Um produto que leva o nome do nosso país e que é consumido no mercado norte-americano e europeu. Trata-se da castanha-do-pará (na foto acima, pacotes de castanhas no mercado Ver-o-Peso, na capital paraense) e que já teve (ou têm) outros nomes como castanha-do-Brasil (nome oficial), castanha-da-Amazônia, castanha-do-Maranhão, castanha-da-terra ou noz do Brasil. Mas no exterior seu nome mais conhecido é "Brazil nut" (tradução literal: noz do Brasil). É assim que é designada nos lugares da moda e principalmente nas confeitarias que vendem produtos a base de chocolate. A castanha também é muito utilizada como complemento para doces, bolos e sorvetes.
Aqui no Brasil o seu consumo é limitado. O preço elevado não ajuda a disseminar o seu uso junto à nossa população, exceto nas festas de final de ano. Rica em nutrientes e proteínas, a castanha-do-pará, como ainda é mais conhecida por aqui, já foi chamada de "carne vegetal" em função dessas suas qualidades como alimento, embora um tanto quanto calórica. Sabe-se de sua riqueza em selênio, elemento considerado como preventivo à vários tipos de câncer. A castanha-do-pará é encontrada em praticamente toda a floresta Amazônica, do Brasil e dos países limítrofes, como Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia e nas Guianas.
Há muito tempo conhecida dos índios, destes passou para os europeus com o início da colonização. Muitos estudiosos afirmam que a sua introdução na Europa teria se dado por intermédio dos holandeses, ainda no início do século XVII quando estiveram no baixo rio Amazonas. Nessa mesma época já eram conhecidos os castanhais (locais de grande concentração da árvore que produz a castanha) do rio Tocantins, no Sudeste do Pará. A presença maior da árvore em algumas áreas levou vários botânicos a acreditarem que os próprios nativos teriam contribuído para espalhar as sementes pela floresta, algo muito difícil de ser comprovado. A disseminação das sementes e a sua germinação é um processo extremamente complexo e demorado, uma vez que as mesmas estão sujeitas aos predadores naturais, como as cotias e os macacos.
Em termos científicos, a árvore da castanheira da Amazônia (na imagem acima, ao centro, uma castanheira nativa em Itacoatiara, no Estado do Amazonas) foi descrita pela primeira vez pelo geólogo e naturalista alemão Alexander von Humboldt, após uma viagem de estudos pela América do Sul, entre 1799 e 1804. O tamanho, altura e exuberância (excelsa) da castanheira despertou a atenção de Humboldt e de seu companheiro de viagem, Aimé Bonpland, um botânico francês. A classificação foi feita com a ajuda de outro botânico, o alemão Carl Sigmund Kunth. Desses pesquisadores viria o nome científico da castanheira: gênero Berthollethia e espécie excelsa, acrescentando-se os sobrenomes do três pesquisadores Humboldt, Bonpland e Kunth abreviados. Portanto: Berthollethia excelsa HBK.
Em termos científicos, a árvore da castanheira da Amazônia (na imagem acima, ao centro, uma castanheira nativa em Itacoatiara, no Estado do Amazonas) foi descrita pela primeira vez pelo geólogo e naturalista alemão Alexander von Humboldt, após uma viagem de estudos pela América do Sul, entre 1799 e 1804. O tamanho, altura e exuberância (excelsa) da castanheira despertou a atenção de Humboldt e de seu companheiro de viagem, Aimé Bonpland, um botânico francês. A classificação foi feita com a ajuda de outro botânico, o alemão Carl Sigmund Kunth. Desses pesquisadores viria o nome científico da castanheira: gênero Berthollethia e espécie excelsa, acrescentando-se os sobrenomes do três pesquisadores Humboldt, Bonpland e Kunth abreviados. Portanto: Berthollethia excelsa HBK.
O fruto da castanheira da Amazônia adquire a forma de um "coco" ou ouriço (imagem acima) e dentro do mesmo se encontram as castanhas. Cada ouriço contém de 10 a 25 sementes, que é a castanha ou noz propriamente dita. O fruto não pode ser retirado diretamente da árvore em função da altura da mesma (uma castanheira da Amazônia pode alcançar até 50 metros de altura). É necessário aguardar o amadurecimento e a queda do ouriço, que é coletado no solo. A época para a coleta corresponde ao inverno amazônico ou estação das chuvas, entre os meses de janeiro e maio de cada ano.
Para o coletador ou castanheiro (na foto acima um castanheiro da região do vale do rio Jari, no sul do Amapá) é uma atividade que requer cuidados, pois a queda do ouriço pode ser fatal quando atinge a cabeça de um indivíduo (existem casos registrados de acidentes desse tipo).
Em seguida o ouriço é quebrado e retiradas as castanhas (na foto acima, os ouriços e as castanhas já retiradas de dentro dos mesmos). Estas sofrem uma limpeza superficial na própria floresta (ou colocação, onde os castanheiros trabalham), quando é realizada uma primeira seleção, separando-se as castanhas já apodrecidas. Em seguida, as mesmas são recolhidas e transportadas até uma cidade próxima onde está situado um barracão ou armazém. Em seguida são conduzidas, geralmente por barcos, para um grande centro (no caso do Brasil, Manaus ou Belém) onde as mesmas são beneficiadas, com a retirada da casca que envolve a amêndoa e depois desidratadas, para evitar a umidade que provoca a deterioração do produto.
A partir da década de 1990, o trabalho de beneficiamento e desidratação da castanha começou a ser feito por cooperativas de extratores, na própria região produtora, como no caso do Acre e do Amapá. A maior parte da produção vai para a exportação. Os grandes consumidores da castanha-do-pará são os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental.
Para o coletador ou castanheiro (na foto acima um castanheiro da região do vale do rio Jari, no sul do Amapá) é uma atividade que requer cuidados, pois a queda do ouriço pode ser fatal quando atinge a cabeça de um indivíduo (existem casos registrados de acidentes desse tipo).
Em seguida o ouriço é quebrado e retiradas as castanhas (na foto acima, os ouriços e as castanhas já retiradas de dentro dos mesmos). Estas sofrem uma limpeza superficial na própria floresta (ou colocação, onde os castanheiros trabalham), quando é realizada uma primeira seleção, separando-se as castanhas já apodrecidas. Em seguida, as mesmas são recolhidas e transportadas até uma cidade próxima onde está situado um barracão ou armazém. Em seguida são conduzidas, geralmente por barcos, para um grande centro (no caso do Brasil, Manaus ou Belém) onde as mesmas são beneficiadas, com a retirada da casca que envolve a amêndoa e depois desidratadas, para evitar a umidade que provoca a deterioração do produto.
A partir da década de 1990, o trabalho de beneficiamento e desidratação da castanha começou a ser feito por cooperativas de extratores, na própria região produtora, como no caso do Acre e do Amapá. A maior parte da produção vai para a exportação. Os grandes consumidores da castanha-do-pará são os Estados Unidos e os países da Europa Ocidental.
Muito embora diversos estudos tenham sido feitos desde o século XIX para diversificar o seu uso e aproveitamento, como na produção de farinha, no leite que pode ser extraído da amêndoa, no seu óleo que pode substituir com vantagens o azeite importado e até na obtenção de um lubrificante para motores de aviões, pouco se fez em termos concretos para melhorar a sua exploração. Pelo contrário, o desmatamento sofrido nas bordas da floresta amazônica a partir da década de 1970 levou à derrubada dos castanhais no Sudeste do Pará, que durante muitas décadas liderou a produção da amêndoa. As enormes castanheiras deram lugar aos pastos para a criação de gado. O município de Marabá teve a sua história vinculada ao produto, inclusive com o surgimento de uma verdadeira oligarquia dos castanhais, como já descreveu a pesquisadora Marília Emmi Ferreira da Universidade Federal do Pará, em seu livro "A Oligarquia do Tocantins e o Domínio dos Castanhais".
Na década de 1990, a Bolívia surgiu como concorrente do Brasil no mercado de castanha. Atualmente, este país ostenta o primeiro lugar como produtor mundial. Como se sabe, o norte boliviano compreende parte da floresta amazônica (próxima à fronteira com o Estado do Acre, que aliás, já pertenceu à Bolívia). Os produtores bolivianos insistem na mudança do nome do produto para castanha ou "almendras" da Amazônia.
Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária pertencente ao governo brasileiro) obtiveram exito na domesticação da castanheira, reduzindo o tempo de frutificação, por meio do enxerto de uma "gema" (parte de uma outra castanheira) em uma castanheira em fase de crescimento. O domínio dessa tecnologia permitiu o plantio racional da árvore, melhorando a produtividade e as condições de extração do fruto. Como a coleta é feita na estação chuvosa (úmida), é maior o risco de contaminação por um fungo, conhecido como Aspergillus flavus, o qual absorvido pelo organismo em grande quantidade, é tido como cancerígeno. A União Européia impõe sérias restrições aos produtos com suspeita desse tipo de contaminação.
Contudo, a produção por meio do cultivo racional é ainda pequena (na imagem acima, castanhal de cultivo na fazenda Aruanã, em Itacoatiara, no Amazonas). A maior parte das castanhas vêm do processo extrativo, que é feito por milhares de trabalhadores dentro da Amazônia. É uma atividade que ainda garante o sustento de muitas famílias de caboclos e ribeirinhos da floresta tropical.
Estudos e pesquisas desenvolvidos por mim, mostraram que a atividade de exploração da castanha com finalidades mercantis é bem mais antiga do que se imaginava, embora não deva ser associada às conhecidas drogas do sertão, exploradas na bacia amazônica no período colonial, como o cacau, o cravo ou a pimenta. A atividade antecedeu ao ciclo da borracha amazônica da segunda metade do século XIX.
Houve época no Brasil em que grandes campanhas foram promovidas a fim de disseminar o consumo da castanha-do-pará no mercado interno, notadamente por suas propriedades nutritivas. Bem, hoje a palavra de ordem é evitar produtos com alto teor de calorias e recomenda-se o consumo diário de apenas duas amêndoas, suficientes para a absorção do selênio pelo organismo. De qualquer forma, a fama do produto nos países de clima mais frio permaneceu inabalável. Trata-se de um produto com mercado garantido, apesar de não ser insubstituível. Outras nozes lhe fazem concorrência, como a castanha européia e as avelãs.
Como já dissemos, várias possibilidades de aproveitamento da castanha têm sido estudadas, como a produção de um óleo (imagem acima), que poderia substituir o azeite de oliva.
Até mesmo na fabricação de instrumentos musicais artesanais o ouriço da castanha pode ser aproveitado (imagem acima). Mais recentemente, a castanha-do-pará têm sido muito utilizada pela indústria de cosméticos, para a produção de sabonetes e shampoos. Trata-se de uma publicidade interessante, de colocar produtos no mercado que propiciam a manutenção da floresta amazônica e o uso sustentável da mesma.
O cultivo racional apresenta-se como uma outra possibilidade de ampliar a oferta no mercado mundial. Na fazenda Aruanã, próxima ao município de Itacoatiara no Amazonas, a castanheira é cultivada a partir da tecnologia desenvolvida pela Embrapa. A castanha beneficiada nessa fazenda é praticamente livre do risco de contaminação e certificado como produto orgânico, sendo vendido em latas (imagem acima) que contém 60 castanhas. Para muitos especialistas, o futuro para a manutenção do produto no mercado é o cultivo, embora a extração natural ainda seja predominante, tanto no Brasil, como na Bolívia e no Peru. O extrativismo, embora tenha as suas limitações, ainda é o sustento de muitos amazônidas.
Pois bem, e aqui, como devemos designar o produto? Sim, oficialmente castanha-do-Brasil. Mas no mercado interno permanece o nome castanha-do-pará. Se forem ao Amazonas, prefiram a primeira designação. "Mas como, a castanha não é só do Pará, é de toda a Amazônia", dirão os amazonenses. Bem, enquanto não resolvemos a questão, lamentemos a perda da liderança no mercado mundial para os bolivianos...
Para saber mais:
Castanha-do-Brasil: da floresta tropical ao consumidor. Ariane Mendonça Pacheco e Vildes Maria Scussel. Florianópolis, SC: Editograf, 2006.
Crédito das imagens: acervo do autor.
Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária pertencente ao governo brasileiro) obtiveram exito na domesticação da castanheira, reduzindo o tempo de frutificação, por meio do enxerto de uma "gema" (parte de uma outra castanheira) em uma castanheira em fase de crescimento. O domínio dessa tecnologia permitiu o plantio racional da árvore, melhorando a produtividade e as condições de extração do fruto. Como a coleta é feita na estação chuvosa (úmida), é maior o risco de contaminação por um fungo, conhecido como Aspergillus flavus, o qual absorvido pelo organismo em grande quantidade, é tido como cancerígeno. A União Européia impõe sérias restrições aos produtos com suspeita desse tipo de contaminação.
Contudo, a produção por meio do cultivo racional é ainda pequena (na imagem acima, castanhal de cultivo na fazenda Aruanã, em Itacoatiara, no Amazonas). A maior parte das castanhas vêm do processo extrativo, que é feito por milhares de trabalhadores dentro da Amazônia. É uma atividade que ainda garante o sustento de muitas famílias de caboclos e ribeirinhos da floresta tropical.
Estudos e pesquisas desenvolvidos por mim, mostraram que a atividade de exploração da castanha com finalidades mercantis é bem mais antiga do que se imaginava, embora não deva ser associada às conhecidas drogas do sertão, exploradas na bacia amazônica no período colonial, como o cacau, o cravo ou a pimenta. A atividade antecedeu ao ciclo da borracha amazônica da segunda metade do século XIX.
Houve época no Brasil em que grandes campanhas foram promovidas a fim de disseminar o consumo da castanha-do-pará no mercado interno, notadamente por suas propriedades nutritivas. Bem, hoje a palavra de ordem é evitar produtos com alto teor de calorias e recomenda-se o consumo diário de apenas duas amêndoas, suficientes para a absorção do selênio pelo organismo. De qualquer forma, a fama do produto nos países de clima mais frio permaneceu inabalável. Trata-se de um produto com mercado garantido, apesar de não ser insubstituível. Outras nozes lhe fazem concorrência, como a castanha européia e as avelãs.
Como já dissemos, várias possibilidades de aproveitamento da castanha têm sido estudadas, como a produção de um óleo (imagem acima), que poderia substituir o azeite de oliva.
Até mesmo na fabricação de instrumentos musicais artesanais o ouriço da castanha pode ser aproveitado (imagem acima). Mais recentemente, a castanha-do-pará têm sido muito utilizada pela indústria de cosméticos, para a produção de sabonetes e shampoos. Trata-se de uma publicidade interessante, de colocar produtos no mercado que propiciam a manutenção da floresta amazônica e o uso sustentável da mesma.
O cultivo racional apresenta-se como uma outra possibilidade de ampliar a oferta no mercado mundial. Na fazenda Aruanã, próxima ao município de Itacoatiara no Amazonas, a castanheira é cultivada a partir da tecnologia desenvolvida pela Embrapa. A castanha beneficiada nessa fazenda é praticamente livre do risco de contaminação e certificado como produto orgânico, sendo vendido em latas (imagem acima) que contém 60 castanhas. Para muitos especialistas, o futuro para a manutenção do produto no mercado é o cultivo, embora a extração natural ainda seja predominante, tanto no Brasil, como na Bolívia e no Peru. O extrativismo, embora tenha as suas limitações, ainda é o sustento de muitos amazônidas.
Pois bem, e aqui, como devemos designar o produto? Sim, oficialmente castanha-do-Brasil. Mas no mercado interno permanece o nome castanha-do-pará. Se forem ao Amazonas, prefiram a primeira designação. "Mas como, a castanha não é só do Pará, é de toda a Amazônia", dirão os amazonenses. Bem, enquanto não resolvemos a questão, lamentemos a perda da liderança no mercado mundial para os bolivianos...
Para saber mais:
Castanha-do-Brasil: da floresta tropical ao consumidor. Ariane Mendonça Pacheco e Vildes Maria Scussel. Florianópolis, SC: Editograf, 2006.
Crédito das imagens: acervo do autor.
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