Durante muito tempo o diretor de origem alemã, Douglas Sirk (na foto acima, à direita), foi considerado apenas pelos seus filmes carregados de dramaticidade e voltados basicamente para o público feminino da década de 1950, sobretudo nos Estados Unidos. Sim, ele fez muito sucesso em Hollywood dirigindo vários filmes para o estúdio Universal naquela época. Ajudou a transformar o bonitão Rock Hudson em um astro de maior respeito e com boas parcerias com atrizes como Jane Wyman (que foi casada com o ator-presidente Ronald Reagan), Lana Turner, Dorothy Malone entre outras. Uma reavaliação de seu trabalho pelos críticos franceses da revista "Cahiers du Cinéma", capitaneados por Jean-Luc Godard, mudou a perspectiva sobre a sua obra. Melodramas? Não apenas isso, mas uma visão profunda da classe burguesa americana, de seus dilemas e preconceitos. É isso o que a mostra apresentada a partir de 16.05, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo promete revelar para o público atual, que talvez não o conheça.
Para os que têm mais de 45 anos, Sirk talvez não seja estranho. Provavelmente o seu filme mais conhecido por aqui seja "Imitação da Vida" (EUA, 1959), que conta a história de duas amigas, uma atriz de teatro branca e sua amiga negra, cuja filha não aceita a sua condição racial e acaba por rejeitar a própria mãe (foto acima). Essa fita foi muito exibida na televisão brasileira entre as décadas de 1960 e 1970 e o final era de fazer chorar.
Outro filme importante e conhecido de Sirk na mostra é "Tudo que o Céu Permite", que retrata o drama vivido por uma mulher de boa posição social (Jane Wyman), que depois de ficar viúva, apaixona-se por um jardineiro mais jovem e de um estrato social inferior (interpretado por Rock Hudson). Ao decidir viver a sua paixão, ela sofre a oposição dos filhos e da sociedade local na pequena cidade onde vive. Em uma das cenas mais marcantes deste filme, ela recebe de presente dos filhos uma televisão para passar o tempo e esquecer, talvez, a sua nova paixão, quando o seu rosto aparece refletido no vidro da tela do aparelho como se o seu própria drama se desenrolasse na tela. Momento máximo do diretor.
Além desses dois filmes, "Palavras ao Vento" (EUA, 1956) também faz parte da mostra. A fita percorre os descaminhos vividos por uma rica família do Texas em processo de desagregação, com uma existência vazia e supérflua (foto acima). Ao todo são 29 filmes e mais 5 de outros diretores influenciados pelos mestre, entre os quais Fassbinder e Almodóvar.
Sirk teve uma sólida formação intelectual em sua terra natal, a Alemanha, onde estudou história da arte com o conhecido professor Erwin Panovsky e ainda teve boa experiência no teatro. Com a ascensão do nazismo, retirou-se da Alemanha, mesmo contra a vontade dos familiares. Teve um de seus filhos mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Estabeleceu-se nos Estados Unidos onde ficou até o fim da carreira em 1959, exatamente com "Imitação da Vida". Faleceu na Suiça em 1987.
Hoje seus filmes constituem um retrato lúcido dos preconceitos, sonhos e frustrações da sociedade burguesa norte-americana do período de ouro do capitalismo do pós-guerra. Nesse sentido, é que a sua obra é lembrada e merece ser revista.
Para ver:
Douglas Sirk: o Príncipe do Melodrama
Centro Cultural do Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112, centro de São Paulo, fone (11) 3113-3651/52.
De quarta a domingo, das 9 às 21 horas.
Ingressos: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia).
De 16/5 a 10/6.
Em seguida a mostra vai para o Rio de Janeiro (16.06 a 08.07) e Brasília (sem data programada).
Imagens: Grandes Éxitos de Hollywood. Volumen 2, Editorial Planeta-De Agostini, S.A., Barcelona, 1992, páginas 148 e 149.
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