Heidegger respectivamente). 
Talvez a observação maior a ser feita, em relação à coletânea de "Os Pensadores", deve-se ao  fato da mesma restringir-se exclusivamente ao pensamento ocidental. Nada a respeito de Confúcio, Lao-Tsé, Buda, Averróis, entre outros. Da mesma forma que existiu um volume referente aos Pré-Socráticos, poderia, minimamente, ter existido outro (ou outros) sobre estes últimos pensadores. De qualquer forma, a seleção proposta fez história, em que pese algumas traduções não serem de excelente qualidade. Mas pensemos (seguindo o título proposto para a coleção), há 45 anos não era possível exigir demais. 
Uma recomendação aos navegantes. Ao entrar na página, aproxime o mouse sobre o volume desejado e espere aparecer os três pontinhos, pois os mesmos darão a opção de abrir, como por exemplo, apenas no modo leitura ou em pdf. Tenha um pouco de paciência para esperar o volume ser baixado. Os livros disponíveis fazem parte de uma reedição do início da década de 1980. A Coleção "Os Pensadores" fará parte de nossos Links Interessantes e poderá ser acessada pelo leitor no seguinte endereço: 
https://mega.nz/#F!NklEVJYY!qfznnm8WAOF6oARZ9VN9oA
Crédito das Imagens:
Capa da 1ª edição de "Os Pensadores": Wikipédia.
Imagens de Maquiavel e Heidegger: História Ilustrada da Filosofia de Martyn Oliver. São Paulo: Editora Manole Ltda., 1998, páginas 60 e 126 respectivamente. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Mapas Históricos



Todos aqueles que acompanham o blog História Mundi devem ter percebido que, eventualmente e quando a nossa disponibilidade de tempo permite, lançamos postagens referentes a mapas. Claro, dando destaque aos mapas de época e que possam ser utilizados na pesquisa histórica. Foi o caso do mapa da América de Sebastian Münster, da Tábua Peutinger, do mapa de Cantino, do mapa Vinland, entre outros (acima, o mapa Terra Brasilis de 1519). Os estudos referentes a esses documentos cartográficos se constituem em fontes de informações para os historiadores, pois revelam não apenas o conhecimento que se tinha do espaço geográfico, como também nos ajudam a entender e a decifrar a mentalidade de uma determinada época, as concepções políticas e militares que acabaram sendo incorporadas às cartas cartográficas e até mesmo, para a história da arte, pois muitos estudiosos enxergam tais documentos do ponto de vista técnico e artístico. Em várias ocasiões cartas cartográficas sobreviveram ao tempo ou foram conservadas por serem vistas como se fossem quadros ou pinturas!
Pois bem, pensando nisso, este que vos escreve empreendeu uma pequena varredura pela internet e pode localizar vários sites que permitem o acesso a esses mapas por meio de seu computador, tablet ou celular. Entre essas páginas virtuais, encontramos o "Mapas Históricos". Neste caso, devemos fazer um esclarecimento. Um mapa antigo pode ser uma carta cartográfica de época ou concebido dentro de um espaço de tempo que permite atribuir ao mesmo a sua condição de documento histórico. Por exemplo, a Tábua Peutinger embora refletisse a concepção de mundo da época do Império Romano, foi copiada na Idade Média, muitos séculos depois do fim do Império. 


O mapa da antiga Província de São Paulo de 1886 (imagem acima) feito para a Sociedade Promotora da Imigração, insere-se também nesse caso. As indicações das ferrovias e das linhas de navegação (sim, um dia isso existiu em São Paulo) tinham por finalidade orientar a direção dos imigrantes europeus que chegavam para trabalhar nas fazendas de café. Já um mapa histórico pode ser uma carta cartográfica feita nos dias de hoje para reconstituir um determinado evento de uma civilização ou cultura de outros tempos. Por exemplo, os livros de história estão repletos de mapas indicando as rotas dos viajantes na Expansão Marítima dos séculos XV e XVI, feitos com base na concepção atual que temos do mundo. 


O site Mapas Históricos mostra-se interessante por contemplar as duas possibilidades, com mapas antigos e mapas históricos, podendo-se até fazer comparações, como no caso do mapa de Cantino de 1502 e um mapa atual, ambos mostrando o litoral norte da América do Sul (imagem acima). Útil e interessante para os estudantes do Ensino Médio, Superior e em várias áreas das ciências humanas, o site permite salvar e reproduzir os mesmos em trabalhos ou apresentações de seminários. 
O blog História Mundi reforça o seu compromisso de ser uma ferramenta para os estudiosos ou curiosos em geral. Em função disso, o Mapas Históricos estará, a partir de agora, disponível na coluna Links Interessantes.
Para ver e consultar:
http://www.mapas-historicos.com/

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Imagens Históricas 38: o rinoceronte Cacareco



Na verdade um rinoceronte fêmea de 230 quilos (imagem acima), que pertenceu ao Zoológico do Rio de Janeiro (na Quinta da Boa-Vista) e emprestado ao Zoológico de São Paulo (na Água Funda) para a inauguração deste, que ocorreu no dia 16 de março de 1958, com a presença do governador Jânio Quadros. Este último intercedeu pessoalmente junto às autoridades cariocas para que o animal fosse trazido. Cacareco foi o primeiro rinoceronte nascido no Brasil, no próprio zoológico do Rio, tendo por pais o casal de rinocerontes Terezinha e Britador. Tratava-se de um carioca legítimo. O animal ganhou notoriedade na mídia da época e rapidamente caiu na simpatia da população. Em uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo do dia 26 de outubro de 1958, oito meses após a abertura do zoológico paulista, consta que o Cacareco foi escolhido em uma enquete, como o bicho mais popular da instituição, entre mais de 300 outros animais. Em função disso, os cariocas começaram a reclamar a volta do animal e os paulistas a sua permanência. Na antiga capital do Brasil, os estudantes organizaram uma petição para a devolução do rinoceronte, em uma mobilização que ficou conhecida como "o Cacareco é nosso". 



Em 4 de outubro de 1959, ocorreu a eleição para a Câmara Municipal (vereadores) da capital paulista e aí não deu outra. Os eleitores resolveram aclamar o Cacareco nas urnas! Vamos lembrar ao caro leitor (a), que na época as cédulas eleitorais eram preenchidas com o nome do candidato (ou o seu número). Mais de 100 000 votos foram dados ao bicho (segundo estimativas), uma enormidade na época. Mesmo hoje tal votação elegeria com folga um vereador. Claro, esses votos foram considerados nulos. Para se ter uma ideia, a votação do animal foi superior ao do partido mais votado, que foi de aproximadamente 95 000 votos. O fato inusitado ganhou destaque até na imprensa internacional, com uma matéria no jornal The New York Times. Outro jornal novaiorquino, o World Telegram and Sun, em editorial de primeira página, afirmou de forma irônica, que a eleição de um rinoceronte não era surpreendente, uma vez que Nova Iorque, nos últimos anos, vinha elegendo "asnos" para o seu Conselho Municipal (equivalente à Câmara de Vereadores). O humorista Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do jornalista Sérgio Porto) escreveu no jornal Última Hora, que vários membros do Partido Social Progressista (PSP) andaram depois sondando o Cacareco, para ocupar a vaga de Adhemar de Barros (o "rouba, mas faz") como futuro candidato! Já o então presidente Juscelino Kubitschek deu uma declaração mais sóbria: "Não sou intérprete de acontecimentos sociais e políticos. Aguardo as interpretações do próprio povo". 



Bem, após a eleição, a popularidade do animal cresceu ainda mais, a ponto de ser lançado um boneco de brinquedo (e de enfeite!), pela mais conhecida indústria do ramo, a Brinquedos Estrela (anúncio acima). O fato ainda inspirou várias músicas para o carnaval de 1960, sendo a mais conhecida a marchinha interpretada por Risadinha, "Cacareco é o maior", composta por Francisco Ferraz Neto (o Risadinha) e José Roy. Para os interessados, a mesma pode ser encontrada no Youtube. 


Cacareco teve de ser devolvido ao Zoológico do Rio de Janeiro em outubro de 1959, dias antes da própria eleição e não pode acompanhar as apurações que o consagraram. Voltou mais gordo após a sua estada de quase dois anos em terras paulistas, pesando 300 quilos (na foto acima, Cacareco no Zoológico de São Paulo). Contudo, em dezembro de 1962, Cacareco veio a óbito, vitimado por nefrite (inflamação de rim) aguda. Morreu muito jovem, com apenas 8 anos (os rinocerontes costumam viver mais de 50). 


Os seus restos mortais acabaram sendo levados de volta para São Paulo em 1984 e desde então, estão exibidos no Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (imagem acima). 
Em 1963 surgiu no Canadá um partido que homenageava o rinoceronte Cacareco: The Rhinoceros Party (Partido do Rinoceronte). O mesmo teve existência até 1993 e tinha o animal como guia espiritual. Este que vos escreve guarda lembranças do Cacareco em sua tenra infância. Minha mãe, dona Olívia, sempre se referia a um objeto inútil que estava ocupando espaço em casa, como sendo um "Cacareco". Ao que parece, essa designação para "coisa velha" já era usada muito antes do animal fazer sucesso. Triste destino dado ao bichinho, que tão boas lembranças deixou na memória de muitos eleitores. Algumas fontes dizem que a proposta de lançar o animal como candidato a vereador teria sido do jornalista Itaboraí Martins, em função do péssimo nível dos 450 candidatos concorrentes na época. Muitos afirmam que se tal proposta surgisse hoje, seria necessário disponibilizar o zoológico inteiro...
Crédito das imagens: 
Primeira foto do Cacareco: Agência Estado.
Segunda foto do Cacareco: Coleção Nosso Século. 1945/1960: A Era dos Partidos. São Paulo: Abril Cultural, 1980, página 288.
Cacareco no Zoo de São paulo: Pinterest. 
Anúncio do brinquedo Cacareco da Estrela: jornal O Estado de São Paulo de 25 de outubro de 1959, página 5. 
Foto dos restos do animal: Wikipédia. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O mapa da América de Sebastian Münster



O primeiro mapa a mostrar o continente americano de forma exclusiva, separado das demais extensões territoriais e datado do ano de 1540. Eis o trabalho do grande mestre da cartografia (ciência voltada para a elaboração de mapas) da primeira metade do século XVI: Sebastian Münster. Nascido na antiga Alemanha (Sacro Império Romano-Germânico) em 1488 (ou 1489, segundo outras fontes), Münster foi autor da Cosmographia, obra editada em 1544, que continha valiosas informações sobre o mundo conhecido e desconhecido (segundo as concepções da época), publicada em seis línguas. 


Além de cartógrafo, Sebastian Münster (acima retratado pelo pintor Christoph Amberger em 1552) foi também matemático e linguista, professor de hebraico da Universidade de Heidelberg e depois na Basileia (Suíça), onde chegou em 1529. Portanto, um humanista (intelectual) típico dos tempos do Renascimento Cultural, no início da Era Moderna. No ano de 1528 elaborou um detalhado mapa da Alemanha, feito com contribuições de viajantes e eruditos. Münster tornou-se o primeiro cartógrafo a fornecer mapas exclusivos para cada um dos quatro continentes conhecidos (como neste mapa que apresentamos) e também o primeiro a imprimir em separado um mapa da Inglaterra. A maior parte das suas cartas cartográficas foram publicadas em xilogravuras (impressão a partir de uma matriz feita em madeira) por artistas de grande renome, entre eles, Hans Holbein, o Jovem. Por isso, além do valor informativo, os mapas também despertaram o interesse de colecionadores, na condição de verdadeiras obras de arte.
Mas, voltemos ao documento em questão. Antes do mapa da América de Münster, as cartas cartográficas acompanhavam a tese de Colombo, de que a América era parte do continente asiático ou da Índia (daí o nome que Colombo deu aos nativos: índios). Depois que essa concepção foi deixada de lado, a grande ambição dos primeiros exploradores da América era a de alcançar uma passagem para o oceano Pacífico, que levasse ao Extremo Oriente e às especiarias (temperos e produtos orientais de grande valor na Europa). 


Mesmo neste mapa de Münster, o Oriente não aparece tão distante, como mostra a localização de "Zipangri" ou Japão (no detalhe acima), próximo da costa oeste do que hoje são os Estados Unidos. Um detalhe, este foi o primeiro mapa a utilizar o termo "Mare Pacificum" para designar o oceano Pacífico. 


Apesar de representar o então chamado Novo Mundo separado, Sebastian Münster parece localizar alguns pontos ou cidadelas orientais no continente americano. É o caso de "Catigara" (no detalhe acima), muito provavelmente situada no Sudeste Asiático (península da Malásia), mas que neste mapa aparece na costa leste da América do Sul. Münster talvez acreditasse que o Oceano Pacífico fosse uma extensão do Índico. 


Na parte referente ao Brasil (detalhe acima), uma pira ou fogueira com pedaços de corpos humanos ocupa uma boa parte desse território, uma referência à prática do ritual da antropofagia (ingestão da carne humana dos inimigos capturados), por parte de algumas populações nativas (não todas, é claro). O desenho é acompanhado do termo "Canibali". Na porção sul do continente, está registrado o Estreito de Magalhães e o Reino dos Gigantes. O navegador português Fernão de Magalhães (que deu nome ao estreito) registrou a presença de índios de tamanho incomum na região da atual Patagônia (sul da Argentina).



Na América Central Caribenha, várias ilhas já estavam identificadas, como Cuba, Hispaniola (hoje Haiti e República Dominicana), Jamaica e um erro, "Iucatana", que na verdade é a península de Iucatã (México atual) e não uma ilha como está representada no mapa (detalhe acima). Ah, a "Terra florida" no sul da América do Norte, é o atual estado norte-americano da Flórida. 
Uma carta cartográfica com o que de melhor se sabia, até aquele momento, a respeito do novíssimo continente americano (novíssimo do ponto de vista do europeu) e que serviu de base para outros mapas posteriores. Foi nesse documento, literalmente, que a América apareceu no mapa...
Crédito das imagens:
Pintura retratando Sebastian Münster: Wikipédia.
Mapa de Sebastiam Münster e os seus detalhes: A América do Sul e o Brasil no Mapa: a cartografia no rastro dos exploradores ibéricos de Kevin James Brown. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2018, página 6.