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domingo, 31 de dezembro de 2017

As sábias afirmações de Umberto Eco



"A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar." 

Lembrar esta afirmação do semiólogo (intelectual que estuda os fenômenos culturais como um sistema de signos ou de significação, como imagens, vestuário, ritos, entre outros) e escritor Umberto Eco (1932-2016), torna-se absolutamente oportuno, sobretudo nestes tempos de enxurrada de informações e de pretensos conhecimentos, divulgados a esmo nas redes que compõem a internet. Vivemos em um mundo onde, o que não falta, é informação. E um paradoxo. Quanto mais informação, maior a ignorância! Por que afirmo isso? Por que informação é uma coisa, conhecimento outra. O conhecimento nos permite selecionar a informação, pois constitui a base de postulados, conceitos, princípios éticos e critérios, que adquirimos ao longo do tempo. Para ser mais preciso, vou dar um exemplo bem simples. Tenho um amigo de longa data, com quem convivo. De repente, alguém surge e me revela que o tal amigo não é nada daquilo que eu imaginava, que é uma pessoa de índole má, péssimo caráter e por aí vai. "Mas, eu o conheço há décadas, nunca percebi isso". O outro retruca, "mas é a pura verdade". E aí? Ora, vou verificar, conversar com outras pessoas, com amigos em comum, com familiares próximos, com a esposa (ou marido, caso seja uma mulher) e, principalmente, refletir. Vou cruzar as informações e filtrar! Como propõe Umberto Eco, cortar a informação que não se sustenta. E, finalmente, tentar estabelecer conclusões, incluindo a possibilidade de não dar o mínimo crédito ao que me foi dito sobre o meu amigo. A filtragem da informação talvez seja uma disciplina escolar necessária para o futuro, argumenta Umberto Eco. 
Contudo, a rapidez com que recebemos notícias, fatos novos (nem sempre novos), descobertas (reparem, a maior parte delas inúteis, como o tempo sempre vem a demonstrar), às vezes, não nos permite parar para refletir. Ao contrário, somos levados a repassa-las como verdade, para outros que irão fazer a mesma coisa. Isso, efetivamente, não é adquirir conhecimento. Umberto Eco estabelece uma conclusão interessante. A internet é mais útil para aquele que já tem uma base em termos de formação intelectual, pois este indivíduo dirige-se a fontes mais seguras e dignas de crédito. Trata-se de uma situação diferente quando um professor universitário vai à rede mundial de computadores, em relação ao dono da padaria que segue o mesmo procedimento (com todo o meu respeito ao dono de padaria, pois é uma profissão digna). E aí? Chegamos àquilo que é fundamental. Uma boa formação familiar e escolar em termos de acesso à leitura, ao diálogo e à conversa, é indispensável! A tecnologia, por si só, não realiza milagres...
A fala de Umberto Eco, que considero imprescindível, veio de uma entrevista feita em 2011, para a revista Época. O link da mesma vai abaixo:
http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/12/umberto-eco-o-excesso-de-informacao-provoca-amnesia.html
Crédito da foto de Umberto Eco:
https://www.theparisreview.org/interviews/5856/umberto-eco-the-art-of-fiction-no-197-umberto-eco

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