Caro (a) leitor (a), o blog História Mundi apresenta uma exposição virtual de um cara que, há alguns anos, brinca de desenhar: eu mesmo. Tratam-se de alguns trabalhos que tem como tema a figura humana. Os mesmos (exceto os dois últimos) foram produzidos entre os anos de 2001 e 2002 na Associação Paulista de Belas Artes (APBA), uma das pouquíssimas instituições que ainda mantém espaço para os artistas que desejam se exercitar no trabalho com modelo vivo. Na verdade, o meu gosto pelo desenho vem da minha infância, uma vez que preenchia boa parte do meu tempo rabiscando cadernos de desenhar com bobagens, do tipo cenas de filmes vistos na televisão (super-heróis e seriados), cópias de imagens de jornais e revistas.
Em 1974 com 12 anos de idade, o meu pai (o senhor José) me matriculou numa pequena escola de desenho no bairro da Água Rasa (zona leste de São Paulo), a Escola Padre Landell de Moura. Naquela época existiam muitas escolas (particulares) que ministravam cursos de desenho publicitário e desenho artístico. Meu pai sempre esperou que eu me especializasse em desenho publicitário, pois ele via como algo que poderia ter boa remuneração e propiciar um ofício (ah, se ele soubesse o que viria depois com a computação gráfica...). Imaginem um garoto com 12 anos de idade num curso onde só tinha marmanjo! E o pior, com indivíduos com anos de estrada fazendo trabalhos decorativos, quadros (no estilo acadêmico), letreiros, cartazes de propaganda entre outras coisas. Eles precisavam apenas de um diploma para apresentar no currículo e eu ainda tinha que aprender. Mas permaneci lá por um ano (meu pai achava que eu não estava evoluindo) e depois fui para outra escola do mesmo gênero, a Escola Brasileira de Desenho, localizada no bairro do Brás, próximo ao antigo Gasômetro (também em São Paulo). Lá conheci um professor que mudou a minha concepção do que era aprender a desenhar: José Carlos Martins ou Martins de Porangaba. Ele não era apenas um simples professor de desenho, era (e é) um grande artista. Mostrou a mim e aos outros alunos que desenhar e pintar requeria mais do que fazer cópias de outros trabalhos já prontos e que era preciso observar, ver, saber colocar no papel algo que estivesse diante de nossos olhos. Ele passou para nós o que era a verdadeira arte apreciada em museus, nas galerias de arte e nos livros. A partir daí aprendi a enxergar um Picasso, um Van Gogh, um Cézanne, um Portinari e um Bonadei entre outros.
Logo pude fazer trabalhos de observação. De simples objetos (a conhecida natureza morta) até chegarmos à figura humana (como no desenho acima). Bem, depois Martins de Porangaba criou um grupo a partir desses alunos, entre eles eu, Marlene, Silvio, Nide, Mauro, Lídia, Saulo, Garibaldi (amigo de Porangaba) entre outros. Vieram as sessões de modelo vivo e a minha paixão pela figura humana que se perpetuou até os dias de hoje. Posteriormente, mais alguns anos de trabalho no Museu Lasar Segall e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (onde cheguei a expor) também me ajudaram. O tempo passou. Martins de Porangaba tornou-se um artista consagrado. Quanto a mim completei os meus estudos, me formei na Universidade de São Paulo e ministrei aulas de história por três décadas. Anos depois fiz mestrado e doutorado. Mas sempre que pude dava uma escapadinha na Associação (que me foi apresentada pelo próprio Porangaba) e mantive um pouco a forma. Os trabalhos dessa pequena mostra, como já apontei acima, foram realizados lá.
Basicamente utilizei o grafite com um pouco de lápis de cor. Nos últimos anos, bem lentamente, tenho introduzido um pouco mais de cor nos trabalhos, mas sem deixar de lado o grafite (lápis) pois ainda é o material basilar quando se trata da arte de desenhar.
Entendo como fundamental no desenho saber observar o claro e o escuro. Muitas vezes o escuro já compõe o próprio trabalho. Vem em seguida a linha, que podemos perceber também com base no mesmo claro e escuro. Por último a cor. O indivíduo que conseguir entender essas três dimensões (não necessariamente na ordem em que expus) terá nas mãos os elementos básicos do desenho. A partir daí poderá partir para outros vôos, como a composição e a pintura. E claro, é necessário muito exercício.
O desenho deve ser um hábito e a pessoa sempre deve ter à sua disposição um bloco para pequenos trabalhos, esboços e rabiscos. Utilizar bom material! Infelizmente os importados estão anos luz à frente dos nacionais.
Como acréscimo a esta pequeníssima mostra dois trabalhos recentes, produzidos em 2018 (imagens acima). Afinal, como já destaquei, desenhar é para a vida toda. Atualmente eu, Martins de Porangaba, Silvio Melo, Marlene de Andrade, Waltércio Zanvettor, Sonia Manno e Garibaldi formamos o "Grupo de Arte Belenzinho". No mesmo mantemos encontros e trocamos ideias a respeito dos nossos trabalhos.
Nos últimos tempos tenho notado um certo "puritanismo" por parte do público em relação às figuras nuas na arte. Já presenciei casos em que trabalhos de determinados artistas sofreram restrições em função da presença de um corpo humano ao natural ou que insinue algo que evoque a sensualidade. Que tempos estamos vivendo! Caso isso seja real e não uma simples impressão deste que vos escreve, trata-se de um regresso de séculos na arte. Por isso estou colocando à mostra esses trabalhos antes que os mesmos sejam incinerados ou destruídos por algum inquisidor intolerante (aliás, trata-se de redundância dizer que um inquisidor é intolerante). Daí o título que dei para esta pequena mostra, inspirado na conhecida peça de Nelson Rodrigues. Não, a nudez não pode ser castigada, pois castigar a nudez é castigar a própria arte. É isso aí...
Para ver:
Toda Nudez Não Será Castigada: desenhos de Jonas.
Onde: aqui mesmo no blog História Mundi.
Observação:
Os trabalhos medem 28 x 35 centímetros, exceto o penúltimo, o qual mede 23 x 30 centímetros.
Em 1974 com 12 anos de idade, o meu pai (o senhor José) me matriculou numa pequena escola de desenho no bairro da Água Rasa (zona leste de São Paulo), a Escola Padre Landell de Moura. Naquela época existiam muitas escolas (particulares) que ministravam cursos de desenho publicitário e desenho artístico. Meu pai sempre esperou que eu me especializasse em desenho publicitário, pois ele via como algo que poderia ter boa remuneração e propiciar um ofício (ah, se ele soubesse o que viria depois com a computação gráfica...). Imaginem um garoto com 12 anos de idade num curso onde só tinha marmanjo! E o pior, com indivíduos com anos de estrada fazendo trabalhos decorativos, quadros (no estilo acadêmico), letreiros, cartazes de propaganda entre outras coisas. Eles precisavam apenas de um diploma para apresentar no currículo e eu ainda tinha que aprender. Mas permaneci lá por um ano (meu pai achava que eu não estava evoluindo) e depois fui para outra escola do mesmo gênero, a Escola Brasileira de Desenho, localizada no bairro do Brás, próximo ao antigo Gasômetro (também em São Paulo). Lá conheci um professor que mudou a minha concepção do que era aprender a desenhar: José Carlos Martins ou Martins de Porangaba. Ele não era apenas um simples professor de desenho, era (e é) um grande artista. Mostrou a mim e aos outros alunos que desenhar e pintar requeria mais do que fazer cópias de outros trabalhos já prontos e que era preciso observar, ver, saber colocar no papel algo que estivesse diante de nossos olhos. Ele passou para nós o que era a verdadeira arte apreciada em museus, nas galerias de arte e nos livros. A partir daí aprendi a enxergar um Picasso, um Van Gogh, um Cézanne, um Portinari e um Bonadei entre outros.
Logo pude fazer trabalhos de observação. De simples objetos (a conhecida natureza morta) até chegarmos à figura humana (como no desenho acima). Bem, depois Martins de Porangaba criou um grupo a partir desses alunos, entre eles eu, Marlene, Silvio, Nide, Mauro, Lídia, Saulo, Garibaldi (amigo de Porangaba) entre outros. Vieram as sessões de modelo vivo e a minha paixão pela figura humana que se perpetuou até os dias de hoje. Posteriormente, mais alguns anos de trabalho no Museu Lasar Segall e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (onde cheguei a expor) também me ajudaram. O tempo passou. Martins de Porangaba tornou-se um artista consagrado. Quanto a mim completei os meus estudos, me formei na Universidade de São Paulo e ministrei aulas de história por três décadas. Anos depois fiz mestrado e doutorado. Mas sempre que pude dava uma escapadinha na Associação (que me foi apresentada pelo próprio Porangaba) e mantive um pouco a forma. Os trabalhos dessa pequena mostra, como já apontei acima, foram realizados lá.
Basicamente utilizei o grafite com um pouco de lápis de cor. Nos últimos anos, bem lentamente, tenho introduzido um pouco mais de cor nos trabalhos, mas sem deixar de lado o grafite (lápis) pois ainda é o material basilar quando se trata da arte de desenhar.
Entendo como fundamental no desenho saber observar o claro e o escuro. Muitas vezes o escuro já compõe o próprio trabalho. Vem em seguida a linha, que podemos perceber também com base no mesmo claro e escuro. Por último a cor. O indivíduo que conseguir entender essas três dimensões (não necessariamente na ordem em que expus) terá nas mãos os elementos básicos do desenho. A partir daí poderá partir para outros vôos, como a composição e a pintura. E claro, é necessário muito exercício.
O desenho deve ser um hábito e a pessoa sempre deve ter à sua disposição um bloco para pequenos trabalhos, esboços e rabiscos. Utilizar bom material! Infelizmente os importados estão anos luz à frente dos nacionais.
Como acréscimo a esta pequeníssima mostra dois trabalhos recentes, produzidos em 2018 (imagens acima). Afinal, como já destaquei, desenhar é para a vida toda. Atualmente eu, Martins de Porangaba, Silvio Melo, Marlene de Andrade, Waltércio Zanvettor, Sonia Manno e Garibaldi formamos o "Grupo de Arte Belenzinho". No mesmo mantemos encontros e trocamos ideias a respeito dos nossos trabalhos.
Nos últimos tempos tenho notado um certo "puritanismo" por parte do público em relação às figuras nuas na arte. Já presenciei casos em que trabalhos de determinados artistas sofreram restrições em função da presença de um corpo humano ao natural ou que insinue algo que evoque a sensualidade. Que tempos estamos vivendo! Caso isso seja real e não uma simples impressão deste que vos escreve, trata-se de um regresso de séculos na arte. Por isso estou colocando à mostra esses trabalhos antes que os mesmos sejam incinerados ou destruídos por algum inquisidor intolerante (aliás, trata-se de redundância dizer que um inquisidor é intolerante). Daí o título que dei para esta pequena mostra, inspirado na conhecida peça de Nelson Rodrigues. Não, a nudez não pode ser castigada, pois castigar a nudez é castigar a própria arte. É isso aí...
Para ver:
Toda Nudez Não Será Castigada: desenhos de Jonas.
Onde: aqui mesmo no blog História Mundi.
Observação:
Os trabalhos medem 28 x 35 centímetros, exceto o penúltimo, o qual mede 23 x 30 centímetros.
Jonas,Historiador e Artista, apresenta a construção da obra de arte através de seus desenhos.
ResponderExcluirum grande abraço e parabens
Obrigado Teco! Um abração para você!!!!!!
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