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domingo, 21 de julho de 2019

Passeio pela cidade de São Paulo em 1914



Há um tempo atrás fizemos uma postagem sobre a Tábua Peutinger, o mapa do Império Romano, que havia sido copiado na Idade Média e que, por essa razão, chegou até nós. A mesma teria servido como orientação para os viajantes que percorriam os territórios sob domínio de Roma, com as estradas e os possíveis pontos de parada para descanso. E o interessante é que nós, em pleno século XXI, podemos manuseá-la (de forma virtual), como se fossemos um viajante da Antiguidade. A Tábua Peutinger está disponível na internet (veja a postagem Tábua Peutinger: o mapa-múndi da Roma Antiga, neste blog). Pois agora temos uma oportunidade semelhante com um mapa (ou Planta Geral) da cidade de São Paulo confeccionado em 1914, absolutamente completo e fácil de ser consultado, como se estivéssemos andando pela cidade naquele mesmo ano (na foto acima, bonde atravessa o viaduto Santa Ifigênia sobre o Vale do Anhangabaú, em 1914). 


Um viajante que viesse a São Paulo não teria grandes problemas de locomoção utilizando esse documento cartográfico como guia (acima, detalhe do Centro Histórico da cidade). Claro, vamos lembrar o leitor (a) que a cidade era outra, as distâncias menores, exceto para algumas poucas localidades, como a Penha na Zona Leste ou Santo Amaro na Zona Sul (que ainda não fazia parte do município de São Paulo). 



E que tal a famosa 25 de Março naquele ano? Bem menos movimentada (foto acima, a rua em 1914). 


Como a cidade ainda não era uma metrópole, todos os logradouros (ruas, praças, parques, jardins...) estão listados na lateral direita desse mapa, podendo ser facilmente encontrados pelas coordenadas horizontais e verticais (em letras maiúsculas e minúsculas, respectivamente). E para chegar ao local? Bem, por meio do único transporte público que havia, o bonde (escrevia-se bonds, no original em inglês). As linhas estão indicadas e numeradas em um círculo vermelho, totalizando 40 linhas que alcançavam a maior parte dos bairros (na lista acima, a relação completa das linhas). 


Vamos exemplificar em termos práticos e aqui, peço licença para você que está lendo, pois vou localizar o endereço em que passei a maior parte de minha vida: a rua Padre Adelino. Este logradouro está situado no bairro do Belenzinho (acima, a rua no detalhe do mapa, olhando de cima para baixo é a penúltima paralela) na 4ª Parada dos trens da Estrada de Ferro Central do Brasil. Se desejasse ir ao meu endereço em 1914, apenas verificaria qual a linha de bonde mais próxima, exatamente a de número 24 (no canto inferior direito no círculo vermelho). Observando a trajetória dessa linha, verifico que a mesma parte da região da Praça da Sé (Centro Histórico). Pronto! Posso chegar onde eu quero, mesmo sabendo que a casa em que vivi ainda demoraria mais de três décadas para ser erguida!


Outro detalhe curioso são os rios, notadamente o Tietê (atualmente "sufocado" pela avenida Marginal). Ah, e o rio Pinheiros? A cidade ainda não tinha alcançado as suas margens. No caso específico do rio Tietê reparamos como serpenteava em seu leito absolutamente irregular, com várzeas e margens alagadas (no detalhe acima), muito diferente do que é agora. 


Contudo, podemos perceber que o Tietê estava sendo retificado (tornando o seu curso retilíneo). No detalhe maior acima, observamos o trecho já alterado e o que estava previsto para que fosse transformado em um canal, próximo ao bairro do Bom Retiro. 


A travessia desses rios muitas vezes era feita com balsas, inclusive para a passagem dos automóveis (como na foto acima, exatamente do ano de 1914, mostrando a travessia do rio Pinheiros, que não dispunha de pontes). 


Se ainda não bastasse, o mapa apresenta vários dados estatísticos sobre o número de edificações e a evolução populacional da cidade (como no quadro acima), bem como as atividades econômicas e comerciais presentes na pauliceia ainda não tão desvairada. Aliás, reparem no aumento da população (tabela acima). São Paulo alcançou, em 1914, meio milhão de habitantes! Para os colegas que trabalham em sala de aula (aliás, recomendo o uso deste recurso nas disciplinas afins), temos aí uma ótima oportunidade para perguntar aos alunos das razões desse crescimento acelerado e lembrarmos dos impactos da implantação das ferrovias, da economia cafeeira e do começo da industrialização, enquanto na Europa começava a Primeira Guerra Mundial. 


Por falar em rio retificado reparem no Tamanduateí, que já havia passado pela "correção" de seu curso e o Parque D. Pedro II, ainda em fase de projeto (acima, no detalhe). Aliás, depois de pronto em 1922, tornou-se um belíssimo parque ajardinado, bem diferente do que é hoje.
A Planta Geral da Cidade de São Paulo está disponibilizada pela Massachusetts Collection Online dentro do projeto Digital Commonwealth permite ao visitante ampliar e reduzir o documento, com o mesmo legível em seus mínimos detalhes, exatamente como fizemos para esta postagem. Se o interessado desejar poderá recortar e salvar a parte selecionada para utilizar em uma palestra ou em uma exposição. Trata-se de uma excelente ferramenta de trabalho para os meus queridos colegas professores. 
Eis o endereço para esse passeio ao passado da maior cidade brasileira:
https://www.digitalcommonwealth.org/search/commonwealth:4m90fk94b

Crédito das Fotos:
Bonde no viaduto Santa Ifigênia:
São Paulo: de vila a metrópole. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2012, pag. 31. 
Automóvel atravessando o rio em balsa: 
Cadernos de Fotografia Brasileira. São Paulo 450 anos. Instituto Moreira Salles, 2004, pag. 100.
Foto da rua 25 de Março em 1914: Pinterest. 

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