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sexta-feira, 23 de março de 2012

O Ensaio de Hitler


Até mesmo para ser um ditador fascista era preciso cuidado com a imagem. O próprio Adolf Hitler sabia muito bem disso, ele foi um pioneiro do que chamamos hoje de "marketing pessoal". Como um ator de teatro ele ensaiava as suas aparições em público e os gestos que  eventualmente poderia usar para impressionar as massas. As imagens que estamos mostrando aqui não deixam margem para dúvidas. Foram tiradas ainda no início da ascensão política do "fuhrer" (chefe ou líder) em 1925.
Era o momento em que a Alemanha começava a se recuperar da crise gerada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O Partido Nazista ainda era minúsculo e não representava uma ameaça à republica parlamentar alemã. No entanto, a Grande Depressão iniciada em 1929 nos Estados Unidos jogou a Alemanha novamente numa grave crise econômica e social. No início da década de 1930 o desemprego alcançava 6 milhões de trabalhadores alemães. Na opinião do eminente historiador Eric Hobsbawm, a Depressão teve um papel crucial na ascensão do fascismo na Alemanha. Foi a partir dela que as massas começaram a dar atenção ao discurso histriônico e irracional de Hitler. Os dados mostram isso, pois em 1924 o Partido Nazista tinha entre 2,5% a 3% do eleitorado, em 1930 subiu para mais de 18% e em 1932 possuia mais de 37% dos votos. A crise transformou Hitler em um fenômeno político e abriu caminho para o seu discurso radical. Ele soube canalizar os sentimentos de insatisfação existentes nos vários segmentos da sociedade alemã, dos desempregados aos mais ricos, com a promessa de uma retomada da expansão econômica que levaria à criação do novo império germânico ou Terceiro Reich.




No período Entreguerras a ameaça às democracias liberais vinha dos setores mais à direita do cenário político. Contudo, nem todas as forças que se opunham aos regimes democráticos liberais eram fascistas. Os exemplos das ditaduras de Salazar em Portugal e do general Franco na Espanha podem ser enquadrados nesse contexto. O caso de Getúlio Vargas no Brasil, durante o Estado Novo, também pode ser classificado dentro desse grupo. Um aspecto comum a esses regimes era a aversão aos valores da democracia liberal e ao comunismo que ameaçava subverter a ordem social.




A Itália foi o "berço" do tipo fascista de regime de direita. "Nada fora do Estado, tudo sob controle do Estado" era um de seus princípios. A sua influência sobre o nazismo foi admitida pelo próprio Hitler, inclusive no modo como Benito Mussolini se dirigia ao povo italiano. A própria palavra fascismo, derivada do termo "fascio" (um dos símbolos da antiga república romana da antiguidade) têm sua origem na Itália. Eric Hobsbawm assinala como uma das características próprias do fascismo a mobilização das massas "de baixo para cima", promovendo uma espécie de "teatro público". Tal prática era também adotada na União Soviética, em momentos comemorativos que reuniam milhares de trabalhadores, como as festividades do dia do trabalho. O fascismo não era avesso às mobilizações populares, desde que sob o controle político e ideológico do Estado personificado na figura de um líder. Daí a necessidade da propaganda e da imagem, algo que Hitler e seu ministro Joseph Goebbels souberam utilizar muito bem. Para Hobsbawm, Hitler comandou a Alemanha e seu povo com base na propaganda. Ele afirmava que ser um líder "significava excitar as massas". Isso não era feito de forma racional, mas por meio de reações e gestos histéricos e recorrendo aos sentimentos que estavam mais evidentes no povo alemão, como a descrença nos valores democráticos liberais. Fazia parte desse jogo político apontar falsos culpados pela crise, como os comunistas e os judeus, vistos como inimigos do povo alemão. Diante disso, não havia espaço para a fraqueza e o líder deveria demonstrar isso. Muitas vezes a exaltação da guerra tinha essa finalidade, mesmo sabendo-se que a mesma havia arruinado a Alemanha. Ter participado de uma guerra era uma espécie de "currículo" bem aceito entre os nazistas, uma vez que muitos deles (inclusive o próprio Hitler) eram ex-combatentes.
As fotos que aparecem aqui foram tiradas por Heinrich Hoffmann, fotógrafo particular de Hitler. Ficaram guardadas até o final da Segunda Guerra quando Hoffmann foi preso. Em 1950 o fotógrafo publicou as suas memórias, "Hitler era meu amigo" e divulgou as fotos no livro.

Para saber mais:

Hobsbawm, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. Companhia das Letras, 1995. O Capítulo 4 faz uma interessante e precisa analise da ascensão do fascismo no Entreguerras.  

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