Por esta nem o aclamado escritor e jornalista Laurentino Gomes esperava. Sim, porque em seu recente livro "1822" ele faz referência ao retrato mais famoso da marquesa de Santos como sendo o quadro do pintor Francisco Pedro do Amaral que se encontra na Academia Imperial de Belas Artes (foto abaixo). Contudo, conhecemos uma fotografia da dona Domitila de Castro Canto e Melo, a quem D. Pedro I concedeu o título de marquesa de Santos, pertencente à coleção Pedro Oliveira Ribeiro. Não há informações precisas da data dessa foto, onde ela está acompanhada de dois de seus netos. Muito provavelmente é próxima da época em que a nossa personagem faleceu.
Interessante uma comparação entre a pintura e a fotografia, pois a primeira revela um rosto com traços precisos e bem definidos e a imagem fotográfica confirma essas características. As descrições feitas da marquesa de Santos, na época em que a mesma estava envolvida num turbulento caso amoroso com nosso primeiro imperador, também confirmam esses traços. Um "ar sério e enigmático" como o próprio Laurentino descreve em seu livro.
Foi uma fase conturbada para o nosso país: a consolidação do mesmo como Estado Nacional. O romance de D. Pedro I com a marquesa de Santos durou de 1822 a 1829, ou seja, a maior parte do Primeiro Reinado. Os conflitos nas províncias, a Assembléia Constituite que foi dissolvida pelo imperador, a outorga da Constituição e a oposição liberal à mesma fizeram parte do cenário conturbado dos primeiros anos pós-independência. Isso sem contar a situação econômica deficitária herdada da era colonial.
O caso entre Domitila e D. Pedro foi tempestuoso. O imperador levou a amante para conviver ao lado da imperatriz Leopoldina na própria corte no Rio de Janeiro. Para muitos a morte prematura da imperatriz em 1826 teve relação com os desgostos sofridos aqui no Brasil diante do marido adúltero e longe de sua terra natal, a Aústria. O casamento oficial entre D.Pedro e Leopoldina foi fruto de arranjos diplomáticos com a Dinastia dos Habsburgos, uma das mais importantes da Europa.
Muitos hoje imaginam que com a morte da esposa, o caminho estaria livre para o romance entre Domitila e Pedro, o "Demonão" como era referido nas cartas ardentes trocadas pelo casal e que chegaram até nós. Contudo, estavamos em uma monarquia e o país precisava de uma nova imperatriz de boa estirpe e que fosse de uma corte européia. Mas a fama de mulherengo atribuida a nosso imperador correu os quatros cantos do mundo e as propostas enviadas por nossos emissários na Europa para as princesas disponíveis eram recusadas uma após a outra. Mas, eis que surge uma pretendente: Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais, neta de Josefina, primeira esposa de Napoleão Bonaparte. Não pertencia à alta nobreza, mas para a felicidade de D.Pedro, era jovem e bonita. Mas, este arranjo teve um preço: o afastamento de Domitila de Castro da vida do imperador. O rompimento ocorreu em 1829 e o arranjo matrimonial que nos deu a nossa segunda imperatriz foi concretizado.
Praticamente expulsa da corte, a marquesa de Santos retornou à sua terra natal, que não era Santos e sim a cidade de São Paulo. Passou depois uma temporada em Sorocaba na companhia de seu último marido, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, destacado líder liberal paulista. Por intermédio desta figura, Domitila tornou-se importante na sociedade local, fixando residência na cidade de São Paulo em um belo solar (um tipo de mansão) que pode ser visitado no centro histórico da capital paulista, ao lado do pátio do colégio onde a cidade nasceu. A marquesa de Santos faleceu em 1867, aos 70 anos.
Embora contenha algumas pequenas partes com imprecisões históricas, que em outra oportunidade iremos comentar, o livro de Laurentino Gomes serve como uma agradável leitura informativa a respeito do Primeiro Reinado (1822-1831).
A foto com a marquesa de Santos e seus netos foi extraida da Coleção Grandes Personagens da Nossa História, publicada em 1969 pela Abril Cultural e se encontra na página 315.
Para saber mais:
Gomes, Laurentino. 1822. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2010.
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