Houve uma época em que os professores eram
valorizados e respeitados pela sociedade. É verdade que nem todos tinham
acesso à educação e o analfabetismo era um grave problema. Tanto que no período
da Ditadura Militar (1964-1985) foi lançado o programa do Movimento Brasileiro
pela Alfabetização, mais conhecido como Mobral. Contudo, foi nessa mesma época
que a situação dos professores começou a se deteriorar, sobretudo no nível
salarial. Cabe destacar que tal processo afetou principalmente o ensino
público, que até a década de 1970 era muito melhor do que o privado. Era até
humilhante para um jovem dizer que estudava em colégio particular, pois dava
a impressão de que estava lá só para conseguir nota. Sou testemunha viva disso.
Cursei o ensino médio e fundamental em escolas públicas, meio ano de reforço em
cursinho pré-vestibular (naquela época o cursinho era só reforço, o aluno não
entrava para aprender como ocorre hoje) e entrei na universidade com 17 anos.
Acompanhei a primeira grande greve de professores estaduais de São Paulo em
1978. Dessa época em diante a situação só piorou. O que ocorreu em termos
concretos foi a privatização do ensino, como depois ocorreu também com a saúde.
Vejam só, as famílias de classe média não tinham despesas com educação e saúde
e o setor público disponibilizava esses serviços com qualidade. Por que isso
mudou?
A educação pública teve um crescimento horizontal
(mais escolas), mas a qualidade do ensino não acompanhou essa expansão da rede.
Optou-se pela quantidade sem qualidade. Apenas o ensino superior público
conseguiu preservar os ótimos níveis em termos de formação e ensino, embora não
seja acessível a todos, pois há o vestibular que exige preparo para o
ingresso.
Em todo esse turbilhão o professor viu o seu
prestigio diminuir. Estabeleceu-se uma cultura, na qual a sociedade, os meios
de comunicação, a mídia em geral, deram a sua contribuição. A escola passou a
ser vista de forma negativa, até opressora e autoritária. Claro, o modelo de
modernização imposto no Brasil nessa mesma época requeria um povo que não fosse
crítico e que ficasse satisfeito com alguns poucos bens de consumo como a
televisão e o "Corcel 73" da música de Raul Seixas (isto para uma
pequena classe média mais abonada que, vejam só, incluia os professores). A educação e a formação intelectual
deixaram de ser vistas pelas famílias como algo importante, inclusive na
própria elite.
Depois de décadas vem o discurso de que é preciso
melhorar a educação, pois caso contrário isso pode comprometer o nosso
crescimento e gerar falta de mão-de-obra qualificada. E alguns começam a
lembrar dos exemplos da Coréia do Sul e da China ou ainda da Alemanha... Países
onde a boa educação foi construída em décadas de investimento, sobretudo no
professor, ferramenta fundamental do processo. Nesses lugares isso teve início
já após a Segunda Guerra Mundial e lá se vão 67 anos. Hoje alguns afirmam, para
nosso espanto, que é melhor um jovem estar em uma escola ruim do que ficar sem
estudar... Que visão conformista. É com isso que devemos nos satisfazer? Ou
lutar para que a situação começe a melhorar a partir de agora, pois o estrago
foi tão grande que necessitaremos talvez de mais algumas décadas para recuperar
o atraso?
Os estudantes chilenos estão nos dando um belo
exemplo de luta para evitar que esse mesmo processo avance por lá. Na Espanha a
situação também está se deteriorando e a educação pública deixando de ter a
qualidade que tinha antes.
Este editorial é uma pequena contribuição para
começarmos a reverter o processo aqui no Brasil.
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