Um mapa simplesmente incrível, cuja concepção remonta aos próprios romanos! A unica carta sobrevivente de um cursus publicus ou rota de estradas da Antiga Roma, copiada no século XIII. Para quem o vê é um exercício incomparável de geografia, pois leva o indivíduo a identificar as cidades, as ilhas, as penínsulas e os continentes como se fosse um viajante da Antiguidade (no detalhe acima, o sul da Itália e a ilha da Sicília, que inclusive aparece com esse mesmo nome). Aliás, era esse o objetivo desse mapa, dirigido aqueles que, por várias necessidades (militares, administrativas, comerciais) percorriam as províncias do Império Romano, da Europa até a Ásia, passando pelo norte da África, as dimensões atingidas por Roma em seu momento máximo de expansão no início da era cristã e indo até o mundo conhecido nessa época. O mapa apresentava aquilo que os romanos chamavam de itinerarium. Muitos estudiosos comparam esse documento a um moderno itinerário (vejam que o termo permanece) de metrô e linhas ferroviárias, representadas geralmente no plano horizontal e retilíneo. Daí o debate entre os especialistas a respeito de se denominar ou não a carta de mapa e por isso prevalece o termo Tábua. Alguns ainda designam esse documento como sendo um cartograma, uma espécie de quadro esquemático onde determinados locais estão assinalados por pontos ou figuras interligados por linhas retas. Na Tábua Peutinger a preocupação maior era a de orientar os viajantes, principalmente do Ocidente (Roma) para o Oriente. Ora, não é por outra razão que o verbo "orientar" teve a sua origem exatamente nesse aspecto, pois a referência para os antigos caminhos estava no Oriente (onde nasce o sol).
Na cartografia (arte ou técnica da feitura de mapas) notamos uma diferença entre os gregos e os romanos. Estes últimos estavam mais interessados nas necessidades práticas advindas das campanhas militares e da administração provincial, sem descartar a necessidade de viabilizar o deslocamento de produtos e mercadorias. Portanto, não era o interesse científico que orientava a elaboração dos documentos cartográficos. Já os gregos estavam preocupados com a geografia matemática, com as latitudes e longitudes ou ainda com as medidas astronômicas.
A Tábua Peutinger expressava também a grandeza e o poder do Império Romano. Em função disso, podemos reparar no modo como a Grécia foi representada na Tábua (na imagem acima a península grega), de forma bem simples, sem qualquer referência ao seu passado glorioso ou à sua cultura. No detalhe mais acima, Atenas é identificada apenas como uma pequena cidade entre as demais.
Para os romanos, os mapas tinham que ter praticidade e serem fáceis de ler. A enfase é dada nas massas territoriais e não nos mares, uma vez que o deslocamento sugerido se dava pelas estradas e também passando pelas cidades, como a própria Roma, representada na imagem acima tendo o ícone da autoridade imperial (reparem do lado direito a Via Apia, a famosa estrada que ligava a cidade ao sul da Itália) e o antigo porto romano de Ostia. Os possíveis obstáculos aos viajantes foram assinalados, como rios, montanhas e florestas. As distâncias entre as cidades também são fornecidas.
Como nos relata Maurício Waldman, doutor em Geografia pela USP, os romanos criaram uma malha viária incomparável no Mundo Antigo. Portanto, podemos dar razão à assertiva de que "todos os caminhos levam a Roma" (na foto acima, a Via Ápia). A técnica de construção de estradas pavimentadas foi herdada de outros povos já dominados (etruscos, gregos, cartagineses e até dos egípcios, no que se refere ao trabalho com pedras, que foi aproveitado nos calçamentos), mas elevada a uma escala sem precedentes pelos romanos, os quais chegaram a dividir as pistas em faixas e até mesmo estabeleceram um limite de peso para os veículos. Muitos dos traçados dessas estradas foram mantidos nas rodovias modernas da Europa.
As distâncias estão estabelecidas na Tábua Peutinger e a malha viária estendia-se por 700 milhas romanas ou 104.000 quilômetros, segundo nos informa Maurício Waldman. Daí a necessidade de mapeá-la e ao fazer isso os romanos deixam transparecer a sua visão de mundo e os seus interesses, como a necessidade de estabelecer um controle sobre o espaço territorial. Não é por acaso que a cidade de Roma aparece na parte central do pergaminho, revelando a proeminência da mesma sobre o mundo daquela época. Os mapas não são documentos puramente técnicos, mas carregam também uma conotação ideológica.
Como já destacamos, a Tábua Peutinger é uma cópia de um original antigo (e que se perdeu), feito no formato de pergaminho e confeccionado por um monge da cidade francesa de Colmar, no ano de 1265.
Para os romanos, os mapas tinham que ter praticidade e serem fáceis de ler. A enfase é dada nas massas territoriais e não nos mares, uma vez que o deslocamento sugerido se dava pelas estradas e também passando pelas cidades, como a própria Roma, representada na imagem acima tendo o ícone da autoridade imperial (reparem do lado direito a Via Apia, a famosa estrada que ligava a cidade ao sul da Itália) e o antigo porto romano de Ostia. Os possíveis obstáculos aos viajantes foram assinalados, como rios, montanhas e florestas. As distâncias entre as cidades também são fornecidas.
Como nos relata Maurício Waldman, doutor em Geografia pela USP, os romanos criaram uma malha viária incomparável no Mundo Antigo. Portanto, podemos dar razão à assertiva de que "todos os caminhos levam a Roma" (na foto acima, a Via Ápia). A técnica de construção de estradas pavimentadas foi herdada de outros povos já dominados (etruscos, gregos, cartagineses e até dos egípcios, no que se refere ao trabalho com pedras, que foi aproveitado nos calçamentos), mas elevada a uma escala sem precedentes pelos romanos, os quais chegaram a dividir as pistas em faixas e até mesmo estabeleceram um limite de peso para os veículos. Muitos dos traçados dessas estradas foram mantidos nas rodovias modernas da Europa.
As distâncias estão estabelecidas na Tábua Peutinger e a malha viária estendia-se por 700 milhas romanas ou 104.000 quilômetros, segundo nos informa Maurício Waldman. Daí a necessidade de mapeá-la e ao fazer isso os romanos deixam transparecer a sua visão de mundo e os seus interesses, como a necessidade de estabelecer um controle sobre o espaço territorial. Não é por acaso que a cidade de Roma aparece na parte central do pergaminho, revelando a proeminência da mesma sobre o mundo daquela época. Os mapas não são documentos puramente técnicos, mas carregam também uma conotação ideológica.
Como já destacamos, a Tábua Peutinger é uma cópia de um original antigo (e que se perdeu), feito no formato de pergaminho e confeccionado por um monge da cidade francesa de Colmar, no ano de 1265.
O pergaminho é dividido em 11 seções, embora uma parte (que seria a 12ª seção) está em falta, exatamente a que mostraria a Península Ibérica e as ilhas Britânicas. O professor alemão Konrad Miller fez uma reconstituição dessa página em 1898, com base em outras informações documentais referentes a essas províncias europeias (nas imagens acima a Península Ibérica onde podemos ver o estreito de Gibraltar com a sua antiga designação de Colunas de Hércules e no detalhe superior a antiga Britânia, hoje Inglaterra).
A hipótese mais aceita é de que a origem da Tábua Peutinger foi um documento cartográfico romano, possivelmente do século IV da nossa era, cuja concepção teve por base o mapa-múndi preparado por Marcus Vipsanius Agripa e que ficou conhecido pelo nome de Orbis Terrarum. Esse mapa foi feito no tempo em que o imperador Augusto (imagem acima) governou Roma, de 27 a.C. até 14 d.C..
O cônsul e general Agripa (na foto acima, o seu busto) foi o grande comandante da Batalha do Ácio (ano 31 a.C.), onde Augusto se impôs em definitivo sobre as forças de Marco Antônio (e sua consorte Cleópatra), o que lhe garantiu o controle político e militar de Roma, encerrando a guerra civil dos tempos de Júlio César. Também devemos a Agripa a abertura de muitas estradas, a transformação arquitetônica da cidade de Roma com belos edifícios feitos em mármore (como o famoso Panteão) e a redação de livros (infelizmente perdidos) que demonstram o grande conhecimento que o general tinha de geografia. Agripa foi sogro do segundo imperador romano, Tibério (que governou ao tempo em que Cristo foi crucificado), avô materno de Calígula e bisavô materno de Nero.
O imperador Augusto determinou um levantamento detalhado das estradas romanas e no âmbito desse inventário é que surgiu o mapa-múndi de Agripa (na imagem acima, uma reconstituição do Orbis Terrarum). O mapa ultrapassou a delimitação dos territórios imperiais e buscou abranger a totalidade do mundo conhecido. Existem evidências de que o mapa de Agripa foi gravado em mármore no Porticus Vipsania (teto sustentado por colunas e do qual restam apenas vestígios), logo após a sua morte (ocorrida no ano 12 a.C.). Esse mapa serviu de base para os outros que foram confeccionados nos tempos do Império.
O cônsul e general Agripa (na foto acima, o seu busto) foi o grande comandante da Batalha do Ácio (ano 31 a.C.), onde Augusto se impôs em definitivo sobre as forças de Marco Antônio (e sua consorte Cleópatra), o que lhe garantiu o controle político e militar de Roma, encerrando a guerra civil dos tempos de Júlio César. Também devemos a Agripa a abertura de muitas estradas, a transformação arquitetônica da cidade de Roma com belos edifícios feitos em mármore (como o famoso Panteão) e a redação de livros (infelizmente perdidos) que demonstram o grande conhecimento que o general tinha de geografia. Agripa foi sogro do segundo imperador romano, Tibério (que governou ao tempo em que Cristo foi crucificado), avô materno de Calígula e bisavô materno de Nero.
O imperador Augusto determinou um levantamento detalhado das estradas romanas e no âmbito desse inventário é que surgiu o mapa-múndi de Agripa (na imagem acima, uma reconstituição do Orbis Terrarum). O mapa ultrapassou a delimitação dos territórios imperiais e buscou abranger a totalidade do mundo conhecido. Existem evidências de que o mapa de Agripa foi gravado em mármore no Porticus Vipsania (teto sustentado por colunas e do qual restam apenas vestígios), logo após a sua morte (ocorrida no ano 12 a.C.). Esse mapa serviu de base para os outros que foram confeccionados nos tempos do Império.
Mas, voltemos à Tábua Peutinger. A mesma foi descoberta em uma biblioteca na cidade alemã de Worms por Konrad Celtes em 1494, que não divulgou o achado até a sua morte, deixando o pergaminho como herança para o antiquário e humanista Konrad Peutinger (no retrato acima, de autor desconhecido) em 1508, do qual deriva o nome Tábula ou Tábua Peutinger. O pergaminho ficou em poder da família Peutinger por mais de duzentos anos, passando por vários outros donos até ser entregue às instituições do Império Habsburgo (Austríaco) estando atualmente com a Biblioteca Nacional da Áustria.
O pergaminho mede incríveis 6,80 metros de comprimento por 34 centímetros de largura, exatamente como aparece na imagem acima, que comprimimos para dar ao leitor uma visão geral do documento (o lado esquerdo é oeste e o direito leste, tendo aproximadamente ao centro a Itália).
Na foto acima, temos uma reconstituição do rolo do pergaminho, feita por um artesão contemporâneo. Tal formato seria o apropriado para o manuseio e guarda da Tábua Peutinger em tempos mais remotos.
O pergaminho mede incríveis 6,80 metros de comprimento por 34 centímetros de largura, exatamente como aparece na imagem acima, que comprimimos para dar ao leitor uma visão geral do documento (o lado esquerdo é oeste e o direito leste, tendo aproximadamente ao centro a Itália).
Na foto acima, temos uma reconstituição do rolo do pergaminho, feita por um artesão contemporâneo. Tal formato seria o apropriado para o manuseio e guarda da Tábua Peutinger em tempos mais remotos.
A confirmação de que se trata de um mapeamento feito com base no século I de nossa era, em pleno período da chamada Paz Romana, nos é dada por uma série de detalhes.
A inclusão da cidade de Pompéia destruída pela famosa erupção vulcânica do Vesúvio no ano 79 d.C., a qual não foi reconstruída (portanto não poderia ser assinalada em mapas posteriores) e do farol de Alexandria em toda a sua grandiosidade, atestam que a referência da carta cartográfica remete ao tempo de Augusto (no detalhe acima, temos Pompéia assinalada, bem como a área montanhosa onde se localiza o vulcão Vesúvio).
O mapa-múndi de Agripa sofreu revisões na Tábua original do século IV, pois podemos identificar a cidade de Constantinopla (atual Istambul e que aparece no detalhe acima), que passou a ser a nova capital do Império Romano e foi erguida nos tempos do imperador Constantino, que governou de 324 d.C. a 337 d.C.. É possível que o documento ainda tivesse sofrido outra correção no século V, já que a cidade de Ravena tem destaque, pois foi capital da parte ocidental do império nessa mesma época. As três cidades mais importantes do Império Romano, Roma, Constantinopla e Antióquia são representadas com ícones imperiais que identificam a reverência dada às mesmas.
Por outro lado, no decorrer da Idade Média a Tábua Peutinger sofreu outras intervenções, como a localização de referências bíblicas descontextualizadas em relação à Roma Antiga, como o monte Sinai e uma inscrição com o nome de Moisés. As mesmas foram acrescentadas na parte do mapa que localiza o possível caminho do Êxodo pelos hebreus, através da península do Sinai.
Além das províncias e territórios imperiais, a Tábua revela áreas do Oriente Médio, da Mesopotâmia (na imagem acima, a região que hoje corresponde ao Iraque atual, aparecendo com o próprio nome de Mesopotâmia), da Índia (inclusive a ilha do Ceilão ou atual Sri Lanka) e alcança as bordas da China.
No ano de 2007 a Tábua Peutinger foi colocada no registro da Memória do Mundo da Unesco e devido a esse fato, foi exibida ao público apenas por um único dia, em função da absoluta fragilidade desse incomparável documento cartográfico referente à Antiguidade Clássica.
Mas, temos uma boa notícia para o nosso caro leitor. É possível "navegar" pela Tábua Peutinger na Wikipédia (versão em inglês) e ver em todos os detalhes esse rico material que nos leva de volta ao passado de dois mil anos atrás (na imagem acima, temos o delta do rio Nilo no Egito e à esquerda o farol de Alexandria). Trata-se também de um excelente recurso para os professores de história e geografia usarem em sala de aula!
Para ver:
https://en.wikipedia.org/wiki/Tabula_Peutingeriana
Crédito das imagens:
Retrato de Konrad Peutinger:
http://www.livius.org/pictures/a/other-pictures/konrad-peutinger/
Foto da Via Ápia: Roma Imperial. Biblioteca de História Universal Life. Livraria José Olympio, 1969, pag. 17.
Cabeça do imperador Augusto: Roma Imperial en el Museo Nacional de Belas Artes. Buenos Aires (Argentina), 1999, pag. 36.
Busto de Agrippa: Wikipédia
Reconstituição contemporânea do rolo do pergaminho:A inclusão da cidade de Pompéia destruída pela famosa erupção vulcânica do Vesúvio no ano 79 d.C., a qual não foi reconstruída (portanto não poderia ser assinalada em mapas posteriores) e do farol de Alexandria em toda a sua grandiosidade, atestam que a referência da carta cartográfica remete ao tempo de Augusto (no detalhe acima, temos Pompéia assinalada, bem como a área montanhosa onde se localiza o vulcão Vesúvio).
O mapa-múndi de Agripa sofreu revisões na Tábua original do século IV, pois podemos identificar a cidade de Constantinopla (atual Istambul e que aparece no detalhe acima), que passou a ser a nova capital do Império Romano e foi erguida nos tempos do imperador Constantino, que governou de 324 d.C. a 337 d.C.. É possível que o documento ainda tivesse sofrido outra correção no século V, já que a cidade de Ravena tem destaque, pois foi capital da parte ocidental do império nessa mesma época. As três cidades mais importantes do Império Romano, Roma, Constantinopla e Antióquia são representadas com ícones imperiais que identificam a reverência dada às mesmas.
Por outro lado, no decorrer da Idade Média a Tábua Peutinger sofreu outras intervenções, como a localização de referências bíblicas descontextualizadas em relação à Roma Antiga, como o monte Sinai e uma inscrição com o nome de Moisés. As mesmas foram acrescentadas na parte do mapa que localiza o possível caminho do Êxodo pelos hebreus, através da península do Sinai.
Além das províncias e territórios imperiais, a Tábua revela áreas do Oriente Médio, da Mesopotâmia (na imagem acima, a região que hoje corresponde ao Iraque atual, aparecendo com o próprio nome de Mesopotâmia), da Índia (inclusive a ilha do Ceilão ou atual Sri Lanka) e alcança as bordas da China.
No ano de 2007 a Tábua Peutinger foi colocada no registro da Memória do Mundo da Unesco e devido a esse fato, foi exibida ao público apenas por um único dia, em função da absoluta fragilidade desse incomparável documento cartográfico referente à Antiguidade Clássica.
Para ver:
https://en.wikipedia.org/wiki/Tabula_Peutingeriana
Crédito das imagens:
Retrato de Konrad Peutinger:
http://www.livius.org/pictures/a/other-pictures/konrad-peutinger/
Foto da Via Ápia: Roma Imperial. Biblioteca de História Universal Life. Livraria José Olympio, 1969, pag. 17.
Cabeça do imperador Augusto: Roma Imperial en el Museo Nacional de Belas Artes. Buenos Aires (Argentina), 1999, pag. 36.
Busto de Agrippa: Wikipédia
https://imgur.com/gallery/ZK2Yu
Reconstituição do mapa-múndi de Agripa:file:///E:/Tabula%20Peutingeriana%20mapa%20de%20Agripa%20texto.html
Demais imagens: editadas pelo autor a partir da própria Tábua Peutinger exibida na Wikipédia
Absolutamente fantástico! Tudo isso sem "drone"! Kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirPois é Cadu. Para a época era um grande feito. Abraços e obrigado pelo comentário.
ExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirGostei muito!
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