Não, desta vez não iremos nos referir a uma importante descoberta, no caso em questão, do processo de vulcanização desenvolvido por Charles Goodyear (1800-1860) em 1839! Bem, mas já que tocamos no assunto... De acordo com Marcelo Duarte em seu "O Livro das Invenções" (Cia. das letras, 1997) em fevereiro daquele ano Goodyear manipulava uma quantidade de goma de borracha misturada com enxofre e alvaiade, no momento em que uma bolha dessa mistura saltou da panela e caiu sobre o fogão. No momento em que a massa esfriou, Goodyear descobriu que a mesma estava emborrachada e com consistência (não havia ficado grudenta). A massa era elástica, tinha resistência ao calor, ao frio e não era quebradiça. Ao aperfeiçoar o procedimento em 1844, Goodyear deu ao processo o nome de vulcanização, em homenagem ao deus do fogo romano Vulcano. Pronto! Goodyear abriu o caminho para o aproveitamento industrial da goma elástica extraída da seringueira da Amazônia e para a criação dos pneumáticos no final do século XIX pelo escocês John Boyd Dunlop.
Mas o que na verdade gostaríamos de destacar no Anúncio Antigo de hoje é a representação da figura feminina, no já distante ano de 1954. Aliás uma época de grandes acontecimentos para o nosso país, como o da crise política gerada pelo suicídio de Getúlio Vargas, em agosto daquele ano e as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo. Ao mesmo tempo, o processo de industrialização impulsionava o deslocamento de uma massa populacional rural para as grandes cidades, acelerando a urbanização. No plano externo, a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética mostrava a sua influência, uma vez que o Brasil inclinava-se para um alinhamento com os norte-americanos, inclusive no plano cultural. O modo de vida da classe média de lá servia como modelo para a classe média daqui, sobretudo em termos de consumo. A publicidade da época refletia bem essa tendência.
Ao mesmo tempo, tinha início um momento de transição na vida das mulheres, sobretudo na classe média urbana. Muitas jovens já estavam se inserindo no mercado de trabalho e adquirindo a condição de "mulher moderna". Claro que em segmentos onde as mesmas eram mais aceitas e sem competir tanto com os homens. como na educação (professoras), secretárias, funcionárias públicas, entre outras. Na classe operária, as mulheres estiveram presentes desde o início da industrialização. Contudo, ainda predominava a visão de que a função legítima da mulher era a de dona de casa, cabendo ao homem o papel de provedor e "chefe" da família. O trabalho fora era visto ainda como algo subsidiário ou temporário. Nos materiais de propaganda da época aparece esse conflito entre a mulher dita "moderna" e a mulher "rainha do lar". Bom, pelo menos se podia registrar um pequeno avanço no conceito de "mulher moderna", o qual, até o início do século XX, era visto de forma pejorativa. Nos tempos da Primeira República (1889-1930) acreditava-se que uma mulher independente demais era o primeiro passo em direção à prostituição pura e simples!
No Anúncio Antigo acima publicado em 1954, ainda temos a visão tradicional da mulher ligada aos afazeres domésticos. Uma dona de casa, absolutamente elegante, manuseando a mangueira para o serviço de limpeza, com ar alegre e sorridente. Sim, as mensagens publicitárias mostravam a mulher feliz com o seu papel de dona de casa. Além de tudo, ainda tinha que ser bonita e cuidar bem da cintura, como o anúncio nos mostra. Isso, sem deixarmos de lembrar que as mulheres que se atreviam a entrar no mercado de trabalho não estavam dispensadas de suas "tarefas domésticas". É a famosa dupla jornada, que ainda persiste.
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado na revista "O Cruzeiro" de 18.12.1954, na página 114.
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