Segundo nos relata o historiador Nicolau Sevcenko (no Capítulo 7 do livro História da Vida Privada no Brasil, volume 3, Companhia das Letras, 1998), até o final do século XIX, os rapazes e as moças, principalmente da capital Rio de Janeiro (cidade mais exposta à moda e costumes ocidentais), cobriam o corpo da cabeça aos pés com paletós, calças, chapéus e vestidos, além de evitarem sair nos horários em que o sol era mais intenso, a fim de preservar a pele com tom mais esbranquiçado, pálido e até funéreo. Isso representava um sinal de distinção social, de apego maior ao lar e à atividade intelectual, além de mostrar à sociedade que tais indivíduos não necessitavam trabalhar ao ar livre, de sol a sol, algo que era reservado às classes subalternas e aos escravos (ao menos até a Lei Áurea em 1888).
Contudo, a inserção do Brasil no contexto do mundo industrializado e dos avanços tecnológicos do século XX alterou de forma significativa esse cenário. O advento do automóvel foi uma dessas transformações, que fez com que as pessoas passassem a ter maior contato com a natureza e começassem a sair mais ao ar livre. Os banhos de mar passaram a ser recomendados como uma forma de manter o corpo saudável. A pele mais bronzeada (sem escurecer demais) mostrava uma aparência de saúde e beleza física. Da mesma forma, todo um arsenal de pós, loções, pomadas, cremes, sabonetes, xampus e emplastros surgiram para manter uma aparência de maior disposição. Em função disso, os banheiros tiveram que se tornar mais amplos, a fim de dar conta dessas novas funções voltadas para a manutenção do aspecto físico. A associação entre saúde e corpo se desenvolve ainda mais com o estímulo às práticas esportivas, como a natação e o remo, surgindo nas primeiras décadas do século XX os famosos clubes de regatas, que depois incluiriam também o futebol. Para as mulheres e os idosos eram recomendadas ainda as visitas às estâncias hidrominerais, para o tratamento da pele, dos pulmões e dor na coluna. O automóvel facilitou o acesso a algumas delas, como Poços de Caldas e São Lourenço, no sul de Minas Gerais.
Essa maior valorização do corpo influenciou no vestuário, pois as partes da anatomia que antes estavam cobertas, agora começavam a ser colocadas mais à mostra, como os braços, os pés e no caso das mulheres, os seios. E estes tinham que apresentar formosura e beleza. Na linha dos produtos estéticos que começaram a surgir, tivemos as pomadas e as pílulas para aumentar os seios, tornando-os mais "formosos", como se costumava dizer nas décadas de 1920 e 1930. Nesta seção, já tivemos a oportunidade de mostrar os anúncios das pomadas (ver Anúncio Antigo 12) e agora temos as "Pilulas Orientais", provenientes de Paris (cidade que na época era sinônimo de moda e beleza). O produto parece ter a aprovação do Departamento Nacional de Saúde Pùblica (DNSP), como aparece no próprio material de propaganda. Era eficaz? Bem, se fosse talvez tivesse permanecido até os dias de hoje. Mas, sem dúvida, as próteses de silicone tem se mostrado mais úteis do que esses antigos fármacos. Eficaz, eficaz mesmo, é aquilo que a natureza criou e que não requer retoques artificiais, nem para os homens e nem para as mulheres, pois a beleza é algo que encanta também pela diversidade.
O Anuncio Antigo acima foi publicado na antiga Revista Feminina, edição de setembro de 1929, página 19.