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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Imagens Históricas 43: os reis Luís XVI e Luís XVIII ainda crianças



Duas crianças que tiveram os seus destinos profundamente influenciados por um dos grandes acontecimentos da história da humanidade: a Revolução Francesa. Do lado direito temos o duque de Berry, que depois se tornou o rei Luís XVI. Sim, o monarca que foi guilhotinado na Grande Revolução, no ano de 1793. Ao seu lado, à esquerda, está o irmão, conde de Provence, mais tarde Luís XVIII, que se tornou rei da França após a queda de Napoleão Bonaparte e a restauração da monarquia em 1815. Os dois eram netos do rei Luís XV, portanto legítimos integrantes da Dinastia Bourbon, que governava a França desde o final do século XVI. Outro irmão desses meninos, o conde de Artois, veio também a se tornar rei da França, com o título de Carlos X. O quadro acima é de autoria do pintor François-Hubert Drouais (1727-1775), especialista em retratos durante a fase final do reinado de Luís XV, que durou de 1715 a 1774. O trabalho foi feito em 1757. 



O prestígio e a qualidade do trabalho de Drouais o fez tornar-se o retratista da alta aristocracia e dos integrantes da corte de Luís XV, inclusive de uma jovem princesa austríaca recém chegada ao Palácio de Versalhes: Maria Antonieta (acima, retrato de Maria Antonieta com 18 anos, feito por Drouais em 1773). Drouais recebeu os primeiros ensinamentos na arte da pintura com o seu pai Hubert Drouais e mais tarde aprimorou o seu ofício com outros mestres, entre eles Charles-André van Loo, Charles-Joseph Natoire e François Boucher. 




Drouais gostava de inserir os seus retratados em paisagens campestres e ficou conhecido entre as grandes damas da época pela riqueza de detalhes que impunha aos vestidos. Por isso, as mesmas recorriam ao que tinham de melhor no guarda-roupa para as poses com o artista, entre elas Madame Pompadour e Madame du Barry, as amantes mais famosas de Luís XV (acima, Luís XV e Madame du Barry, em pinturas de Drouais). Além disso, o artista realçava a beleza e a sensualidade das mulheres agregando à pele das mesmas uma fina e sutil camada de tinta branca, numa época em que ninguém imaginava a invenção da fotografia e muito menos os recursos do atual photoshop. Portanto, ser retratado (a) por François-Hubert Drouais virou uma exigência da moda na alta nobreza francesa de meados do século XVIII. Fica evidente que os trabalhos do artista estavam vinculados à elite do Antigo Regime francês, já em sua fase de declínio.
Para aqueles que imaginam que o quadro que apresentamos mais acima, em nossas Imagens Históricas, seja difícil de se ver ou acessível apenas aos que adentram no Museu do Louvre ou no Palácio de Versalhes, ambos em Paris, uma boa notícia: o mesmo faz parte do acervo permanente do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Aos que residem na cidade de São Paulo, como este que vos escreve, fica bem mais fácil apreciar essa obra de perto e para os demais, recomendo que quando visitarem a capital paulista, não deixarem de ir a esse museu. O acervo do MASP é um dos mais importantes do mundo...
Crédito das imagens: 
Quadro com o duque de Berry e o conde de Provence quando crianças: Museu de Arte de São Paulo. Coleção Museus Brasileiros - 3. Rio de Janeiro: Edição Funarte, 1981, página 49. 
Retratos de Madame du Barry e Luís XV: Visitar Versailles. Château de Versailles, 2019, páginas 66 e 156 respectivamente. 
Retrato de Maria Antonieta: Wikipédia. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Vizir: o cavalo de Napoleão Bonaparte




A pergunta clássica que ouvimos desde os tempos de infância: qual a cor do cavalo branco de Napoleão? Possivelmente o equino chamado Vizir não se enquadre perfeitamente no aspecto da cor, embora quando vivo, o animal tivesse pelos esbranquiçados e fosse cinza claro (nas fotos acima, o cavalo Vizir). Dezenas de outros cavalos gozaram do prestígio de servir ao governante francês e muitos deles eram brancos. Contudo, Vizir é o único que se encontra preservado no Musée de l'Armée (Museu das Forças Armadas, localizado no antigo Hospital dos Inválidos) em Paris. O cavalo está empalhado e pode ser visto de perto por todos os que visitam a instituição. 


Vizir nasceu em 1793 e era um cavalo árabe inteiro, isto é, não castrado (acima, Vizir em uma pintura de Pierre Martinet, artista que retratou vários cavalos que pertenceram a Napoleão). Originário da Península Arábica no Oriente Médio, o cavalo árabe chegou na Europa durante a expansão muçulmana ocorrida na Idade Média, sendo reconhecido pela sua resistência, agilidade e velocidade. Por isso, foi muito utilizado nos combates de cavalaria. 
O sultão do Império Turco Otomano, Selim III, ofereceu o cavalo como presente a Napoleão Bonaparte e depois o mesmo foi treinado nos estábulos imperiais, juntamente com mais 130 cavalos que Bonaparte utilizou ao longo de 14 anos. Entre eles encontrava-se Marengo (nome de uma das batalhas travadas por Napoleão), que foi retratado na célebre pintura de Jacques-Louis David, "Napoleão atravessando os Alpes". Marengo tinha a cor branca (ao menos nos quadros) e acabou capturado pelos ingleses, que guardam o seu esqueleto até hoje. Na verdade, Napoleão Bonaparte estava longe de ser um exímio cavaleiro e começou a montar por necessidade prática, a fim de comandar os soldados nas batalhas. Por ser baixo, Napoleão tinha preferência por cavalos de pequeno porte, como o Vizir.


Na perna esquerda desse cavalo podemos encontrar a marca "N" e a coroa imperial (foto acima), símbolos de Napoleão (que foi coroado imperador da França em 1804). 



O  cavalo Vizir participou das batalhas de Iena e Eylau, entre 1806 e 1807, contra os exércitos prussiano (alemão) e russo, no auge do poderio militar francês (no quadro acima, de Jean Baptiste Édouard Detaille, Napoleão montado em seu cavalo na Batalha de Iena). Vizir acompanhou Bonaparte por 12 anos, inclusive no exílio temporário na ilha de Elba (próxima à Itália) em 1814. Após o Governo dos Cem Dias (que marcou o retorno do imperador francês ao poder) e a derrota final na Batalha de Waterloo, Napoleão Bonaparte e seu cavalo Vizir foram separados. Nunca mais se reencontraram em vida. 


Bonaparte foi conduzido pelos vencedores ingleses para a ilha de Santa Helena, a meio caminho entre o Brasil e a África, onde veio a falecer em 1821 (acima, detalhe de Napoleão abdicando em Fontainebleau, do pintor Paul Delaroche, 1855). O grande herói dos tempos revolucionários e da burguesia emergente deixou as suas marcas por onde passou, sobretudo o Código Civil (ou Código Napoleônico) no qual institucionalizou os lemas da Revolução Francesa, como o direito à propriedade e a igualdade perante a lei. 
Após a morte de Napoleão, a trajetória do cavalo Vizir ainda sofreria algumas reviravoltas. Em primeiro lugar porque ele resistiu mais cinco anos após o desaparecimento de seu dono, morrendo em 1826 com 33 anos de vida. Os restos do cavalo acabaram sendo preservados por taxidermistas (empalhadores) por ordem de um oficial francês chamado León de Chanlaire. A fim de proteger a relíquia diante do ambiente político desfavorável a Napoleão, no auge da restauração da monarquia na França, Chanlaire enviou o animal empalhado para a Inglaterra. Para realizar a viagem, o Vizir foi esvaziado e dobrado, sendo depois recomposto para ser exibido no museu da cidade inglesa de Manchester. 



Posteriormente, com a ascensão de Napoleão III (sobrinho do primeiro Napoleão), Vizir retornou à França. Após a queda deste último no decorrer da Guerra Franco-Prussiana (entre franceses e alemães) em 1871, Vizir foi levado para os depósitos do Museu do Louvre em Paris, onde ficou guardado por mais de 30 anos, até ser redescoberto e incorporado ao Musée de l'Armée em 1905, onde está até hoje. Reparem como as reviravoltas da política interferem até mesmo na vida (e pós-vida) dos cavalos! 


O cavalo encontra-se na mesma instituição que abriga o túmulo de seu famoso dono, no Duomo dos Inválidos (foto acima). Portanto, Vizir e seu amo descansam praticamente juntos e podem ser observados por todos os interessados em conhecer melhor a história militar francesa no Musée de l'Armée...
Crédito das imagens:
Pintura de Pierre Martinet: 
https://fr.wahooart.com 
Batalha de Iena: Wikipédia (em inglês).
Demais imagens: acervo do autor. 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Luís XIV e o absolutismo na França



Um monarca cuja importância política fez com que fosse simbolicamente comparado ao Sol, o astro que a tudo ilumina e que por isso permite a própria vida, daí a designação dada ao mesmo de Rei-Sol. Luís XIV (1638-1715) se tornou modelo para os demais reis da Era Moderna que lhe sucederam, no momento em que a autoridade real se fortaleceu diante dos conflitos resultantes do enfrentamento entre o velho e o novo, isto é, a antiga ordem feudal e a sociedade burguesa, que emergia a partir dos escombros da época medieval (na foto acima, busto do rei Luís XIV executado por Antoine Coysevox). Muito se discutiu e se discute a respeito da natureza do Estado absolutista, termo utilizado posteriormente pelos seus críticos para qualificar essa forma de monarquia, em contraposição ao modelo político liberal. Nas palavras do historiador Perry Anderson, a monarquia absolutista foi um instrumento de dominação feudal reforçado, uma nova armadura a qual a velha nobreza recorreu a fim de sobreviver diante da emergente burguesia e que também visava reforçar as amarras sobre o campesinato. Portanto, o grupo dominante continuou a ser a aristocracia feudal e por isso, uma das características peculiares do absolutismo era o exercício da guerra, herdada da nobreza de espada (ou nobreza de raiz), a mais tradicional, que surgiu em meio às conquistas militares da Idade Média. Na opinião de Anderson, o rei jamais se colocou como árbitro entre os grupos sociais em conflito (nobreza e burguesia) como afirmou o pensador socialista Friedrich Engels, uma vez que o Estado absolutista (de certa forma um termo impróprio, pois nunca existiu um poder completamente absoluto) representava, em última instância, os interesses aristocráticos. 
Antigo Regime é outro conceito associado à monarquia absolutista e ao período anterior ao das grandes revoluções dos séculos XVIII e XIX. Contudo, nas últimas décadas, muitos historiadores distinguiram esses dois conceitos, sobretudo quando a analise abrange a Península Ibérica dos tempos modernos. Nem sempre o Antigo Regime, enquanto corpo social e jurídico, pode ser identificado a uma monarquia de tipo absolutista, pois muitos consideram que tal governo não chegou a se estruturar em países como Portugal e Espanha, uma vez que a nobreza manteve as suas prerrogativas sob a forma de governos locais, inclusive nos territórios de além-mar (colônias), formando nesses lugares uma aristocracia local (nobreza da terra). Segundo o historiador João Fragoso, tais hipóteses levaram a um questionamento a respeito do conceito de Estado absolutista, em favor da hipótese da monarquia que encabeçava o corpo social, cujas partes manteriam a sua capacidade de autogoverno dentro de um complexo monárquico amplo. 



De qualquer forma, em outros reinos europeus o conceito de absolutismo encontra comprovação ao observarmos a forma de atuação e de organização dos governos (na foto acima, conjunto de armaduras para infante e cavaleiro, de meados do século XVI). Tal modelo de monarquia evoluiu nos séculos XVI, XVII e XVIII em meio à expansão da economia capitalista, porém dentro de um corpo social ainda dominado pela organização de tipo feudal (camponeses submetidos ao pagamento de tributos aos nobres) e onde predominavam os privilégios aristocráticos de nascimento. Apesar de ter essa característica, as ações do absolutismo proporcionaram os meios para o desenvolvimento dos grupos mercantis ao abolir as barreiras ao comércio (pedágios locais); estabelecendo tarifas contra os produtos estrangeiros e evitando a concorrência destes; criando meios para o investimento de capitais e claro, patrocinando as navegações, a colonização e exploração dos novos territórios (América, África e Ásia). Enfim, à medida que essa política econômica (chamada posteriormente de mercantilismo), ajudou a fortalecer a monarquia, também impulsionou o capitalismo e a ascensão de uma nova classe social, a burguesia. 


A partir do século XVI, muitas monarquias da Europa procuraram se cercar de uma burocracia confiável e especializada em assuntos cruciais, como as finanças e a guerra. Além disso, todo um ritual simbólico foi estabelecido (ou consolidado) com o intuito de legitimar a autoridade real associando o monarca a Deus (como seu representante na Terra) ou como já afirmamos, à figura do Sol, centro do sistema planetário, exatamente como ocorreu na França de Luís XIV (na imagem acima, uma alegoria com o rei associado ao Sol). 


A manifestação mais notória do absolutismo francês foi a construção do maior palácio do mundo ocidental, pouco prático, mas que serviu para mostrar até onde poderia chegar a majestade e a magnificência do poder real: Versalhes (na foto acima, os portões dourados do palácio). 
A monarquia centralizada emergiu em uma França dividida pelas lutas religiosas do século XVI, entre católicos e protestantes, onde o fortalecimento do poder real tornava-se uma necessidade, porém difícil de ser concretizado em função das questões envolvendo os reis e a resistência da tradicional nobreza em ter a sua autoridade restringida. Ao contrário do que já havia ocorrido em alguns Estados europeus, como Portugal e Espanha, os conflitos internos da França ainda necessitavam ser superados para que esse reino pudesse se impor diante de seus rivais, já empoderados pela Revolução Comercial advinda das Grandes Navegações. O mais grave desses conflitos foram as Guerras de Religião de meados do século XVI (anos de 1500), envolvendo católicos e huguenotes, designação dada aos protestantes franceses do ramo calvinista (corrente do reformador João Calvino), nos tempos iniciais da Reforma Religiosa. A Liga Católica conseguiu reunir boa parte da nobreza e cercava-se da proteção real, pois a monarquia francesa, por tradição, também era católica. Os católicos mais influentes viam os protestantes como um poder paralelo que necessitava ser enquadrado ou até mesmo destruído. Já os huguenotes formavam um grupo mais heterogêneo, com parte da nobreza, a ascendente burguesia e artesãos urbanos dentro de suas fileiras. O conflito ganhou contornos de guerra civil, sobretudo após a morte do rei Henrique II e a regência de Catarina de Médicis (da conhecida família Médicis de Florença, na Itália). 


O pior momento desse confronto ocorreu em 24 de agosto de 1572, no episódio conhecido como A Noite de São Bartolomeu, quando quase 3 mil protestantes foram assassinados nas ruas de Paris e outros 20 mil nas demais localidades da França (na imagem acima, detalhe de uma pintura de François Dubais mostrando o massacre). A própria regente católica Catarina de Médicis ficou associada a esse massacre, como patrocinadora da intolerância religiosa. 
A ascensão de Henrique de Navarra ao trono possibilitou o início de uma política de compromisso, a fim de deter a guerra civil e o transtorno econômico gerado pela mesma. Apesar de sua origem protestante, Henrique converteu-se ao catolicismo a fim de ser aceito como rei pelo reduto ultra-católico de Paris. Para justificar a nova opção, Henrique de Navarra teria dito uma frase famosa: "Paris vale uma missa!" 




Com o título de Henrique IV, o rei inaugurou a famosa dinastia (ramo familiar) Bourbon e foi o responsável pelo Edito (decreto) de Nantes de 1598 (nas imagens acima, armadura que pertenceu a Henrique IV e o documento original do Edito de Nantes), dando aos huguenotes liberdade religiosa e o direito de se defenderem de novos ataques católicos mantendo redutos militares, como a fortaleza de La Rochelle. Ao mesmo tempo, procurou reorganizar a economia por meio de seu ministro, o huguenote Sully, que fez aumentar as receitas do Estado através da venda de cargos, pratica que ficou conhecida pelo nome de paulette (derivado do financista Charles Paulet, que a propôs). Posteriormente esses cargos foram tornados hereditários mediante o pagamento de uma percentagem anual à Coroa. A multiplicação desses funcionários nos governos seguintes fez surgir a nobreza togada (por utilizarem a toga dos juízes) na burocracia do Estado francês. Mesmo assassinado por um fanático católico em 1610, Henrique IV deixou alicerces institucionais aos seus sucessores.


Sem ter a firmeza política do pai, além de taciturno e gago, Luís XIII assumiu o reinado com apenas nove anos, razão pela qual sua mãe, Maria de Médicis tornou-se regente durante a sua menoridade, que durou até 1617 (acima, armadura que pertenceu ao menino e depois rei Luís XIII). A rainha-mãe tentou ao máximo exercer o controle sobre a monarquia por meio de uma facção "italiana" dentro da corte, obrigando Luís XIII a exclui-la de seu convívio em várias ocasiões. Em meio a essa disputa é que tivemos a ascensão do cardeal Richelieu como primeiro-ministro, que passou a exercer, na prática, o controle do governo francês. E isso num momento crucial, com o início da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), envolvendo inicialmente o Sacro Império Romano Germânico sob controle da Dinastia Habsburgo e o reino da Boêmia (atual República Tcheca) onde o protestantismo tinha enorme influência. O conflito se alastrou pela Europa com a entrada da França, que tentou conter o poder dos Habsburgos, o que levou também à guerra contra a Espanha. 



Os exércitos que atuavam em favor do Sacro Império eram formados por tropas mercenárias, as quais, sem distinção precisa dos lados em conflito, se dedicavam aos saques (na imagem acima, o saque de uma granja, em desenho do artista francês Jacques Callot feito em 1633). As maiores vítimas eram os camponeses, que tinham suas terras invadidas, suas casas queimadas, suas famílias afetadas por toda a sorte de violências, sobretudo roubos e estupros.



O cardeal Richelieu aproveitou a Guerra dos Trinta Anos para retomar as fortalezas controladas pelos protestantes dentro da França (inclusive La Rochelle). Além disso, despachou funcionários para as províncias, os intendants (intendentes), para fazer valer os interesses da Coroa (nas imagens acima, retrato de Richelieu por Philippe de Champaigne e armadura original do cardeal). A coleta de tributos por esses agentes aumentou, inclusive como forma de sustentar a guerra. A perda de poder político por parte da alta nobreza foi em parte compensada com a ratificação de seus privilégios sociais. Como teria afirmado Luís XIII: "Nada me é mais grato do que fazer tudo quanto possa para proteger os meus nobres". 



Luís XIII (acima retrato do rei por Philippe de Champaigne) vivia o desgosto de não conseguir gerar um herdeiro para o trono, o que despertou rumores a respeito de sua sexualidade (seria bissexual), além de nutrir um profundo sentimento de misoginia (aversão ao sexo feminino). Apenas em 1638, cinco anos antes da morte do rei, a rainha Ana de Áustria deu a luz ao delfim (herdeiro do trono), mas havia a suspeita de que Luís XIII não fosse o pai biológico. Sem assistir ao final da Guerra dos Trinta Anos, o cardeal Richelieu faleceu em 1642. No ano seguinte, Luís XIII também morreu. 



Outro cardeal assumiu as rédeas do governo na condição de primeiro-ministro, o italiano Giulio Mazarino, a quem coube dirigir as negociações celebradas na Paz de Westfalia, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos (acima, retrato de Mazarino por Philippe de Champaigne). O império Alemão foi desmantelado em mais de 300 principados independentes e a França saiu fortalecida no novo quadro político da Europa. Contudo, o conflito com a Espanha perdurou até 1659. 



O novo rei Luís XIV teve um reinado longo, que durou 72 anos, de 1643 a 1715, tornando-se o monarca que mais tempo ocupou o trono na história da Europa (na imagem acima, o rei Luís XIV aos 10 anos, em pintura de Henri Testelin). Por ter apenas 5 anos, como aconteceu com o seu finado pai, ocorreu a etapa de regência materna de Ana de Áustria. Contudo, quem de fato controlava o governo (Conselho Real) era o cardeal Giulio Mazarino, a ponto de se suspeitar que ele e Ana de Áustria tivessem contraído um matrimônio secreto e de que o cardeal fosse, na prática, um padrasto de Luís XIV. 


Por outro lado, não se pode de forma alguma desprezar a firmeza de Ana de Áustria em deixar para o filho uma monarquia forte, sobretudo nos primeiros anos do reinado que foram difíceis (acima, retrato de Ana de Áustria por Rubens). A alta nobreza se opunha ao processo de centralização do poder iniciado por Richelieu, através do Parlamento de Paris (que reunia nobres e o alto clero). A política fiscal voltada para o financiamento das guerras também teve relação com um levante conhecido pelo nome de Fronda (do verbo francês fronde, um apetrecho utilizado para lançar pedras). As ameaças contra a família real obrigaram Luís XIV e a rainha-mãe a abandonarem o palácio do Louvre (na época residência da monarquia e hoje o famoso museu) em 1649. Vale lembrar que na Inglaterra, nesse mesmo ano, o desfecho da guerra civil entre o rei e o Parlamento levou Carlos I a ser decapitado (Revolução Puritana). Os nobres franceses juravam lealdade ao rei, mas não a Mazarino (e a rainha-mãe). 



Três anos depois, o conflito da Fronda foi controlado com apoio da nobreza provincial, mas parece ter deixado marcas no jovem rei, a ponto de manter criados dormindo aos pés de sua cama durante o sono, por temer atentados (acima, mármore de Luís XIV esmagando a Fronda, de Gilles Guérin, 1654). Quando Luís XIV completou 16 anos, em 1654, ocorreu a sua coroação e sagração, realizada na catedral de Reims, como mandava a tradição. Contudo, anos depois, em suas memórias, o rei afirmou que o ritual da sagração não o fizera rei, apenas o declarara rei. Mas a tradição o tornava uma figura santa (sagrada), tanto que, a partir daquele momento, o rei podia desempenhar o ritual do toque. Segundo essa crença, os reis franceses tinham o poder de curar uma doença de pele conhecida como escrófula (na verdade um termo impreciso para várias enfermidades), simplesmente tocando as vítimas e dizendo: "o rei te toca, Deus te cura". Dois dias depois de ser oficialmente coroado, o rei tocou 3 mil pessoas. 


Em 1659 foi estabelecida a Paz dos Pirineus, encerrando o longo conflito com a Espanha. Para selar o acordo foi acertado o casamento de Luís XIV com a filha de Filipe IV, Maria Teresa (acima, retratada pelo pintor Diego Velázquez). O rei espanhol, que era tio do monarca francês, passou também a ser o seu sogro. Logo depois de ter patrocinado esse arranjo diplomático, o cardeal Mazarino faleceu em 1661. Ao que tudo indica, Luís XIV foi orientado pelo mesmo no sentido de salvaguardar o governo diante de possíveis ameaças ou novas rebeliões. 



No dia da morte de Mazarino, o arcebispo de Rouen aproximou-se do rei de 23 anos e o questionou sobre o novo primeiro-ministro: "Majestade, a quem nos dirigiremos no futuro?". Luís XIV respondeu: "A mim" (acima, pintura de Luís XIV por Charles Le Brun, 1661). A figura do primeiro-ministro foi abolida e começava a etapa do governo pessoal do rei. Tal decisão contrariou as pretensões de Nicolas Fouquet, integrante da alta nobreza e tido como favorito à sucessão de Mazarino. Antes que este manifestasse qualquer reação, o rei armou uma cilada e mandou prende-lo em seu próprio reduto. A acusação formal era de uso indevido dos recursos da Coroa (algo que os nobres sempre fizeram). Fouquet permaneceu o resto da vida preso em um cárcere na Itália. 


No período da Guerra dos Trinta Anos, o Exército francês cresceu para mais de um quarto de milhão de soldados (acima, detalhe do rei Luís XIV pelo pintor Jean Garnier). Além disso, a venda de cargos (a já citada paulette) fez aumentar os funcionários da administração de doze mil no final do século XVI, para um número quatro vezes maior em 1660, tornando-se uma importante fonte de receitas para a Coroa. Os demais impostos também aumentaram. A maior parte dos tributos recaia sobre aqueles que não tinham origem aristocrática e não pertenciam ao clero (Igreja Católica), como por exemplo, a burguesia, os artesãos e sobretudo os camponeses, que formavam o Terceiro Estado, abaixo do clero e da nobreza, os quais constituíam o Primeiro e Segundo Estados, respectivamente. Entre os tributos mais importantes estavam as aduanas (alfândega), a gabelle (imposto sobre o sal) e a taille (cobrada sobre a terra). 



O número de servidores diretos do rei na corte também aumentou, de seiscentos no início de seu reinado para dez mil (acima, armadura que pertenceu a Luís XIV no Musée de L'Armée em Paris). Os intendants começaram a atuar com maior rigor, vigiando o cumprimento das decisões, tornando-se os "olhos, ouvidos e mãos de Luís XIV". 



Com relação à alta nobreza que ocupava os postos mais importantes por considerá-los um direito tradicional, o rei os dispensou afirmando que quando tivesse necessidade de seus bons conselhos, os chamaria. Nunca os chamou! No lugar destes, Luís XIV convocou indivíduos de origem burguesa, porém mais experimentados e preparados (acima, Luís XIV por Claude Lefebvre, 1670). No entanto, a palavra final cabia ao rei, fosse qual fosse o assunto. 


O ministro Jean-Baptiste Colbert (1619-1683) foi o responsável pela área das finanças e figura chave do governo, inclusive no que se referia às artes e à imagem pública do rei, como veremos adiante (acima, retrato de Coubert por Claude Lefèbvre). Colbert procurou estimular a construção naval, as manufaturas voltadas para a exportação (artigos de luxo) e fez as corporações de artesãos (grêmios) priorizarem a qualidade dos produtos e não apenas a quantidade. 



Sob a sua proteção, o atelier e escola de tapeçaria dos Gobelins foi elevado à condição de Manufatura Real (acima, detalhe de tapeçaria dos Gobelins retratando Luís XIV). Artesãos italianos (de Veneza) foram trazidos para aperfeiçoar a produção de vidro e espelhos. A fabricação de móveis sofisticados foi estimulada, como comprovou posteriormente a decoração do Palácio de Versalhes. Uma bebida ganhou destaque como produto de exportação: a champagne. Da mesma forma, a França começou a ficar conhecida em todo o mundo pelos seus perfumes. A crença na ideia de que a obtenção de ouro e prata era fundamental levou ao aumento na exportação de produtos caros, pois esses metais seriam obtidos às custas das outras nações que compravam os produtos franceses (como no caso da Espanha). De acordo com o filósofo inglês Francis Bacon, o aumento dessas riquezas seria alcançado "em prejuízo do estrangeiro", uma vez que "tudo o que se obtém em algum lado se perde em outro". 



Colbert implantou um sistema regular de contabilidade determinando os valores das entradas e dos gastos (na pintura acima de Henri Testelin, Luís XIV sentado é acompanhado por Colbert, de roupa escura, em visita à Academia Real de Ciências em 1666). Para cobrir a falta de investimentos em alguns setores, manteve com capital estatal várias fábricas (manufaturas reais). Da mesma forma, a Coroa sustentou as companhias privilegiadas de comércio, tanto na América como no Oriente. Tais medidas eram a essência daquilo que os economistas chamaram mais tarde de mercantilismo (ou colbertismo no caso francês). Essas providências visavam também ampliar a capacidade financeira do governo para equipar as forças militares utilizadas nas guerras. 
Já o comando militar foi entregue ao ministro Michel Le Tellier e depois ao filho deste, François-Michel Le Tellier, o marquês de Louvois. Os dois organizaram a maior máquina de guerra da Europa, de quase meio milhão de homens. Até então, os postos no alto comando militar eram privilégios dos nobres, recebidos por herança paterna. Muitos desses comandantes não reconheciam sequer obediência ao rei, sendo que "lutavam contra ele quase com a mesma frequência que por ele", como afirmou o historiador Charles Blitzer. Com Le Tellier foi estabelecida uma hierarquia piramidal, tendo no topo o próprio ministro. Abaixo deste encontravam-se os marechais que davam ordens aos generais, depois os coronéis e capitães. Como estes dois últimos cargos eram ocupados pela alta nobreza absenteísta (nem sempre presente nas batalhas), foram estabelecidos outros postos nomeados pelo governo para fazer a ligação com a tropa e, na prática, comanda-la. Assim, a cada coronel haveria um tenente-coronel e a cada capitão um lugar tenente, sendo estes oficiais treinados e capacitados na cadeia de comando, deixando os outros oficiais à vontade para usufruírem do prestígio de seus cargos. Além disso, foi criado o posto de intendente das armas (intendant de l'armée) para garantir o cumprimento das ordens e a probidade dos oficiais, algo absolutamente necessário. Os capitães, por exemplo, eram responsáveis pelo soldo (salário) das tropas e recebiam do governo a verba para uma companhia que não estava completa, colocando homens a mais apenas quando a tropa era passada em revista. Dessa forma, o capitão embolsava a verba destinada aos soldados, os quais, na prática, não existiam. A pena para esse tipo de embuste, aplicada pelo intendente, era a flagelação e o ferro quente de marcar para os homens que fingiam ser soldados, além da prisão para o capitão. 



Apesar dessas mudanças, o exército ainda era essencialmente mercenário ou um exército do Estado francês, mas não da França, como frisou Charles Blitzer (na pintura acima de Rene Antoine Houasse, Luís XIV a cavalo em 1679). Apenas a Revolução Francesa colocaria um termo a essa situação.



O Palácio de Versalhes, situado a cerca de 24 quilômetros de Paris, num local antes utilizado pelo rei Luís XIII para as caçadas, foi o marco do longo reinado do Rei-Sol e pensado para ser uma residência digna para aquele que era tido como o mais poderoso dos monarcas (nas imagens acima, vista geral de Versalhes em pintura do início do século XVIII e foto do palácio visto dos jardins). Como afirmou o pensador Montesquieu, que viveu parte de sua juventude no reinado de Luís XIV: "O fausto e o esplendor que cercam os reis são uma parte de seu poder". Versalhes foi construído para ser algo grandioso e impressionar quem o visitasse. 



O projeto inicial de Versalhes ficou a cargo do arquiteto Louis Le Vau (também responsável pelas reformas no Louvre) e o planejamento dos fabulosos jardins ao paisagista barroco André Le Nôtre, que desenhou os Jardins das Tulherias em Paris (nas imagens acima, a Fonte de Latona em direção ao Grande Canal e em funcionamento). 




Charles Le Brun (1619-1690), da Academia Real de Pintura e primeiro pintor do rei, fez os desenhos para a decoração interior dos Grandes Apartamentos e para as esculturas das fontes. Le Brun também era diretor da Manufatura de Móveis da Coroa, que produziu parte do mobiliário do palácio (nas fotos acima, esculturas em bronze representando os rios Marne de Yves Tennevin e o Ródano de Jean-Baptiste Tuby). 




A famosa Galeria dos Espelhos conta com 357 espelhos adornando 17 arcos, num corredor de 73 metros (acima, detalhes da Galeria dos Espelhos). A manufatura francesa voltada a confecção de espelhos não ficava mais nada a dever a rival veneziana. Na construção de Versalhes, Luís XIV acompanhou cada detalhe e fazia anotações nos projetos. 




A obra, que chegou a ocupar mais de 30 mil operários simultaneamente, foi executada durante cinquenta anos em quatro etapas, sendo que na terceira já mostrava condições de abrigar permanentemente a corte francesa (nas fotos acima, a Avenida Real em direção ao Grande Canal e o pátio de mármore). Por isso, em 1682 ocorreu a mudança oficial do Palácio do Louvre para Versalhes, embora este já estivesse sendo utilizado. Segundo os historiadores, os traumas provocados pela revolta da Fronda tiveram relação com a opção de transferir a corte, uma vez que Luís XIV teria a nobreza sob seu controle, entretendo-a e mantendo a mesma ocupada. Sabe-se, por exemplo, que as correspondências dirigidas a Versalhes eram violadas e lidas por agentes do rei, sobretudo para verificar a opinião dos aristocratas (e dos familiares de Luís XIV) a respeito do monarca. Vale lembrar que os nobres dispunham de aposentos no palácio, o qual comportava mais de 10 mil pessoas e também nos arredores, onde moravam os nobres de menor estirpe. 



O que a história presenciou em Versalhes foi o resultado da fabricação da imagem pública (que não era separada da privada) de Luís XIV, como bem descreveu o historiador Peter Burke em seu livro "A Fabricação do Rei" (acima, relevo com o perfil do rei exposto em Versalhes). Contudo, o termo "fabricação" não significa um rei fantoche e alheio ao que estava sendo feito sobre a sua pessoa. Pelo contrário, ele assumiu esse papel e contribuiu em muito para fortalecer a imagem quase divina criada em torno da sua figura. Como afirma Burke: "Um Estado centralizado precisa de um símbolo de centralidade". 


Em Versalhes, Luís XIV selecionou os seus nobres afastando falsos fidalgos e privilegiando a nobreza de raiz (ou nobreza de espada). Esta última era aquela que mantinha, durante pelo menos três gerações ou um século, um padrão de vida nobre (acima, o gabinete do conselho onde eram realizadas as reuniões com os ministros). Não adiantava o indivíduo portar uma árvore genealógica, pois a mesma poderia ser falsa. As boas maneiras também podiam ser copiadas e por isso, exigia-se que as pessoas seguissem uma moda, que podia estar em constante mudança, algo que dificultava a alguém que não fizesse parte desse meio acompanhar. Por moda, não devemos entender apenas o vestuário, mas também aspectos comportamentais, como a forma de agir e o modo de falar. Por exemplo, a corte francesa decidiu pronunciar o ditongo oi como "oá" ao invés de "ué", algo que permaneceu até hoje e serviu de distinção diante da pronúncia dos burgueses e dos camponeses. De acordo com o filósofo Renato Janine Ribeiro, em seu excelente estudo "A Etiqueta no Antigo Regime: do sangue à doce vida" (da famosa Coleção Tudo é História da editora Brasiliense) a imitação de uma moda é algo difícil, uma vez que os seus criadores sempre estão propondo uma novidade, tornando-a efêmera, como se fosse uma constante "troca de senha". 
Como vimos, quanto mais antiga fosse a condição de nobre, mais respeito merecia, chegando ao ponto de se defender que nobres e plebeus viessem de "raças" diferentes, uma vencedora e a outra vencida. O nascimento era tido como uma escolha feita por Deus, mas não significava nada se não estivesse acompanhado da virtude, principalmente aquela que é demonstrada no manuseio das armas (e também no saber). Porém, aquele que conquistava a virtude pelo próprio mérito começava a ter respeito e a ser honrado. Tal critério justificava o afluxo de "sangue novo" à nobreza (lembremos da nobreza togada). Mas quem é que podia conferir tal condição a um indivíduo? O rei. Da mesma forma que ocorreu no Império Brasileiro quando nossos monarcas (D. Pedro I e D. Pedro II) conferiam títulos de nobreza. 


A corte de Versalhes foi uma espécie de palco no qual o rei era o grande destaque. Os atos do monarca eram vistos como um espetáculo, cujos integrantes se sentiam privilegiados pelo simples fato de estarem lá (acima, detalhe de um quadro de Jean Nocret de 1669, onde Luís XIV, sentado, está representado como o deus Apolo). Todo esse ambiente era regido pela etiqueta, palavra de origem francesa (étiquete) e inicialmente muito utilizada nos tribunais para identificar documentos. No início do século XVII o termo adquiriu um segundo sentido, estabelecendo a ordem das precedências, um cerimonial ou protocolo vigente em determinado ambiente, no qual cada um tinha o seu lugar. Tais regras já vigoravam quando a corte ainda estava em Paris e, em escala menor, em outras cortes da Europa (como na Espanha e na Borgonha). 






Muito do que se sabe a respeito da vida na corte deve-se aos relatos do duque de Saint-Simon, que conviveu na mesma nos últimos anos do reinado do Rei-Sol (nas fotos acima, busto do rei Luís XIV por Antoine Coysevox de 1679, a câmara ou quarto do rei e a sua cama). 
O cerimonial diário começava às 8 horas da manhã no Grande Apartamento do Rei (composto de 7 salões), na câmara (quarto) real com o levantar do rei (lever du roi), quando este era acordado por um criado que dormia aos pés de sua cama. Em seguida, o aposento era aberto para que os pajens entrassem e ajudassem o rei a tirar as roupas de dormir, a vestir um robe e colocar a peruca, obrigatória para o monarca aparecer em público e que se tornou moda, necessária também em função de sua progressiva perda capilar. A peruca era confeccionada com cabelos falsos e verdadeiros, além de crina de cavalo, o que permitia a presença de piolhos. No rosto, o rei passava um tipo de blush feito de pigmento branco à base de chumbo, altamente prejudicial ao organismo humano, sempre auxiliado por cortesãos. Um nobre italiano se surpreendeu ao ver com os próprios olhos o rei cercado por seus camareiros fidalgos, até mesmo quando estava sentado na privada. 



Na sequência do levantar do rei era providenciado o café da manhã e a entrada dos demais integrantes da corte com permissão de acesso, divididos em 6 grupos (nas imagens acima, o quarto ou câmara da rainha). O primeiro era formado pelos familiares, os filhos legítimos do rei (mais tarde também os netos) e um médico; o segundo grupo era o da "grande entrada" com os oficiais de quarto, o guarda-roupa (uma pessoa e não o móvel) e nobres especialmente convidados; o terceiro, os responsáveis pelas festividades e entretenimento; o quarto, por outros nobres escolhidos a dedo, incluindo o padre capelão; o quinto, pela nobreza de graduação inferior e o sexto pelos filhos ilegítimos do rei com suas famílias, além do superintendente das construções (cargo que foi ocupado por Colbert). Príncipes e nobres ajudavam o rei a acabar de se vestir e colocar os sapatos de salto alto (mais uma moda em Versalhes), que permitiam ao monarca olhar acima dos demais, pois ele era baixo. Cerca de 150 pessoas participavam do levantar do rei, que se repetia à noite na ordem inversa, quando o rei ia dormir. 


Depois de rezar, Luís XIV seguia para a Galeria dos Espelhos, onde estavam os demais integrantes da corte. Nesse local ocorriam ocasionalmente recepções a delegações estrangeiras (na pintura acima, o rei recebe o doge de Gênova), bailes e casamentos, como o do duque da Borgonha (neto de Luís XIV) e, anos depois, o de Maria Antonieta com o delfim (futuro rei Luís XVI). 



As refeições do rei (petit couvert e o grand couvert) eram verdadeiras encenações voltadas para uma audiência seleta, que assistia tudo em pé (acima, peças de prata utilizadas nas refeições do palácio). Luís XIV podia comer sozinho ou acompanhado da família, sendo que eventualmente convidava alguém para sentar-se à mesa, um privilégio enorme. Ao manifestar a vontade de beber, alguém gritava: "Bebida para o rei". O responsável ia ao bufê e tomava de outro cortesão a bandeja de ouro, com água e vinho. Em seguida, dois servidores provavam as bebidas, a fim de verificar se as mesmas não estavam envenenadas e só depois o rei era servido. Apenas esse serviço levava cerca de dez minutos. 



Até mesmo no ato de sentar existiam normas, pois haviam os que tinham direito a poltrona, os que se sentavam numa cadeira, num tamborete (pequeno banco) e os que simplesmente não se sentavam (acima, o rei e sua família em 1698). O uso e manuseio do chapéu por parte do rei também obedeciam regras. Luís XIV tirava-os diante das senhoras nobres e filhos de sangue; para os nobres tirava-os parcialmente, segurando o mesmo por alguns instantes na mão e para os aristocratas de menor importância apenas levava a mão ao chapéu. 
Qualquer turista que visite hoje o Palácio de Versalhes, pode perceber a pouca disponibilidade de banheiros (ou algo próximo do que conhecemos por esse nome). Da mesma forma, o banho diário não era praticado na corte, limitando-se o rei a lavar o rosto superficialmente e as partes livres do corpo, quando acordava, utilizando um filete de água despejado de um jarro, seguro por um cortesão. Luís XIV tomou poucos banhos de corpo inteiro ao longo da vida, sendo o normal efetuar apenas a troca de roupa, usar perfumes para esconder o mal cheiro e pastilhas de anis para disfarçar o mal hálito. Os médicos da época acreditavam que os banhos eram portadores de doenças, entre as quais a temível sífilis. Por incrível que possa parecer aos olhos de hoje, era recomendável manter a sujeira da pele (o "cascão") como uma proteção contra certas enfermidades. 


A alimentação em Versalhes era baseada na carne (suína, bovina, javali, aves e ocasionalmente peixes), que era o prato tradicional dos nobres, pois lembrava a caça, outra atividade aristocrática (acima, a mesa de festa oferecida pelo rei em 1668). As verduras e os cereais eram associados aos pobres, sobretudo os camponeses. Daí os problemas de saúde derivarem do mal funcionamento do intestino ou do excesso de ácido úrico no organismo, que provocavam o aparecimento das hemorroidas e da gota (uma forma de artrite). O próprio Rei-Sol sofreu com uma fístula anal que necessitou ser operada, último recurso da rudimentar medicina daquela época, onde os cirurgiões tinham a mesma reputação dos barbeiros. Os médicos (que não faziam cirurgias) ainda recorriam às sangrias ou estabeleciam diagnósticos a partir do cheiro das fezes e da urina dos doentes. 


Luís XIV viveu a quase totalidade de sua vida como um "monarca em público", embora este fosse restrito à corte (na gravura acima, Luís XIV, de chapéu, jogando bilhar). Aliás, a presença e a assiduidade nos eventos de Versalhes era uma forma do indivíduo candidatar-se aos favores e às graças reais. 



Era conhecida de todos a memória prodigiosa do Rei-Sol, o qual guardava aqueles que estavam sempre presentes e os que apareciam de vez em quando (na gravura acima de 1695, vemos o rei dando as cartas na mesa de baralho e do lado esquerdo, a sua amante Madame de Montespan, acompanhada do marido).


Imagens de Luís XIV foram criadas por meio de pinturas, esculturas (bustos), estátuas equestres (com o rei montado a cavalo), tapeçarias com cenas ligadas ao rei (na imagem acima, tapeçaria feita a partir de desenho de Charles Le Brun, com Luís XIV visitando a Manufatura dos Gobelins), medalhas de bronze, impressos, livros comemorativos que abarcavam desde a infância até a idade adulta do monarca. 


Como se percebe, as artes tiveram papel importante para a construção da imagem real (acima, detalhe de Luís XIV como imperador romano de Charles Perrault, 1670). O ministro Colbert pretendeu estabelecer a posição de Luís XIV como mecenas (patrocinador das artes). 


O teatro e a dança (balé) contavam com a participação do próprio monarca (em sua juventude), o qual adorava bailar e se apresentar fantasiado de Apolo, deus greco-romano tido como divindade solar (exatamente como no desenho acima). Acredita-se que Luís XIV dedicou à arte da dança metade de seu reinado, algo que o aproximava da carreira de um bailarino profissional. Moliere e Racine foram os autores teatrais mais conhecidos, cujas peças incluíam espetáculos musicais. 



Moliere (1622-1673) fez textos inovadores com críticas à sociedade de seu tempo, sobretudo à nobreza e ao clero (acima, Moliere no palco, em gravura da época). Além disso, colaborou com outro nome importante das artes, o compositor Jean Baptiste Lully (1632-1687), que fazia os acompanhamentos musicais. Moliére sofreu um colapso em pleno palco enquanto interpretava uma de suas peças (O Doente Imaginário) em 1673 e morreu horas depois. A Igreja impôs obstáculos ao seu enterro, uma vez que considerava os espetáculos teatrais uma representação falsa do mundo. A viúva de Moliére implorou a Luís XIV um enterro digno, mas conseguiu do arcebispo de Paris (e ainda por insistência do rei) apenas um funeral realizado de madrugada e num cemitério para indivíduos não batizados.



Nas artes plásticas, o pintor Charles Le Brun (acima, num autorretrato) exerceu importante papel como conselheiro, sobretudo de Colbert, que não era grande apreciador das artes em geral (exceto a arquitetura). 



A importância de Le Brun residiu em fazer com que as mesmas contribuíssem para a glorificação do rei, sendo conhecidos aproximadamente trezentos trabalhos que compreendem desde a infância até a idade adulta do Rei-Sol (acima, o retrato de Luís XIV por Le Brun). Nos retratos, o rosto do rei é mostrado com a pele lisa, sem as deformações decorrentes da varíola contraída quando tinha nove anos.


Muitas das representações de Luís XIV utilizavam a alegoria, isto é, o monarca era associado às qualidades dos antigos deuses greco-romanos, como Marte e a sua coragem, Minerva e sua sabedoria, Hércules com a força, entre outros. Na década de 1660 era comum o rei também ser representado à semelhança de Alexandre, o Grande ou do imperador romano Augusto (como na imagem acima).



Nas pinturas, o Rei-Sol podia aparecer de modo informal, caçando, jogando bilhar, sentado e também de forma solene, em tamanho natural, como no famoso retrato pintado por Hyacinthe (Jacinto) Rigaud de 1701 (imagens acima). Não deixa de ser surpreendente que tenhamos alguns detalhes realistas nesse quadro, como o rosto do rei envelhecido (destaque acima), nos seus 61 anos, idade considerada avançada naqueles tempos. Da mesma forma, percebe-se pela boca a ausência dos dentes da arcada superior, extraídos em 1685. Por outro lado, permanecem as lembranças dos tempos em que o Rei-Sol era bailarino, em função do posicionamento das pernas (pose de balé). Um rosto envelhecido em um corpo jovem. Não era permitido que alguém se colocasse de costas diante de um retrato de Luís XIV, algo considerado um ultraje. O trabalho de Rigaud estabeleceu um padrão para outras pinturas de reis e príncipes europeus, sendo que o próprio Rei-Sol encomendou cópias desse trabalho ao atelier do artista. 


Luís XIV (acima, em outro quadro de Rigaud, o rei com armadura) também foi representado nos campos de batalha, embora nunca tenha participado diretamente dos combates, como na Guerra de Devolução (1667-8), travada em função do domínio reivindicado pelo rei francês sobre os Países Baixos espanhóis, após a morte de seu sogro (e tio), o rei da Espanha Filipe IV. O Rei-Sol acompanhou as tropas e levou boa parte da corte junto, incluindo a rainha Maria Teresa e as duas amantes reais, a duquesa de La Varriére e a marquesa de Montespan. Dois pintores acompanharam o rei para registrar a sua presença e depois celebrar a vitória (não tão vantajosa) em vários quadros. 
Na Guerra Holandesa (1672-8), além dos artistas, Luís XIV levou também historiadores (na verdade escritores, como Racine) a fim de redigir a versão oficial do conflito, relatando as "qualidades" do monarca como comandante militar e estadista. Não eram feitas alusões às dificuldades reais, inclusive ao fato dos holandeses terem aberto os seus diques e inundado territórios, a fim de impedir o avanço inimigo. Nas descrições do tratado que encerrou o conflito, Luís XIV era mostrado impondo os seus termos aos holandeses e não aceitando um acordo. Embora obtivesse concessões territoriais (Alsácia e Franco-Condado), os Estados europeus estavam mais dispostos do que antes em deter o avanço francês para o leste da Europa. 



Já a Guerra da Sucessão Espanhola foi uma custosa tentativa de Luís XIV de manter o seu neto Filipe V, como monarca espanhol, após a morte do rei Carlos II (irmão da rainha da França, Maria Teresa) em 1700 (no relevo acima, Luís XIV pisa sobre seus inimigos, de Antoine Coysevox, 1681). A possibilidade de formação de um gigantesco império franco-espanhol (incluindo as colônias americanas) era vista como fora de questão pela Inglaterra e pelas Províncias Unidas (Holanda). Após esse conflito desgastante para os dois lados e que durou uma década, ficou acordado que Filipe V fosse mantido como rei da Espanha, mas renunciando a qualquer pretensão ao trono francês (Tratado de Utrecht de 1713). Os custos da guerra chegaram até Versalhes, com uma redução significativa da corte e paralisação de várias obras no Palácio.  
Fora da Europa, no Novo Mundo (as Américas), Luís XIV estabeleceu Quebec como capital da Nova França (parte do atual Canadá) em 1663. De lá partiu o explorador Robert de La Salle para conquistar um vastíssimo território chamado de Louisiana (bem maior do que o atual estado norte-americano), cujo nome foi uma homenagem ao rei e que se estendia até o Golfo do México. Em 1697 a Espanha passou para a França o controle da parte ocidental da ilha de Hispaniola, no Caribe, origem do que hoje é o Haiti. Os franceses iniciaram posteriormente a exploração colonial do território com a produção de açúcar e a introdução de aproximadamente 20 mil escravos africanos por ano naquela colônia. No decorrer do século XVIII, o Haiti tornou-se a mais importante possessão francesa nas Américas. 



Em 1685, Luís XIV tomou uma medida polêmica ao revogar o Edito de Nantes, que como já vimos, garantia aos protestantes a liberdade religiosa (Luís XIV como destruidor da heresia, em gravura de 1686). Aproximadamente 200 mil franceses deixaram o país em função dessa decisão. A propaganda em torno do rei exaltou o ato por meio de pinturas, medalhas e placas comemorativas. Evidentemente o clero católico apoiou a medida, sobretudo os jesuítas. O bispo Jacques Bossuet, conhecido como o formulador da teoria do direito divino (na qual a autoridade real é fundamentada na vontade de Deus) redigiu um sermão elogiando a decisão. Na verdade, a medida mais prejudicou a imagem do rei do que beneficiou, além do fato referido por muitos historiadores da fuga de profissionais especializados e de talentos, que se refugiaram em outros cantos da Europa, onde a tolerância religiosa era praticada, sobretudo na Holanda. Aos protestantes que permaneceram foi reservada a prática da conversão forçada ao catolicismo. 





Após a morte da rainha Maria Teresa em 1683, Luís XIV tornou-se mais sedentário e recluso em Versalhes, deixando de frequentar as outras residências reais (sim, existiam) como os castelos de Fontainebleau e Chambord. Poucos meses depois de enviuvar, o rei promoveu uma união secreta com a sua amante Madame de Maintenon, que o acompanharia até a morte (nas imagens acima, Luís XIV envelhecido, em um retrato de Antoine Benoist de 1706 e Madame de Maintenon, uma de suas amantes).



Outras amantes oficiais (plenamente aceitas na corte) foram a duquesa de La Vallière e a marquesa de Montespan (respectivamente, de cima para baixo nas imagens anteriores). O Rei-Sol teve 6 filhos legítimos com a rainha Maria Teresa e vários outros com suas 16 amantes. Contam-se 16 filhos bastardos, mas que ganharam condição nobre e mais de 30 filhos que não foram reconhecidos. 


Dos 6 filhos legítimos, apenas um alcançou a idade adulta, exatamente o delfim (que aparece na pintura acima ao lado da mãe Maria Teresa). Na alvorada do século XVIII, Luís XIV acumulava diversos problemas de saúde, como sintomas de diabetes, abscessos dentários, além de furúnculos recorrentes, desmaios, gota, tontura e dores de cabeça. Apesar de tudo isso, o monarca sobreviveu a vários de seus herdeiros, como o próprio delfim, que morreu em 1711 e o filho deste, o duque de Borgonha, o seguinte na linha de sucessão, o qual morreu um ano depois. O outro neto que restou, o duque da Bretanha, morreu poucas semanas após o irmão. Portanto, a sucessão veio parar no bisneto de Luís XIV de cinco anos, o duque de Anjou e que veio a se tornar o rei Luís XV. 



Os anos finais do Rei-Sol marcaram também o início do declínio da vida cortesã em Versalhes. O próprio monarca já não demonstrava mais o mesmo vigor para seguir a detalhada etiqueta, como também os reis seguintes, Luís XV e Luís XVI (acima, pintura de Pierre-Denis Martin com a fonte de Apolo e no detalhe da mesma, o rei em cadeira de rodas). A esposa deste último, a rainha Maria Antonieta, passava a maior parte de seu tempo no Trianon e no pequeno Trianon, uma espécie de Versalhes em tamanho reduzido bem próximo ao grande Palácio. De origem austríaca, Maria Antonieta veio de uma corte onde as normas de convivência eram mais simplificadas e nunca escondeu o desconforto provocado pela rigidez da corte de Versalhes, exatamente como é mostrado no filme "Maria Antonieta" da diretora Sofia Coppola (produzido em 2006).  





A própria etiqueta foi simplificada, como no reinado de Luís XVI, que preferia se vestir sozinho e sem a ajuda de cortesãos, cujo número foi reduzido para menos da metade. Tais mudanças acabaram tirando o encanto e a sacralidade da corte aos olhos da sociedade (nas imagens acima, o Grande Canal de Versalhes com barcos em 1705 e a fonte de Apolo feita em bronze por Jean-Baptiste Tuby, entre 1668 e 1670). Os primeiros reflexos do advento da Era da Razão no século XVIII, permitiram que a sociedade francesa observasse a monarquia de forma mais crítica. 
A agonia de Luís XIV não deixou de ter o seu aspecto teatral, com cortesãos lamentando e chorando em seu leito, enquanto o rei dava conselhos ao bisneto e sucessor de cinco anos: "Amei a guerra em excesso: não me imite nisso, e tampouco nos gastos excessivos que fiz". Em 1715 o Rei-Sol morreu vítima de uma gangrena (putrefação dos tecidos do corpo). Luís XIV deixou um legado material gigantesco, mas também uma França que começava a ser cobrada em razão dessa mesma grandiosidade. Quem visita o Palácio de Versalhes e os demais templos da monarquia francesa (como o Louvre) percebe, na suntuosidade dos mesmos, uma das motivações da Revolução Francesa. A opulência de poucos, os privilégios sociais da nobreza e do clero, contrastavam com a desigualdade social e a pobreza do Terceiro Estado, que além disso suportava o peso da carga tributária. Tudo isso transbordou no final do século XVIII sob a forma da Grande Revolução. Mas isso já é um outro assunto... 

Para saber mais:


O livro do historiador Peter Burke analisa o processo de construção da imagem de Luís XIV, por meio da posição política do rei como símbolo central do regime absolutista. O autor também analisa a forma como essa imagem era veiculada para o público, tanto no caso da corte como no restante da população e a receptividade da mesma. Embora não se trate de uma biografia, é uma verdadeira dissecação dos símbolos do Antigo Regime francês e que permite esclarecer as características essenciais da relação entre rei e sociedade naquela época. 
Crédito das imagens:
Massacre de S. Bartolomeu: O Mundo do Renascimento Volume 2. Coleção Grandes Impérios e Civilizações. Edições Del Prado, 1997, páginas 178 e 179. 
Portão do Palácio de Versalhes, saque de uma granja na Guerra dos Trinta Anos
Retratos de Richelieu, de Luís XIII, de Mazzarino, do pequeno Luís XIV, de Ana de Áustria, de Colbert, de Luís XIV acompanhado de Colbert, Luís XIV a cavalo, da marquesa de Montespan, de Luís XIV vestido com armadura, da rainha Maria Teresa com o delfim: História das Civilizações Volume III. Abril Cultural, 1975, páginas 192, 173, 193, 256, 257, 258, 259, 277, 276, 253 e 271 respectivamente. 
Alegoria do rei associado ao Sol, quadro de Luís XIV como Apolo, Luís XIV recebendo o doge de Gênova, Luís XIV jogando bilhar, Luís XIV jogando cartas, da duquesa de La Vallière e pintura de Pierre-Denis Martin: Coleção História em Revista. Poderes da Coroa 1600-1700. Editores de Time-Life Livros. Abril Livros, 1992, páginas 103, 107, 109, 108, 106 e 111 respectivamente. 
Edito de Nantes e vista geral de Versalhes: Coleção Grandes Impérios e Civilizações. França (volume I), Edições Del Prado, 1997, páginas 52 e 61. 
Luís XIV esmagando a Fronda, detalhe de Luís XIV como imperador romano e Luís XIV destruindo a heresia: A Fabricação do Rei de Peter Burke. Zahar Editores, 2009, páginas 50, 79 e 175 respectivamente. 
Retrato de Maria Teresa por Velasquez: L'opera completa di Diego Velázquez. Classici dell'Arte. Rizzoli Editore, Milano, 1969, TAV. LII. 
Pintura de Charles Le Brun representando Luís XIV em 1661: Wikipédia. 
Detalhe de Luís XIV por Jean Garnier, de Luís XIV por Claude Lefebvre; fotos da Galeria dos Espelhos, do eixo central dos jardins, pátio com piso em mármore, do gabinete do conselho, da câmara do rei e da câmara da rainha; peças de prata para refeições, o rei e sua família, mesa de festa oferecida pelo rei e Luís XIV fantasiado de Apolo: Visitar Versailles. Guia oficial. Château de Versailles, 2019, páginas 24, 52, 40, 37, 89,22, 60, 57, 45, 46, 48, 68, 50 e 82 respectivamente. 
Portão do Palácio de Versalhes, tapeçaria com o rei Luís XIV, tapeçaria com o rei visitando a Manufatura dos Gobelins e Moliere no palco: La Era de los Reyes. Coleção Las Grandes Épocas de la Humanidad (Coleção Time-Life). Ediciones Culturales Internacionales (Mexico), 1983, páginas 54, 63, 72 e 125 respectivamente. 
Luís XIV por Rigaud: cartão do Museu do Louvre em Paris. 
Retrato de Luís XIV pintado por Le Brun em 1655:
https://www.britannica.com/topic/absolutism-political-system
Autorretrato de Charles Le Brun: História Geral da Arte. Pintura II. Ediciones Del Prado, 1996, página 110. 
Todas as demais imagens pertencem ao acervo do autor.